Debate: A Sustentabilidade dos Combustiveis

 ESPECIAL ENERGIA

28/06/2012Aviação sustentávelO setor tenta substituir o combustível derivado do petróleo por um mais barato e com menores emissões de gases de efeito estufa. Mas a solução deve demorarpor José Eduardo Mendonça

 

 

 

A Embraer, fabricante do jato Phenom 100, integra o grupo de empresas interessadas na produção de biocombustíveis para aviação

 

 

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“Há algo no ar, além dos aviões de carreira.” A frase, cunhada pelo célebre humorista brasileiro conhecido como barão de Itararé, cujo verdadeiro nome era Aparício Torelly (1895–1971), aludia a eventos novos que poderiam levar alguma situação a se tornar imprevisível. Em muitos aspectos, é esse o cenário hoje da sustentabilidade na aviação comercial. As grandes fabricantes do setor, como Boeing, Airbus e Embraer, além de inúmeras companhias de transporte aéreo pelo mundo, estão pressionadas a buscar soluções. De um lado, esse aperto é resultado da crescente alta nos preços do combustível de aviação, derivado do petróleo. No Brasil, em 2011, ele sofreu um reajuste de 33,5% – o combustível representa 32% dos custos de operação de uma empresa aérea.

De outro, a aviação tenta reagir a uma crescente demanda de movimentos ambientais e de diversas agências reguladoras nacionais ou de blocos de países (como a da União Europeia) para firmar parcerias e projetos de pesquisa que busquem saídas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Uma das respostas mais viáveis para ambos os problemas é a mesma: os biocombustíveis.

Que essas empresas terão forçosamente de aderir a essa nova forma de energia é o lado óbvio da história. O imprevisível é saber quem serão os principais atores em cena, quais tecnologias irão dominar e, talvez o mais importante, o que será possível produzir nos próximos anos. Os especialistas têm uma boa resposta. Ao ser questionado sobre projeções de produção, em um mercado que já nasce com uma gigantesca demanda reprimida, Darrin Morgan, diretor de estratégia de biocombustíveis sustentáveis da Boeing, responde, com uma sonora gargalhada: “Seu palpite é tão bom quanto o meu…”

Não se trata de uma questão impertinente. É possível que o novo setor de biocombustíveis para aviões a jato seja o foco de grandes oportunidades de investimento, como, aliás, ocorreu raras vezes em qualquer área da economia. “Se houver produção com preço justo, o mercado hoje é de, no mínimo, centenas de bilhões de dólares. A questão é ter escala para satisfazer a enorme demanda”, diz Jonathan Wolfson, CEO da Solazyme, empresa pioneira no setor.

Quando o petróleo surgiu como opção comercial nos anos 1820, ninguém tinha ideia das centenas de aplicações que ele geraria no futuro. Portanto, o crescimento de produção e consumo, embora sempre espetacular, obedeceu a uma curva paulatina. No caso dos novos combustíveis para aviões, a situação é outra. A demanda é premente e imediata. Já se sabe que cada litro que for produzido a um preço competitivo será consumido. A indústria existe basicamente há meses, depois que um dos processos de produção foi certificado por uma agência internacional, a American Society for Testing and Materials (ASTM), em julho de 2011.

Não existe alternativa tecnológica imediata aos hidrocarbonos usados hoje em dia. Os aviões podem voar com hidrogênio, o que seria uma proposta sedutora não fossem grandes desafios técnicos a superar – e que não justificam investimento significativo. Além disso, outro ponto favorece a adoção dos biocombustíveis: as turbinas atuais podem girar de forma satisfatória com eles, sem qualquer alteração em sua engenharia. As turbinas são o que se chama de drop-in. É um caso semelhante ao do uso de etanol de cana-de-acúcar em veículos: basta adicionar e pronto.

Vale dizer que, nos últimos anos, diante do crescimento do setor, a indústria da aviação mundial fez notável redução em seus impactos ambientais. Aerodinâmica, desempenho e eficiência em turbinas modernas e melhoras operacionais em rotas, aeroportos e sistemas de controle de tráfego resultaram em ganhos de 70% em comparação com o início da era do jato, na década de 1960. Os aviões mais modernos consomem menos combustível por quilômetro por passageiro transportado do que grande parte dos automóveis compactos. A eficiência em combustível aumentou em 20% nos últimos 20 anos e deu um salto de 5% apenas entre 2004 e 2005. Em relação às emissões globais de CO2, a contribuição do setor é pequena: 2%. Ou o equivalente a 12% de todos os transportes, que, por sua vez, respondem por 23% de tudo o que é lançado na atmosfera.

 

http://viajeaqui.abril.com.br/materias/aviacao-sustentavel

Redação

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