O caso da criança morta pela UPP no Complexo do Alemão

G1

Mãe de morto no Alemão acusa: ‘nunca vou esquecer o rosto do PM’

 

Terezinha diz que viu o filho ser morto e que policial a ameaçou em seguida.
Eduardo de Jesus, de 10 anos, sonhava ser bombeiro, segundo a mãe.
 

Daniel Silveira Do G1 Rio
 Eduardo tinha 10 anos (Foto: Reprodução / Facebook)
Eduardo tinha 10 anos (Foto: Reprodução / Facebook)

A doméstica Terezinha Maria de Jesus, de 40 anos, diz não ter dúvida de que foi um policial militar do Batalhão de Choque que matou seu filho, Eduardo de Jesus Ferreira, de 10 anos. Em entrevista ao G1, ela afirma ainda que foi ameaçada pelo mesmo policial ao cobrar o crime.

“Quando eu corri para falar com ele [o PM], ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida'”, Terezinha Maria de Jesus, mãe do menino morto no Alemão

O garoto foi baleado na porta de casa e morreu na hora no fim da tarde desta quinta-feira (2), no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil investiga a autoria do disparo.

“Eu marquei a cara dele. Eu nunca vou esquecer o rosto do PM que acabou com a minha vida. Quando eu corri para falar com ele, ele apontou a arma para mim. Eu falei ‘pode me matar, você já acabou com a minha vida’”, contou.

Terezinha disse que estava sentada na sala de casa, assistindo televisão quando viu o filho ser morto. “Ele estava sentado no sofá comigo. Foi questão de segundos. Ele saiu e sentou no batente da porta. Teve um estrondo e, quando olhei, parte do crânio do meu filho estava na sala e ele caído lá embaixo morto”, relembrou.

 

Sonho de ser bombeiro
Revoltada e abalada, Terezinha, mãe de outros quatro filhos, repetiu reiteradas vezes o sonho de Eduardo: ser bombeiro.

“Tiraram o sonho do meu filho. Tiraram todas as chances dele. Eu fazia de tudo para ele ter um futuro bom. Aí vem a polícia e acaba com tudo”, lamentou. “Ele sempre falava que queria ser bombeiro. Ele estudava o dia inteiro, participava de projeto na escola, só tirava notas boas. Por que fizeram isso com meu filho?”, questionava sem parar.

Revolta na comunidade e homenagem
Um vídeo postado na internet (veja na reportagem abaixo) mostra moradores revoltados com PMs, chamados de “covardes” e “assassinos”. Eduardo de Jesus Ferreira é a quarta vítima de confrontos entre polícia e criminosos em 24 horas.

Vídeo mostra corpo do menino no chão (Foto: Reprodução / Facebook)Vídeo postado no Facebook mostra corpo do menino no chão (Foto: Reprodução / Facebook)

Segundo a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPCHoque) foram recebidos a tiros por criminosos na comunidade do Areal. “Houve confronto e um menor foi baleado”, informa o texto.

Um Inquérito Policial Militar (IPM) foi instaurado, e as armas dos policiais serão apreendidas pela Polícia Civil. A Divisão de Homicídios vai investigar o crime.

‘Não vamos recuar’, diz governador
O governador Luiz Fernando Pezão divulgou uma nota lamentando os episódios de violência no Rio. Ele se solidarizou com as famílias das vítimas, determinou empenho máximo à polícia nas investigações e disse que o estado não vai recuar diante da covardia de criminosos.

“As nossas forças de segurança vão continuar enfrentando a criminalidade. E o Estado também, se preciso, vai continuar cortando na própria carne para perseguir esse objetivo. Não vamos recuar diante da covardia de criminosos. Determinei empenho máximo à polícia nas investigações para que os culpados sejam punidos”, disse Pezão.

A repercussão do caso fez com que o Conjunto de Favelas do Alemão fosse um dos assuntos mais comentados na noite desta quinta-feira (2) no Twitter. O assunto aparecia na segunda posição do ranking nacional (trending topics) como #GuerraNoAlemão.

Mais baleados
Pelo menos outras duas pessoas foram atingidas por balas perdidas no Alemão desde a tarde desta quarta (1º) – uma mulher morreu e a filha dela ficou ferida. No total, além de Eduardo, outrasseis pessoas foram baleadas em dois dias – três morreram. Há cerca de 90 dias seguidos os moradores do Alemão convivem com intensos tiroteios.

Pela manhã, uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na Rua Canitá, foi atacada. Janelas da unidade, que funciona dentro de um contêiner, foram quebradas. Segundo o CPP, pessoas não identificadas também colocaram fogo em uma caçamba de lixo que fica ao lado da unidade. O fogo em um colchão chegou a atingir uma parte da base.

Moradores do Alemão convivem com tiroteios há 90 dias seguidos (Foto: Reprodução)
Mulher morreu nesta quarta, vítima de bala perdida
(Foto: Reprodução)

Bandeira vermelha
O Alemão foi classificado como uma área de bandeira vermelha, onde há resistência do tráfico e risco para a ação da polícia. Por isso, o COE foi acionado.

A nova classificação das UPPs foi publicada no Diário Oficial há duas semanas. As áreas de bandeira amarela são aquelas que ainda apresentam riscos, mas têm uma tendência de estabilização, e as de bandeira verde, onde o processo de pacificação é considerado estável.

Teleférico parado
O teleférico do Alemão vai parar por duas semanas a partir do dia 11 de abril. A paralisação é necessária para manutenções, mas poderia ser feita até o meio do ano. A Supervia, concessionária que opera o teleférico, decidiu antecipar a medida por causa da violência.

 

Redação

14 Comentários

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  1. O Brasil foi feito com
    O Brasil foi feito com sangue, de índios, de negros fugidos, de mestiços rebeldes e de pobres escurinhos que tem a infelicidade de cruzar com PMs. Matar, matar, matar… é só isto que se fazia na Colônia, no Império, na primeira República, na ditadura Vargas, sob a liberal Constituição de 1946 e sobre a pseudo-Constituição dos militares. É o que se faz neste momento. Melhor seria que Pedro Álvares Cabral tivesse perdido o caminho e que Caminha não pudesse escrever sua Carta ao El Rey de Portugal. Pindorama teria continuado a ser Pindorama.

  2. O que esse idiota tornado

    O que esse idiota tornado governador quer dizer com isso : ” E o Estado também, se preciso, vai continuar cortando na própria carne para perseguir esse objetivo. ” Que carne ? Esses idiotas devem pensar melhor antes de papaguearem expressões feitas. A gente até aguenta um “pedra sobre pedra “, quando está de bom humor e frente a uma boa cerveja. Mas quando um garoto é assassinado por um policial que mata porque além de despreparado não respeita quem paga o salário dele, fica muito difícil. E matam também por pura covardia, apesar da pose de machos, haja vista a foto de um que caiu e machucou o ombro se debulhando em lágrimas. A vantagem de um tiro na cabeça é que não dá tempo de chorar.

    1. Cinismo puro

      Esses caras usam frases de efeito para tentar esconder a sua própria incompetência. A plateia gosta, porque não entende. Cortar na carne de quem, cara pálida? Até agora, quem paga o preço da violência diária são os moradores das favelas, que são buchas de canhão para uma polícia que nunca precisou justificar – porque acobertada pelo espírito de corpo e pela conivência da “opinião publicada” – os abusos que comete contra a população em nome do “combate à violência”.

      Recentemente, foi aprovado – acho que ainda na CCJ da Câmara – um projeto da bancada da bala que torna crime hediondo o assassinato de policiais. Sugestivamente, não foi aprovado o mesmo tratamento aos assassinatos cometidos por policiais.

  3. Desmilitarização da PM.

    A PM age como se estivesse numa guerra, e guerra contra seu próprio povo. O governador não teve a dignidade de se desculpar por mais esse crime hediondo da PM. Vi noutra reportagem que a mãe diz que a família, nordestina, vai voltar para o Piauí, e pede ajuda do Estado para enterrar o filho lá. Conforme disse noutro post sobre os crimes da PM, pior que bandido é policial bandido. E este se torna bandido não só porque é mau individualmente, mas porque não se mexe na caixa-preta da corporação, há séculos, e com o tempo isso só faz piorar. PM tem licença pra matar, e não é 007.

  4. Isso foi aonde? Na Palestina

    Isso foi aonde? Na Palestina ou na Síria? Não seria no Iraque? Acho que não!! Lá eles devem respeitar crianças. Ou é igual aqui?

    1. O caso da criança morta pela UPP no Complexo do Alemão

      Lindinho, vou contar uma coisinha para vocêque vive nesta bolha chamada Brasil: na Palestina os israelenses fazem isso com as crianças palestinas diariamente, rotineiramente, sem o menor constrangimento. Muitas vezes fazem por esporte, para treinar tiro quando estão entediados. matar crianças para o soldado israelense é esporte. A vida das crianças palestinas não é uma maravilha como a imprensa brasileira tenta pintar, pelo contrário, é um inferno constante provocado pelos israelenses que não têm outra coisa em mente senão matar o máximo de palestinos possível, concentrando o foco em crianças, mulheres, velhos e gente indefesa. Procura te informar.

    1. Respostas e interrogações

      Respostas e interrogações :

      1. Com a cabeça arrebentada por um tiro de fuzil

      2. O que é morrer de graça ? 

      3. Que tiroteio ?

      4.Sim

      1. parcialidade e respostas rasas
        Hoje já é sábado, e o que vi até agora nos canais informações rasas sobre o caso.
        Se sabe da tragédia da criança mas não há informações sobre quais circunstâncias. É claro, que pra família pouco importa.
        Se o tiro foi a esmo, se foi crime de ódio ou se foi acidental.
        Isso não importa só a mim, mas à justiça também e à quem acredita que é somente por ela podemos solucionar os casos graves como esse. Essa parcialidade ajuda a banalizaressas tragédias.

  5. Todos sabemos que a PF é uma

    Todos sabemos que a PF é uma corporação de respeito porque se compõe de pessoas qualificadas para asusmir seus cargos. Todos são concursados. Ganham salários invejáveis. 

    Por que não se modificam essas polícias brasileiras? Tirando Brasília, nos estados em geral, a maioria ganha ua porcaria de salário e muita responsabilidade. São pessoas que vivem debaixo de pressão constante, tendo que lidar com criminosos, num trabalho árduo, geralmente desestruturados, com mais de uma família pra sustentar. Saem dos quarteis diretamente para assumirem cargos de seguranças de lojas e prédios, que são os bicos, para poderem sobreviver. Ou sejam, dão expedientes durante o dia e noite, sobrando pouco pra dormir. Digo isso com conhecimento de causa porque convivi por um certo tempo com policiais na Senador Vergeurio do Rio – cidade -, quando conheci a rotina de soldados, cabos e até sargentos, que eram essas. Por exemplo: muitos deles tem que se infiltrar numa favela, a paisana, fingir-se amigo de traficantes para depois dedurá-los; e é nesse tipo de operação que alguns também se viviam em drogas.

    Essa situação é muito crítica, mais muito polêmica, e merece ser modificada, de há muito, pois é inadmissível que uma criança tão inocente, cheia de sonhos, seja assassinada diante de sua mãe, dntro de sua residência, num quadro nada diferente do que se assiste numa guerra.  Fato costumeiro, e pouco divulgado, ou divulgado como mais um, como se a vida humana tivesse perdido o valor. E está claro, também, que o mesmo, acontecendo com gente grande, teria uma repercussão muito maior e mais expressiva, com mais e mais destaques na grande imprensa. 

    Esse tipo de morte é que nos diz, com todas as letras, que sem que haja uma mudança radical no sistema policial brasileiro, com vistas a tudo que precisa ser modificado em benefício das corporações, tratando esses militares com a máxima dignidade, entre outras coisas, jamais haverá solução para essa sangria. 

    1. eu concordo
      E completo:
      Falta vergonha na cara de adultos que se dizem polícias. Nao passam de loucos fazendo papel de loucos.
      Nós brasileiros, achamos que talvez possa ser normal uma falha de caráter; e nem se da conta disso. A primeira coisa seria essa gente crescer.

      1. mãe irresponsável

        que mãe é essa que permite Que seu filho fique do lado de fora de casa numa guerra entre polícia e traficante?????Fico triste pela criança, mas a mãe quer amenizar sua irresponsabilidade culpando a polícia

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