A institucionalização do MST e da reforma agrária, por Luís Nassif

Dentre todas as formas de propriedade, não há nenhuma mais deletéria que a propriedade rural abandonada, vista como reserva de valor

Nesses pouco mais de cem dias de governo Lula, o episódio político mais significativo foi a visita de Ministros de Estado à Feira da Reforma Agrária, o MST (Movimento dos Trabalhadores sem Terra).

Foi um sinal evidente da institucionalização do movimento, a organização política mais relevante do país, desde a fundação do PT.

A feira foi uma festa, em que se confraternizaram não apenas dois personagens centrais da nacionalidade brasileira – povo e artistas -, mas classe média e, agora, a presença oficial de Ministros.

Só as almas empedernidas para não se comoverem com a cena de pessoas simples, despojadas de bens, até de formas de subsistência, ganharem cidadania através da organização espontânea do movimento.

O MST é uma instituição a ser celebrada em qualquer regime.

Tome-se a visão de mercado. O capitalismo trabalha com o conceito de produtividade. Todas as mudanças, as reformas, têm como foco (ou álibi) o aumento da produtividade. E, dentre todas as instituições de mercado, a que mais é execrada pelo mercado é a propriedade, seja como reserva de valor, seja como ponto comercial ou como empresa,

Algumas escolas de pensamento chegam a propor o fim do ponto comercial. Periodicamente, os melhores pontos comerciais de uma cidade seriam colocados em licitação que seria vendida por aqueles que conseguissem melhor retorno econômico do local.

O próprio conceito de empresa familiar foi implodido pela era dos fundos de investimento e seus CEOs, aliás com grande perda para a economia, à medida que as empresas passaram a ser vistas apenas como vacas leiteiras, com a função única de engordar os dividendos dos acionistas.

Dentre todas as formas de propriedade, não há nenhuma mais deletéria que a propriedade rural abandonada, vista como reserva de valor ou como ocupação indevida por latifundiários.

O que o MST fez foi um trabalho extraordinário de aumentar a produtividade geral da economia, ocupando terras abandonadas e cobrindo-as com lavouras destinadas à alimentação.

Não há termos de comparação – econômico, social, civilizatório – entre o ruralista predador e o agricultor familiar que se valeu do conceito de “função social da propriedade”, para induzir o Judiciário a reconhecer os direitos de quem ocupada terras improdutivas para produzir.

O que seria do país sem o MST? Haveria uma produção muito menor de alimentos, aumento da população de rua, violência no campo, crianças subnutridas e sem escola e até uma guerrilha rural.

Por isso mesmo, quando sai de uma reunião na Faria Lima e vai até à Feira do MST, representando o Ministro da Fazenda Fernando Haddad, Gabriel Galípolo traz o MST para o centro da institucionalidade. Reforma agrária, ocupação de terras improdutivas faz bem para o meio ambiente, para as políticas sociais e para o país.

Luis Nassif

1 Comentário

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  1. Nassif, sem dúvidas fazer a terra produzir só para quem tem a ela amor, dedicação e respeito. Os agrotrogloditas são herdeiros dos donos das capitanias hereditárias e sesmarias que viviam na metropolitana Lisboa, às expensas da Corte, e deixavam as terras ao Deus-dará por mais de 300 anos. Aliás, os povos originários do Brasil foram vítimas do maior esbulho da História da Humanidade, quando uns poucos homens, sob a liderança de Pedro Álvares Cabral se apossaram desta terra em nome de reis portugueses, sob bandeiras e missas em latim.

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