“A terra não pode ser calvário de pobreza, mas meio de libertação”, diz Pepe Mujica

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Ex-presidente do Uruguai José Mujica participa de roda de conversa com jornalistas na II Feira Nacional da Reforma Agrária / Rica Retamal

Ex-presidente do Uruguai José Mujica participa de roda de conversa com jornalistas na II Feira Nacional da Reforma Agrária - Créditos: Rica Retamal

no Brasil de Fato

“A terra não pode ser calvário de pobreza, mas meio de libertação”, diz Pepe Mujica

O ex-presidente uruguaio participou de coletiva de imprensa na Feira Nacional da Reforma Agrária, do MST

Júlia Dolce

O ex-presidente do Uruguai José (Pepe) Mujica participou na manhã deste sábado (6) da segunda edição Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no Parque da Água Branca, em São Paulo. Em entrevista coletiva para jornalistas de veículos independentes, Mujica defendeu a importância da luta dos camponeses e da distribuição de terra.

“A terra não pode ser um calvário de pobreza, tem que ser também um instrumento de libertação, para compaixão e poesia, e não apenas para negócios. Tem que colocar a alma para plantar. Terra plantada sem alma é um fracasso”, opinou.

De origem camponesa e com discurso socialista, Mujica criticou também o uso desenfreado de tecnologias no campo e os impactos no meio ambiente e na biodiversidade. “O homem nunca teve os meios que tem hoje. Se pensarmos, tecnicamente, pela acumulação de capital e conhecimento, o homem poderia lidar com as misérias fundamentais, reverter muitos desastres. Uma civilização que inventou as mais incríveis tecnologias, mas hoje é dominada por elas, e não o contrário. Isso porque o motor dessa energia formidável é a ganância. Já faz mais de 30 anos que os homens da ciência nos disseram o que tínhamos que fazer, e por incompetência política não fizemos”, afirmou.

Na opinião do ex-presidente, a resistência camponesa e a união entre os povos latino-americanos são passos fundamentais para a transformação dessa realidade.

“Por isso estou aqui, além de ser latino-americano, porque o mundo está padecendo pela pressão do capital financeiro e das grandes empresas. Não há crise ecológica, há crise política. Faltou luta política para intervir nos interesses. O continente latino-americano, o mais rico em recursos naturais, é o mais injustiçado. Para sermos fortes, temos que ter coragem de nos juntarmos. Eu creio no destino desafiador da América Latina, mas ninguém vai nos dar nada de graça, sem lutas sociais não há mudança”, acrescentou.

Mujica também defendeu a importância do MST e declarou apoio aos militantes do movimento no atual contexto político brasileiro. “Os lutadores sociais são a base da história, tem sido desde sempre. Por isso estou aqui e seguirei estando. O fracasso que tivemos será irreversível para a natureza, mas temos que criar novas realidades nessas condições, e não viver de nostalgia. A terra não deve ser propriedade privada, ela pertence à humanidade, e muito mais do que um problema de concentração de terra, o Brasil está sofrendo uma dicotomia de sua própria história. Só resolvemos esse paradigma com luta de classes e luta social”.

Em relação à relevância da Feira Nacional da Reforma Agrária, Mujica destacou o papel essencial da produção de alimentos na cultura humana. “Nada é mais importante do que a comida, e ela vem do cultivo e do trabalho da terra. Temos que cuidar da saúde e da cultura. Se perdemos o ofício de cozinhar perdemos a essência da cultura humana”, afirmou.

José Mujica participou também da Conferência “Alimentação Saudável: um Direito de Todos e Todas”, com a atriz Letícia Sabatela, o ex-Ministro da Saúde Alexandre Padilha, a apresentadora Bela Gil e a liderança do MST, João Pedro Stedile. O evento ocorre na manhã deste sábado (6) na Feira Nacional da Reforma Agrária, que vai até este domingo (7), às 19h.

Edição: Camila Maciel

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. “Não há crise ecológica, há crise política.”

    Toda ação é uma ação política. Se deixarmos de lado a questão ambiental, estaremos politicamente assumindo uma postura de negligenciação. 

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