O WikiLeaks, por Cláudio Lembo

Terra Magazine por Bob Fernandes

Segunda, 6 de dezembro de 2010, 08h05 

Do Terra Magazine

Wikileaks demonstram vontade dos EUA de bisbilhotar

Cláudio Lembo
De São Paulo 

A confidencialidade é essencial nas relações interpessoais. Os temas tratados em particular, ainda que os interlocutores sejam pessoas públicas, exigem resguardo e mútuo respeito.

Revelar, ainda que a órgãos de Estado, conversa particular, sem autorização dos emitentes das opiniões, fere os mínimos princípios éticos da boa convivência.

UmdiUm diplomata deve informar seu país a respeito de temas relevantes, mas não pode se ater a pequenas fofocas próprias de um bar em pleno sábado pela madrugada.

A revelação dos informes recebidos pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, de todas as partes do mundo, demonstra uma inusitada vontade de praticar bisbilhotice.

Pouco importa saber sobre os traços psicológicos de um governante. É necessário saber suas intenções sobre o futuro das relações entre dois Estados independentes, um deles os Estados Unidos, no caso.

Estas divagações surgem com a leitura das informações reveladas pelo blog Wikileaks. Mais de duzentas e cinqüenta mil registros formulados pela diplomacia americana foram desvendados.

O episódio possui inúmeras facetas. Leva a desconfiança a qualquer contato com autoridade dos Estados Unidos. A boa e sadia relação entre estados nacionais se rompe. Não há espaço para confiança, tão salutar nas relações humanas, quando a bisbilhotice está presente.

Poderá parecer ingênua esta afirmação, principalmente quando se conhece traços da história da diplomacia. Esta sempre foi envolvida por espiões – mulheres e homens – que buscavam saber as entranhas dos países.

Normal no decorrer dos séculos XIX e parte do século XX. Faltam comunicações e regimes autoritários – como o nazismo e o comunismo – impediam a livre circulação de notícias.

Hoje, com a liberdade dos meios de comunicação existente nos principais países torna-se desnecessária a bisbilhotice. Tudo se sabe e tudo é escancarado. Basta assinar jornais espalhados por toda a parte.

O episódio gerado pelo jornalista australiano Julian Assange, que contou, em sua elaboração, com a contribuição do soldado Bradley Maning, revela a fragilidade dos sistemas de informação dos Estados Unidos.

É frágil a estrutura de poder dos americanos. Nela qualquer pessoa pode penetrar e ingressar nos assuntos de Estado. Sabe-se agora com nitidez como são vistos os governantes estrangeiros pelo sistema norte-americano.

O australiano Assange produziu um estrago irremediável – a curto prazo – na diplomacia dos Estados Unidos. Receber um diplomata americano, a partir de agora, será exercício de obsequioso silêncio.

A par desta constatação, recolhe-se no acontecimento outra conseqüência. A força e o imediatismo da internet. Este instrumento não permite qualquer cerceamento na divulgação das notícias.

A notícia elaborada lança-se imediatamente por toda a parte. Não há bloqueios possíveis antes da divulgação da notícia, ainda porque a elaboração e emissão cabem – muitas vezes – a uma só pessoa.

A internet veio para ficar. Ela não substituirá a média impressa por inteiro, mas certamente a cada dia terá maior presença na sociedade. Esta conclusão é fácil de ser constada.

Uma matéria na internet produz centenas ou milhares de referências dos internautas. Apareceu na internet verifica-se imediata repercussão. Enquanto isto, nos jornais clássicos as cartas dos leitores contam-se às dezenas, na melhor das hipóteses.

Isto quer dizer que a internet é um instrumento democrático eficiente e único? É verdade. Mas, como nada é perfeito, a internet conta com um anonimato que fragiliza os posicionamentos.

O internauta pode se manter anônima. Este fato leva a posicionamentos agressivos e, por vezes, ofensivos. O pensamento – para ser legítimo – precisa contar com autoria expressa.

Cláudio Lembo é advogado e professor universitário. Foi vice-governador do Estado de São Paulo de 2003 a março de 2006, quando assumiu como governador. 

Luis Nassif

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