Pesquisa sob perspectiva do Sul Global demanda reforma da ONU

Carla Castanho
Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN
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Conselho de Segurança a ONU precisa ser reformado e sub-regiões do Sul Global precisam ser ouvidas

Jornalista, pesquisadora e professora Cilene Victor

No TVGGN 20 horas desta sexta [confira o link abaixo], a professora e pesquisadora Cilene Victor expôs os achados do estudo “As perspectivas do Sul Global sobre a Reforma da Governança Global”, apresentado nos eventos paralelos à Assembleia Geral da ONU, no mês passado, em Nova York. 

A pesquisa envolveu especialistas de 48 países do Oriente Médio, África, América Latina e Caribe, e revelou questionamentos sobre a efetividade da ONU e a demanda por uma reforma do multilateralismo, do Conselho de Segurança da ONU em especial.

“A certeza de que o modelo que está na estrutura que se tem, principalmente do Conselho de Segurança da ONU, não é capaz de impedir o que nós estamos vendo agora, como neste caso em Gaza”, expõe Cilene Victor. 

Professora titular do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo, onde é líder do grupo de pesquisa Jornalismo Humanitário e Media Interventions, e pesquisadora no campo do jornalismo humanitário e de paz, Cilene mostrou que para uma possível reforma da ONU, o Sul Global, representado por algumas sub-regiões, precisa ser ouvido.  

“Essas três regiões, tirando o continente Africano, as outras seriam consideradas na literatura como sub-regiões, a América Latina, uma sub-região do continente americano, o Oriente Médio, uma sub-região da África até no sentido pejorativo, como sempre foi desenhado. E o que nós encontramos, tanto nos grupos focais quanto no questionário, nas perguntas abertas que são riquíssimas, essas respostas que alcançamos mostram que o Sul Global precisa ser ouvido”, ilustra.

O papel da imprensa

Em paralelo, Cilene rememorou o discurso de Lula no Japão, durante a sessão de trabalho do G7, onde o presidente reforçou a necessidade de reforma no Conselho de Segurança da ONU, para uma solução entre a Rússia e a Ucrânia. Essa fala, porém, não teve o reconhecimento que deveria. 

“Cobrindo muito o Oriente Médio, eu posso dizer que a imprensa brasileira desdenhou da fala do Lula, ignorou a importância, se essa fala estivesse talvez no chanceler alemão ou no presidente francês, ou no próprio EUA, que dificilmente faria essa fala, ela [a fala] talvez tivesse um destaque”.

Para a jornalista, é urgente que se discuta o papel da imprensa e a pressão que deve ser exercida pelos profissionais para que a reforma da ONU não seja “uma reforma da boca pra fora”, e que contemple diversas vozes.

Metodologia da pesquisa

O estudo foi realizado através de uma parceria entre o grupo de pesquisa Jornalismo Humanitário e Media Interventions – HumanizaCom – da Universidade Metodista de São Paulo, e a Fundação para a Governança Global e Sustentabilidade (FOGGS), sediada em Bruxelas, na Bélgica. 

512 especialistas de 48 países do Sul Global foram ouvidos no estudo que abraçou a América Latina, Caribe, África e Oriente Médio, para entender a reforma da ONU na perspectiva dos multiplicadores. 

O time responsável optou por não contratar uma empresa especializada a fim de tornar a pesquisa mais acessível e próxima à realidade e, por isso, traduziu o questionário para os 7 idiomas das regiões de foco. Além disso, criaram grupos focais com intelectuais, cientistas e representantes políticos para enriquecer o debate. Na América Latina, o grupo focal foi conduzido pelo professor Roberto Chiachiri, que dirige a Cátedra UNESCO/UMESP de Comunicação. 

Diplomata Azambuja no programa

O diplomata Marcos Azambuja, que foi embaixador do Brasil na França e na Argentina, e secretário-geral do Itamaraty, também compôs a bancada do programa desta sexta (03). 

Azambuja se diz cético sobre a possibilidade de reformar a ONU na atual conjuntura. A inspiração do modelo após a segunda guerra, que deveria ser uma aliança dos vencedores a resistir ao tempo e encaminhar as questões internacionais, segundo ele, foi uma esperança desfeita após a Guerra Fria. 

“E desde então as nações desunidas têm procurado se manter mais ou menos funcionais em uma instituição que perdeu a sua funcionalidade porque as suas premissas foram alteradas”, afirma.

O diplomata ilustrou a tese com o poder de veto dos Estados Unidos à proposição de paz apresentada pelo Brasil na presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU, para um cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas.

“Não abrem mão do seu poder [grandes potências], então, a ideia de que os vitoriosos se manteriam unidos, que haveria o uso desse poder de certa maneira colegiado, e que o poder de veto seria de uma alta excepcionalidade para prever situações em que fosse impossível encontrar o consenso, o tempo mostrou que o poder de veto passou a ser um instrumento de proteção de cada um na defesa dos seus interesses”.

Carla Castanho

Carla Castanho é repórter no Jornal GGN e produtora no canal TVGGN

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