Em entrevista a TVGGN Justiça, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que defendia presos políticos na ditadura militar (1965-1984), disse que o governo Lula I recorreu em decisão para entregar documentos de desaparecidos políticos da Guerrilha do Araguaia.
“Quando a gente ganhou, foi no governo Lula I, e o governo Lula não teve coragem. Mandou o advogado geral da União recorrer e nós ganhamos de novo. E assim mesmo, não entregaram os documentos. Fizeram muita sacanagem.”
Luiz Greenhalgh, advogado, defensor dos presos políticos durante o regime militar
O advogado explica ainda que o Ministério Público não deu parecer. “Nós falávamos que eram desaparecidos, a primeira contestação da União, do promotor, é de que não teve guerrilha. Nós juntamos o discurso do Geisel falando da Guerrilha, aí então eles admitiram que teve [guerrilha]. Mas era uma remoção intestina, e que cada um cuida dos seus mortos. Umas teses esdrúxulas, ridículas”.
Apoio internacional
Greenhalgh explica que, no Brasil, o apoio era escasso, e que grande parte do combate à ditadura e a busca pelos desaparecidos era feito principalmente por interlocutores internacionais.
“A gente sempre teve apoio internacional”, diz o advogado. De acordo com ele, os relatórios produzidos sobre os presos políticos e por jornalistas como Jan Rocha, da BBC de Londres, e publicados nos anais de Anistia, tinham um impacto internacional profundo e refletiam diretamente no Brasil.
“Nós não tínhamos o apoio da Ordem dos Advogados (OAB). O meu escritório foi bombardeado, quebraram tudo com tiros numa noite. E eu fui reclamar na Ordem e ela não fez nada”, conta.
“Quando houve a Chacina da Lapa, dois juristas franceses estiveram aqui no Brasil e eles queriam saber como foi a morte do Pedro Pomar, do Drummond. E eu fiz para eles um esboço da divisão do prédio do DOI-CODI. Eles levaram, embaixo da meia do sapato esse croquis e chegaram na França e divulgaram os assassinatos do João Batista, do Aldo, Aroldo e contaram da Chacina da Lapa. Eles publicaram esse croquis e deu o que falar aqui no Brasil. A auditoria veio atrás, o DOI-CODI veio atrás, o STM abriu um inquérito para saber quem tinha feito o croquis.”
Luiz Greenhalgh, advogado, defensor dos presos políticos durante o regime militar
Greenhalgh conta ainda que, na visita do presidente norte-americano Jimmy Carter (1977-1981) ao Brasil, ele e Dom Paulo fizeram uma lista de desaparecidos e entregaram ao então presidente dos Estados Unidos. Como consequência, Carter divulgou os nomes nos EUA e pediu ao governo brasileiro que fornecessem as informações exatas do que tinha acontecido com os desaparecidos.
“Não há derrota definitiva para a verdade”
Greenhalgh conta que, em seu último mandato e quando era presidente da Comissão de Direitos Humanos, visitou uma mãe que tinha o filho desaparecido na Guerrilha do Araguaia. “Fazia anos que ela não apagava a luz do banheiro. Ela dizia que não apagava a luz porque tinha um acordo com o filho. ‘Se eu apagar, é porque a polícia está aqui. Se eu deixar acesa, ele pode chegar’. Anos depois da guerrilha ter acabado. Isso [a história] é de 2005. Isso é uma judiação, isso é uma tortura. Não dão direito de sepultura cristã. É vergonhoso”, diz.
“Como é que eu posso falar para um familiar de desaparecido político que prescreveu? Como é que eu posso falar que teve um pacto? Que pacto?
Luiz Greenhalgh, advogado, defensor dos presos políticos durante o regime militar
Para o advogado, é preciso juntar forças e ‘descomemorar’ os 60 anos do golpe militar.
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