O caso do Instituto da Visão

Por Eduardo Bizon

Onde andará o SUS?

Do site do IPEPO

Instituto da Visão ampara e assessora o Departamento de Oftalmologia da UNIFESP/EPM no ensino de Graduação em Medicina e Tecnologia Oftálmica, bem como nos cursos de Residência e Especialização, oferecendo oportunidades e recursos econômicos e humanos para manutenção dessas atividades de ensino em nível de excelência de qualidade tanto intelectual como tecnológica.

Os resultados obtidos pelo Instituto da Visão, uma verdadeira ONG para a visão, que conta com um grupo de 500 colaboradores – entre os quais se incluem muitos dos maiores cirurgiões da América Latina, bem como professores, pesquisadores, mestres, residentes, estagiários, enfermeiros e pessoal de apoio – se devem ao desenvolvimento de estratégias para aplicação de alta tecnologia em larga escala, otimizando recursos humanos e materiais.

Entristece-me escrever sobre coisas que não precisariam ter acontecido se seus executores tivessem se preocupado em satisfazer o bem comum e não apenas à classe às quais pertencem. E como não poderia deixar de ser o assunto dessa missiva não poderia ser outro se não o de saúde pública.

Hoje, dia 6 de julho de 2010, acordei às cinco e trinta da manha para chegar em tempo ao prédio chique que está sendo construído na Rua Botucatu – Vila Mariana, onde futuramente deverá funcionar na sua integra o Instituto da Visão – IPEPO, instituto este com raízes que ramificam da Universidade Federal de São Paulo, ou como é comumente chamada, Escola Paulista de Medicina. Não me preocupei em averiguar quem são os administradores dessa instituição – se diretamente a UNIFESP, se uma Organização Social, ou quem sabe se a Sociedade Paulista para Desenvolvimento da Medicina.

Como já disse, acordei bem cedo para não chegar atrasado à consulta de oftalmologia, marcada há alguns meses atrás para as oito horas da manha desse dia mesclado de frio e de poluição. Cheguei ao local por volta das sete horas e trinta minutos. Solicitei na casa localizada em frente ao prédio chique onde são recebidos os pacientes do SUS, o prontuário do garoto de dez anos, filho de uma empregada doméstica da minha família, que acompanho há cinco anos para tratamento no referido instituto, e que, aliás, tem evoluído de maneira bastante positiva. Dirigi-me ao prédio, subi a escada até o primeiro andar, dei entrada na recepção, onde fiquei aguardando até dez e dez da manha pela tão esperada consulta, quando então fomos informados que o médico não iria atender aos pacientes agendados. Motivos não importam. Pior do que qualquer motivo é a falta de comunicação com todas as pessoas oriundas de vários locais da cidade e até de outras cidades, e o tempo de quase três horas para que elas ficassem sabendo do infortúnio.

Mas, o que mais me espantou, não foi a ausência inusitada do profissional de saúde sem que aquelas pessoas tivessem sido antecipadamente avisadas, mas, sim as coisas que fiquei sabendo conversando com algumas das pessoas que impertinentemente aguardavam comigo suas consultas. Uma senhora que estava sentado ao meu lado, conversa vai conversa vem, relatou-me que estava com um problema grave na visão, e que procurara uma UBS na região onde reside; na UBS foi informada de que precisaria ser encaminhada para um local especializado tal qual o IPEPO, mas que o tempo de espera era longo. De outro modo ficou sabendo que esse instituto também atendia consulta particular e que se ela pudesse pagar as coisas seriam mais rápidas. Foi o que ela fez. Entrou em contato e marcou rapidamente uma consulta que lhe custou módicos R$ 260,00 (duzentos e sessenta reais). O pior de tudo é que constatei que o único paciente do SUS, dentre aquelas pessoas que ali se encontravam, era o menino que eu acompanhava.

Quatro meses atrás aconteceu o mesmo. Levei o menino para ser atendido e conversando com as pessoas constatei que a maioria era de Convênio Particular ou estava pagando pela consulta. Nesta mesma época também fui informado que havia ociosidade no atendimento a pacientes SUS, ou seja, que alguns profissionais estavam incomodados por estarem atendendo pouquíssimos pacientes do SUS.

O que mais preocupa é saber que essa instituição, que tem seu quadro formado por profissionais de grande competência, é pública. E, que tudo leva a crer, tem atendido pacientes particulares além dos limites estabelecidos pelas normas que regem o SUS. E aqui cabem perguntas?

Seria o Instituto da Visão uma instituição privada que também atende pacientes do SUS, conforme a Beneficência Portuguesa, por exemplo?

Seria o Instituto da Visão uma instituição pública que também atende pacientes particulares? E nesse caso qual seria a proporção, ou seja, para cada cem pacientes SUS quantos pacientes particulares seriam atendidos?

Creio que este é um assunto de extrema importância a ser discutido no Conselho Estadual de Saúde e no Conselho Federal de Saúde. Se por acaso estiver realmente acontecendo uma priorização de atendimentos particulares sobre os atendimentos SUS, a quem cabe a responsabilidade de corrigir essa equação de forma que vinte por cento seja realmente vinte por cento para atendimentos particulares e que oitenta por cento seja realmente oitenta por cento para os atendimentos SUS.

Ou quem sabe chegar-se à conclusão de que instituições públicas devem atender 100% SUS. 

Luis Nassif

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