Uso de agrotóxicos em excesso provoca perdas econômicas, diz especialista

Jornal GGN – Além das questões relacionadas à saúde e ao meio ambiente, lançar mão de agrotóxicos em excesso também é um desperdício de dinheiro, pois não provoca melhorias no desempenho da produção agrícola. “Os custos do emprego de pesticidas são consideráveis. O uso excessivo, além do que é recomendável, não traz ganho adicional e ainda provoca perdas econômicas”, afirmou o professor de Gestão Ambiental na USP (Universidade de São Paulo) Leste, Luis Cesar Schiesari, na última edição do “Brasilianas.org”.

O Brasil consome mais de 300 mil toneladas de agentes químicos anualmente, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). “Nós precisamos de tecnologia [na agricultura], e os agrotóxicos são uma das ferramentas [disponíveis]. Se bem utilizadas, elas são adequadas e úteis ao processo agrícola”, disse o chefe de pesquisa e desenvolvimento da Embrapa Meio Ambiente, Marcelo Morandi.

Presente nos estúdios da TV Brasil na noite de segunda-feira (25), Morandi ressaltou que considera razoável o uso de agentes químicos nas lavouras quando são seguidas as recomendações dos órgãos que controlam o setor – no caso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) e o Ministério da Agricultura.

A Anvisa encontrou irregularidades no uso de agrotóxicos em 36% das amostras de alimentos analisadas em 2011 e em 29% das estudadas no ano passado. Além disso, entre os agentes químicos identificados, estavam dois que não possuem registro no Brasil.

Controle biológico

A principal alternativa é o controle biológico das pragas, ou seja, a utilização de recursos naturais como mecanismo para cessar a ação de organismos que causam danos à lavoura, como, por exemplo, os predadores naturais de insetos. De acordo com Morandi, essa técnica ainda é pouco difundida – algo em torno de 1% a 5% da produção em todo o mundo, disse ele. Em contrapartida, o especialista apontou que a presença desse recurso nas lavouras cresce entre 15% e 20%, anualmente. “As empresas de produtos químicos estão investindo nesse meio.”

Além disso, os próprios consumidores exercem pressão a favor do controle biológico, tendo em vista a preservação do meio ambiente e a predileção por produtos que sejam saudáveis, ressaltou Orlando Melo de Castro, coordenador da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios). “É uma tendência que deve avançar, mas dificilmente a gente vai se livrar 100% dos produtos químicos”, afirmou o especialista, que também participou do debate conduzido pelo jornalista Luis Nassif.

Um entrave para o avanço da pesquisa nessa área, pelo menos aqui no Brasil, é a burocracia, explicou Morandi. O Ibama é o órgão responsável pelas licenças que permitem o acesso a qualquer organismo da biodiversidade brasileira. Segundo ele, o controle da estatal é muito complexo. “Isso, às vezes, atrasa o processo e dificulta parcerias”, afirmou o especialista da Embrapa.

“O caminho [para conseguir as licenças] é muito tortuoso”, lamentou Castro. “É um calvário. Muitas vezes você deixa de realizar as pesquisas, às vezes até com financiamento, e não pode porque o tempo para se obter isso é muito grande. Isso é lamentável.” Ambos os especialistas ressaltaram, porém, que tanto a Embrapa quanto a APTA, instituições públicas, têm mais facilidade para obter as autorizações.

Reavaliação de agrotóxicos

Os agrotóxicos que são utilizados devem estar registrados. Além disso, esses pesticidas são reavaliados ao longo do tempo, procedimento que é adotado não apenas aqui, mas também no exterior, explicou Morandi. “Podem ser descobertas outras características que não haviam sido identificadas no início.”

O especialista da Embrapa acrescentou que ainda são comercializados no Brasil alguns agentes químicos que já foram banidos em outros países. “Isso não significa que o nosso sistema é tão ruim assim. Na verdade, os outros países tiram [a autorização para o uso] por outras razões, razões locais, específicas deles, que para nós seria um problema.”

“Nem sempre esse processo [de reavaliação] é muito suave”, contou Schiesari. “Em 2008, a Anvisa se propôs a reavaliar 16 ingredientes ativos que eram banidos ou severamente restritos no exterior. E encontrou uma terrível resistência da indústria química internacional que vende no Brasil.”

Ainda de acordo com o professor da USP, uma série de recursos judiciais impediram o processo de reavaliação durante alguns meses. “Colegas meus do exterior, que trabalham na área, ficaram surpresos, porque o papel da Anvisa é proteger a população no que diz respeito à vigilância sanitária.”

Redação

2 Comentários

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  1. O especialista

    Água em excesso afoga as plantas

    Correr em excesso cansa

    Fumar em excesso faz mal à saúde

    Consumo em excesso deixa você endividado

    Se beber muito pode ficar bêbado

     

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