A Câmara dos Deputados e as selfies, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Há alguns dias postei aqui no GGN o texto Nós, os gregos e as selfies. Apesar de não ter recebido muitos comentários, o mesmo foi replicado na internet.  

Volto ao tema porque fiquei sabendo que a Câmara dos Deputados está incentivando o debate sobre o fenômeno.

O foco da discussão proposta pela Câmara é privado. Isto fica evidente pelas questões que foram sugeridas aos interessados na questão:

“Até que ponto é válido se expor na internet para ganhar atenção? Quando o selfie é um hábito saudável e quando se torna obsessivo?”

É louvável a preocupação parlamentar com um tema atual. Todavia, como a Câmara dos Deputados é um órgão público há questões públicas relativas às selfies que merecem a atenção dos especialistas e parlamentares.

Do ponto de vista estatal, o problema não é propriamente as selfies. O apego à própria imagem é uma neurose que existe desde a Antiguidade, tanto que foi objeto do mito de Narciso. A reprodução da mesma sempre foi feita de uma maneira ou de outra. Os retratos pintados e as esculturas em madeira, pedra e bronze feitas sob encomenda são os antepassados das fotos digitais.

Sempre existiram e existirão pessoas com o transtorno de personalidade denominado Narcisismo. O problema atual e que merece a atenção do Estado é a produção industrial e venda em larga escala de quinquilharias que estimulam o Narcisismo como se isto não fosse uma doença. Toda doença pode ser agravada, comprometer a capacidade de trabalho, acarretar afastamento previdenciário e desperdiço de horas de trabalho, causar conflitos trabalhistas que terão que ser julgados pelo Poder Judiciário, etc… A atividade estatal (tratamento do doente, remuneração de afastamento previdenciário, reabilitação profissional, funcionamento da máquina judiciária) tem um custo. Portanto é legitimo fazer algumas outras perguntas:

Quem será responsabilizado pelo alastramento do Narcisismo e/ou o agravamento desta moléstia? O empregador do doente, o industrial que fabrica quinquilharias para selfies, o comerciante que vende estes produtos ou o Estado que terá despesas em razão de uma epidemia de transtorno de personalidade induzida pelo mercado? Um mercado desregulado pode gerar danos sociais e o aumento das despesas estatais?

Com a palavra os estudiosos e especialistas no assunto. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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