Os novos ídolos da imprensa, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

do Observatório da Imprensa

‘VOZ DAS RUAS’

Os novos ídolos da imprensa, por Luciano Martins Costa

Uma das tarefas mais difíceis da observação da imprensa é interpretar a narrativa subjacente ao conjunto de textos e sua organização nas páginas dos jornais. Como os diários procuram abranger o máximo de temas que seus editores consideram importantes para compor a agenda pública, supõe-se que basta entender o contexto de cada caderno especializado para montar o quebra-cabeças proposto a cada dia.

Nesse modelo clássico de observação, bastaria analisar os editoriais para identificar a opinião de cada veículo e ler os artigos para circunscrever a amplitude de interpretações que a imprensa tolera em suas páginas. O resto estaria explícito ou implícito na hierarquia que vai das manchetes até as notas curtas, ou até mesmo nos temas que foram deixados de fora.

O mesmo processo serviria para observar o noticiário da televisão, pois os dois meios se complementam e os principais diários costumam esperar o fim do Jornal Nacional, da TV Globo, para concluir suas edições. No entanto, a homogeneização da mídia tradicional exige que o observador leia todos os jornais de circulação nacional e acompanhe o noticiário de maior audiência para entender a lógica do jornalismo praticado no Brasil.

As grandes empresas de comunicação estabeleceram, nos últimos anos, uma relação de parcerias que eliminou a concorrência entre elas, enquanto o propósito político comum unificou os discursos e as narrativas, fazendo com que os jornais ficassem muito parecidos entre si.

Se já não havia uma diversidade aceitável em cada um deles, agora fica ainda mais patente que os principais meios de comunicação do país atuam como uma só redação, um só corpo editorial orientado por uma visão de mundo dominante e conservadora. Essa característica fica escancarada na forma como os conteúdos de um jornal são complementados e referendados pelos demais, em sequências nas quais uma declaração, um boato ou uma anedota percorre todo o campo midiático, acabando por se afirmar como verdade incontestável.

Seguindo esse roteiro, é possível identificar claramente na narrativa comum e mutuamente referente dos três diários de circulação nacional uma agenda política que tem como eixo central a manutenção de um quadro de crise em torno da presidente Dilma Rousseff, ao mesmo tempo em que se procura minar a reputação do ex-presidente Lula da Silva.

Abominações políticas

Faz sentido: não é conveniente dar guarida aos manifestantes que pedem o impeachment da atual presidente, se Lula continuar com chances de voltar ao Planalto em 2018. Por isso, a imprensa busca dar consistência ao discurso desses atores recentemente inseridos na cena pública após os protestos do dia 15 de março passado. Repórteres, editores e âncoras de programas de entrevistas procuram tornar compreensíveis e palatáveis as ideias politicamente toscas expressas por tais protagonistas, apresentando-os como exemplos da razão nacional.

Essa ação tem sido mais intensa na Folha de S.Paulo e na TV Cultura de São Paulo – e, por extensão desta, na revista Veja –, mas se repete em entrevistas e artigos nos outros jornais, nos quais se procura apresentar um engenheiro, um adolescente de traços orientais e um jovem negro como representantes da “voz das ruas”.

Lidos no original, os discursos dos personagens que a imprensa selecionou para representar esse movimento exemplificam com clareza o que a filósofa Marilena Chauí chamou, há três anos, de “abominações” (ver aqui).

É difícil analisar diretamente as visões de mundo expressadas por esses novos ídolos da mídia, porque, como verdadeiras aberrações do pensamento político, escapam aos paradigmas clássicos. Mas pode-se ler a versão revista e palatável de suas ideias, que a imprensa procura apresentar ao público.

Na edição de quinta-feira (2/4), o Estado de S.Paulo assume, em editorial, a crença de tais personagens, de que há uma orientação “bolivariana” no poder Executivo – o que soa quase como achincalhe à inteligência do leitor mais exigente. Na Folha de S.Paulo, um articulista recomenda que os movimentos que organizam os protestos simplifiquem e unifiquem suas bandeiras, e afirma que eles representam “o que a rua quer”.

Esses personagens não representam as ruas. São a expressão da pobreza intelectual que caracteriza a lumpenburguesia, essa extração das classes médias urbanas composta pelos abastados abestados, analfabetos políticos que desprezam a democracia e repudiam a mobilidade social, da qual são beneficiários.

É com essas excrescências que a imprensa produz diariamente seus quitutes.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

15 Comentários

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  1. mais abestados do que abastados

    Para a imprensa eles são instrumentais que precisam de certo verniz (pois realmente o que falam e pensam é impublicável).

    “Abastados abestados” foi ótimo. Mais abestados do que abastados…

  2. E no blog, nenhuma nota mais

    E no blog, nenhuma nota mais sobre os proprineiros donos de empresas jornalísticas. RBS e Globo ~sabem que nada os atingirá, porque ninguem, nem os blogs mais isentos, conseguem levar adiante a corrupção desse propineiro poder. Tudo desaparece rapidamente nos blogs que deveriam debater constantemente sobre o assunto. Nada contra os grandes corruptos e corruptores desse país, permanece nesses blogs. Dão total cobertura para os jornalões e suas manchetes fraudulentas., fazendo propaganda dos mesmos. Alastram as mentiras dos insanos donos da mídia oligárquica, propineira e traidora desse país. Ao invés de ocupar um espaço totalmente seu, ficam de picuinhas. Temos que colocar, dia e noite, noite e dia, nas manchetes dos blogs, os nomes dos propineiros da imprensa corruptora e corrupta desse país.

  3. Antes de criar ídolos

    Antes de criar ídolos fajutos, as empresas de comunicação deveriam pagar seus impostos.

    Ao sonegar tributos e tentar derrubar o governo, a imprensa só consegue fazer uma coisa: demonstrar que não tem qualquer compromisso com o interesse público. Simples assim. 

    Nada direi sobre os cretinos que vão às ruas apoiar os sonegadores. Na melhor das hipóteses eles são inocentes úteis. Na pior deveriam ser tratados como co-autores do crime tributário que incentivam. 

     

  4. O triste é que esse “mato

    O triste é que esse “mato cresceu” a olhos vistos e ninguém deu a mínima; deixaram “jogarem sozinhos”….

    Agora está aí essa turba despolitizada e movida por preconceito, ressentimento e slogans “anticomunistas”, “antiesquerdistas”, antibolivarianos”, anti isso e anti aquilo que se condensam em um antipetismo irracional.

    Triste também é ver políticos de oposição por pura sêde de poder marcharem lado a lado com golpistas, fascistas e sociopatas. Tudo que acusam nos adversários.

    Enfim, a imprensa intoxicou completamente o debate público com essa campanha de desinformação e ódio. Rebaixou completamente o nível de qualquer diálogo  – nem me refiro mais à disscussão ou debate – sobre qualquer assunto que tenha aluma conotação politica.

    Espero que um dia paguem pelo que fizeram movidos por tais interesses e ideologias mesquinhas.

  5. Reforma Tributaria neles!

    Eh o Estadão a serviço de Aécio e o PSDB fazendo seu tour ao lado “dos homens de bens” da América do Sul anti-bolivariana. Os herdeiros dos caudilhos. 

  6. Dilma está em pé como nunca, mas magra e com mais fôlego

    Dilma está em pé como nunca. E agora mais magra e com mais fôlego. Uma mulher de sangue vermelho puro que já defendeu a ditadura no Brasil não vai esmorecer fácil como acha os paneleiros de plantão. Ela é de uma família que atravessou parte do planeta para cair neste país, —nada é por acaso. Popularidade é como bolsa de valores, sobe e desce. O importante é administrar para a maioria não inserida como verdadeira sociedade há anos. Espera-se que o Levy tire do buraco (grande, ou dos grandes) para encher o dos pequenos, aí sim ele ficará na história e ajuda Dilma a tocar o barco da distribuição de renda. E por definição, os verdadeiros donos da Petrobras (a população) vai continuar com sua empresa jorrando a mil por dia(barril/dia). O vento forte que está sobre as nossas cabeças vai levar um amontoado de perucas, mas não levará nossa esperança, e os dias ainda podem ser de muito sol, —enquanto os que mudaram daqui vão cansar de ver dias cinzentos.

    1. defendeu ou enfrentou Nadia Suzanne

      Dilma está em pé como nunca. E agora mais magra e com mais fôlego. Uma mulher de sangue vermelho puro que já defendeu a ditadura no Brasil.

  7. O texto deve ser obra de um

    O texto deve ser obra de um gerador de blá blá blá.

    Mais um texto sobre a conspiração civil-midiática das zelites brancas de olhos azuis.

     

  8. Grande ato de coalizão em defesa da indústria brasileira, dia 6

    Grande ato de coalizão em defesa da indústria brasileira
    As entidades classe empresariais, centrais sindicais e sindicatos de trabalhadores presentes definiram como principais porta-vozes o presidente da Abimaq / Sindimaq, Carlos Pastoriza e o presidente do Conselho de Administração da Gerdau Jorge Gerdau, entre os empresários. Pelas centrais de trabalhadores estarão Miguel Eduardo Torres, presidente da Força Sindical; Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores; e Ubiraci Dantas de Oliveira, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil.

    Dia 6 de abril (segunda-feira), às 14h, no Palácio de Convenções do Anhembi – Auditório Celso Furtado, Rua Dr. Milton Rodrigues, s/n, São Paulo – Portão 35].

  9. Grande ato de coalizão em defesa da indústria brasileira, dia 6

    Grande ato de coalizão em defesa da indústria brasileira
    As entidades classe empresariais, centrais sindicais e sindicatos de trabalhadores presentes definiram como principais porta-vozes o presidente da Abimaq / Sindimaq, Carlos Pastoriza e o presidente do Conselho de Administração da Gerdau Jorge Gerdau, entre os empresários. Pelas centrais de trabalhadores estarão Miguel Eduardo Torres, presidente da Força Sindical; Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores; e Ubiraci Dantas de Oliveira, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil.

    Dia 6 de abril (segunda-feira), às 14h, no Palácio de Convenções do Anhembi – Auditório Celso Furtado, Rua Dr. Milton Rodrigues, s/n, São Paulo – Portão 35].

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