Do blog do Sakamoto
Quem critica Sérgio Moro é porque defende Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva? Não, você pode achar Dilma a pior presidente do mundo e Lula um bandido enganador e, ao mesmo tempo, considerar que um juiz federal deve seguir regras e não pode agir de forma política em seus casos. Porque as instituições da República, como as leis e o devido processo legal, devem sobreviver aos governantes e magistrados.
Em outras palavras, o combate à corrupção é fundamental e operações como a Lava Jato e a Zelotes desempenham um papel importante para o país. Mas sob a justificativa de limpar a sociedade, o Estado não pode se utilizar de métodos questionáveis sob o risco de não ser diferente daqueles que querem investigar. Porque, acima de tudo, está a proteção de nossa democracia.
Saindo do ar rarefeito dos palácios e cortes e indo para o nível de nosso cotidiano, a sociedade não pode e não deve substituir as instituições democráticas em momentos de intensa comoção popular sob o risco de ela própria se tornar pior do que o problema que quer combater.
Como já disse aqui anteriormente, quando uma turba resolve fazer Justiça com as próprias mãos, partindo para o linchamento de uma pessoa acusada de cometer um crime, usa – não raro – o discurso de que as instituições públicas não conseguiram dar respostas satisfatórias para punir ou prevenir.
Afirmam, dessa forma, que estão resolvendo – como policial, promotor, juiz, júri e carrasco – o que o poder público não foi capaz de fazer, baseado em um entendimento do que é certo, do que é errado e do que é inaceitável.
Mesmo que, ao final de um espancamento, isso os transforme em criminosos mais vis do alguém que comete um furto, por exemplo, uma vez que a vida vale mais que a propriedade e não existe pena de morte no Brasil. Em tese, claro.
Casos envolvendo turbas em transe estão despontando, aqui e ali, como os que circularam nos jornais, sites, emissoras de rádio e telejornais, desta quarta (16), resolvendo reequilibrar o universo com as próprias mãos, partindo para o linchamento de pessoas acusadas não de estuprar, roubar ou matar, mas de carregar e defender uma ideia diferente da sua.
Em outras palavras, ter uma opinião e demonstrá-la publicamente tem sido, para algumas pessoas, motivo de linchamento moral e físico. Mesmo que essa ideia não signifique incitar a violência contra outros brasileiros.
Talvez como “corretivo” para que aprenda o que é certo e o que é errado. Talvez como “punição” por cometer uma heresia – palavra empregada aqui de forma pensada, pois a situação remete a momentos da Santa Inquisição que pensamos ter deixado para trás.
Preocupa ouvir e ler relatos de pessoas que são obrigadas a tirar camisetas vermelhas com imagens de Che (ainda mais ele, que já havia sido fagocitado, alienado e entregue ao consumo pop) e bonés de movimentos sociais ou largar livros de Marx, sob o risco de apanhar de grupos enfurecidos.
Parte de ações antes restritas ao ambiente digital, vai ganhando escolas, locais de trabalho e ruas, fomentada por lideranças e pela ausência de uma cultura política do debate, da tolerância e da noção de limites.
Da mesma forma, é um absurdo colegas jornalistas apanharem nas ruas ao fazerem coberturas por trabalharem em determinados veículos – sejam eles da grande imprensa ou da independente, progressistas ou conservadores. Pois a ignorância e a incapacidade de diálogo não são monopólio de ninguém.
Não podemos esquecer que já linchamos sistematicamente pessoas cujo crime do qual são acusadas é o de criar rupturas em uma suposta harmonia da sociedade ao tentarem ser simplesmente quem são. O receio constante de apanhar ou ser maltratado não é novidade para muitos gays, lésbicas, transexuais, travestis, negros (principalmente jovens), indígenas, mulheres. Ou seja, cidadãos de segunda classe.
Mas estou indo um pouco além no questionamento: seguindo essa toada, o Brasil sobreviverá a esta temporada de linchamentos baseados em opinião? Ou estamos vendo o surgimento de um macarthismo, que tocou o terror nos anos 1950 nos Estados Unidos, com a prática de formular acusações e fazer insinuações sem provas e criminalizar todo o pensamento fora do estabilishment?
O que a maior parte das hordas que adotam o terror como modelo de atuação não sabem é que não se mata uma ideia matando quem a carrega. Porque uma ideia não pertence a uma única pessoa ou instituição. Ela, parida pela somatória das experiências de vida individuais e pela ação da razão, passa a pertencer à sociedade e ao seu tempo histórico.
Ou seja, uma ideia não morre simplesmente. Queimada na fogueira ou agredida em praça pública, ela se multiplica.
Mas, se dialogada, com argumentos, tolerância e bom senso, pode ser transformada e, quiçá, alterada e aplicada. E, com isso, transformar, para melhor, a vida de todos os envolvidos.
Muitos podem não acreditar nisso. Mas continuo insistindo em trazer esse debate aqui. Pois a alternativa a isso é a mais completa barbárie.
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A Alemanha eliminou o
A Alemanha eliminou o nazismo, o Brasil vai eleiminar o petismo pelos mesmos motivos.
O que se tem é a reação ao que o petismo fez, usou recursos roubados do estado para corromper a democracia.
A CUT vai defender a democracia ?
Veja o sistema sindicalista onde existe democracia no movimneto sindicalista?
Seus lideres se mantêm no poder ate com o uso de violência.
E o imbecil se compara a
E o imbecil se compara a Nelson Falcão Rodrigues.
Sugestão
sSe deseja eliminar o nazismo no Brasil, um bom começo para o Aliança seria inspirar-se no versos de Fernando Pessoa: “Se te queres matar, por que não te queres matar? (…) Ah, se ousares, ousa!”
Mitou
“A Alemanha eliminou o nazismo, o Brasil vai eleiminar o petismo pelos mesmos motivos.”
Quanta lucidez e embasamento histórico em apenas uma frase! Se me permite, vou usá-la como citação pessoal.
Artigo de Leonardo sakamoto
Gostaria de acrescentar, Leonardo, o quanto a expressão do ódio a simples diferença de opinião só acontece porque não e uma simples diferença, é um resultado de eleição não aceito pela direita suposta elitizada desde 2002, com a vitoria do Lula. Juntando com o que voce colocou, um ódio dirigido ao Pt como segunda classe. A divisão primeira e segunda classe é que pareceu ter sido ameaçada para o pessoal do “eu mereço porque paguei para ser elite”.o ódio diz de quando algo chega perto demais e me pergunto, nessa linha sobre o que é que chegou perto demais? Pensei nessa fronteira colonial que sempre separou sem culpa alguma o escravo do senhor e justificou olhar para o desfavorecido sem empática, pois o favorecimento de um vem diretamente do desfavorecimento do outro, mas para que eu não me de conta dessa barbárie e naturalizo a divisão, masquando a divisão é rompida, o ódio vem tentar separar frontalmente eliminando a tentativa de serem colocadas lado a lado a primeira e a segunda classe, rechaça-se o levante do recalque cuja idéia é claramente fascista e teria que ser admitida como tal e isso é intolerável.
desculpe a pontuação, esse meu iPad não esta legal. Leia-se empatia no lugar de empática e eu naturalizo no lugar de e naturaliza. Não consigo corrigir na tela. Grande abraço.
Como dialogar com fascistas?
Veja como “dialoga” o aliancaliberal, conhecido troll aqui no blogue: “A Alemanha eliminou o nazismo, o Brasil vai eliminar o petismo pelos mesmos motivos.” Dá para ter diálogo com um sujeito desses? Dá para contemporizar? A única linguagem que os fascistas entendem é a da violência.
Leonardo Sakamoto é um ingênuo.
A democracia já foi derrotada pela barbárie. O golpe já foi dado. O que estamos fazendo é começar a resistência.
Não há como não dar razão ao
Não há como não dar razão ao excelente texto. A barbárie está sendo instalada de fato. Um retrocesso aos piores anos do país.
Esqueçam o bom-senso
Honestamente, não há apelo à razão que faça a diferença nesse momento. Aliás, acho que nunca faria. Mas hoje menos ainda.
Não adianta tentar argumentar logicamente. Não tem efeito pontuar e extrair o bom-senso de um diálogo. Isso porque o diálogo nem se inicia. O estabelecimento do diálogo pressupõe uma disposição da cotnraparte em aceitar ideias e argumentações contrárias.
Se isso já não existia antes, ou era raríssimo, hoje está decretado o fechamento de qualquer interlocução, minimamente saudável que seja.