Em carta a Cunha, cientistas políticos rejeitam o distritão na reforma política

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Em carta endereçada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMBD), cientista políticos de várias universidades espalhadas pelo País se posicionaram contra o fim das eleições proporcionais e a adoção do chamado distritão. A proposta é defendida pelo PMDB e está inserida na PEC da reforma política, que Cunha pretende por em votação na próxima semana.

“Com o fim do voto de legenda e da transferência de votos dentro das agremiações partidárias, os candidatos correrão por conta própria, a título individual, enfraquecendo os partidos políticos e potencializando o personalismo na corrida eleitoral. Além disso, diferentemente do atual modelo, milhões de votos serão jogados fora, visto que somente serão válidos os votos dos eleitos.” Além disso, eles destacam que as campanhas ficarão mais caras, pois sem apoio do partido, cada candidato precisará de mais recursos para aumentar sua exposição.

Da Associação Brasileira de Ciência Política

Cientistas políticos e sociólogos se posicionam contra o distritão”

Começou a circular na madrugada desta quinta-feira (21) mensagem entre pesquisadores e estudantes da área de Ciência Política que busca apresentar um posicionamento ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), atual Presidente da Câmara dos Deputados. O documento afirma que caso o “distritão” passe na votação da Câmara na próxima semana, este seria um “retrocesso institucional”. O sistema eleitoral por distritos é apenas um dos muitos itens da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Reforma Política, sendo talvez um dos temas mais polêmicos junto com o financiamento de campanha.

Confira a íntegra do documento com as assinaturas coletadas até o início da tarde de hoje:

Ao Excelentíssimo Senhor Deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Presidente da Câmara dos Deputados (Brasília, DF)

Nós, estudiosos da ciência política brasileira, vimos por meio desta manifestar posição contrária à adoção do modelo de sistema eleitoral denominado “distritão”, que será objeto de votação no plenário da Câmara dos Deputados, no dia 26 de maio de 2015.

A introdução do distritão nas eleições para a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores representará um verdadeiro retrocesso institucional. Com o fim do voto de legenda e da transferência de votos dentro das agremiações partidárias, os candidatos correrão por conta própria, a título individual, enfraquecendo os partidos políticos e potencializando o personalismo na corrida eleitoral. Além disso, diferentemente do atual modelo, milhões de votos serão jogados fora, visto que somente serão válidos os votos dos eleitos.

Ao que tudo indica, o distritão acarretará o aumento dos custos das campanhas eleitorais, pois, sem incentivo algum para a cooperação dentro dos partidos, os candidatos necessitarão de maior exposição individual. Ademais, facilitará o renascimento de oligarquias regionais e contribuirá para a diminuição da qualidade da representação política, ao proporcionar maiores condições de vitória a concorrentes sem experiência parlamentar.

Se a necessidade de uma reforma política surge do diagnóstico de que os partidos são frágeis, a adoção do distritão parece ter como objetivo fragilizá-los ainda mais, interessando a certos segmentos da classe política profissional, em particular àqueles com maior facilidade para dispor de vultosos recursos para suas campanhas. Nesse sentido, observamos com preocupação a possibilidade de sua implantação e reiteramos nossa posição contrária à sua propositura.

Assinam o documento (até o momento):

Adalberto Cardoso (IESP-UERJ)
Adriano Codato (UFPR)
André Luiz Coelho (ECP-UNIRIO)
Armando Boito (DCP-UNICAMP)
Bernardo Ricupero (DCP-USP)
Bruno Pinheiro Wanderley Reis (DCP-UFMG)
Carolina de Paula (pós-doutoranda no IESP-UERJ)
Carlos Melo (INSPER)
Carlos Pereira (FGV-Rio)
Cláudio Gonçalves Couto (FGV-SP)
Clayton Mendonça Cunha Filho (pós-doutorando no IREL-UnB)
Emerson Urizzi Cervi (UFPR)
Fabiano Guilherme Mendes Santos (IESP-UERJ)
Fabrício Pereira da Silva (ECP-UNIRIO)
Filomeno Moraes (UNIFOR)
Guilherme Simões Reis (ECP-UNIRIO)
Jawdat Abu El-Haj (DCS-UFC)
João Paulo Saraiva Leão Viana (DCS-UNIR)
José Maurício Domingues (IESP-UERJ)
Josênio Parente (UECE; UFC)
Katiuscia M. Galhera (doutoranda em Ciência Política na UNICAMP)
Leonardo Avritzer (DCP-UFMG)
Luciana Veiga (ECP-UNIRIO)
Manoel Leonardo Santos (DCP-UFMG)
Manuel Domingos Neto (UFF)
Marcia Ribeiro Dias (ECP-UNIRIO)
Maria do Socorro Braga (UFScar)
Maria Hermínia Tavares de Almeida (USP; CEBRAP)
Marcelo Borel – (doutorando em ciência política no IESP-UERJ)
Oswaldo E. do Amaral (DCP-UNICAMP)
Paulo Roberto Neves Costa (UFPR)
Rachel Meneguello (DCP-UNICAMP)
Vinicius Valentin Raduan Miguel (DCS-UNIR
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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

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  1. Reforma politica sem que

    Reforma politica sem que tenha uma constituinte exclusiva é golpe contra a democracia, e o povo só aceitará se estiver domente; reforma só será legitima quanda sair das propostas populares e legitimas e não pelos detentores desse poder carcomido lesgilando em causa proprio, e pior com o intuito do fortalecimento de tudo de ruim que levou a politica nacional a este estado de coisas, fortalecendo o capital e diminuindo a participação popular, é golpe.

  2. Evangélicos

    O distritão criará uma superepresentação bíblica. Os evangélicos têm mais talento para convencer dizimistas a votar em seus candidatos. Racham menos e conquistam eleitores com outros temas não religiosos – mas igualmente conservadores e sectários. Eleitos, não estarão nos Parlamentos em defesa de Deus, com condutas nada cristã. O que há de mais emblemático que o mais notável desses políticos ser o atual presidente da Câmara dos Deputados?

    1. É proibido pedir voto em

      É proibido pedir voto em culto religioso?

      Se bem que há diversas formas de induzir o crente a votar no pastor… Gozado, tudo que esse cara faz é comer pelas beiradas, é se esgueirar por atalhos subterrâneos, é sempre nas brechas da lei, nunca é pleno, cheio, naquilo que o pessoal costuma de chamar de boa fé.

  3. Precisamos protestar contra essa PEC mambembe. Essa não é

    A nossa reforma!

    Mas ja conhecemos a maneira de proceder de Eduardo Cunha. Vai passar com o seu trator habitual tudo o que Ele acha que é bom… para Ele mesmo. 

  4. Querem rejeitar só o

    Querem rejeitar só o distritão? Isso é uma grande piada de profundo mau gosto. NADA nessa anti-reforma tem legitimidade Isso é um escárnio com o interesse do povo brasileiro, condenar um aspecto dessa reforma espúria e assim legitimar os outros aspectos também espúrios. Essa tentativa de se antecipar e liquidar com uma verdadeira Reforma Política deve ser condenada e combatida in totum, nada dela deve vingar, nem o cabeçalho!

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