Os limites da intolerância religiosa no Rio de Janeiro, por Matê da Luz

Os limites da intolerância religiosa no Rio de Janeiro

por Matê da Luz

Atos infelizes e de apertar o coração da humanidade (deveria ser isso mesmo, algo que comove a todos, tamanha violência sem justificativa alguma) vêm acontecendo descaradamente no Rio de Janeiro de alguns meses pra cá. Escrevo descaradamente porque a violência e discriminação contra as práticas religiosas com origens negras acontecem rotineiramente, com maior ou menos força – não é raro para nós, os praticantes dessa fé, ter intimidade com a palavra preconceito, muito pelo contrário: tantos de nós, como no meu caso (brancos, privilegiados e por aí vai…) temos a oportunidade de conhecer o que é preconceito por conta desta escolha. 

Até agora foram pelo menos quatro barracões (nesta “leva”, porque já é datada a violência contra as casas de axé) depredados, em movimentos onde prevalesceu a humilhação, a desordem, o medo. Num dos discursos sobre o ocorrido, uma mãe de santo conta que os criminosos urinaram em cima das imagens e assentamentos, chamando-as de manifestação do demônio. O demônio, aliás, parece ser o grande culpado por este tipo de agressão: num dos depoimentos consta que os homens armados que invdiram e depredaram um dos terreiros falava em nome de Jesus, seguro de que estava ali a serviço do bem. Algumas matérias aqui na internet dão conta de que estes grupos têm ligação com o tráfico de drogas e, pasmém, a igreja evangélica. 

Informação preciosa: o candomblé não trabalha com o diabo, demônio ou seja lá o nome que tenha. No candomblé, evocamos as forças da natureza que, isso sim, têm manifestações positivas e negativas, mas que passam longe do bizarro comportamento humano de destruir e depredar. Este diabo que tantos comentam existem nas visões bilaterais apresentadas na religião e, aos meus olhos, cada vez mais serve como desculpa para os erros humanos. Santo nenhum ou Deus algum, pelo que eu entenda, deseja instigar o erro, o equívoco. O que existe e que pode ser comparado ao mal, veja bem, nem existe de fato para o candomblé, mas sim para a Umbanda e para o espiritismo – é a chamada baixa frequência, onde estão os espíritos menos evoluídos e que, por estarem em processo de aprendizado, podem acabar influenciando ações negativas aqui na terra. 

Quer dizer, estão destruindo lugares por puro ódio. Por uma intolerância que, sob todos os prismas, não carrega informação ou fundamento algum – entendo que algum tipo de violência pode ser justificada em contra-ataque, proteção vital ou casos extremos, mas não sem a parceria da inteligência, filtro que determina intensidade e direção de movimentos. 

O que está acontecendo no Rio de Janeiro, o que vem acontecendo com as religiões de raiz negra neste país só tem um nome: preconceito. E este é um ingrediente profundamente infeliz e celebrado pela alta cúpula dos governos fascistas que temos o desprazer de vivenciar. Por alguns cilocs de quatro anos, está permitido ser burro, ignorante e atacar.

Oremos. 

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A CBN está fazendo uma das coberturas mais isentas sobre os casos, vale acompanhar. 

Mariana A. Nassif

2 Comentários

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  1. Não, com o devido respeito,

    Não, com o devido respeito, não é preconceito, mas política. Basta ver quem financia aqueles que agridem, quais sejam os pentecostais e neo-pentescostais. Segundo uma reportagem da revista Carta Capital são os EUA, que não gostam de concorrência em seus “negócios” (no caso, do vaticano).

  2. Religião? Melhor se não existisse,

    mas existindo, que se respeite a crença de cada um .Detesto estes que se dizem religiosos e atacam as religiões dos outros. Por ser agnóstico, respeito a opinião de cada um e de todos.

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