O fim da Era Kennedy

Por MiriamL

Do UOL

Termina a era dos Kennedys no Capitólio

The New York Times

Abby Goodnough 
Em Washington (EUA)

 Foto da campanha de Robert F. Kennedy ao senado em Nova York n dia 2 de outubro de 1964. Em 2011, será a primeira vez desde 1947 que nenhum membro da família terá um cargo

  • Foto da campanha de Robert F. Kennedy ao senado em Nova York n dia 2 de outubro de 1964. Em 2011, será a primeira vez desde 1947 que nenhum membro da família terá um cargo

O crepúsculo da era Kennedy em Washington pode ser assim: o espaço do gabinete do deputado Patrick J. Kennedy entregue para um republicano, com as lembranças de sua família em caixas e ele ansiando por um papel distante dos olhos do público.

QuanQuando o atual sessão do Congresso for concluída, Kennedy, 43 anos, retornará para Rhode Island, se estabelecendo na casa recém reformada de sua fazenda em Portsmouth. Quando seu oitavo mandato chegar ao fim no início do próximo mês, será a primeira vez desde 1947 –quando John F. Kennedy foi eleito ao Congresso por Massachusetts– que nenhum membro de sua família ocupará um gabinete federal.

Após a morte de seu pai, o senador Edward M. Kennedy, há mais de um ano e sem nenhum outro membro da família expressando planos de concorrer a algum cargo, restarão no Capitólio apenas fantasmas e lembranças. O único político restante entre eles é Bobby Shriver, cujo mandato como prefeito de Santa Monica, Califórnia, já se encerrou, mas que ainda atua como vereador lá.

“Essa é uma família que já ocupou a presidência e duas cadeiras no Senado, mas agora foi rebaixada à prefeitura de Santa Monica”, disse Darrell M. West, um acadêmico da Instituição Brookings. “É uma queda dramática e simbólica do declínio do liberalismo.”

Em uma entrevista aqui na semana passada, Kennedy parecia dividido entre dois impulsos: o de desaparecer em uma vida tranquila, e o de tentar, como cidadão privado, preencher o espaço –“grande demais até para imaginar”, ele disse– de seu pai e tios.

“O legado da minha família nunca se restringiu ao governo”, disse Kennedy, que conversou por mais de duas horas em uma sala vazia no Cannon House Office Building, onde John F. Kennedy também trabalhou como membro da Câmara de 1947 a 1953. “Tratava-se de dar algo de volta, como o pedido do presidente Kennedy para que os americanos fizessem algo por seu país.”

Mas foi a política que tornou os Kennedys uma família real de fato, lhes dando um veio de poder em Washington que envolveu gerações. Os Kennedys estão entrelaçados proeminentemente por toda a história política e social do último meio século, dos assassinatos de John e seu irmão Robert, ao acidente de carro de Edward em 1969, na Ilha de Chappaquiddick, Massachusetts, que matou Mary Jo Kopechne, até o acidente aéreo em 1999 que matou John F. Kennedy Jr.

Recentes incursões na política por outros membros da família, como a breve candidatura de Caroline Kennedy ao Senado por Nova York em 2009, também fascinaram o país.

“Não é que a presença de um Kennedy em Washington seja um ingrediente indispensável para a sobrevivência da república”, disse Ross K. Baker, um professor de ciência política da Universidade Rutgers. “Mas para as pessoas cujas lembranças remontam aos primeiros Kennedys, especialmente à medida que a política americana se torna mais ingovernável e contenciosa, havia algo tranquilizador no elemento de continuidade.”

Kennedy tinha 21 anos quando foi eleito para a Câmara dos Deputados de Rhode Island em 1988, vencendo apenas com seu nome. Ele nunca considerou uma vida fora da política, ele disse, porque tinha a intenção de seguir os passos de seu pai.

Mas ele sempre teve que lutar contra a sombra legislativa de um dos senadores mais influentes da história. O Kennedy mais jovem finalmente deixou sua marca em 2008, com uma lei que exige cobertura igual de seguro para o tratamento de doenças físicas e mentais, e se tornou um forte defensor da retirada das tropas americanas do Afeganistão. Nos últimos meses, ele tem defendido maior pesquisa e tratamento para os veteranos que sofrem de lesões traumáticas no cérebro. Mesmo assim, ele se tornou mais conhecido por seu sobrenome e flertes com vício do que por seu trabalho legislativo.

“Enquanto seus tios e pai foram pessoas que deixaram pegadas indeléveis no terreno da política americana”, disse Baker, “Patrick não deixou”.

Outros Kennedys ainda podem entrar para a política –Victoria Reggie Kennedy, a viúva de Edward Kennedy, é vista como possível candidata democrata ao Senado por Massachusetts, e Joseph P. Kennedy 3º, 30 anos, neto de Robert F. Kennedy, considerou brevemente concorrer a uma cadeira aberta na Câmara neste ano– mas até o momento, a maioria dos primos de Patrick Kennedy optou por buscar tipos diferentes de serviço público.

Timothy Shriver, um filho de Eunice Kennedy Shriver, comanda a Special Olympics, por exemplo, e Robert F. Kennedy Jr. é um ativista ambiental.

“Eu sei que se encaixa em uma narrativa como: ‘Oh, eu sou o último Kennedy’”, disse Patrick Kennedy, com seu tom beirando o irônico. “Mas qualquer levantamento do que minha família está fazendo por aí de milhões de formas diferentes se encaixa no legado da minha família.”

Sua forma de dar algo de volta, disse Kennedy, será continuando a defender o fim do estigma da doença mental. Ele buscará atrair atenção e recursos para a pesquisa do cérebro, ele disse, na esperança de melhorar a forma como desordens desde vício até o mal de Parkinson são tratadas e entendidas.

Seu interesse é pessoal, por já ter sido tratado por vício em cocaína quando era adolescente, ter sido diagnosticado de desordem bipolar após ser eleito ao Congresso em 1994 e depois pelo vício em analgésicos. Em 2006, ele bateu seu Mustang conversível contra uma barricada no lado externo do Congresso no meio da noite, assumiu publicamente seu vício e buscou tratamento.

Ele planeja detalhar suas lutas em um livro de memórias, “Coming Clean”, que será lançado pela Houghton Mifflin Harcourt no final do ano que vem.

“Ultimamente, eu vejo o contar da minha própria história como uma forma mais palatável de contar a história da neurociência”, disse Kennedy. “Eu não quero contar detalhes lascivos apenas por contar, mas para que se encaixem em um contexto para descrever uma história maior.”

Kennedy disse que está fechando seus comitês de campanha e não manterá nenhum dinheiro de campanha. Ele disse que poderá manter um escritório em Washington, mas que considerará Rhode Island como seu lar.

Após deixar o Capitólio, sua meta imediata será organizar uma conferência de pesquisa do cérebro em Boston, em maio. Não por acaso, será o 50º aniversário do discurso de John F. Kennedy ao Congresso propondo o envio de um homem à Lua. Patrick Kennedy está alistando cientistas e patrocinadores, destacando que a iniciativa poderia ser tão histórica quanto a corrida espacial. Ele criou um site, www.moonshot.org, e destacou os veteranos como necessitando urgentemente o tipo de avanços científicos que ele busca.

Com a morte de seu pai em agosto de 2009 ainda sendo uma ferida aberta, Kennedy disse que também tem uma meta mais pessoal.

“Eu perdi a pessoa mais importante na minha vida”, ele disse. “Então estou buscando desenvolver relacionamentos emocionais com outras pessoas, porque a vida não se limita a isso.”

Norman J. Ornstein, um cientista político do Instituto da Empresa Americana, disse que apesar de a partida de Kennedy ser algo menor no esquema das coisas, o fato de ele e seu pai terem sido substituídos como única dupla de pai e filho no Congresso pelo deputado Ron Paul, do Texas, e pelo senador eleito Rand Paul, do Kentucky, que vieram do Tea Party (Festa do Chá, movimento que faz referência à Festa do Chá de Boston, um protesto antitaxação no século 18) do Partido Republicano, é uma indicação do “tipo de mudança de maré que está ocorrendo” no Capitólio.

“Mudar dos Kennedys para os Pauls”, disse Ornstein, “eu diria que faz uma grande diferença”.

Tradução: George El Khouri Andolfato

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2010/12/17/termina-a-era-dos-kennedys-no-capitolio.jhtm

Luis Nassif

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