Fantasia 1

Tio Severino Martins, o Trancoso

 

Era mais uma manhã de inverno escasso, igual a tantas outras que estávamos acostumados a ver, mas a notícia de sua vinda a tornava nublada e promissora. Quem sabe agora vingasse o roçado brocado em vão, anos a fio. Nós o aguardávamos ansiosos no terreiro de casa, eu e minhas duas irmãs mais velhas. Meu pai prometera-nos trazê-lo do Riacho Verde para o conhecermos e isto era-nos muito importante. Todos falavam dele. Dizia-nos Caboclo Silvestre que, mais que um mentiroso, ele era um fazedor de sonho. O maior que conhecera. Ele andava sempre apressado e assim chegou, com sua alpercata de rabicho e bornal vazio. Antes que se apresentasse disse que não podia demorar muito e contou-nos que “Endora foi levada pelo Gavião da Caatinga ontem à tarde. Ele a pegou pelo pescoço e a largou em uma nuvem bem alta. Dá pena ouvir seu miado de desespero céu afora. Foi assim a noite toda. Vou à cidade pedir ajuda a Silveira Dantas.” E foi embora.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador