O modelo de Fundações nos EUA, por Motta Araújo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O modelo de Fundações nos EUA, por Motta Araújo

Em um post que aqui coloquei usando como referência a revista INSIGHT CRIME, um comentarista me criticou porque a revista era editada com apoio financeiro de uma fundação americana, a Open Society Foundation, que foi criada com recursos do financista George Soros.

A critica é no seu reverso um reconhecimento ao grande papel das fundações filantrópicas americanas a uma série de causas, pesquisas, beneficências, artes, cultura, ações de saúde, formação de cientistas, inovação.

Ricos dotarem fundações é uma tradição americana, há fortunas enormes que foram legadas em grande parte a fundações filantrópicas, como as fortunas Rockefeller, Ford, Mellon, MacArthur, a fundação ficou com a maior parte da herança, a de Carnegie ficou com tudo, ele não deixou nada para a família.

A Fundação Rockefeller é do começo do Seculo XX, em torno de 1905 e financiou pelo mundo escolas de medicina (sua especialidade), inclusive a de São Paulo, hospitais, pesquisas médicas. A Fundação Carnegie financiou teatros, ballets, sinfônicas, uma grande universidade (Carnegie Mellon University), uma ironia porque Andrew Carnegie era analfabeto. A Fundação Rockefeller financiou também a Universidade de Chicago, especialmente sua Faculdade de Economia. A Fundação Mellon especializou-se em museus, foi quem mais doou para a National Gallery de Washington. A Fundação Ford se dedicou a causa cívicas e políticas, sempre apoiou a Palestina e os palestinos, algo raro nos EUA.

As fundações filantrópicas são as grandes financiadoras de pesquisas sobre doenças e medicamentos, tratamentos de doenças, pesquisa básica, expedições arqueológicas, causas ambientais e de clima, pesquisas marítimas.

Alguns erroneamente atribuem esse modelo ao imposto sobre herança, o que é apenas meia verdade. Quando as fundações começaram a ser criadas não havia imposto sobre herança nos EUA, portanto essa não foi a causa e hoje o imposto causa mortis é baixo nos EUA, já foi alto entre 1945 e 1980 mas o Governo Reagan rebaixou muito, assim como baixou as alíquotas de imposto de renda.

A razão de criação de fundações é um sentido cívico mesmo, de ajudar a sociedade resolver problemas crônicos.

É uma característica dos ricos americanos que engradece a sociedade daquele País. Quando eu tinha 14 anos queria uns livros editados nos EUA e a assinatura de uma revista, naquele tempo isso era muito difícil de conseguir no Brasil.

Escrevi uma carta a uma fundação cujo nome vi em um jornal, era de um milionário chamado Louis B. Wolfson, que tinha estaleiros, isso há 60 anos. Veio uma resposta do próprio Wolfson, me mandou os livros e a assinatura da revista FORTUNE por um ano, a fundação dele era para ajudar escolas na América Central. Os livros vieram com uma carta me encorajando a estudar, sem saber sequer quem eu era Não sei se isso funcionaria hoje mas naquele tempo, muito antes da internet, a resposta e o atendimento ao pedido me deixaram surpreso e contente.

As duas fundações que mais tiveram relação com o Brasil foram a Rockefeller e a Ford, que até escritório tinha aqui, não sei se ainda tem. A Ford financiou muitos cursos, viagens de estudantes e cientistas, cursos em universidades brasileiras. A Rockefeller financiou ações sanitárias no interior do Brasil, erradicação de malária, postos de saúde.

Hoje ignoro se elas ainda tem ações no Brasil, provavelmente não, eles focam em países muito pobres.

Lamentavelmente não é de nossa tradição esse modelo, são raríssimas e as que já existiram, muitas foram saqueadas por maus gestores, também faz parte de nossa tradição, o que não tem dono é de quem tem a chave.

A última grande fundação criada foi a de Bill Gates, curiosamente a maior do ranking das 100 maiores fundações americanas, o que mostra que a tradição continua, felizmente.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

26 Comentários

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  1. Outra característica da elite

    Outra característica da elite norte-americana, são as doações para faculdades, universidades onde estudaram, criando programas, bolsas de estudos para alunos com poucos recursos financeiros. Não sei da continuidade disso por lá.

  2. Interessante que Carnegie

    Interessante que Carnegie e Rockefeller disputaram durante toda vida quem seria o melhor. Até para saber quem praticava mais filantropia eles disputaram. Isso ficou claro no documentário do History Chanel, “Os gigantes da indústria”. Esses homens são os maiores responsáveis pelo desenvolvimento dos EUA. 

     Gigantes da Indústria Part 01Gigantes da Indústria Part 02Gigantes da Indústria Part 03Gigantes da Indústria Part 04Gigantes da Indústria Part 05 Gigantes da Indústria Part 06Gigantes da Indústria Part 07Gigantes da Indústria Part 08

     

  3. O ministro da Cultura Juca Ferreira foi preciso

    A lei Rouanet é um engodo, 100% da isenção é bancada pelo governo sem 1 centavo contribuição privada.

    Isso já mostra como mecenas no Brasil estão em falta.

  4. Uma outra visão menos deslumbradinha

    “A razão de criação de fundações é um sentido cívico mesmo, de ajudar a sociedade resolver problemas crônicos.”

    Embora haja (raras) exceções, a grande maioria dos biliardários (incluindo os citados), depois de cometer todo tipo de trambique e truculência movidos por sua ganância (“greed is good!”…), não importa o estrago que façam no seu entorno, chega a um ponto que percebem que:

    1) Têm mais do que conseguem gastar. A sobra pode perfeitamente ir para a filantropia. Melhor que virar lixo ou sucata, sem render algo para suas imagens.

    2) Se desiludem com a futilidade e mesquinhez das pessoas com as quas acabam cercados, incluindo parentes. Teve uma recente que deixou a fortuna para seu gato.

    3) Desenvolvem um sentimento de culpa por perceberem que o mundo é o que é porque é mal distribuído e eles são co-responsáveis, através desta concentração exacerbada.

    4) Porque “pega bem pra kct, é “chic”, mais um complemento ao ego já que ser filantropo geralmente indica o status conseguido. Faz parte da “carreira” do bilionário “bem sucedidos” (financeiramente, pois pessoalmente está cheio de fracassados).

    5) Porque continua rescendendo a “poder”, já que não são meros participantes compartilhando o sucesso de um time humano. São seus expoentes doadores, definindo quanto, quando, como e onde: poder e controle! 

    Há alguns poucos que são tão sovinas que não “dão” nada até morrer. Estes são os “autênticos” (os “scrooges”). Não estão aí nem para a imagem.

    Se fossem vestidos destes propósitos nobres, o seriam durante a construção de suas fortunas, não apenas depois que elas transbordam. 

    Fora os benefícios fiscai e as movimentações mais soltas…

  5. A Petista da Ford

     A representante da Ford Foundation no Brasil, desde 2011, é a Ex-Ministra do governo Lula, Prof. Dra. Nilcéia Freire,

    http://www.fordfoundation.org/regions/brazil/team/pt-br

      Já a Macarthur, atua muito, mas através de seu escritório latino – americano de Santiago (Chile), ou diretamente através de Chicago, com bolsas em varias areas, como cultura ( Casa de Cinema de Porto Alegre ), mas o foco principal de atuação da Macarthur é na “saude reprodutiva” ( http://www.providafamilia.org.br), sendo uma de sua principais colaboradoras no Brasil, a Senadora Marta Suplicy ( ainda PT-SP – http://www.votopelavida.com/marta-suplicy ).

    1. Essa turma da fundação Ford…
      … por certo desconhece a desastrosa passagem de d. Nilceia pela Reitoria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro…

      Falando em fundação ford: e FHC, hein?

  6. Como todo dinheirista o Araújo…

    …diz que as fundações das grandes corporações são uma maravilha!

    Como acredito que a vida em sociedade vai muito além do livre mercado, e as satânicas fundações patrocinam toda a agenda nefasta que podemos rotular em sentido lato como “marxismo cultural”, desejo a ruína de todas. Bem como de todos que tem algo a ver com elas.

  7. Nem tanto ao mar, nem tanto a terra…

    Os ricos brasileiros, quase sem excessão, como ganharam suas fortunas de forma ilegal, colocam-nas improdutivamente em paraísos fiscais.

    Pobre quando ganha dinheiro gasta fazendo a economia girar. Rico enterra empacando tudo.

    É bom não se entusiasmar muito com estas fundações pois o dinheiro de muitas delas serviu para intervir indevidamente em nações estrangeiras.

    1. Fui dirigente por decadas de

      Fui dirigente por decadas de um dos grandes sindicatos patronais, na época o maior do Pais em arrecadação, conheci centenas de empresarios, não conheci nenhum que tenha construido sua empresa de forma ilegal, de onde vc tirou que quase todos fizeram fortuna de forma ilegal? Na industria?  TRabalharam pesado 40, 50 ou 60 anos, qual a “forma ilegal”?

  8. É, mas de concreto, enquanto

    É, mas de concreto, enquanto governante junto com o GG, o que fez esse Juca para reverter a situação da referida lei. Nadica de nada, como sempre. Discursar, até eu… Essa lei é tão vagabunda (no sentido amplo) que faz retornar o imposto ao devedor em forma de publicidade através dos eventos por ela custeados. Melhor (argh) do que isso, só ter a chave do cofre e da porta da cadeia. Dão nojo em lesmas.

  9. O Paulo Francis foi para Nova

    O Paulo Francis foi para Nova York com bolsa da Fundação Ford… que também financiava o fhc nos anos 70… que, bueno, deixa prá lá… como diria uma americaca/carioca: “fundação americana é tão boazinha”.

  10. Eu, o comentarista citado

    Digo: 1) Chamar Soros de financista é desmerecer os que assim podem ser chamados. Soros é um notório predador, vive de especulação financeira; 2) Contestei a credibilidade do artigo da Insight Crime por ser patrocinada pela fundação de Soros e por fazer uma acusação sem provas, citando fontes anônimas; 3) Verdade que muitas fundações americanas praticam filantropia pelo mundo. Verdade também que algumas deram seus acessos para operações da inteligência americana. A Fundação Ford, por exemplo, teve laços com a CIA, como exposto pelo professor James Petras: http://globalresearch.ca/articles/PET209A.html 

    1. Agradeço seu comentario.

      Agradeço seu comentario. Minha opinião: George Soros é um dos grandes operadores financeiros da segunda metade do Seculo XX, a natureza de suas operações está dentro do modelo permitido no setor de derivativos, tanto que, ao contrario de muitos outros, ele nunca foi processado por agir ilegalmente, seu fundo Quantum é dos mais bem sucedidos de Wall Street, ele especula com moedas, bonds, ações, commodities, tudo isso é permitido pelo sistema financeiro internacional.

      Depois de acumular sua fortuna, já há uns 20 anos Soros passou a se dedicar a causa politicas do lado que os americanos chamam de “liberal” o que lá significa de esquerda em relação ao conservadorismo. Ele é um dos principais financiadores do Partido Democrata, portanto é detestado pelos Republicanos. Sua Open Society financia causas que ele considera importantes, como vioelencia urbana. A revista INSIGHT CRIME é editada em Medellin, cidade que estava dominada pelo trafico é hoje é considerada “clean”, a cidade renasceu das cinzas e hoje é a de maior crescimento industrial na Colombia, o trafico lá foi erradicado, outrora era o centro dos traficantes de cocaina da Colombia.

      Quanto a Fundação Ford e CIA, é uma antiga lenda da esquerda, Petras é um  velho ativista da esquerda radical, um Eduardo Galeano americano, a tese é esdruxula porque a CIA é um orgão do “establishment” repressivo que não tem nenhuma simpatia pelas causas de esquerda e a Fundação Ford é o oposto, é um centro da cultura anti-establishment,

      considerada anti-semita (Henry Ford foi um notorio anti-semita  condecorado por Hitler, escreveu um livro banido “O Judeu Internacional” e publicava um jornal anti-semita The Dearborn Independent), é abertamente pro-Palestina e foi investigada duas vezes pelo Senado americano como sendo uma organização filo-comunista.

      Não tem logica a CIA usar a Ford Foundation, onde se aninham inimigos da CIA e do Pentagono. A Fundação Ford financiou a fuga para os EUA de notorios esquerdiastas na época (inclusive FHC) e depois o CEBRAP, um centro anti-regime militar brasileiro, ora se a CIA é dita pela esquerda como aliada do regime militar brasileiro, como é que a Ford financia inimigos do regime militar e depois a esquerda diz que a Ford é aliada da CIA? É totalmente inconsistente.

       

      1. É fato mais que conhecido que

        É fato mais que conhecido que a Fundação Ford era uma das instituições que recebia dinheiro da CIA  e “aplicava” esse dinheiro disfarçado de incentivo cultural e, através desse “incentivo cultural” a FF “convocou vários personagens e personalidades  para servir de  “fonte”.  Há livros que documentam o fato muito bem entre eles Marcartismo, uma tragédia americana e o excelente Quem pagou a conta?  A CIA e a guerra fria da cultura. O próprio NYT já publicou isso.

        http://www.nytimes.com/2009/10/07/books/07garner.html?_r=0

        1. Besteirol sem fim,  a

          Besteirol sem fim,  a Fundação Ford tem mais dinehrio que a CIA, o artigo do NY Times não tem absolutamente nada a ver com nada, conta a estoria da revista Ramparts, investigada pela CIA, so what?

    1. me dê a solução JB…
      Qual a

      me dê a solução JB…

      Qual a outra alternativa?

      Ou JB tem a solução do mundo?

      Entre tu e a outra, prefiro a Narizinho, a Reformadora do Mundo…..

       

  11. Fapesp

    Lembre que o Vanzolini elaborou o estatuto da Fapesp, aprovado pelo governador (Paulo Egidio?) com base no modelo americano. Dinheiro direto pro pesquisador com pouca intermediação  e burocracia. Deu no que deu: melhor fundaçao de pesquisa do país.

  12. Por pior que sejam as americanas….

    Por pior que sejam as fundações norte-americanas algumas delas servem a motivos nobres, por outro lado as fundações BRASILEIRAS geralmente servem para pegar dinheiro público e colocar no bolso de seus donos.

  13. pedido de bolsa de estudos.

    Excelencia,

     

    Venho atraves desta, pedir a V.Excia a concessao de bolsa de estudos para o mestrado em Ciencias de Educaçao.

     

    Cordiais Saudaçoes,

     

    Atenciosamente,

     

    Eduardo Chuquelane Vilanculo.

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