O início da segunda onda da crise, por Tereza Cruvinel

Enviado por Gilberto Cruvinel

Do Brasil 247

A segunda onda da crise
 
por Tereza Cruvinel

Hoje é que será possível tomar o pulso do Congresso em relação ao desvelamento do que nunca esteve realmente oculto, a verdadeira razão do impeachment: afastar Dilma para que Temer assumisse e promovesse um acordão que estancasse a sangria dos políticos pela Lava Jato. O que se viu ontem, uma segunda-feira preguiçosa, foi o silêncio do PSDB, do Centrão, do Supremo e do Renan (que teve a pachorra de dizer que não leu a transcrição dos diálogos entre Romero Jucá e Sergio Machado).  Quem começou a ser sangrado foi Jucá mas pode estar começando uma nova escalada da crise que derrubará a ordem política carcomida que elegeu Temer como tábua de salvação.

Se o script da Lava Jato não mudou, vamos ter a homologação da delação de Machado pelo ministro Teori Zavascki e vazamentos de outras gravações, as que teriam sido feitas com Renan e Sarney.  E desta vez,  só haverá o PMDB de Temer na roda.  Como ele poderá resistir se os tripulantes começaram a desembarcar?  Ontem foi o pequeno PV, que sentido cheiro de sangue no ar, anunciou sua independência. E isso tendo indicado Sarney Filho para o Ministério do Meio Ambiente. Assim faziam também com Dilma.

Marcada para as 11 horas, a sessão que Renan prometeu a Temer para discutir e votar o ajuste da meta fiscal, a anti-meta de R$  170,5 bilhões, vai ser um pandemônio.  Como no tempo de Dilma, a crise política atropelará a agenda econômica. O dia não recomenda o outro evento previsto, a apresentação, por Meirelles, das medidas de ajuste, como corte de despesas e providências para aumentar as receitas.

Onde este repique da crise política vai dar,  ninguém sabe. Mas existem algumas no caminho. Dilma precisa de três ou quatro votos para livrar-se do impeachment no Senado. Mas como iria governar, não tendo um terço da Câmara baixa (sentido literal, por favor). E continua havendo lá,  no TSE, sob a guarda do ministro Gilmar Mendes, a ação que pede a impugnação da chapa Dilma e Temer. A impugnação completa, ainda este ano, daria em nova eleição presidencial. Após 31 de dezembro, na eleição indireta de um novo presidente por este mesmo Congresso que está aí, e que foi capaz de montar a liturgia do impeachment tentando desmontar a Lava Jato. Esta saída, os brasileiros não merecem mesmo!

Redação

11 Comentários

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  1. Penso que a globo não queria

    Penso que a globo não queria o PMDB no poder. Queria o PSDB.

    Foram ultrapassados pelos fatos.

    Agora com o PT carta fora do baralho partiram para detonar o PMDB. O Jucá foi somente o primeiro.

    Mas, não é intenção deles detonar o Temer já. Se fizerem isto este ano há eleições diretas e com Lula no páreo eles perdem.

    Então, cozinharão o Temer até o ano que vem. Aí o detonam.

    A eleição será indireta e eles têm a esperança ou certeza de colocarem o mais nefasto político da história deste páis no cargo de primeiro ministro; José Serra.

    Não acredito que teremos elições para presidente em 2018.

    1. Concordo

      Concordo em genero, numero e grau.

      A lei de impeachment deve sim, ser alterada, permitindo que um Presidente também defenestre um congresso onde 200 e tantos deputados enfrentam acusações. Na maior, impeachment de qualquer lado deveria causar novas eleições, instantaneas, sem essa de voto indireto, e preferencialmente sem que os ex-candidatos e atuais ocupantes dos cargos possam se candidatar novamente.

  2. O grande legado da Dilma

    O cenário pintado pela Tereza Cruvinel é muito verossímil. Ele descortina o que já pode ser visto como o segundo cartucho não só do Eduardo Cunha como de todo o Centrão: a eleição indireta do presidente pelo Congresso. E não vai ser o PSDB que vai levar essa, simplesmente porque não interessa nem ao Cunha nem ao resto do Centrão, a não ser que a oligarquia midiática resolva pôr sua munição na mesa para negociar um pacto.

    Será que só então o STF se dará conta do tamanho da meleca produzida pela sua omissão sistemática?

    De qualquer maneira, vários anos de crise infindável será então o grande legado deixado pela Dilma, a mais estúpida, inepta e obtusa chefe de governo de toda a história brasileira.

    1. Como sempre o revoltado

      Que provavelmente vive de bile vem detonando o que chama de pior governo da história brasileira. Não lembra que vivianos muito bem até 2014, a copa das copas, com inflação e desemprego baixo. Não lembra, como comparação, o nefasto governo FHC que só faltou o último a sair desligar o interruptor por que a luz já acabado em 2001. Se fosse um pouco menos parcial poderia imaginar o que seria este governo, FHC e PSDB, com todos seus escândalos de corrupção vindo a tona com uma operação Lava PSDB política como a do Moro, uma imprensa sem vergonha o atacando 24 horas por dia, um congresso corrupto dando o golpe e um STF acovardado e só querendo saber dos seus 70% de aumento. Quando se julga , deveríamos ao menos racionalizar todo o caso, todos os atores envolvidos nesta tramoia vagabunda, antes de dar um veredito tão dramático    

      1. Pois é, Ulisses!

        A inquietação crítica me impede de ser deslumbrado.

        Mas o rigor analítico também me impede de cometer falsificações… como a que você faz ao se referir a “governos”, imputando a mim julgamentos que não fiz.

        Um governo é sempre bem mais complexo que a ação dos seus líderes, ou, como eu disse explicitamente, seus CHEFES DE GOVERNO. Só que alguns líderes pecam por serem absolutamente bestiais e contaminarem quase tudo com isso.

        Ninguém disse que o governo da Dilma foi um inteiro despautério (chegou perto, é verdade, sobretudo para o que se esperava dele, e considerando apenas o prometera aos seus eleitores). A bem da verdade, eu diria que foi antes de mais nada uma grande traição, um grande estelionato político. Mas, independente do governo, o que eu disse — e não hesito em reiterar — é que a personalidade política da Dilma mostrou-se devastadoramente bestial.

        A tentação petista de beatificar essa bestialidade só pode ser explicada como algo alheio a toda racionalidade e lucidez.

        Revolta? Não, querido. Apenas esforço por pensar sem medo, sem esse característico medo petista que liquidou (quase) toda a esperança (evidentemente, sobrou aquela que ficou fora do PT).

        Sim, não me curvo às pretensas verdades dessa merda chamada PT.

        (…ao menos no que ele se transformou. O PT do qual fiz parte era muitíssimo diferente…).

        1. Concordo com o Ricardo, a

          Concordo com o Ricardo, a Dilma nunca teve noção da dimensão política do cargo que ocupou, nunca teve qualquer habilidade no manejo do poder, se cercou de incompetentes(Mercadante, Cardozo)e deixou, em nome de conceitos vazios de sentido, que o poder presidencial fosse substituído pela PGR e o Judiciário, que passaram a atuar como um Poder Moderador, e influir na política.

          O Congresso foi obrigado a apoiar o golpe por culpa da própria Dilma, e nisso vejo o caráter egoísta e mesquinho da presidente. Ciente de sua própria probidade, permitiu que injustiças e abusos fossem cometidos impunemente, entregando ao cadafalso aliados claramente inocentes(lembro do caso do ministro Orlando Silva, exonerado por ter comido uma tapioca), permitiu esse avanço sobre seus aliados no COngresso Nacional, permitiu até mesmo a tentativa de destruição do ex-presidente Lula, um dos maiores crimes contra a história política brasileira, enquanto seu ministro Cardozo nos enojava com sua retórica vazia.

          Enfim, Dilma chamou o golpe contra si, não vejo Temer, Cunha e cia como traidores, mas como fugiras que lutam pela própria sobrevivência, devido a uma situação causada pela omissão da presidente. Não estou defendendo eventuais desvios e atos de corrupção por essas figuras, apenas não me encanto com o discurso vazio, mentiroso e cínico do combate à corrupção.

    2. Acho que atribuir a

      Acho que atribuir a totalidade da crise à figura de Dilma é, no mínimo injusto, senão desonesto. Temos uma crise política que não se deve, na minha visão, à inépcia da chefe do executivo, mas sim à degradação do sistema político brasileiro. É fácil falar que fulano é obtuso, mas quero ver quem consegue entrar no Congresso Nacional e negociar maioria em qualquer matéria, com 20 partidos e 300 picaretas. Na verdade, acho extremamente pedagógico o que está ocorrendo. Para além das exaltações político-partidárias e ideológicas, temos diante de nós a exposição factual da indigência moral dos três poderes da República.

      O Executivo não consegue implementar seus planos de melhoria da educação, construção da infra-estrutura necessária, etc. Consegue, no máximo, implementar medidas paliativas, quase emergenciais, mas nada estrutural.

      O Legislativo é repugnante, repleto de figuras envoltas nas mais variadas atividades criminosas, e como viemos a saber peremptoriamente no dia 17 de abril deste ano, somos governados por idiotas, pessoas que demonstraram sua mediocridade em rede nacional sem maiores pudores. Nossas leis são criadas por criminosos, salvo as honrosas exceções.

      No Judiciário, vimos ativismo político da parte de juízes, inadequado, para dizer o mínimo. Vimos também a covardia do Supremo Tribunal Federal que, diante de uma das mais graves crises políticas da história do país, fugiu ao papel que poderia ter desempenhado para manter a casa em ordem.

      O gabinete interino é uma tragédia – descoordenado, ilegítimo, ficha-suja – e em apenas 12 dias conseguiu estar envolto em escândalos da maior magnitude.

      Por essas – e por muitas outras – te digo: jogar a conta nas costas da Dilma, por mais que sua atuação seja criticável, é um ato de preguiça intelectual.

  3. Nassif, é possível analisar a

    Nassif, é possível analisar a estratégia da lava jato sob a perspectiva histórica da política brasileira. Se olharmos para a configuração política estabelecida no período Vargas, e mantida sem muitas alterações, os alvos da Lava Jato são o PTB e o PSD, mantendo intocável a UDN, e atuando de forma a implementar sua política.

    O PTB e o PSD consistem na configuração política do pacto desenvolvimentista, da modernização brasileira. Nesse sentido, o acordo PT-PMDB demonstra muitas semelhanças à aliança PTB-PSD no período democrático, principalmente o governo JK.

    Como se sabe, os objetivos da UDN eram restaurar a ordem sócio-econômica derrubada pela Revolução de 30(nesse sentido, até mesmo o antagonismo entre os estados nordestinos e São Paulo continua a mesma, sendo os nordestinos os sustentáculos políticos da nova ordem e SP o representante do atraso).

    Note-se como o governo Temer buscou aproximação política com o PSDB(a UDN), não apenas com os ministérios, mas principalmente com a política econômica e externa apresentadas, típicas da submissão brasileira aos interesses norte-americanos e o enfraquecimento do Estado brasileiro via seu desmonte, tudo seguindo à risca os interesses norte-americanos, fiadores históricos da República Velha, Até o lema adotado por Temer – Ordem e Progresso, lema da República Velha – remete à política excludente e repressiva da Primeira República, quando a questão social era tratada como “caso de polícia”(daí o sentido de “Ordem”, que hoje tem como pilar o ministro da Justiça Alexandre de Moraes, símbolo maior da repressão e autoritarismo).

    Os agentes da Lava Jato representam o bacharelismo, são a elite togada, improdutiva, personagens que não produzem um grão de arroz, e só tem a retórica vazia(e cínica)a oferecer. O bacharelismo antecedeu a República, são historicamente associados com os aspectos mais grotescos da desigualdade brasileira, eram os bacharéis em Direito que, no período Imperial, arrotavam valores liberais enquanto enriqueciam com o trabalho produzido por escravos. O papel do bacharelismo sempre foi esse, enfeitar o atraso, a violência e o arbítrio com o discurso pomposo e vazio dos magistrados.

    PRÓXIMOS PASSOS

    Como as Forças Armadas reagirão a isso?Essa sempre foi a questão histórica. 

  4. “Se o script da Lava Jato não
    “Se o script da Lava Jato não mudou, vamos ter a homologação da delação de Machado pelo ministro Teori Zavascki e vazamentos de outras gravações, as que teriam sido feitas com Renan e Sarney. E desta vez, só haverá o PMDB de Temer na roda.”

    Quando isso foi publicado originalmente ? Parece ter sido terça-feira, antes do vazamento do áudio de Renan. Acertou na mosca a Cruvinel.

  5. O que eles querem detonar não

    O que eles querem detonar não é o PT ou o PMDB, mas o modelo desenvolvimentista, por isso o PSDB permanece intocável pelos nossos combatentes da corrupção. A atitude de Temer é ilustrativa, seguindo a essência fisiológica de seu partido, Temer busca mostrar a essas forças que fará tudo que eles querem, implementará a política neoliberal e repimirá com violência quem se opôr(os “bandidos” contra os quais ele alega ter experiência em lidar, é a restauração da questão social como caso de polícia, característica da República Velha que se busca restaurar com seu lema de “Ordem e Progresso”). É uma estratégia de sobrevivência, diante da maneira irresponsável como DIlma e seus ministros, principalmente o Cardozo, permitiram esse avanço dos Poderes sem voto sobre a classe política.

    Para quem argumenta o vazio político deixado pela manu poluti na Itália, e aponta a irresponsabilidade do Moro nisso, sempre bom lembrar de como Dilma disse que “não sobraria pedra sobre pedra”. A presidente é a maior responsável, ela tinha pleno conhecimento do que estava acontecendo, apesar de não ter tido capacidade de identificar as consequências de sua omissão.

    Outra característica dos bacharéis é que eles estão cagando para o país, seus altos salários estão garantidos, faça chuva, faça sol, a gravação do senador Renan sobre o encontro entre Dilma e Lewandovski deixa isso claro.

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