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Adão e Eva, no paraíso pós-moderno
por Fábio de Oliveira Ribeiro
E então Deus criou o homem e deu a ele o nome de Adão. Nascido adulto, Adão era solitário e abobalhado. Como não tinha o que fazer ele começou a dar nome a tudo aquilo que Deus apontava. Ele chamou a folha de folha, a terra de terra, o rio de rio, o peixe de pássaro e a árvore de árvore.
Intrigado, Deus perguntou a Adão.
– Por que você chamou o peixe de pássaro?
– Se não voasse embaixo d’água o peixe caminharia no fundo do rio, do lago e do mar oceano – respondeu Adão, sorrindo.
E então, o primeiro homem voltou a dar nomes a todas as coisas. Ele chamou o cavalo de cavalo, a zebra de cavalo listrado e a montanha de montanha. Depois ele chamou o gafanhoto de lebre e a pedra de pedra.
Deus balançou a cabeça inconformado. Antecipando uma nova pergunta, Adão disse meio irritado:
– Quem dá o nome às coisas, animais e insetos sou eu. Além disso, o gafanhoto tem pernas fortes e pula como uma lebre.
– Mas a lebre não voa, Adão – disse Deus.
– Sim. A lebre não voa, por isso eu a chamarei de ratão pulador.
Desanimado, Deus coçou a cabeça tentando entender onde ele havia errado. E rapidamente ele imaginou uma maneira de colocar Adão e a língua nos trilhos.
– Adão, meu caro. Você não está se sentindo sozinho?
– O que é sozinho?, perguntou Adão.
Deus se sentou ao lado de Adão, colocou o braço no ombro dele e apontou para um casal de cobras que se enrolavam uma na outra no chão durante o ritual de acasalamento.
– Você está vendo aquelas cobras. Elas são duas, uma de cada sexo, mas durante algum tempo elas serão uma só. E depois de um período de incubação novas cobras irão aparecer como resultado dessa união.
Adão olhou para as cobras e depois para Deus e foi direto ao ponto.
– Sexo? O que é isso? – perguntou Adão.
– Nem todos os seres de uma mesma espécie são exatamente iguais. Eles se dividem em dois grupos por causa de algumas diferenças. A união ocorre por causa dessas diferenças e através delas. Quando a união ocorre, os seres unidos ficam mais felizes.
– União parece ser uma coisa boa… Mas então por que você é sozinho?
– Há uma diferença entre o criador e a criatura, Adão. Mas isso é muito complicado. Mas voltando ao assunto… Você gostaria de provar a união?
Adão observou uma vez mais a felicidade das cobras e respondeu que sim. Então Deus criou uma mulher e a chamou de Eva. Ao entrar no paraíso, a primeira coisa que ela fez foi olhar cuidadosamente para Adão avaliando o potencial do gajo solitário.
Enamorado com o olhar de Eva e atraído pela diferença que ela tinha entre as pernas, Adão e seu mijador duro foram chegando perto dela de mansinho. Ele se aproximando, ela se afastando dele… Desanimado, Adão se voltou para Deus.
– Porra mano… Qual é a dessa mina? Ela não foi criada para nossa união?
Satisfeito, Deus retirou-se do paraíso e deixou Adão se virar sozinho sem um manual de instruções. Eva se aproximou dele, apontou para um gafanhoto e perguntou:
– O que é aquilo?
– Uma lebre.
– Mas aquilo não parece uma lebre. Melhor chamar de gafanhoto.
– Eu já disse que o nome daquilo é lebre, porra. E eu cheguei primeiro aqui.
Eva sorriu, se aproximou de Adão e disse maliciosamente:
– Se você chamar a lebre de gafanhoto eu deixo você colocar a mão na minha canela.
Adão rebatizou a lebre de gafanhoto, segurou a canela de Eva. Imediatamente, ela apontou para a zebra e perguntou novamente:
– E aquilo o que é?
Acariciando gentilmente a canela de Eva, Adão respondeu de maneira burocrática.
-Um cavalo listrado.
– Não é melhor chamar aquilo de zebra?
– De jeito nenhum.
Eva empurrou a mão de Adão e se afastou um pouco dele. Depois ela se virou, piscou para ele e disse:
– Se você chamar aquilo de zebra, eu deixo você colocar a mão na minha coxa.
Foi assim a zebra virou zebra por causa da atração que Adão sentiu pela coxa de Eva. O peixe deixou de voar quando ela segurou o mijador duro de Adão. E em pouco tempo ocorreu a união dos dois e da espécie humana.
Enquanto Adão tentava se unir a Eva, as duas cobras estavam se separando. Curiosas, elas ficaram observando aquele casal desajeitado cuja união estava sendo precedida por uma longa lenga-lenga. Quando Adão finalmente se separou de Eva – ele satisfeito e esgotado; ela muito disposta, querendo mais e disfarçando um certo desapontamento – a cobra macho disse para sua fêmea:
– Acho melhor nós dois ficarmos longe daqueles animais esquisitos. A união deles é muito complicada e isso provavelmente os deixará neuróticos e violentos. Em pouco tempo um descendente frustrado deles inventará uma história para explicar toda a confusão e frustração que precedem e sucedem seus acasalamentos.
– Sem dúvida – respondeu a cobra fêmea – e eu tenho uma intuição desagradável sobre esse assunto. Acho que eles colocarão a culpa em nós. Não porque nós, as cobras, somos culpadas, e sim porque eles são invejosos e não conseguem se unir natural e prazerosamente.
Fábio de Oliveira Ribeiro, 22/11/1964, advogado desde 1990. Inimigo do fascismo e do fundamentalismo religioso. Defensor das causas perdidas. Estudioso incansável de tudo aquilo que nos transforma em seres realmente humanos.
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