A ingenuidade e os monstros antropofágicos do poder brasileiro, por Vera Lúcia Venturini

Por Vera Lúcia Venturini

Comentário ao post “O xadrez da Lava Jato e a incógnita Janot

O Brasil é um país bárbaro e antropofágico. A cada vez que um governo ameaça elevar o país a outro patamar civilizatório surgem monstros pantagruélicos e o comem. Foi assim com Getúlio em 54 e com Jango em 64. Agora estamos destruindo uma figura referencial do país.

Os presidentes petistas e o Partido dos Trabalhadores ingenuamente acreditaram que havíamos evoluído e que monstros com tal força já haviam se auto devorado e se propuseram a trabalhar de forma republicana. Foram devorados pelos  monstros por eles alimentados. Foi assim com a imprensa tratada a tripa forra com verbas públicas, com juízes indicados de forma republicana para o Supremo e agora com a liberdade que gerou a ditadura da PGR. 

É culpa dos governos petistas o que ocorre no país? Não, é destino histórico, é característica do país. Nada explica  o abuso desses pequenos ditadores (as) que brotam de todos os cantos. Ou melhor, se explica pela falta de cultura, de ética, de responsabilidade social, de patriotismo. E de muito preconceito social.

Como pôde um juiz negro (não por ser negro mas por ter sofrido o preconceito e a perseguição que em algum momento da vida todos os negros sofrem) agir com tanto barbarismo e autoritarismo com um grupo político, enquanto inocentava um banqueiro, em troca da fama momentânea? O Janot, quando foi a Washington entregar documentos da empresa estatal Petrobras para os americanos e receber informes da CIA para mandar prender o almirante que conduzia o nosso programa nuclear, será que pensou em visitar o memorial de Thomas Jefferson? E o memorial de George Washington será que foi conhecer? Como pode um juiz independente da Suprema Corte como Facchin produzir um calhamaço de 200 páginas  para justificar um rito de impeachment produzido por um calhorda apenas para agradar a imprensa e se esquecendo do país? Será que esses janotas membros do Judiciáiro que exibem roupas compradas em Miami(ou apartamentos) tem noção que são apenas office boys de políticas traçadas por think thanks como o Instituto Millenium? E por sua vez os membros do Instituto Millenum são aqueles que tiram o sapato para serem revistados lá fora. Lesam a pátria enquanto a sugam.

Oswald de Andrade ironizou em sua obra a submissão das elites brasileiras aos interesses extrangeiros. Propôs o movimento antropofágico para que engulíssemos o que vinha de fora, misturássemos com o que comíamos aqui e vomitássemos um novo Brasil. 

Não foi isso o que aconteceu: nossas elites pantagruélicas só comem, comem e comem. Não vomitam nada porque lhes falta estatura moral, respeito humano e espírito patriótico para permitir que aqueles que realmente fazem o país possam se alimentar dos restos de sua voracidade.

Redação

21 Comentários

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  1. Sem panfletos, por favor

    “É culpa dos governos petistas o que ocorre no país?”

    É culpa do governo Dilma a recessão em que ela enfiou o país nesse segundo mandato. Com o agravante do estelionato eleitoral cometido.

    Claro que não foi coisa programada. Foi, e é, incompetência mesmo.

  2. Elite.
    É que infelizmente no Brasil não existe Elite. Elite pensa e traça estratégias para que o “meio ambiente” onde está estabelecida seja forte para que ela sobreviva mais poderosa. Estados Unidos, Europa, Rússia, China, Japão são o que são porque esses sim, possuem Elite estabelecida ali. Nosso país só tem endinheirados consumistas. Para ser endinheirado, não precisa necessariamente ter cérebro estratégico. Basta uma ferrari na garagem, ou uma mansão em Paris para se achar Elite.

  3. A ingenuidade e os monstros antropofágicos do poder brasileiro

    Gostei demais de teu texto.

    Apenas discordo quanto à avaliação da “culpa” dos governos do PT.

    Primeiro não vejo “culpa” mas a tua notada ingenuidade e resultante incapacidade de avaliar corretamente nossa história. Bem notado o encarniçado ataque aos governos populares  alvos de calúnias várias desde a onipresente corrupção da hora – esquecidos do que fazem os acusadores – até a comunização do Brasil.

    Ao PT, com muita estrada e recheado de intelectuais, faltou reconhecer os famigerados atores do passado sempre presentes a clamar pelo entreguismo puro e simples. Seus governos, podemos fazer uma ressalva ao primeiro governo Lula, pecaram por políticas associativas e não de enfrentamento firme dos arreganhos reacionários.

    Agora com o segundo governo Dilma chegamos ao climax do “republicanismo caolho” como sinônimo de entrega e esquecimento das bandeiras eleitorais.  A reforma da mídia, mãe de todas, pode ser feita ao estilo Requião: zero de verbas. Nenhum anunciante aceita ataques, que dirá mentirosos e gratuitosdos veículos nos quais investem , salvo do governo federal.

    O MPF é brindeiramente comandado pelo mais votado.

    A PF é entregue a delegados alinhados à oposição.

    O pianista que se ocupa o ministério da justiça é um boneco de pano a ser batido até por seus “comandados”. Virou japonesinha  piada nacional.

    O BACEN em meio a um ajuste que pune trabalhadores e menos favorecidos, tranca a economia e enfraquece o país com juros criminosos sem vinculação com a propalada inflação, sabidamente fruto de um ajuste abrupto de tarifas. Apenas endinheirados nacionais e estrangeiros são favorecidos com tal política. O ministro da fazenda enxuga o gelo que o BACEN produz…

    E ainda insistimos no superavit fiscal e redução da dívida pública. Inovam ao apagar fogo com gasolina.

    Isso não é republicanismo nem aqui nem em Marte.

    Mais parece capitulação.

    1. Não, não dá para culpar

      Não, não dá para culpar pessoas bem intencionadas por desconhecimento histórico. Todos nós caimos nessa esparrela de que a sociedade brasileira, após o sofrimento do golpe de 64, estaria se encaminhando para ter maior consciência social e política. A turma do PT foi formada na década de 80. Na imprensa, por exemplo, a Folha de Claudio Abramo, que foi o jornal dessa geração, parecia ter objetivos democráticos. A elite brasileira camuflou muito bem os seus propósitos e botou a cabeça pra fora quando viu que um grupo político de origem trabalhista, com objetivos próprios,  ousou ocupar parte do poder do país. Não foi a falta de conhecimento que levou ao “fuzilamento” dos governos petistas. Foi a canalhice, a trairagem e a falta de respeito para com o país e das leis do pais por parte  dos seus opositores (e sabujos atrelados).

      Mas que o PT e seus líderes  precisam sair da defensiva  eu  concordo plenamente com você. E Dilma precisa governar para quem a elegeu, não para o mercado ou para a manutenção de sua imagem pública republicana. 

      1. O pior de tudo é que…

        Assim que a oposição voltar ao poder, não vai nem precisar mandar esse republicanismo idiota para a PQP, pois os seus sempre estarão a postos e nos locais certos, prontos para fazer o serviço sujo.

        Se a perseguição política ao PT com a oposição golpista fora do poder central já é assim, imagina quando eles voltarem ao governo?

      2. Não dá para culpar

        Mas foi justamente para combater “a canalhice, a trairagem e a falta de respeito para com o país e das leis do pais por parte  dos seus opositores (e sabujos atrelados)” que votamos em Lula e Dilma. E isso não foi feito pela ingenuidade de achar que seria possível um acordo com os que se chamam de “elite”, talvez “zelite” lhes caia melhor. Correu na internet que Lula teria dito a FHC que teria um amigo na presidência. Ali ele ingenuamente capitulou ante um dos. O mesmo que tendo feito o que fez teve o cinismo de acusar Lula.

        Como desconhecer a bandeira maior das campanhas vitoriosas ?

        Não se dorme com o inimigo e nem na França a coabitação deu certo.

        Se non è vero è bene trovato…

         

         

         

         

        1. Pensei em escrever algumas

          Pensei em escrever algumas coisas, mas percebi que seriam muito longas. Vi, então, que no moer de tudo, eu queria falar sobre a escuridão que nos assola. E, para encurtar, lembrei de uns versos do Grande Sertão:Veredas:

           

          Trouxe tanto este dinheiro

          o quanto, no meu surrão,

          p’ra comprar o fim do mundo

          no meio do Chapadão

           

          Urucuia – rio bravo

          cantando à minha feição:

          é o dizer das claras águas

          que turvam na perdição.

           

          Vida é sorte perigosa

          passada na obrigação:

          toda noite é rio-abaixo,

          todo dia é escuridão…

           

  4. Ex……..

    Eu ia escrever excelente para o seu texto, mas veja aonde nos jogam. O seu texto é tristemente excelente, ele vomita este cenário que podres poderes nos obrigam a engolir. Os facínoras sem caráter,  impingem ao povo a figura de um Macunaíma, a quem chamam de herói sem caráter.  Não porque entenderam Macunaima, mas sim porque projetam no brasileiro  a sua própria  incultura, toda a sordidez toda a  ignorância e a falta de visão, tipica de uma classe que jamais deixou de ser de  herdeiros das caravelas. Continuam sendo os mesmos predadores , continuam  devorar o Brasil na esperança de um dia voltar ao lugar ao qual se julgam pertencer.  Neste meio tempo existem os lacaios que se apressam a mostrar bons serviços. 

  5. A parte cheia do copo…

    O lado positivo, é que a invés de governante forte para atravessar a turbulência, precisamos de uma SOCIEDADE FORTE!

    Talvez, este venha ser o MAIOR LEGADO DE DILMA!

    Uma ditadura não sobrevive mais de uma geração se seu povo não compartilhou sua criação!

    Ao passo que se a SOCIEDADE EM SUA MAIORIA ESCOLHER UM CAMINHO, essa conquista TENDERÁ EM SER MAIS DURADORA…

    O Brasil AINDA NÃO É UMA NAÇÃO EM SENTIDO LATO!

    OS EUA é uma nação!

    Se vencermos esta etapa, será o povo em sua escolha que terá vencido apesar de toda mídia dizer o contrário!

    Se falhar retrocederemos uma ou mais gerações até nos encontrarmos novamente neste ponto de virada!

    1. E como construir uma

      E como construir uma sociedade forte se um dos pilares da República, o Judiciário, em sua maioria não tem compromisso com uma parcela da população? E pior do que isso: não tem compromisso com o significado maior da  instituição justiça: o conceito de consciência moral elevado,  a imparcialidade,  o igualitarismo. A parceria imprensa/judiciário nestes últimos anos  na montagem de factóides, na prisão de membros de um só partido, terá o mesmo efeito do golpe de 64. Uma parcela da populaçao ficará sem representação política forte. Cassam Lula agora como cassaram Jango em 64.

      Os governos petistas tentaram diversificar o Poder Judiciário com cotas, com democracia, com liberdade de investigação. Pelo menos 80% dos indicados se bandearam, se acorvadaram frente a grande imprensa,  e o poder que ela representa. mas só se bandearam porque lhes falta estatura moral, estudo da ética e consciência cívica para  representar dignamente o poder que lhes foi confiado para construir um país mais justo. E neste sentido os governos petistas cumpriram o seu papel: a sociedade é que não lhes correspondeu.

      De outro lado temos a manipulação de consciências em vários patamares: em cima com a imprensa atingindo a classe média, em baixo com o poder das igrejas neo pentecostais manipulando a consciência dos mais pobres e desprotegidos culturalmente. Tudo acompanhado da balburdia das redes sociais manipuladas por factóides e desinformação. . E que sociedade temos se o estado mais desenvolvido do país elege, em primeiro turno, um governador cuja polícia promove assassinatos sem responder à sociedade? O mesmo governador respeitadíssimo por procuradores do estado que elegeram um procurador geral não acatado pelo governador.

      E em cima de nossas cabeças os helicopteros e jatinhos fazem um outro tipo de barulho. Para nós, a população o barulho dos motores, Para seus donos o isolamento acústico.

      E eu chego a conclusão que nós, como sociedade, estamos em um estágio tão rudimentar que não compreendemos o sentido e a importância de termos liberdade.

  6. Terceira onda do mal

    Excelente post, Vera!

    Sempre que o Brasil sonha ser grande, o 1% mais rico retoma as rédeas do poder na base da violência, da tortura, do arbítrio, da suspensão do Estado de Direito.

    Se vencerem, será a terceira onda do mal a destruir os nossos sonhos. Se vencerem, não têm nada a oferecer ao país, nenhum projeto de futuro. Nenhuma esperança. Nada. Só mais ódio, perseguição e desejo de poder.

    O Zeitgeist, o espírito do nosso tempo, é a redução das desigualdades. Mujica, Papa Francisco e Sanders, o candidato socialista dos EUA, captaram isso. Lula representa o Zeitgeist para nós. Prometeu acabar com a fome e a miséria no Brasil. E cumpriu. Falta agora completar o serviço e nos ajudar a enfrentar a desigualdade.

      1. NUNCA SE FALOU TANTO EM DESIGUALDADE

        correta  a  sua  avaliação,  amigo.    

        Lamentavelmente  e  Perigosamente  para  a  Vida  Social,  Vivemos  num  Mundo  onde  a  ECONOMIA  é  Enxergada  e  Praticada  como  instrumento  para  DISPUTAS,  COMPETIÇOES,  DOMINAÇÕES,  para  satisfazer  o  EGO  e  a  VAIDADE  de  alguns   e  NÃO  para  Satisfazer  as  NECESSIDADES  HUMANAS  ! ! !    

        O  Capitalismo  INVERTE  os  Conceitos  de  NECESSIDADE   X   PRAZER   construindo  cidadãos  SEM  Senso  Crítico  sobre  a  Realidade  transformando-os  em  MEROS  Consumistas.     Os  EFEITOS  de  TUDO  isso  são  CATASTRÓFICOS  para  a  Vida  Social  !  

  7. A elite quer vender o BRASIU

     Como já disse o nosso grande poeta, se nao me engano, Aldir Blanc

    O Brasil nao merece o Brazil

    José Emílio Guedes Lages- Belo Horizonte

  8. Excelente texto Vera! A

    Excelente texto Vera! A antropofagia entre  sido de recorrência histórica Vivi as fases do suicídio de Vargas, e golpes frustrados a partir de então até o fim do governo JK.O sucesso do golpe militar de 64 e subsequente ditadura pareciam ter nos vacinado contra novos golpistas. A  AP470 me mostrou o contrário.Nossos gorilas já não estão fardados. Agora usam togas.

  9. E ……………….

    Não vou elogiar o artigo da Vera, pois seria fazer coro com os milhares de elogios lidos até agora.

    Mas…, não resistindo digo – EXCELENTE !!!!!!!!!!!!!

    Contudo, quero acrescentar além do que ela diz, o fator “pressão externa”!!!!!!!

    Sabemos, quase todos nós que, com a globalização e muito antes dela, as nações mais fortes, imperialistas, sempre dominaram e dominam através do poder economico, quando não do militar.

    Haja visto que, ao citar – ” Foi assim com Getúlio em 54 e com Jango em 64.”, e agora tb a repetição com Lula. Desconstruir o mito, é urgente, pois as pressões externas, a cobrança dos favores feitos outrora, é mais premente que nunca. Daí o desespero deles, e estão jogando tudo para retornarem ao poder.

    O mais lamentável é que não temos nenhuma perspectiva, pois a ingenuidade do “governo republicano”, “governo de coalização” implantados, hoje se voltam contra aos que  antes lhes estenderam as mãos!

    Às vezes me sinto desanimado, mas lendo artigos como o seu, do AA, do Nassif e alguns outros, me recupero, e embora já no ocaso da vida, sinto que precisamos lutar contra estes fascinoras, anti-patriotas, entreguistas, quinta-colunas, e talvez impedir que saqueim novamente este País!!

    Nós, temos a obrigação moral de fazermos o contraponto, pois uma grande maioria esta midiotizada, monitorada, manipulada pelos oportunistas, que preparam o bote final !!!!!!!

  10. Não concordo com a autora. O

    Não concordo com a autora. O PT é culpado, sim. Mas, não o único culpado, pois toda a classe política e a burguesia capitalista nacional são culpados por empoderar essa burocracia vitalícia.

    Não escondo que não comungo dos ideais petistas, mas pior que a ptzada é esse republicanismo burocrático dos bacharéis. Além de bisonho, é simplesmente medieval, um verdadeiro atraso ao país. Estamos, graças a esses obtusos, uns 200 anos atrás da liberdade dos EUA…

    Portanto, se o pt não fez nada para livrar a sociedade da ditadura do bacharelismo, vamos tentar outro grupo político. Ah, em tempo, não acredito em direita e esquerda. Acredito em nacionalismo e entreguismo. E entre o nacionalismo dos burocratas e um entreguismo liberal, fico com o último.

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