GOVERNO DILMA: A INTERVENÇÃO NA AMAZÔNIA

 

Massacre na Amazônia 
Não à intervenção federal

A intervenção do governo na região onde os madeireiros estão realizando um massacre contra os camponeses irá apenas reforçar a repressão e aumentar o aparato montado para conter a luta pela reforma agrária e contra os latifundiários 

31 de maio de 2011

 

Nesta segunda-feira, 30 de maio, ocorreu uma reunião em Brasília para discutir o assassinato de quatro camponeses em menos de uma semana na região da Amazônia: três no estado do Pará e um em Rondônia. A reunião foi coordenada por Michel Temer, presidente em exercício, e contou com a participação de Gilberto Carvalho (ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência), José Elito Carvalho (ministro do Gabinete de Segurança Institucional), Márcio Meira (Presidente da Funai) e representantes da Polícia Federal e da Secretaria de Direitos Humanos.

Os participantes da reunião admitiram em declarações a imprensa capitalista que a principal medida que pode ser tomada pelo governo é a intervenção federal na Tríplice divisa entre os estados do Amazonas, Acre e Rondônia. Isso pode ser colocado em prática por meio de um decreto presidencial.

As discussões sobre a intervenção federal não ficaram restritas “apenas” às medidas administrativas e a perda de autonomia da região dos três estados envolvidos. A intervenção é, antes de tudo, uma espécie de estado de sítio que o governo pretende impor na região.

Esta foi a principal discussão tratada na reunião entre os membros do governo. Não é por acaso que entre os participantes estivessem diversos chefes dos mais importantes órgãos de repressão do país como a Polícia Federal e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Toda a discussão para “pacificar” a área é feita para reprimir os sem-terra.

Os quatro assassinatos de líderes camponeses é resultado do avanço dos latifundiários para aprovar o novo Código Florestal, particularmente um avanço do setor madeireiro. A ofensiva dos latifundiários não foi apenas para aprová-lo no parlamento.

Nos meses que antecederam a votação na Câmara dos Deputados, o desmatamento aumentou exponencialmente em todo o país. A região mais afetada foi justamente aquela onde se situa a floresta amazônica. Nos últimos três meses, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o desmatamento na Floresta Amazônica aumentou em 473%. No total, foram desmatados 573 quilômetros quadrados.

Ou seja, os latifundiários já estão colocando em prática o novo Código Florestal, desmatando as florestas para obter lucro. Como é impossível efetivar esta política sem atacar os pequenos camponeses e os sem-terra, a conseqüência é o aumento do massacre no campo.

Na última quinta-feira, dia 26, houve o anúncio da morte de dois destes sem-terra no Congresso Nacional. Diante do simples anúncio, os deputados, com os representantes dos latifundiários à frente, começaram a vaiar. Uma demonstração clara de apoio ao massacre que vem ocorrendo no campo.

Neste sentido, a intervenção do governo Dilma Rousseff na região amazônica não irá resolver os “conflitos agrários”. A intervenção e, conseqüentemente, uma presença maior do Estado na região, fortalecerá a política de repressão. Os latifundiários reprimem os camponeses com a ajuda direita ou indireta do poder do Estado. Seja por meio de uma política que fortalece o latifúndio, pela ajuda direta da polícia, ou pelo apoio e omissão dos governos às milícias montadas para combater os camponeses. Quanto maior a presença do Estado, maior a repressão contra os pequenos camponeses.

Participaram da reunião desta segunda-feira figuras como e general José Elito de Carvalho (chefe do GSI), um típico militar de extrema-direita. Carvalho ganhou notoriedade este ano após ser indicado por Dilma para o cargo e declarar que “não é vergonha para o Brasil ter desaparecidos políticos”. Ele ainda oi denunciado por participar da expedição das Forças Armadas que combateu a guerrilha do Araguaia na época da ditadura.

Até mesmo a imprensa capitalista noticiou que o assassinato do casal de camponeses e ambientalistas causou revolta na população. O cortejo fúnebre de José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo reuniu mais de duas mil pessoas. Uma verdadeira manifestação contra o massacre na região amazônica. Também estavam presentes líderes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) e a Federação dos Trabalhadores da Agricultura (Fetagri). O cortejo contou com faixas e cartazes com pedidos de punição aos assassinos. 

É preciso realizar uma ampla campanha e lutar contra a ofensiva dos latifundiários que é parte da ofensiva ditatorial promovida pela burguesia e os governos capitalistas no resto do País.

 

Assassinatos de trabalhadores rurais apontam avanço do agronegócio 

Governo e o Congresso tem responsabilidade nas execuções de ativistas nos últimos dias


DA REDAÇÃO
 

   
 
    ‘Dinho’, sobrevivente de Corumbiara, morto dia 27


• Na semana em que a Câmara dos Deputados aprovou o novo Código Florestal, beneficiando latifundiários e garantindo anistia aos desmatadores, uma onda de assassinatos de líderes camponeses percorreu a região Norte do país. Em apenas três dias foram registradas a execução de quatro pessoas, três delas já jurada de morte por madeireiros há anos.

Primeiro foi a bárbara execução do casal de castanheiros José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, na manhã de 24 de maio. O casal, assentados do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, na cidade de Nova Ipixuna, sul do Pará, foram mortos com disparos na cabeça em uma emboscada. José Cláudio teve um pedaço da orelha decepado, procedimento típico de pistoleiros para provarem a execução do serviço aos mandantes.

O casal vinha sofrendo sucessivas ameaças de morte desde 2008. Dois dias depois, moradores do mesmo assentamento notaram o desaparecimento de Herenilton Pereira dos Santos, de apenas 25 anos. O corpo do jovem camponês foi encontrado no dia 28, sábado, a 7 km do local onde o casal havia sido assassinado. Segundo a Comissão Pastoral da Terra de Marabá, Herenilton teria visto dois motoqueiros no dia anterior, possíveis responsáveis pela execução de José Cláudio e Maria do Espírito Santo.

Já no dia 27, o agricultor Adelino Ramos, presidente do Movimento Camponeses Corumbiara de Rondônia e da Associação dos Camponeses do Amazonas, foi assassinado. Adelino, conhecido como “Dinho” era um dos sobreviventes do Massacre de Corumbiara, de agosto de 1995, que deixou 13 camponeses mortos. Ele vivia atualmente em um assentamento do Incra e foi atacado no município de Lábrea, no Amazonas. Levou seis tiros. Ele também vinha sofrendo ameaças.

A responsabilidade do governo
Diante da escalada de execuções, o governo Dilma convocou uma reunião emergencial no Planalto e anunciou medidas que se limitam a uma espécie de intervenção nos municípios da região que separa os estados do Amazonas, Acre e Rondônia, considerada uma região de risco. De acordo com o Secretário da Presidência, o ministro Gilberto Carvalho, o foco são as pessoas “marcadas para morrer”.

O governo tenta assim mostrar ação e desviar a atenção para o verdadeiro motivo da onda de violência no campo. E ele é só um. O agronegócio, sentindo-se fortalecido com a ampla aliança política formada em torno do setor, que se expressa principalmente no Congresso, resolveu partir para cima. Não é coincidência que os assassinatos tenham ocorrido na esteira da aprovação do Código Florestal na Câmara, poucas horas após a execução do casal paraense.

O Governo Federal, por sua vez, prorroga por sucessivas vezes a anistia aos desmatadores, seguindo uma política do governo Lula. O agronegócio, assim, se sente fortalecido de um lado e tem a certeza da impunidade de outro. E não só por desmatar ilegalmente. Não se trata, portanto, de uma situação específica com o governo quer parecer.

Crimes no campo avançam
Os quatro assassinatos nos últimos dias é o ápice de uma tendência que já vem ocorrendo. Relatório da CPT revela que 2010 marcou um crescimento do número de trabalhadores rurais assassinados no país. Foram 34 assassinados, frente aos 26 registrados no ano anterior, um aumento de 30%. 

Com a omissão do governo e amparado pelo Congresso, o agronegócio tenta mandar um recado claro aos sem-terras e ativistas que tentam se colocar sobre seu caminho. Se depender do governo, as notícias que estamparam os jornais nos últimos dias vai se tornar cada vez mais rotina. 

 

Redação

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