Uso de medicamentos entre idosos

Por alfeu

Pesquisa com 3 mil idosos indica alta prevalência de uso de medicamentos

Renata Moehlecke, Agência Fiocruz de Notícias

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos anos, a população idosa brasileira cresceu duas vezes mais que a população geral. A estimativa é que, em 2030, aproximadamente 19% do total de brasileiros estejam na terceira idade. Atentos a esse processo de envelhecimento populacional que acarreta em uma maior preocupação e cuidados com a saúde, pesquisadores das universidades federais de Minas Gerais (UFMG) e de Viçosa (UFV) e da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) identificaram fatores associados ao uso de medicamentos entre 3 mil idosos de mais de 60 anos beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os resultados, publicados na revista Cadernos de Saúde Pública da Fundação, apontaram que a prevalência de uso de medicamentos foi de 83% e os mais utilizados tinham relação com o sistema cardiovascular.

“No Brasil, a utilização de grande número de medicamentos é amplamente observada entre indivíduos com 60 anos ou mais. Além dos fatores clínicos que fazem com que idosos necessitem de farmacoterapia, outros fatores podem estar associados ao uso demasiado de medicamentos, sendo um dos principais a ideia impregnada na sociedade de que a única possibilidade de se ter saúde é consumir saúde”, afirmam os pesquisadores. “O vasto arsenal terapêutico disponível no mercado brasileiro, assim como o valor simbólico do medicamento, podem contribuir para o uso excessivo desses produtos, sem que se leve em consideração suas possíveis consequências negativas. Contribui ainda para essa situação de busca da recuperação da saúde por meio de medicamentos, em detrimento de medidas não farmacológicas. Um exemplo é o consumo expressivo de vitaminas e suplementos minerais, cuja relação risco/benefício ainda não é em estabelecida”.

A pesquisa também apontou que 35,4% dos entrevistados utilizam diversos medicamentos (polifarmácia), sendo a incidência dessa prática ainda maior com a idade: no grupo de 60 a 69 anos, 28,3% dos idosos relataram o uso de mais de um remédio, enquanto entre os maiores de 70 anos, o percentual subiu para 42,7%. A polifarmácia ocorreu em mais de um terço dos participantes e a média de utilização de remédios por pessoa ficou entre dois a cinco. A maior parte dos tratamentos, em todas as faixas etárias, visava combater doenças pertencentes ao sistema cardiovascular e nervoso, e enfermidades relacionadas ao metabolismo (alimentares).

Outro resultado indicado pelo estudo foi que as mulheres utilizaram mais medicamentos que os homens. Segundo os pesquisadores, isso poderia se explicar pelo predomínio do sexo feminino em idades mais avançadas no Brasil e no mundo. Eles também destacaram que mais da metade dos participantes da pesquisa não tinha o curso primário completo. “A baixa escolaridade influi na compreensão e cumprimento da prescrição, podendo resultar em troca de medicamentos e outros erros na sua utilização”, explicam.

De acordo com os pesquisadores, o estudo evidencia a necessidade de aprimoramento da assistência farmacêutica para esse subgrupo da população. “A partir do conhecimento dos fatores que se mostram associados ao uso de medicamentos, espera-se contribuir para a elaboração de políticas públicas direcionadas ao bem-estar desse grupo populacional, que visem à adequação da assistência farmacêutica às suas reais necessidades, promovendo desta forma a racionalização do uso de medicamentos e, consequentemente, a otimização da terapêutica”, concluem.

Luis Nassif

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