A escolha de Marina, por Wagner Iglecias

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Wagner Iglecias

Marina Silva anunciou somente ontem, domingo, seu apoio ao candidato Aécio Neves. Pagou o preço de, uma vez mais, passar a imagem de indecisão. Até ai, nada de tão novo num passivo que ela já criou para si ou que já foi carimbado nela durante o 1o. turno com as tantas idaas e vindas relativas a seu programa de governo e ao papel de seus aliados. O anúncio pode, também, cobrar um outro preço, interno, já que traz em si o potencial de desestimular muitos de seus correligionários da Rede Sustentabilidade, engajados nos últimos anos de forma sincera e muitas vezes idealista na construção de uma terceira via com potencial para alcançar o comando do país.

Para Aécio o apoio é muito bem vindo, ainda que um pouco tardio e já sem o impacto que teria caso tivesse sido anunciado horas depois de conhecidos os resultados do 1o. turno. Embora, como afirme com razão a candidata Dilma, ninguém seja dono dos votos de ninguém, o aporte de Marina confere à campanha de Aécio um pouco mais do argumento mudancista. Além disso o ajuda na estratégia de apresentar-se ao eleitor como o líder de uma frente ampla de políticos que representam o anseio pelo novo. Ainda que seja lá o que isso, o novo, queira dizer na atual conjuntura. Como se sabe já haviam aderido ao tucano os ex-candidatos Pastor Everaldo e Eduardo Jorge, aos quais vem agora a se juntar Marina.

Para Marina a demora em anunciar sua posição tem também um aspecto positivo. Dá ao eleitor a idéia de que foi uma decisão bastante ponderada. Mais do que isso, pautada em questões programáticas, e não no adesismo rápido voltado a cargos, tão corriqueiro na nossa tradição política. E, jogada de mestre, Marina aderiu a Aécio mesmo sabendo-se que suas exigências em termos programáticos foram aceitas de forma meio solta pelo candidato direitista. É dificil, de fato, supor que um partido conservador como o PSDB vá abraçar com grande entusiasmo questões ligadas aos índios, à reforma agrária ou ao menor infrator, como Marina exigiu para aderir. No entanto, para todos os efeitos Marina botou suas condições na mesa. Caso eventualmente eleito, se Aécio vier a leva-las em consideração Marina sempre poderá lembrar ao eleitor que foram sugestão sua. Caso Aécio ignore as condições de Marina ela poderá dizer que, não tendo exigido cargos, não participou do governo e, portanto, nada teria tido a ver com as decisões de Aécio em não as suas sugestões.

Faltou entender, nessa aliança, como fica a questão do fim da reeleição. Aécio sinalizou que, se eleito, fecha questão. Mas só para 2022. Marina, provavelmente, desejasse o fim da reeleição já para 2018 ou, num acordo maior, com a ampliação dos mandatos para cinco anos e seu fim em 2019. Figura nacionalmente conhecida e após duas eleições presidenciais perdidas, Marina talvez calcule fazer a mesma trajetória de Lula, derrotado em três oportunidades antes de finalmente alcançar a presidência. Se for isso mesmo, Marina poderá estar no jogo em 2018. Ou 2019. Aécio, tendo sinalizado que só topa discutir para 2022, também. E ainda há Geraldo Alckmin, que teve votação consagradora para comandar uma vez mais o mais importante estado da federação. Natural que pense em vôos ainda maiores, até porque não poderá candidatar-se a um novo mandato para o governo paulista. Em política, assim como na vida, não existe o “se”. Mas se Aécio for eleito, deverá haver (se já não houve) uma engenharia complexa para harmonizar tantos interesses.

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Este é bom de avaliação

    O PT que abra os ouvidos para o Professor Wagner, ele 1 ano antes da derrota da Marta para o segundo mandato, já dizia que ela perderia a reeleição. O Professor já analisava a situação e disse que ela não se reelegeria, em outros diversos casos ele também através da ciência política, conseguiu oferecer alternativas a situações que se configuravam, mas ainda não estavam definidas, sempre com uma análise para o futuro, com o spés no chão. Tenho acompanhado os textos e analises do Professor e percebo a sua capacidade de entendimento das situações em nível macro da política, alertando para situações adversas que poderão acontecer, PT abra os ouvidos.   

  2. Este é bom de avaliação

    O PT que abra os ouvidos para o Professor Wagner, ele 1 ano antes da derrota da Marta para o segundo mandato, já dizia que ela perderia a reeleição. O Professor já analisava a situação e disse que ela não se reelegeria, em outros diversos casos ele também através da ciência política, conseguiu oferecer alternativas a situações que se configuravam, mas ainda não estavam definidas, sempre com uma análise para o futuro, com o spés no chão. Tenho acompanhado os textos e analises do Professor e percebo a sua capacidade de entendimento das situações em nível macro da política, alertando para situações adversas que poderão acontecer, PT abra os ouvidos.   

  3. No creo

    “Mas se Aécio for eleito, deverá haver (se já não houve) uma engenharia complexa para harmonizar tantos interesses”

    Até o primeiro turno, Aécio era o candidato non grato. Em tão pouco tempo ele teria ‘harmonizado’ tantos e diferentes interesses ? Não, a unica coisa que deu tempo foi o de prometer mundo e fundos para ganahar as eleições. Depois ele vera o que fara e não fara nada do prometeu. Ah,sim, o arrocho, é claro.  

     

  4. Qual é o “mas, …….” para poder trabalhar o: “porém, …..”

    Muita gente vota em Aécio torcendo o nariz. Como a maior parte dos eleitores do Aécio é gente informada (segundo FHC), devemos acreditar que eles sabem na “peça” em que estão votando.

    Ouço, por exemplo: “Sei que o cara é meio playboy, etc., mas…..a economia….

    “Sei que o cara nunca trabalhou mesmo, mas……quero Dilma fora de qualquer jeito.

    Gostaria de saber qual é ou são aqueles “mas, ….”

    O foco da nossa campanha:deveria estar no “….porém, ………………”

  5. Mas que campanha eleitoral

    Mas que campanha eleitoral mais doida, essa.

    Um estado gemendo por problemas agudos, a começar pela insegurança hídrica de oito milhões de pessoas, estagnado, segurança periclitante, reelege(pela segunda vez) um governante em primeito turno. Quase que vencia por unanimidade.

    Uma candidata – Marina Silva -que até “ontem” se auto entitulava o símbolo da mudança, a musa das manifestações de junho de 2013, já com muita gente pondo fé na mesma, eis que, após derrotada, se bandeia de mala e cuia para uma candidatura que é exatamente o oposto de que ela pregava. Quem enganou quem?

    Um candidato a presidente que vai para segundo turno – Aécio Neves- mesmo sovado na sua terra natal duas vezes(perdeu para Dilma e o governo de Minas), por conta também dos votos salvadores dos mesmos paulistas que reconduziram Geraldo Alckmin. 

    Partidos historicamente reconhecidos como renovadores, a exemplo do PV, também aderindo a Aécio que de “verde” não tem nada.

    Um candidato – Aécio Neves – que até às vésperas do primeiro turno era o terceiro colocado sai do mesmo com milhões de votos arrebanhados de última hora. Milagre da mutiplicação dos votos?

    O comum, o esperado, o óbvio não decepcionou: a mídia batendo pesado e fazendo campanha de forma descarada pelo candidato da “mudança” e os escândalos adredemente agendados para explodirem na primeira semana de campanha para o 2º turno.

     

  6. aécio e o preposto do obama

    Ontem tomei conhecimento de dois detalhes dessa eleição que me deixaram um tanto chocada. Aliás esse período eleitoral tem sido todo ele chocante desde as fogueiras de junho. Os dois  detalhes dizem respeito ao ministro da fazenda de aécio já empossado quando o mesmo era apenas terceiro lugar nas pesquisas. O Armínio Fraga teria duas nacionalidades a brasileira e a americana.  O outro detalhe é que já esteve cotado para o banco central americano. Juntando tudo, chega-se à conclusão que se eleito, aécio terá dentro do seu mais importante ministério um preposto do Obama. Acho que isso é pior do que quando estávamos de joelhos diante do FMI.

  7. escolha de marina

    Totalmente previsível, já que após ser sustentada pelo Itaú por tanto tempo não teria como ficar isenta, neutra. Ademais ela só estava mesmo nessa eleição para fazer o que fez. Levar ao segundo turno o candidato da elite onde milita ultimamente.

  8. Impressionante como falou tanto sem dizer nada

    Ah, quer dizer que há várias candidaturas possíveis para 2018? Que há interesses divergentes, difíceis de serem conciliados? Isso é novidade para quem, hem? Ora francamente. 

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