Um país esperando Godot.

 

Como na peça máxima do teatro do absurdo de Samuel Beckett estamos num país Esperando Godot. A única diferença que não são duas personagens esperando Godot, mas sim um país em diálogos do absurdo esperam Godot. A peça passa num ambiente minimalista em que os dois personagens ficam falando de forma mecânica coisas sem sentido e ficam nos dois atos esperando Godot.

Nada mais faz sentido na nação brasileira, um executivo que sabendo que não representa mais nada se jacta de sua falta de representatividade, um congresso que mesmo sabendo que o que vota é totalmente ao contrário da vontade de seus eleitores continua com os diálogos do absurdo, um serviço público que começa a falhar exatamente por falta de recursos, um ministro da fazenda que no meio da maior depressão econômica que se tem notícia que fala que há indícios de retomada porque algo passou de um tanto mais um tantinho. Um personagem que tem popularidade, porém que apesar da popularidade a maioria dos espectadores está assistindo para ver se ele será preso ou não. Ou seja, é o cenário legítimo do teatro do absurdo.

No meio da peça de Samuel Beckett aparecem dois personagens, um aristocrata e um escravo, em que o primeiro faz o segundo trabalhar e só ele que fala, talvez possam estes dois representar a oligarquia econômico-política judiciária que puxa o seu escravo fazendo carregar algo pesado enquanto os outros dois personagens continuam esperando Godot.

Esta peça foi escrita logo após a segunda guerra onde talvez a imobilidade das pessoas, quebradas pela guerra, ficavam simplesmente esperando Godot.

Pois podemos ter uma leitura semelhante da peça de Beckett, com uma diferença substancial, no lugar de dois personagens que ficam esperando algo que nem é revelado durante todo o diálogo e que somente a cada fim de cada ato um quinto personagem, uma criança, avisa que Godot virá no outro dia, no fim do primeiro ato, e que Godot não virá mais, no fim do segundo ato. O que ocorre no Brasil atual que há milhões esperando Godot.

A peça de Beckett foi escrita em 1948, ou seja, três anos após a grande tragédia do século XX, a segunda grande guerra, logo os europeus estavam completamente quebrados e extenuados, então uma espera de um Godot era natural, mesmo que ele não viesse nem desse nenhum sinal de sua vinda.

Porém o que ocorre no Brasil dos dias atuais, temos uma população abatida por todos estes confrontos com a nossa realidade de nossa própria nação que parecia encobrir uma felicidade que era para o sempre.

Também perdemos a capacidade de reagir, pois passamos na nossa história várias fases tão ou mais negras do que a atual, mas reagíamos. Quem? Não interessa, mas não ficávamos debaixo de uma única e pequena árvore esperando Godot.

Todos sabem que o governo não representa ninguém a não ser ele mesmo, todos sabem que este governo que não existe está levando o país para a maior depressão da nossa história, mas ficamos nos relacionando via Internet num diálogo do absurdo, esperando Godot.

Redação

3 Comentários

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  1. Excelente post. Como sempre,
    Excelente post. Como sempre, Maestri. Você foi um dos primeiros comentaristas com quem “falei” logo que cheguei por aqui. Pouco mais de dois anos mas parece que conheço os comentaristas e frequentadores há muito mais tempo. Interessante. Há muito material a ser produzido sobre essa interação nascida do advento das “redes”. Sociólogos, jornalistas, analistas e cientistas políticos têm às mãos um tesouro para desenvolver conteúdo. E você também. Mãos à obra… 🙂

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