Enviado por Pedro Penido dos Anjos
Espiritualidade do Período Conservador Pré-Moderno
Por Fernando Nogueira Costa
Do Cidadania & Cultura
Nenhum pensamento racional conseguiria criar uma sociedade agressivamente inovadora sem uma economia moderna. As sociedades ocidentais podem continuar modificando a infraestrutura para possibilitar novas invenções, porque, graças ao constante reinvestimento de capital, conseguem aumentar nossos recursos básicos para que acompanhem nosso progresso tecnológico.
Isso não é possível em economia agrária, na qual as pessoas canalizam suas energias para a preservação do que já conquistaram. Portanto, a tendência “conservadora” de uma sociedade pré-moderna não se devia a uma timidez fundamental, mas representava uma avaliação realista das limitações desse tipo de cultura.
A educação, por exemplo, consistia sobretudo em memorização e não estimulava a originalidade. Os estudantes não aprendiam a conceber ideias novas, porque a sociedade em geral não tinha como assimilá-las. Tais noções podiam, portanto, ser socialmente destrutivas e ameaçar uma comunidade. Em sociedade conservadora, a estabilidade e a ordem eram mais importantes que a liberdade de expressão.
Em vez de olhar para o futuro, como modernamente, as sociedades pré-modernas iam buscar inspiração no passado. Em vez de contar com um aprimoramento constante, achavam que a geração seguinte podia facilmente regredir. Em vez de procurar superar suas conquistas, acreditavam que haviam decaído de uma perfeição primordial.
Essa suposta Idade do Ouro era apresentada como modelo a governos e indivíduos. Aproximando-se desse passado ideal, uma sociedade realizaria seu potencial. Considerava-se a civilização inerentemente precária. Sabia-se que toda uma sociedade podia mergulhar na barbárie, como ocorrera com a Europa ocidental após a queda do Império Romano, no século V.
No início da Era Moderna, o mundo islâmico ainda guardava na memória a lembrança das invasões mongóis do século XII. Ainda se transmitia oralmente a lembrança, com horror, dos massacres, da fuga de populações inteiras, da destruição de uma grande cidade após outra. Bibliotecas e instituições culturais também desapareceram, e, com elas, perderam-se séculos de conhecimentos arduamente adquiridos.
Os muçulmanos se recuperaram. Os místicos sufistas lideraram um renascimento espiritual que se revelou tão salutar quanto a Cabala luriânica, e os três novos impérios constituem um sinal desse reerguimento.
As dinastias otomanas e Safávida tinham raízes no maciço deslocamento da era mongol. Originaram-se nos militantes Estados ghazu, governados por um chefe guerreiro e geralmente ligados a uma ordem sofista, que surgiu na esteira da devastação. O poderio e a beleza desses impérios e de sua cultura equivaliam a uma reafirmação dos valores islâmicos e a uma orgulhosa declaração de que a história muçulmana prosseguia.
Depois da catástrofe advinda das invasões mongóis do século XII, o conservadorismo natural da sociedade pré-moderna só podia acentuar-se. Havia mais empenho para recuperar o que se perdera do que para conquistar algo de novo.
No islamismo sunita, que compreende a maioria dos muçulmanos e é a religião oficial do Império Otomano, por exemplo, “as portas do ijtihad” (“raciocínio independente”) se fecharam. Até então os juristas muçulmanos podiam exercer seu próprio julgamento para resolver questões relativas a teologia e lei para as quais nem o Alcorão nem a tradição explicitavam soluções. No início do Período Moderno, porém, na tentativa de preservar uma tradição que havia sido quase destruída, os sunitas resolveram que não devia mais haver espaço para o pensamento independente.
As respostas estavam no lugar de sempre: a Shariah prescrevia a conduta da sociedade e o ijtihad não era nem necessário, nem desejável. Os muçulmanos deviam imitar (taqlid) o passado. Em vez de buscar novas soluções, deviam submeter-se às normas contidas nos manuais legais. No começo da Modernidade, a inovação (bidah) em matéria de lei e prática era tão subversiva e perigosa para o islamismo sunita quanto a heresia em matéria de doutrina para o Ocidente cristão.
Seria difícil imaginar uma atitude mais contrária ao espírito desbravador e iconoclasta do Ocidente moderno. A ideia de frear deliberadamente nossa capacidade de raciocinar é inconcebível. Como Karen Armstrong mostra, no capítulo seguinte de seu livro, a cultura moderna só se desenvolveu quando se começou a derrubar esse tipo de barreira.
Se a Modernidade Ocidental é produto do logos, o espírito conservador do mundo pré-moderno se satisfazia plenamente com o mythos. O pensamento mitológico olha para trás, não para a frente. Volta sua atenção para as origens sagradas, para um acontecimento primordial ou para as bases da vida humana.
Em vez de buscar algo novo, o mito se concentra no que é constante. Não nos transmite “novidades”, mas nos fala do que sempre foi. Tudo que importa já foi realizado e pensado. Vivemos de o que disseram nossos ancestrais, principalmente nos textos sagrados que contêm tudo o que precisamos saber. Essa era a espiritualidade do período conservador.
O culto, as práticas rituais e as narrativas míticas não só davam aos indivíduos a sensação de que tudo faz sentido – sensação que repercutia em seu inconsciente mais profundo –, como reforçavam a atitude essencial à sobrevivência da economia agrária e de suas inerentes limitações.
O mito não tem de desencadear mudanças concretas. Ele cria uma disposição mental que se adapta e conforma com as coisas como são. Isso era essencial em uma sociedade que não podia comportar inovações desenfreadas.
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Espiritualidade do período conservador pré-moderno
O mythos e o logos não têm que ser antagônicos, nem temos que optar entre um e outro.
Temos que ter a sabedoria de discernir o que é permanente do que é transitório. Temos que ter uma base construída sobre sólidos valores permanentes, que devem ser preservados, e buscar constantemente o progresso através das inovações contidas no transitório.
Jogar fora o rico passado contido nos mitos em nome do progresso equivale a construir um castelo sem fundações e alicerces, o qual no primeiro abalo será destruído sem restar qualquer legado às gerações futuras.
valores
Preciso.
O que é efetivamente espiritualidade?
O que é efetivamente espiritualidade?
Como afirmou Bertrand Russell, a verdade está no hábito de formar nossas opiniões com base na evidência, e sustentá-las com o grau de convicção que a evidência garante.
Só isso e apenas isso.
O resto é armazém de secos e molhados, disputa de poder e dinheiro.
Nada matou mais gente na face da terra, sufocou a ciência e destruiu mais obras de arte que as religiões.
Principalmente as 3 piores e mais mortíferas religiões, oriundas da maldita cidade de Jerusalém (quantas pessoas ao longo da história e até hoje já morreram e continuam morrendo atacando ou defendendo aquela cidade e/ou seus valores religiosos?), as que cultuam um deus único, e que segundo a “historinha” comum a elas, inventada com propósito de obter poder sobre temerosos seres mortais, ordenou a um velho que esfaqueasse uma criancinha de 5 anos, seu próprio filho, para “ver” se o velho era obediente, só o impedindo no último segundo, e esse velho que ia assassinar o petiz de sua prole, hoje seria com justiça encarcerado, é absurdamente venerado como um patriarca exemplar posto que conveniente, foi obediente, sendo pois um “exemplo”.
O que os seres humanos necessitam é de Liberdade, Igualdade, Fraternidade, mas para isso seria preciso mudar.
Muito.
“Não poderá existir paz até que eles renunciem a seu Deus Coelho e aceitem nosso Deus Pato”