Dados demonstram efetividade do isolamento no Brasil, por Marcus Suassuna Santos

Vamos continuar porque quanto mais disciplinado a gente for agora, mais rápido isso passa e mais rápido voltamos à normalidade!

Foto Agência Brasil

Dados demonstram efetividade do isolamento no Brasil

por Marcus Suassuna Santos

Acerca dos números do coronavirus no Brasil, tenho motivos para entender que a política de isolamento adotada pelos Governadores Estaduais tem sido efetiva. Para chegar a essa conclusão, consultei os dados do coronavírus neste link:

worldometers.info/coronavirus/country/brazil/

Os dados referentes ao Brasil não são os números do Ministério da Saúde, mas são a soma das secretarias de saúde dos Estados. O número é parecido, mas é atualizado mais rápido que o do Ministério da Saúde, então acaba sendo um pouco maior. Então vamos lá:

O Brasil teve o primeiro caso no dia 25/02 e, durante os primeiros 25 dias de propagação do vírus no Brasil, a taxa média de crescimento da epidemia foi de 38% ao dia! Muito alta, maior do que a dos EUA, quando lá estava com mais ou menos uns 6.000 casos e um crescimento diário da ordem de 30%!

A notícia boa é que nos último 9 dias até ontem (desconsiderando o dia de hoje, 30/03/2020 pois os dados ainda não são consolidados) essa taxa de crescimento diminuiu mais que a metade aqui no Brasil, caindo para cerca de 18% de crescimento diário! E segue diminuindo porque nos últimos 5 dias foi de 14%! Esses dados são mostrados na Figura 1.

Figura 1: Taxa de crescimento diária do coronavírus no Brasil. As linhas horizontais representam diferente médias da propagação do vírus observadas ao longo dos primeiros 24 dias (vermelha escura) e dos últimos 9 dias (linha azul)

Ao meu ver, essa redução é resultado direto da política de isolamento adotada pelos governos estaduais porque foi a única coisa que mudou nas últimas semanas, apesar da resistência do governo federal. Enfim…

O resultado disso em números: se a taxa de 38% tivesse se mantido aqui ao longo dos últimos 9 dias, o número de casos hoje seria de aproximadamente 17.600, mas hoje são 4.371 (cerca de 4 vezes menor).

Isso é o impacto só desses últimos 9 dias porque se isso se prolongasse por mais uma semana, por exemplo, na próxima segunda-feira isso poderia ser muito pior, seriam quase 170.000 casos com a taxa de 38%! E ao contrário, se for mantida uma taxa pequena, de 14% vão ser cerca de 10.600 infectados, ou seja, uma diferença de aproximadamente 160.000 pessoas. Essas projeções são mostradas na Figura 2.

Considerando que a taxa oficial de mortalidade do vírus no Brasil tem sido de 3,0%, esses 160.000 casos de diferença representam mais ou menos 5.160 vidas salvas só nessas semanas em razão da política de isolamento. Isso sem contar as pessoas doentes, debilitadas e as sequelas decorrentes de dados ao pulmão provocados por essa doença.

Figura 2: Projeções

Enfim, não tá sendo fácil, não foi essa a vida que ninguém planejou para si e sabemos dos danos à economia, aos pequenos comércios, etc. Mas a notícia boa é que, aparentemente tá sendo efetivo e é bom a gente saber desse resultado positivo pra manter a motivação pra fazer esse sacrifício esses dias! Vamos continuar porque quanto mais disciplinado a gente for agora, mais rápido isso passa e mais rápido voltamos à normalidade!

Uma ressalva importante: a subnotificação, que é um problema amplamente divulgado. Fato é que a cada caso reportado, é provável que haja 2, 5, 10, 15 ou 20 outros casos, a depender dos níveis de subnotificação. Mas para analisar a taxa de crescimento, assumi que essa subnotificação foi constante ao longo do tempo. Assim, a taxa de crescimento diário é a mesma, e isso não alteraria a análise, o que só não seria válido caso a subnotificação ao longo dos últimos 9 dias tivesse sido mais importante do que nos primeiro 24 dias de propagação do vírus no Brasil, o que não me parece uma hipótese razoável.

Marcus Suassuna Santos. Engenheiro civil, mestre em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG e doutor em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos pela UnB

Redação

9 Comentários

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  1. Apesar da importância e valor do isolamento social, que aposto e sigo desde período anterior ao que foi proposto por autoridades, tenho dúvidas muitas sobre a questão dos números, até pelo que se percebe de relatos de profissionais de saúde. Um fator que aumenta está dúvida dos números de casos oficializados e nem digo com relação à veracidade, mas principalmente à falta de exames para certificar casos. Hoje sai notícia que um dos hospitais mais premiuns do país, o Sírio Libanês, na capital paulista já afastou 104 profissionais profissionais por testarem positivos. Dá para supor o tamanho do embrulho, Brasil a fora. Dia destes um epidemiologista explicando sobre a forma mais comum de contágio destes profissionais, disse que se dá justamente nos momentos de maior estafa mental onde a atenção pode cair, quando ao final do período retiram as roupas e máscaras protetoras infectadas e tocam nelas já sem proteção. Dizia que no caso dos atendentes a pacientes com ebola, havia o procedimento dele receber primeiro jatos de agentes protetores, antes de retirar as proteções. Com a covid-19 e no Brasil, não tem nada disto. De todo modo, começamos a fase onde haverá mais testes aos sintomáticos e quando os números devem sofrer aumentos.

  2. O brasileiro em geral é muito disciplinado quando se trata de problemas relacionado a saúde, temos uma cultura de vacinação em massa, como poucos países do mundo tem.
    Agora estamos dando provas de disciplina acima das provocações da besta de Brasília.

  3. “Tirou daqui”, Marcus.
    As informações do painel da John Hopkins, que tem informações muito boas, mostra em sua escala logarítimica que há uma leve quede do crescimento de casos no Brasil, contra uma alta nos casos mundiais.
    A alta mundial se explica porque ainda há países em fase inicial e muitos outros ainda em fase de crescimento (caso do Brasil), que são (nesta fase) tipicamente exponenciais.
    Com relação à sua ressalva, há uma outra ressalva: o governo de SP, estado que tem o maior numero de casos, decidiu há alguns dias não registrar casos “suspeitos” (leves), apenas os mais “avançados’, “caracterizados”, ou passíveis de internação.
    Isto certamente reduz mais ainda a subnotificação, portanto ela não foi constante.
    A falta de testes, que é um dos mais necessários e poderosos instrumentos de controle da pandemia, economizando e reorientando esforços, recursos e consequente eficácia, está longe de ser resolvida aqui.
    Há institutos até no exterior que estimam nossa subnotificação em aproximadamente 10x.
    Sendo isto verdade, podemos estar já em 25 a 45 mil casos! O que por outro lado reduziria a taxa de letalidade atual, que já passou de 3,5%. Preocupa também a subnotificação de mortos de rua e similares, que podem sequer estar sendo “registrados”,
    Finalmente, parece evidente que o isolamento social está realmente ajudando e reduzindo o crescimento registrado, o que é bom.
    Apesar do “presidente”.

  4. Complementando:
    Observando gráficos de outras epidemias e pandemias, observa-se um repique, tipo “perfil do Pão de Açúcar”, as vezes duplo e até triplo.
    Portanto, uma questão que se vislumbra é: como se comportará a curva de contaminação quando eventualmente se relaxar o isolamento, contra como ele deverá ser feito e até retomado em outros níveis, até que os morros se tornem planícies.

    1. Caro Bo, Caro Marcos!

      1. Espero que vocês tenham razão, mas coloco um argumento a favor da tese de que a subnotificação NÃO foi constante no tempo;
      2. Com o aumento do número de casos, a capacidade de processar os teste encontrou dificuldades. Não acompanhou.
      3. Exemplo: no instituto Lutz de São Paulo, o número de testes que aguarda análise só tem crescido. Atualmente a fila está em 14.000 testes que foram realizados, mas sem resultados divulgados nem processador. Não há recursos suficientes para a desejada agilidade.
      4. Espero estar enganado.

      1. Prezado Maurício, foi o que eu ressalvei no bom post do Marcus:
        A subnotificação NÃO foi constante e deve ter aumentado.
        Independente disso, as evidências de que ela existe são muito claras.
        Infelizmente nós não estamos enganados…
        A prioridade do governo na saúde, já desde antes do início aqui no Brasil, ao invés de ficar dando passeinhos dominicais dissidentes, lives de jardim ou entrevistas coletivas que podem ser dadas por um bom porta-voz e mostrar dados apresentados por estagiários, deveria ser providenciar RECURSOS para mitigar nossa crise pandêmica:
        Testes, ventiladores, leitos, máscaras, óculos, aventais, descontaminantes, etc.
        As condições, infelizmente vão piorar, talvez até o trágico.
        Aí sim, esperamos todos estar enganados.

  5. Eu li não sei onde que a taxa de letalidade aqui no Babanistão está em 3,5%. Como a demanda ainda está abaixo da oferta, se o número de infectados que precisarem de tratamento superar a oferta de ventiladores mecânicos e de médicos, a taxa de letalidade vai aumentar proporcionalmente ao número de infectados do grupo de risco.

    Quanto maior o fluxo de pessoas, maior a taxa de transmissão. Vai ficar muita gente pelo caminho desnecessariamente

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