Russos estão de olho no submarino nuclear brasileiro

Sugerido por André Sousa

Do blog Crônicas do Motta

Russos de olho no submarino nuclear brasileiro

A intenção do Brasil de construir seu primeiro submarino nuclear repercute no exterior. O projeto é tocado há mais de uma década, mas foi o governo petista que, de fato, compreendeu a sua importância.

O site noticioso Voz da Rússia publicou uma extensa matéria sobre o assunto, algo revelador, já que os russos são o segundo maior exportador de armamentos do mundo, só atrás dos Estados Unidos, detêm desde a década de 50 a tecnologia de construção de submarinos nucleares, e certamente acompanham atentamente o desenvolvimento do projeto brasileiro.

O artigo está transcrito na íntegra a seguir:

O site informativo Lenta.ru publicou um grande artigo intitulado “Carnaval Atômico”, em que se constata que a construção de um submarino atômico ajudará o Brasil a elevar a sua economia. Quando se soube que na cidade de Itaguaí, Estado do Rio de Janeiro, foi criado um estaleiro de construção de submarinos, os peritos indagaram: contra quem e em prol de que pretende lutar o país mais bem-sucedido da América Latina? 

A direção do Brasil e os representantes dos círculos militares do país declararam reiteradas vezes que a frota de submarinos será utilizada exclusivamente a fim de defender as reservas submarinas de petróleo do país e as plataformas de pesquisa, destinadas a ampliar ainda mais estas reservas.

Na cerimônia de inauguração do estaleiro de Itaguaí a presidente Dilma Rousseff chamou a atenção para o fato de que esta arma será utilizada exclusivamente a fim de manter a paz. “Eu gostaria de louvar um fato que é muito importante: uma indústria de defesa, como disse o ministro Celso [Amorim, da Defesa], é uma indústria da paz. Mas eu acho que a indústria da defesa é, sobretudo, a indústria do conhecimento. Aqui se produz tecnologia, aqui tem também um poder imenso de difundir tecnologia. É isso que nos outros países a indústria de defesa faz. Nós somos uma nação muito característica. Nós somos um país continental, nós vivemos em profunda paz com todos os nossos vizinhos. Nós somos uma região do mundo que não faz disputas bélicas, não tem conflitos e, sobretudo, uma região pacífica. Todos nós temos consciência, no entanto, que o mundo é um mundo complexo. O Brasil assumiu, nos últimos anos, uma grande relevância. Um país como o Brasil tem esse mérito de ser um país pacífico. Isso não nos livra de termos uma indústria da defesa e temos toda uma contribuição a dar na garantia da nossa soberania, e nos inserirmos cada vez de forma mais pacífica e dissuasória preventivamente no cenário internacional.” 

O projeto de criação do submarino atômico próprio – atualmente em fase de desenvolvimento no Brasil -, permitirá a este país atingir um novo nível geopolítico. O Brasil está convencido de que a criação do submarino atômico próprio permitirá tornar mais próximo o objetivo almejado – ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. 

Foi isso que a presidente Rousseff anunciou com orgulho. “Nós podemos dizer, com orgulho, que essa obra, ela é produto da iniciativa de várias, de múltiplas instituições privadas e públicas. Podemos dizer que, de fato, com ela nós entramos no seleto grupo que é aquele dos integrantes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – únicas nações que têm acesso ao submarino nuclear: Estados Unidos, China, França, Inglaterra e Rússia.” 

O Brasil será o sétimo país do mundo possuidor de submarinos atômicos. O plano de criação destes submarinos foi anunciado ainda em 2008. Foi resolvido, afinal, construir cinco novos submarinos, cada um dos quais irá custar 565 milhões de dólares. Um dos navios terá um reator atômico. Os militares brasileiros afirmam que os submarinos serão utilizados exclusivamente para defender as reservas submarinas de petróleo e as plataformas de pesquisas, destinadas a ampliar estas reservas.

O perito militar Viktor Litovkin assevera que o Brasil olha dezenas de anos à frente. Existem duas regiões de interesses brasileiros – na África, onde são possíveis colisões políticas com os países europeus e com a China, e, hipoteticamente, na Antártida. 

“O Brasil, um país de economia emergente e de crescente potencial militar, faz desta maneira um requerimento para o futuro, demanda o seu direito de participar da geopolítica em pé de igualdade com outros jogadores mundiais” diz. 

Não se pode subestimar as ambições do Brasil, que demanda o papel de uma superpotência regional. De acordo com a Estratégia de Defesa Nacional do Brasil, o submarino atômico deve surgir em 2013. Já foram dados passos preliminares em direção a este objetivo: no país foi criada uma empresa que irá produzir hexafluoreto de urânio, começou o desenvolvimento do projeto do sistema de propulsão nuclear, foi criado um estaleiro e realiza-se a preparação de quadros de operadores de reatores nucleares. 

Na realidade, o Brasil pode repetir o êxito da companhia aeronáutica Embraer, – mas desta vez no mar. Apesar da ausência de razões militares para a realização do projeto de criação da frota submarina, ele não deixa de ter bases políticas e econômicas.

Redação

9 Comentários

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  1. Se os russos estão falando,

    Se os russos estão falando, imaginem os outros do clube atômico! Só esperamos que tudo corra dentro do cronograma e tudo com alta segurança, para não ficarmos chupando o dedo, como ficamos no caso da Base Espacial de Alcântara, que teremos que começar tudo do zero.

    1. apoio a defesa

      COM CORDO COM VC HELIO JORGE CORDEIRO,MAS O BRASIL PRECISA FICAR DE OLHO NOS ESPIOES.

      PARA, NAO PERSISTIR NO ERRO QUE OCORREU EM ALCANTRA,QUE ISSO SIRVA DE LIÇAO AOS,

      LIDERES DA DEFESSA AERIA BRASILEIROCUIDADO BRASIL,PRA NAO NADAR IGUAL NADOU NA COPA

       

  2. O projeto do submarino

    O projeto do submarino nuclear , é vital para o futuro geopolítico brasileiro. Livre dos adeptos da teoria da dependência , o país desenvolveu expectativas compatíveis com sua grandeza. A descoberta da espionagem da NSA , é o sinal vermelho de que o  país precisa de projetos consistentes na área de segurança. A blindagem das informações estratégicas , é tão importante para o sucesso das pesquisas , quanto a ciência necessária para desenvolvè-las. Russos , americanos , israelenses , europeus , são todos benvindos , desde que sua participação , rigorosamente monitorada , seja uma troca de informações de interesse mútuo. A tragédia na base de Alcântara , é a prova viva ( ou morta ) da carência desse cuidado pelas autoridades responsáveis… 

  3. Várias dimensões

    Esse assunto do submarino nuclear brasileiro pode ser lido em várias dimensões.

    No que diz respeito estritamente à tecnologia, seriam três os passos para a consecução desse tipo de arma: o domínio da produção do combustível, o domínio da engenharia do casco e o domínio da engenharia da propulsão. O primeiro o Brasil já tem (e isso é segredo tecnológico guardado a sete chaves por cada possuidor); o segundo a França está vendendo, porque é a único passo passível de ser comercializado; o terceiro, o Brasil está se esforçando para produzir, mas, com os crescentes contingenciamentos de recursos durante o governo Dilma, os prazos vêm sendo progressivamente adiados. Até onde eu saiba, a última previsão para batida de quilha do primeiro submarino nuclear brasileiro estava marcada para 2025. Ou seja, ainda falta tempo.

    Isso significa que este tipo de projeto só pode sobreviver como um projeto de Estado, e não como um projeto de governo. Mas esse projeto de Estado tem a ver com a nova dimensão dada à política externa brasileira a partir do primeiro governo Lula. E nisso os russos estão certos quanto ao horizonte africano e antártico. Só que um possível governo do PSDB produziria um tipo completamente distinto de alinhamento estratégico do Brasil. Portanto, ironicamente, no Brasil projetos de Estado acabam reduzidos, sim, a projetos de governo. E aí os russos caem do cavalo.

    Em termos estratégicos, um submarino nuclear colocaria o Brasil em um clube seleto de “global players” com poder de dissuasão não desprezível, e aí a dimensão estratégica deve seus dividendos à dimensão tática.

    O submarino sempre foi reconhecido como uma espécie de guerrilheiro dos mares: sua ação é furtiva e evasiva; produz desgaste, mas raras vezes é largamente destrutiva; azucrina qualquer planejamento naval inimigo, a ponto de produzir perdas politicamente insustentáveis. Só que no atual estado tecnológico de detecção, um submarino convencional é praticamente uma arma de um tiro só. O submarino nuclear é o único capaz de incursionar e se evadir com relativo sucesso. Três submarinos nucleares seriam suficientes (em termos de autonomia) para cobrir a zona marítima de interesse econômico do Brasil.

    Isso seria anacrônico se confrontado com o discurso brasileiro de tornar o Atlântico Sul um espaço pacífico. O elemento problematizante, a bem curto prazo, que entra nessa equação política não é outro que a reativação da 4a. frota norteamericana.

    Os documentos que sustentam a política de defesa brasileira fazem questão de sentenciar formalmente que o Brasil não têm inimigos. Isso não quer dizer que as projeções militares brasileiras não trabalhem incessantemente com inimigos potenciais. Nesse sentido, qualquer militar de alto ou médio escalão razoavelmente atento sabe que, com essa capacidade de dissuasão e frente ao quadro existente, o que um submarino nuclear insinua a curto prazo para o Brasil é que, a despeito do tal horizonte africano e antártico de que falam os russos, nosso inimigo potencial não é outro que os Estados Unidos.

    Um realinhamento conservador na política externa brasileira, com uma subordinação automática ao campo de influência norte-americano, simplesmente tornaria o projeto do submarino nuclear uma ociosidade.

  4. Russos não se interessaram pelo Prosub

    A notícia é de 31/Mai/2013, antes do escândalo de espionagem que fez os Russos acenarem com a possibilidade de “cooperação” tecnológica quanto aos caças.

    http://portuguese.ruvr.ru/2013_05_31/o-brasil-constroi-submarino-atomico-proprio-0309/

    Nessa notícia da FSP de 04/Fev/2008 fala que quando o Jobim então ministro da defesa foi à Rússia visitar seus estaleiros , os Russos não tinham a menor intenção em qualquer tipo de cooperação técnica quanto à construção de submarinos pelo Brasil. 

    http://www.mar.mil.br/hotsites/sala_imprensa/marinha_na_midia/jornal_revista/Coletaneamarinhanamidia2008/02%20Fevereiro%202008/fsp_submarinonuclear.pdf

  5. 2025

    A Itaguai Construções Navais e sua associada Amazul, pelo programa conjunto Brasil – França (representada pelo consórcio DCNS – Thales) na primeira etapa do PROSUB, possuem em contratos a construção de 4 Submarinos de propulsão convencional, denominados SBr, ( S40 – Riachuelo, S41- Humaitá, S42- Tonelero, S43- Angostura), previsto para serem incorporados a esquadra, a partir de 2017 até 2021, sendo a nacionalização de componentes progressiva.

    Quanto ao de propulsão nuclear (SNBr – SN-10 “Alm. Alvaro Alberto”), a DCNS francesa, de conformidade com os tratados internacionais, dos quais a Russia tambem é signatária, referente a proibição de transferencia de tecnologia de propulsão nuclear, a Marinha do Brasil, com o ARAMAR, associada as empresas privadas nacionais: Atech (Embraer), Conger, Nuclep, e universidades federais, desenvolve sem assessoria externa, todas as “sessões quentes” do futuro submersivel (reator,trocadores de calor, suporte a vida, etc..). Portanto de acordo com o projeto, estas partes terão que estar disponiveis, para serem agregadas ao casco no primeiro semestre de 2016, e o SN-10 ser lançado ao mar, para testes no 2o semestre de 2023, e incorporação a esquadra em 2025.

    O total de unidades idealizadas para o PROSUB, de acordo com a MB, é de 15 submarinos convencionais e 6 de propulsão nuclear, com o horizonte de 2040.

    Os russos: Ofereceram para venda, submarinos de propulsão nuclear da série Akula, a India arrendou uma unidade, e nela foi baseado o primeiro sub nuclear indiano, o INS Arihant , lançado em 2009 e com previsão para entrada efetiva em serviço (incorporação) em 2014

  6. A Rússia não é uma rival

    A Rússia não é uma rival estratégica do Brasil… Dona da maior extensão territorial do mundo, não participa do xadrez de interesses sobre a África, tampouco da América Latina… Além disso é a única nação capaz de produzir submarinos com propulsão nuclear, que cedeu para outra uma embarcação do tipo.

    Eu lembro de uma entrevista da revista virtual ALIDE, com um engenheiro do Estaleiro Rubin, especializado no projeto e fabricação de submarinos, sobre uma visita de uma comissão composta de oficiais da Marinha do Brasil. A visita correu bem, mas sem que houvesse grande curiosidade ou perguntas específicas da parte dos nossos oficiais, e o motivo disso, já sabiam os russos, é que as negociação com os franceses seguiam bastante adiantadas…

    É o que a minha memória informa, caso ela não me traia.

    Sds.

     

    1. memória não te traiu

      A visita ao Admiralty (Rubin), proximo a S.Petersburgo, ocorreu pouco tempo antes, na feira naval russa (IMDS-2007 ), da assinatura do contrato entre o Brasil e a DCNS/DGA francesa com o Scorpene Br ( o 2o colocado na avaliação da MB, o 1o colocado foi uma versão do IKL-214 alemão, que “afundou” na concorrencia brasileira em 2004/2005)

      Portanto neste “gap”, entre o IKL e o Scorpene, foi feita uma avaliação dos Kilo russos e estudos relativos ao sucessor dos Kilo, a classe Lada/Amur 1650, e os sistemas de AIP desenvolvidos para estes subs., e claro, como vc. coloca , os russos já sabiam dos franceses (pelos próprios da DCNS), pois estavam em negociações com eles (que deram certo), referente aos 3 BPC da Classe Mistral.

      Já na concorrencia do PROSUPER, apesar de terem recebido carta-convite, a USC/Rosoboronexport, não apresentou proposta final.

      Mas russo que é russo não desiste, insiste, e irão apresentar proposta da Almaz-Sevmach, para o futuro substituto do NAe São Paulo (A-12) – e não apenas com “sky-jump”, mas com catapultas a vapor.

      P.S.: o contrato do Brasil (Itaguai-Odebrecht) com a França (DGA-DCNS-Thales-Jeumont), foi assinado em 3/09/2009, e soma o total, dos 7 contratos, o valor de 6.790.862.142,00 Euros ( dos quais 1,2 Bilhão é relativo apenas ao “nuke”, fora o reator e demais partes quentes).

  7. O BRASIL EM DESENVOLVIMENTO.

    Partindo da premissa que a paz envolve a guerra, então, estamos em paz, mas por quanto tempo? O Governo Federal sabe disso e sinalizou uma parceria com o governo françês,  para colocar em prática sua necessidade de construir o submarino nuclear, bem como sua base.

    Outra questão importante: o Brasil quer promover a paz, mais a que custo? Se for por meio de tecnologia, ela é bem vinda, mas se for para associar-se com os aniquiladores de plantão, não compensa. A ONU está desprestigiada, e não sei se o Brasil se importa com cadeiras, contudo, o Mundo é multipolar e o Brasil está aproveitando bem isso.

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