O cordel do Mestre Azulão

Enviado por jns

‘Azulão, príncipe do cordel brasileiro

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O MESTRE AZULÃO

O Mestre declama os seus versos no primeiro vídeo do Globo Rural a partir de 6:38.

‘Na feira de São Cristóvão reduto dos nordestinos no RJ encontramos  um destes típicos poetas populares.Todos os domingos José João dos Santos passeia pela feira que ajudou a criar: – “Dos fundadores só tem vivo eu!”, testemunha o poeta.

‘Ele saiu da Paraiba para o Rio de Janeiro na década de 40, trabalhou como pedreiro, como porteiro, até ficar conhecido por suas cantorias e versos como Mestre Azulão’.

‘Na terra de Azulão não chove no mês de maio
O povo de lá só vive de fazer cesto e balaio
Foi a terra que a vaca engoliu o papagaio’

O super bem humorado Mestre Azulão acredita que a vaca confundiu o verde papagaio com uma moita de capim.

O POETA

Quem foi na sede da Academia Brasileira de Literatura de Cordel neste fim de semana pôde ouvir um pouquinho do talento de José João dos Santos, o grande Mestre Azulão.  

O poeta-cantador paraibano mostrou um pouquinho do seu vasto repertório no ‘Encontro com Mestres Populares e Rodas de Cantorias’.

mestre azulão com sua cantoria

Azulão é poeta experiente.

Morador do Rio de Janeiro há 58 anos, foi um dos principais fundadores da feira nordestina de São Cristóvão (RJ), como ele mesmo conta no seu livreto “A feira nordestina, foi assim que começou” (2007), editado pela Tupynanquim editora.

É na própria feira que ele possui sua barraquinha de cordéis, onde os vende em grande quantidade.

Do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas (como é nomeada a Feira de São Cristóvão) ele só reclama do barulho das barracas que o impede de recitar no seu local preferido, a praça Catulé da Rocha, bem no centro da feira.

Além de ser um grande repentista, Azulão já escreveu mais de 300 cordéis, sabe de cor romances que ninguém mais sabe e é também mestre de reisado.

Azulão é pequenino, mas na hora de cantar, a sua voz ecoa poderosa – êta veinho danado!

Azulão recitando

“A Feira Nordestina, foi assim que começou”, do Mestre Azulão.

feira de sao-cristovao

Vitor Rebello | 30 de Junho de 2009 | http://lercordel.wordpress.com/

Do G1

Folhetos de cordel traziam diversão e informação ao povo nordestino

Leandro Gomes de Barros

O Pai da Literatura de Cordel

Muito antes de aparecer na televisão, o povo da roça, principalmente do Nordeste, já usava o cordel para divulgar suas histórias. A reportagem mostra a história dos poetas cordelistas.

“Foi um trio americano que primeiro teve a glória
De fazer daqui da Lua uma via transitória,
Que vai ficar para sempre na face A da história”.

No cordel, aconteceu, virou poesia. Tem muita gente que só acreditou que o homem tinha mesmo chegado à Lua depois que leu a história rimada. Contada num folhetinho de capa singela, papel simplório e vendido por quase nada.

Em alguns lugares da zona rural, parece até que foi feita uma plantação de parabólicas, tamanha a quantidade. A notícia chega via satélite, mas quando não existia luz elétrica, rádio ou TV, eram os folhetos de cordel que traziam informação e diversão. Eles eram o jornal e a novela do sertanejo.

“Peço ao senhor Jesus
Que em tudo me conduz
Que dê-me um facho de luz
Com fios de inspiração
Para escrever em cordel
Como é que é o papel
De qualquer um menestrel
Com raízes no sertão”

Nascido no sertão da Paraíba, o poeta Abdias Campos viveu estes dias, em que para o homem simples da roça, versejar era tão comum quanto lavrar. “Minha mãe botava a gente para dormir dizendo versos. Meu pai, a gente ia pro roçado, ele ia cantando. Depois do jantar ia pro terreiro, sentava nos bancos e ficava dizendo versos. Quando se ia pra feira, sempre se avisava: olha, traz o folheto novo. As histórias da própria redondeza eram contadas nesses folhetos”.

O cordel corria o Nordeste na mala dos folheteiros, que iam de povoado em povoado vendendo poesia. Quem já conhecia as letras virava o leitor da família.

“Pra lhes deixar a par sobre esta literatura,
Que é a mais popular e, ainda hoje perdura,
Vamos direto ao começo, donde vem esta cultura?”

Quem nos conta a história do cordel no Brasil é o poeta e presidente da Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que não fica no Nordeste, mas no Rio de Janeiro.

“Para nós de língua portuguesa, a origem é ibérica, vem de Portugal e Espanha, mas o cordel vem de mais longe, atravessou o período medieval. Aqui no Brasil, o cordel chegou em Salvador, na mala dos colonizadores portugueses. Dali, se irradiou pelo outros estados do Nordeste. Se irradiou na comunicação oral, não tinha chegado escrita ao Brasil, a imprensa”, explicou Gonçalo Ferreira da Silva.

Foi a voz dos cantadores que primeiro encheu o sertão de versos.

“Este Nordeste querido, que tanta beleza tem
Seu cordel é sua vida, um amor que vai além”

Oliveira de Panelas, um pernambucano cheio de bom humor se autodefine: “Eu sou poeta, repentista, violeiro, cordelista, cantador”.Oliveira ganha a vida mesmo como cantador e sabe bem a diferença entre o poeta repentista e o cordelista. “Todo repentista pode ser um cordelista, mas nem todo cordelista pode ser um repentista. Porque o repentista faz de improviso. Pensando é que ele faz. Não vamos dizer que ele seja um grande cordelista, aliás, a diferença é essa”.

“Uma coisa se eu pudesse transformava sem sobrosso
A voz de Maria Alcina botava em Ney Matogrosso
Nem que fosse necessário um transplante de pescoço”.

“OBRIGADO PAI CELESTE, TER ME DADO ESSE NORDESTE PARA FAZER POESIA”.

O poeta cordelista é chamado de poeta de bancada. Ele senta, pensa e escreve seus versos. Mas o que faz do cordel uma poesia diferente? O jornalista e pesquisador da cultura brasileira Assis Ângelo já fez livro, CD, organizou concurso de poesia de cordel e não para de garimpar novidades. Algumas não tão novas assim. “Isso aqui é uma coisa recente, de 1626”. Tem também folheto em francês, folheto em japonês, cordel em quadrinhos.

Em sua casa, em São Paulo, ele resume a diferença entre poesia de cordel e a poesia chamada de erudita. “Uma tem o lustre, tem o brilho da erudição no sentido de formação acadêmica e a outra, não, a outra é a poesia pobre. Ela é direta, é clara, não fica preocupada com expressões que as pessoas não conheçam. Ela não fica mexendo dicionários para encontrar palavras bonitas. São poesias que têm história com começo, meio e fim”.

Na feira de São Cristóvão, reduto dos nordestinos no Rio de Janeiro, encontramos um desses típicos poetas populares.

Todos os domingos, José João dos Santos passeia pela feira que ajudou a criar. Ele saiu da Paraíba para o Rio de Janeiro na década de 40.

Trabalhou como pedreiro, como porteiro, até ficar conhecido por suas cantorias e versos como Mestre Azulão.

“Na terra de azulão não chove no mês de maio
O povo de lá só vive de fazer cesto e balaio
Foi a terra que a vaca engoliu o papagaio
Porque o papagaio é verde
E ela pensou que era uma moita de capim”.

“Foi no autódromo de Ímola
Grande Prêmio italiano
Dia primeiro de maio
De noventa e quatro o ano
Que trouxe tristeza e pena
Acabando Ayrton Senna
Neste desastre tirano”

Homenageado neste cordel, Ayrton Senna é até hoje para muitos brasileiros o número um do automobilismo. Na literatura de cordel, o poeta também considerado número um, começou a arriscar suas rimas na paisagem do sertão paraibano.

Da Serra do Teixeira saíram muitos cantadores e poetas. Segundo alguns pesquisadores, a região é o berço da literatura de cordel. Se lá é o berço, o pai é Leandro Gomes de Barros. Em Pombal, cidade paraibana onde nasceu, Leandro virou nome de rua.

Ele é descrito pelo folclorista Câmara Cascudo de um jeito carinhoso: “Baixo, grosso, de olhos claros, bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta. Pleno de alegria, de graça e de oportunidade”.

Quando começou a imprimir seus poemas, a publicação se chamava simplesmente folheto. O nome cordel veio depois, como conta Gonçalo Ferreira da Silva: “O verbete surgiu em 1881, por ocasião da publicação do dicionário contemporâneo de Caldas Valente em Portugal”.

No dicionário, cordel aparece como “cordão, guita, barbante”. Literatura de cordel: “conjunto de publicações de pouco ou nenhum valor”. Na época, os próprios poetas não aceitavam essa denominação. Aos poucos foram se acostumando. Hoje, quase não se vê mais o folheto à venda pendurado em barbante, mas o nome cordel pegou.

Os folhetos de Leandro viraram clássicos. Além de O Cachorro dos Mortos, Vida de Cancão de Fogo e seu Testamento, História da Donzela Theodora, Vida de Pedro Cem. Alguns deles temperaram a obra de um morador de Recife: o dramaturgo e romancista Ariano Suassuna.

“A minha peça mais conhecida, o Auto da Compadecida, é fundamentado em três folhetos da literatura de cordel. O primeiro ato é baseado em um folheto chamado O Enterro do Cachorro, que depois se descobriu que era de autoria de Leandro de Barros e era um pedaço de um folheto chamado O Dinheiro”, explicou Suassuna.

O Testamento do Cachorro conta a história de um padre, subornado para fazer o enterro de um cachorro. Veja no vídeo como ficam os versos originais que inspiraram Suassuna com as cenas do filme o Auto da Compadecida. Ali também é mostrada a relação da xilogravura com a literatura de cordel.

O Globo Rural | G1.GLOBO | 15/01/2012

Reapresentação das melhores matérias do ano de 2011.

http://g1.globo.com/economia/agronegocios/vida-rural/noticia/2012/01/fol…

CORDEL, O TATARAVÔ DA COMUNICAÇÃO

Redação

2 Comentários

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  1. OITO DE OUTUBRO

    O DIA DO NASCIMENTO DE PATATIVA É O DIA DO NORDESTINO EM SÃO PAULO

    01 - Patativa do Assaré - É melhor

    São Paulo é conhecida por ser a cidade onde vive o maior número nordestinos de todo o Brasil, fora o próprio Nordeste. Mas, por incrível que pareça, apesar dos milhares de migrantes que chegam a São Paulo todos os dias, não havia uma data em que a comunidade pudesse comemorar aqui, em São Paulo.

     

    Agora tem. Por iniciativa do vereador Francisco Chagas (PT), a comunidade nordestina vai comemorar, no dia 8 de outubro, o DIA DO NORDESTINO. A Lei 14.952/2009 fixa a data em homenagem ao centenário do nascimento de Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, poeta popular, compositor e cantor cearense. Além de ser a data em que se comemora o Dia do Nordestino, na Região Nordeste, em homenagem a Catullo da Paixão Cearense. A partir de agora, a data entra para o Calendário Oficial de Eventos do Município.

     

    Em sentido horário: Padre Cícero, Maria Bonita e Lampião, Xerém, Câmara Cascudo, Virgulino Ferreira, Leonardo Mota e Luiz Dantas Quezado, Dina Vaqueira, Babá, Mestre Azulão e Arievaldo Viana, Geraldo Amâncio, Luiz Gonzaga e Leandro Gomes de Barros. Ao centro, Patativa do Assaré (caricatura de Arievaldo) e Juvenal Galeno.

    LEI Nº 14.952 DE 13 DE JULHO DE 2009

    (PROJETO DE LEI Nº 220/09)

    (VEREADOR FRANCISCO CHAGAS – PT)

    Altera a Lei nº 14.485, de 19 de julho de 2007, para incluir no Calendário de Eventos da Cidade de São Paulo o “Dia do Nordestino”, a ser comemorado, anualmente no dia 08 de outubro, e dá outras providências.

    Antonio Carlos Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, faz saber que a Câmara Municipal de São Paulo, de acordo com o § 7º do artigo 42 da Lei Orgânica do Município de São Paulo, promulga a seguinte lei:

    Art. 1º Fica acrescida alínea ao inciso CCXXIII do art. 7º da Lei nº 14.485, de 19 de julho de 2007, para incluir o “Dia do Nordestino”, a ser comemorado, anualmente no dia 08 de outubro.

    Art. 2º As despesas decorrentes da execução desta lei correrão por conta de dotações orçamentárias próprias, suplementadas se necessário.

    Art. 3º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

    Câmara Municipal de São Paulo, 15 de julho de 2009.

    O Presidente, Antonio Carlos Rodrigues

    Publicada na Secretaria Geral Parlamentar da Câmara Municipal de São Paulo, em 15 de julho de 2009.

    O Secretário Geral Parlamentar, Breno Gandelman

    Fonte:http://www.araripina.com.br

    iNFORMAÇÕES DO BLOG LUZ DE FIFÓ

    http://luzdefifo.blogspot.com.br/2011/10/hoje-e-o-dia-do-nordestino-em-sp.html

  2. ACORDA CORDEL

      

    LITERATURA DE CORDEL AUXILIA NA EDUCAÇÃO ESCOLAS

    Correio Do Povo | Ano 117 Nº 44 | Porto Alegre | 13 Novembro 2011

    Autor defende projeto para que o cordel passe a ser utilizado nas escolas

       Crédito:   

    Arievaldo Viana

    Feita de rimas, versos e um jeito muito rico de contar as histórias, a literatura de cordel vem ocupando espaços como ferramenta auxiliar na Educação e contribuindo para a criança ou o estudante tomar gosto pela leitura.

    Se no Nordeste o Cordel é degustado como pão, lido nas casas a dezenas de ouvintes e responsável por fazer muita gente aprender a ler para decifrar as histórias, no Rio Grande do Sul é recém-chegado, mas bem trazido por Arievaldo Viana, que esteve na 57 Feira do Livro da Capital.

    O autor de “Acorda Cordel na Sala de Aula – a Literatura Popular como Ferramenta Auxiliar na Educação” defende projeto nacional para que o cordel passe a ser utilizado nas escolas.

    Para tanto, viaja, espalha a ideia, já se encontrou oficialmente com o ex-presidente Lula e desde o ano passado vem a Porto Alegre trazido principalmente pelo projeto de Adaptação em Cordel da obra de Simões Lopes Neto, editado pela Corag.

    Escrito por Viana com ilustrações de Jô Oliveira, desta vez chegam dois novos folhetos: “Romualdo Entre os Bugios” e “Quintas de São Romualdo”. Neles, o gaúcho Simões Lopes Neto oferece os “Casos de Romualdo” a Viana, com pedido que ele faça cordel da prosa.

    Encomenda aceita e trabalhada, agora as crianças ganham as histórias de Lopes repletas de sonoridade, harmonia, cadência e maneira leve e faceira de contar as fábulas de amor e de fé, os gracejos, as aventuras e os duelos escritos nos folhetos de oitavo de página.

    Depois de ter contato com o cordel, Viana leu seu primeiro livro: o clássico “Iracema”, do escritor José de Alencar.

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