Genoíno: “Meu temor é que consigam fazer autoritarismo por dentro do Estado”

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Ex-deputado falou à TVGGN sobre a crise das Forças Armadas no governo Bolsonaro. Assista

Jornal GGN – Jair Bolsonaro está “enfraquecido”. Sem condições ideais para um golpe clássico, com a benção das Forças Armadas, da mídia, população e empresariado, o extremista de direita pode buscar fazer sua escalada autoritária por dentro do Estado, manipulando dispositivos constitucionais. Este é o risco maior para a democracia agora, avalia o ex-deputado José Genoíno, em entrevista a Luis Nassif na TVGGN20h transmitida no Youtube na noite de terça (30).

“Meu temor é que consigam fazer autoritarismo por dentro do Estado, constitucionalmente”, disse Genoíno, lembrando de leis que podem ser ou já são instrumentalizadas pelo governo Bolsonaro, como a Lei de Segurança Nacional, o protocolo de Garantia da Lei e Ordem, a lei de Mobilização Nacional (que um deputado bolsonarista propôs alterar junto à Câmara, para ampliar os poderes do presidente da República), entre outras.

Para o entrevistado, a crise de Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas “vai se estender um pouco”, mas “não é uma crise de golpe, no sentido de quartelada.”

“Acho que farão um esforço para conter as fissuras, mas elas ficam abertas. Fissuras na área militar não se curam com band-aid, elas ficam abertas e, uma hora, virá a vingança”, pontuou.

O começo desta crise, avaliou Genoíno, se deu por conta das próprias Forças Armadas, que decidiram interromper o ciclo de afastamento da política partidária visto nas últimas décadas para apoiar a eleição de Jair Bolsonaro em sua empreitada contra o lulopetismo.

“A política entrou nos quartéis quando eles resolveram apoiar o capitão. Eles abriram as portas quando participaram da eleição, quando vieram os tweets [pressionando o STF a julgar ações contra Lula], quando botaram dois generais como assessores do Supremo. Eles que politizaram.”

Em seus discursos, Bolsonaro sempre deixou claro que queria ter as Forças Armadas sob suas asas. Volta e meia o presidente diz que “seu Exército” será usado nas ruas caso governadores decretem lockdown por causa da pandemia de coronavírus.

Mas sua incapacidade e impopularidade foram afastando os militares, a ponto de Bolsonaro precisar fazer a reforma desta semana, mexendo no Ministério da Defesa e nos três comandos subordinados. “Bolsonaro já percebeu que até os militares tão buscando uma terceira via à polarização”, diz Genoíno.

“Quando você tem o núcleo do Estado sem controle, há perigo para a democracia.” Mesmo enfraquecido, Bolsonaro já se provou um homem com ideias perigosas. O estado de alerta é permanente, acrescenta.

Apesar disso, as Forças Armadas não devem endossar a escalada autoritária do bolsonarismo. Incitações ou instrumentalização de eventual desordem nas bases das polícias militares, como se viu na Bahia, nesta semana, devem ser episódios isolados.

Sem apoio do Exército, Bolsonaro pode apelar para “uma espécie de decretação de estado de defesa no plano local. Criar uma conturbação no Estado e pedir estado de defesa naquele local, em vez de aplicar a GLO.” Este é o “risco maior” de golpe nos governadores, “por dentro das instituições, com dispositivos legais que, no meu entender, erramos em não revogar”, acrescentou Genoíno.

Para o ex-deputado, o País precisa “voltar a discutir sobre o papel constitucional das Forças Armadas” e revogar o artigo 142 da constituição, que pode ter uso deturpado por Bolsonaro.

Não há mais como deixar para segundo plano papéis centrais na defesa do País, no “espaço aérea, mares, via cibernética, integração sul-americana, protagonismo no plano internacional.”

“A banalização das Forças Armadas em relação a inimigos internos, nós temos que suprimir”, sugeriu. “Se elas virarem força de governo, aí é o desastre total.”

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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