Borgen, a série dinamarquesa sobre política

Enviado por Zarastro

Não conhecia Borgen, até sintonizar por acaso no (vá lá) +GloboSat, numa noite de insônia. Fiquei imediatamente amarrado. Procurei na internet e achei as três temporadas, que ora assisto pouco a pouco. Imagino se o autor da série esteve em contato com a política brasileira, pois é possível fazer quase uma associação de cada personagem da série para um protagonista (presente ou passado) do governo.

Cada episódio inicia com alguma citação – e surpreendentemente (ou não), o mais citado é Maquiavel. Mas também outros aparecem, como Bertrand Russell, matemático inglês, com esta frase de que gostei muito: “Muito do que se passa como o idealismo é ódio disfarçado ou amor disfarçado de poder.” Outro grande momento é quando o mentor da primeira ministra lhe aconselha: “O poder não é um cachorrinho que virá pular no seu colo quando você quiser. Quando você o conquistar, agarre-se a ele, ou ele se esvairá antes que você perceba”.

Mais interessante ainda: nos créditos se escreve que, apesar de ser uma obra de ficção, “Borgen” se baseia em eventos ocorridos na Dinamarca em 1982. Talvez seja bom o Gunter assistir à série para entender melhor quais são as escolhas de governo, numa situação que lembra muito os governos do PT a partir de 2003.

Aqui, uma boa entrevista com a atriz que interpreta a personagem principal:

Do Verborium

Borgen: série dinamarquesa mostra os bastidores da política de um ângulo inovador

Publicado por Renato Guimarães

Estou fascinado com uma série dinamarquesa chamada Borgen. Lançada em 2010 e já na terceira temporada, a série acompanha a ascensão da líder política Birgitte Nyborg que, de forma inesperada, torna-se a primeira mulher a se tornar Primeira-Ministra da Dinamarca. Ela lidera o pequeno Partido Moderado, de centro-esquerda, que torna-se uma espécie de “terceira via” aos partidos que controlam a vida política do país, o Liberal (centro-direita) e o do Trabalho (de esquerda).

É muito interessante ver as brigas e armações políticas entre os dois partidos principais, que acabam levando os Moderados ao poder e a luta de Nyborg para armar a coligação que lhe permite assumir o posto de Primeira-Ministra. Depois a série vai acompanhando sua luta para levar adiante a plataforma progressista dos Moderados focada em equidade de gênero, desenvolvimento internacional luta contra a pobreza e meio ambiente.

Mais interessante, e revelador, é o processo de lenta, firme e inexorável adequação da progressista Nyborg aos rituais do poder; sobretudo ao imperativo maior de todo aquele que chega a uma posição como a dela: manter-se no poder.

De quebra, expõe as relações muitas vezes carnais entre políticos, grande mídia e Capital. Interessante ver que os escândalos, armações e maracutaias diversas não são, nem de longe, atributos exclusivos da vida política brasileira.

Captura de Tela 2013-10-23 às 19.49.57Mas principalmente Borgen é, em muitos aspectos, uma série sobre mulheres e poder. Os caracteres femininos realmente dominam o drama, com diálogos e tramas muito bem armados. As atuações das duas principais atrizes são excelentes, de primeira qualidade.

De um lado, destaque para a bela atriz Sidse Babett Knudsen, que interpreta a Primeira Ministra Nyborg. Ela dá total verossimilhança à mulher que vai se endurecendo com o poder, ao mesmo tempo em que tenta manter seu casamento e sua vida pessoal funcionando de maneira mais ou menos normal.

De outro lado, a história acompanha a ascensão da jornalista Katrine Fønsmark, interpretada por Birgitte Hjort Sørensen, ao cargo de âncora da TV1, principal rede de tevê.

Ambas convivem em um ambiente ainda muito machista, no qual qualquer mudança no status quo é vista com grande desconfiança à esquerda e à direita. No quarto episódio da primeira temporada a nova Primeira-Ministra manda para o Parlamento um projeto obrigando todas as empresas do país a manter uma equidade total de gêneros nos seus respectivos Conselhos de Diretores. A reação chega ao ponto de o CEO da maior empresa dinamarquesa ameaçar mudar a sede para outro país para não cumprir a lei.

O nome Borgen (significa “Castelo) vem do Palácio Christiansborg, que é a sede do poder dinamarquês ao reunir na mesma estrutura o Parlamento, e gabinete do Primeiro Ministro e a Suprema Corte do país.

Borgen chegou a passar no Brasil pela Globosat com o título de “The Government”. Não sei se está passando ainda. É possível encontrar pela internet todos os episódios no original dinamarquês, legendados para o inglês. Vale muito à pena.

http://www.youtube.com/watch?v=bz_SyOXB1kM

Redação

23 Comentários

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    1. Infelizmente, não.

      A versão que baixei tinha legendas em inglês e sueco (para a 1ª e 2ª temporadas) e só inglês (3ª temporada). Baixei via torrent.

      1. isso mesmo
        Confirmo a informação do Zarastro: só se acha na Internet com legendas em inglês. E também recomendo assistir, como excelente reforço contra o complexo de vira-latas e o irrealismo político.

    2. Eu também tentei achar as legendas

      em português, mas não encontrei. Eu vi alguns episódios na TV, mas passava bem tarde e nem sei se passa ainda.

      Faz tempo que procurei as legendas, de repente hoje se encontra.

      Enquanto isso, comecei a assistir House of Cards, cujo 1º capítulo achei excelente e me deixou pensando se não foi inspirada por Borgen.

  1. Ficção ou realidade!

    Essa série só prova que a política é igual em qualquer latitude! Só mesmo nossos “politólogos”, verdadeira vanguarda do atraso intelectual, acreditam, ou fingem, por conta de interesses $$$, nessa verdade.

    Outros, tolos, imaginam que é uma ficção!!!

  2. Deve ser bom assistir mesmo a

    Deve ser bom assistir mesmo a essa série dinamarquesa

    E que simpático convidar colegas no corpo do texto.

    Mas às escolhas do governo brasileiro assisti “ao vivo” e em “tempo real”. A meu ver com atenção suficiente para entender.

    E desde 2009, pelo menos, mas com mais frequência desde 2011, não gosto de algumas delas. E tampouco as considero inexoráveis ou resultado de condicionantes, mas escolhas feitas com um propósito. E também não as considero justificáveis (antes acho que algumas são anti-éticas) nem favoráveis ao próprio governo que as tomou.

    O que me fez pensar como oposição, algo que provavelmente deve existir nessa série, mas com o que Zarastro não parece gostar de conviver, pelo menos não parece conviver confortavelmente, como evidenciando pelo tanto que já me ‘repreendeu’ em posts…

    Já redigi, faz quase dois meses, um post-resumo sobre um assunto político que me interessa, o desastre do governo atual em direitos civis LGBT. Em cada tópico do artigo, onde avalio os sofismas mais conhecidos a respeito, há também os links para posts de referência, caso algo não fique imediatamente claro:

     http://www.jornalggn.com.br/blog/gunter-zibell-sp/errar-e-humano-persistir-no-erro-e-governismo

    1. Série Dinamarquesa.

      Gunter

      Independente de tudo. A série é boa de ver do ponto de vista  de produto de entretenimento. Do ponto de vista histórico político é o óbvio da natureza humana. Desafiadoramente imperfeita para sua capacidade de autoconsciência. Vale ver como “produto”

      PS não vi todas as temporadas, mas realmente tem qualidades de anzol…principalmente em relação a ambientação que foge ao óbvio hollywoodiano de sempre e mostra um pouco daquela Europa Viking .

      1. O que achei interessante é a

        O que achei interessante é a desidealização que a série promove. O que se pensa da política no mundo desenvolvido (e provável e principalmente nas sociedades nórdicas) é assim: “a política lá é muito mais avançada do que no Brasil, pois as pessoas lá também são muito mais avançadas”. E o que a série faz é demolir esse pensamento, que é uma forma de expressão do complexo de vira-latas.

        As práticas são idênticas. “Quero esse, esse e aquele ministério.” “Dou esse e aquele cargos se o seu partido aprovar minha reforma.” “Meu partido gostaria de informar que a aprovação desse projeto vai lhe custar caro.” E assim por diante. E enquanto isso, as mesmas questões que permeiam as relações entre governo e sociedade aqui no Brasil existem lá também: a imprensa, que prefere a escandalização e a espetacularização da notícia ao invés de fazê-la como um meio de reflexão;  os políticos que, associados a essa mesma imprensa, conduzem sua vendetta política através dos meios de comunicação; o vazamento de informações que servem somente ao enlameamento das propostas dos políticos e dos próprios políticos, em nome da “liberdade da informação” quando na realidade defendem nada mais que os interesses escusos de quem vazou a informação, e assim por diante.

        TODOS os escândalos e polêmicas ocorridos desde 2003 no Brasil estão de certa maneira retratados na série, desde a sabotagem mútua entre membros da coalisão governista até a polêmica do uso do sistema privado de saúde pelos governantes.  Já a parte mais ficcional da série, me parece, são as histórias pessoais de cada personagem. E ainda assim, pelo fato da série ser muitíssimo bem escrita, não soam piegas ou desnecessárias; ao invés, mostram ao espectador que o preço do sucesso político é normalmente a falência da vida familiar – pelo menos da maneira como a concebemos.

        De resto, se vê que a protagonista é levada à prática da realpolitik não porque goste dela, mas porque é algo absolutamente necessário para manter o governo que ela lidera de pé. Como ela diz, “tenho que governar inclusive para aqueles que não votaram em mim”. Isso lembra um certo pronunciamento de um político brasileiro?

        1. Eu mesmo, caro Zaroastro, que

          Eu mesmo, caro Zaroastro, que não sou coxinha, modéstia a parte, tinha exatamente essa visão. Que a política nos países nórdicos é muito mais “civilizada e avançada”, porque os dinamarqueses, suecos e etc são muito mais “civilizados e avançados”. Para voce ver como o complexo de vira-lata é algo entranhado em nós brasileiros, seja de esquerda, direita ou centro.

          Quanto ao Gunter, esperemos ele ver o seriado. Vamos ver se muda alguma coisa em sua (atual) concepção de que a real politik do PT é muito pior que o do PSB (principalmente o PSB do Dudu). De qualquer forma já de antemão considero legítimo que ele opte por experimentar a real politik do Dudu, uma vez que a do PT ele rejeitou enfaticamente, com argumentos bem colacados segundo suas prioridades 

          1. Não espero que ele mude de

            Não espero que ele mude de opinião. Mas espero que seja uma opinião mais informada. Porque a opinião atual dele leva em conta tão somente a opinião de (parte de) comunidades LGBT. E o Brasil (e o mundo) são muito mais do que isso.

            Penso que o Gunter vive num mundo de idealização da política. E o mundo da política é completamente diferente do mundo dos políticos, da mesma maneira que o mundo da música é completamente diferente do mundo dos músicos. Daí sua indelicadeza (como disse o Jaime Balbino em outro post) e sua falta de diplomacia. Ele é muito mais militante do que político, ao mesmo tempo que tenta nos convencer de que suas opiniões são políticas e não militantes.

          2. Eu já vivo o Brasil, Juliano

            Ver seriados pode ser bom, mas para o assunto em pauta não preciso.

            Obrigado por considerar legítimo que exista oposição. Muita gente tem uma saudade esquisita dos anos 1970, em que não se podia contestar nada… Devem achar mais ‘cômodo’…

            Conscientização só existe para um lado, o da verdade.

            E julgo já saber o suficiente para crer que é inconveniente continuar insistindo no PT.

            Eduardo Suplicy pode até ser.

            Abraços

             

    2. Rápido e rasteiro

      Sem verborragia:

      1. Se quiser e puder, assista à série. Toda a realpolitik que você condena no governo Dilma estará lá, retratada por escritores que provavelmente não fazem ideia de como se dá a política brasileira;

      2. Minha bronca contigo é que aparentemente você e o seu grupinho de feicibúki não se importam com a possibilidade de que as classes C, D e E percam os avanços sócio-econômicos que conquistaram (pela eleição, sim, de Lula, Dilma e do PT), desde que a agenda LGBT do seu grupinho de feicebúki seja integralmente cumprida, sem concessões de nenhuma espécie. Nesse sentido, inclusive, você não foi questionado só por mim, mas por outros – inclusive de mesma orientação sexual que você;

      3. Você reclama que o governo descambou quanto aos direitos LGBT; não discordo de você nisso. Por outro lado, isso só ocorreu porque os grupos LGBT não querem fazer política; querem os direitos, mas sem tem que lutar politicamente por eles. E com isso, os espaços que vocês deveriam ocupar foram tomados por grupos conservadores. Não haverá políticas LGBT consistentes sem a eleição de candidatos LGBT – independentemente do quanto a população concorde ou não com suas teses.

      1. Eu sei que você tem bronca de oposição

        Isso não é novidade. Você às vezes até debocha da oposição em comentários. “Invasores de Corpos” explica.

        Mas, felizmente, o Brasil é uma democracia, tem imprensa não manietada e multipartidarismo e não há vergonha em ser oposição. É antes um modo de se trabalhar por um Brasil melhor.

        Os sofismas que você repete já foram rebatidos no artigo apresentado.

        E fica dispensado dos esforços de me fazer ‘admoestações’ e ‘reprimendas’. Eu não sou enquadrável em discurso único.

        Também fica dispensado de ensinar a fazer oposição ‘comportada’ e ‘consentida’. Se algo incomoda ao poder, já é sinal de caminho bem andado.

        Talvez você não tenha notado, mas eu faço críticas apenas a pensamentos, personalidades e procedimentos políticos.

        Isso de ficar criticando as pessoas ou colegas comentaristas, e não as ideias, é coisa de militante antiquado.

         

  3. Menos. Menos, meu caro.

    “para entender melhor quais são as escolhas de governo, numa situação que lembra muito os governos do PT a partir de 2003”.

    A Dinamarca viver situações similares a governos do PT?

    Pô! Menos. Menos, meu caro.

    1. Assista à série

      Não foi isso que falei.

      O que eu disse é que todos as polêmicas e supostos escândalos ocorridos durante os governos do PT são retratados na série, como se o autor tivesse participado da vida política brasileira. Ou como se a vida política da Dinamarca (onde o autor vive) não fosse assim tão diferente da do Brasil, o que é bem mais provável.

      De resto, assista à série, e você verá uma série de similaridades que são no mínimo surpreendentes. Usando um surradíssimo chavão, é “a vida imitando a arte” – ou seria o contrário?

  4. torrent

    Alguém achou algum arquivo sem legenda via torrent? Achei legendas em português e não quero colocar em cima de vídeo com legenda em inglês e audio original, vai virar uma salada… obrigada.

  5. Conversa de surdo e mudo

    Acho cada vez mai difícil defender a realpolitik ou o novo capitalismo forjado pelo PT, onde o público se mistura com o privado em beneficio próprio e dos comparsas. Já que tem alguns que se prestam a esse papel, vamos lá. Na série a personagem que chegou a premier, saiu com um padrão de vida igual ao que entrou. Seu marido foi impedido de aceitar uma oferta de emprego, para não gerar conflito de interesses, já que a empresa mantinha negócios com o governo. Pelo que sei o Lula vai se mudar para um triplex numa praia do Guarujá, seu filho da noite para o dia se metamorfoseou no “Ronaldinho dos Negócios”. Se for me estender mais nessa seara e listar todas as negociatas, como a consultoria de Pallocci, os negociosinhos da Erenice e do Dirceu,  vai faltar espaço. Voltando a série, numa negociação de paz de países da África, a premier omitiu uma informação em prol de um objetivo maior. Aqui a presidente chancela a compra de Pasaden a e diz não ter tido todas as informações,externando total amadorismo e inaptidão para negociar. Resumindo, não é complexo de vira latas, é não querer comparar banana com laranja e nem ter a síndrome de Poliana.

  6. Borger

    Será possivel acessar versão com legenda em português, ou espanhol?

    Esta série é uma verdadeira aula  das diferenças  culturais, entre as sociedades latino americanas e os paises nórdicos da Europa.

    Não se trata de complexo de vira lata, mas é uma confrontação entre duas culturas, com histórias bem diferentes ,mas, confirmando  a perenidade da inamovivel natureza humana, em qualquer latitude e longitude do planeta Terra. 

  7. Borgen

    Nassif tb sou apaixonada por Borgen. Infelizmente o unico canal que passou as 3 temporadas com legendas em portugues o fez nos horarios mais estranhos e não disponibiliza os episodios no site para assistimos depois. E olha que a programação do site é fechada para assinantes! 

    Melhor episodio: o ultimo trabalhador no partido trabalhista dinamarques. Confesso que me emocionei. É melhor nem contar quantos partidos de origem trabalhalista não têm mais trabalhadores, mas só tecnocratas e assessores de impresa.  O mesmos para os socialistas e comunistas que restaram….

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