Maira Vasconcelos
Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).
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Kirchner será ou não candidata a presidente? Fernández sonha com a reeleição, por Maíra Vasconcelos

Cristina Kirchner e Alberto já não se falam diretamente e, como dizem nos jornais portenhos, seus contatos “estão terceirizados”

Cristina Kirchner será ou não candidata a presidente? Alberto Fernández sonha com a reeleição

por Maíra Vasconcelos

O clamor de parte do governo pela candidatura presidencial de Cristina Fernández de Kirchner para as eleições de outubro deste ano, se vê em cartazes espalhados por Buenos Aires, “Inabilitação o caralho! Cristina 2023 – A pátria é o outro”. Para março, estão previstas duas mobilizações nas ruas da Capital. A coalizão de governo “Frente de Todos” montou um plano de ação para reposicionar CFK como líder da bancada oficialista, que nos últimos dias perdeu quatro senadores que agora formam outro bloco no Congresso, e também para que a vice-presidente reavalie a possibilidade de se eleger, já que “Cristina 2023” é um cenário ainda indefinido. A advogada de La Plata afirmou, de modo contundente, “não vou ser candidata a nada”, após ser condenada a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para concorrer a cargos públicos, no último 6 de dezembro. “Termino (o mandato) dia 10 de dezembro, e volto para minha casa, como em 2015”, em discurso através de suas redes sociais, logo após o veredito. Em 2015, Cristina Fernández terminou seu segundo mandato como presidente (2007-2015).

As mobilizações kirchneristas estão marcadas para os dias 9 e 24 de março. A primeira será para contestar a “inabilitação”, já que em dezembro, quando do anúncio de sua condenação na chamada “causa vialidad”, foi dado marcha atrás e a mobilização de apoio acabou não acontecendo, a pedido também da própria vice. Para que a pena seja executada, o processo contra Cristina precisa passar ainda por instâncias superiores da Justiça, como a Corte Suprema. Por isso, é considerada remota a possibilidade de que Cristina não possa se candidatar. Então, resta saber se a vice-presidente voltará atrás ou não na sua decisão. Cristina foi acusada e condenada por desvio de verba pública na concessão de 51 obras públicas ao empresário Lázaro Báez, na província de Santa Cruz. 

Máximo Kirchner, filho de Cristina, deputado pela Província de Buenos Aires, disse que nunca viu ela voltar atrás em nenhuma decisão que foi tomada em público. A segunda mobilização por “Cristina 2023” está marcada para o dia 24 de março, “Dia da Memória, Verdade e Justiça”, quando a sociedade civil argentina sai às ruas para dizer “Nunca mais” à ditadura militar (1976-1985), que deixou, ao menos, 30 mil desaparecidos. No entanto, o “dia da memória” é definido por organismos de direitos humanos, por isso, consideram pouco provável que as bandeiras kirchneristas, como, “Com inabilitação não tem democracia”, consigam se incorporar à marcha oficial.

O principal movimento kirchnerista, “La Cámpora”, chegou a convocar a militância a marchar no dia 24 de março. A presidente das “Avós da Praça de Maio”, Estela de Carlotto, apesar de ter falado também sobre a “perseguição judicial” a Cristina Kirchner, declarou em entrevista que a marcha deve estar focada nas reivindicações históricas do movimento de direitos humanos. “Eu acho que Cristina, no dia 24 de março, não vai fazer essa manifestação, porque justamente o “24” é a recordação de um golpe de Estado, do desaparecimento de 30.000 pessoas e cerca de 500 bebês nascidos em cativeiro ou nascidos antes (do sequestro)”, afirmou Carlotto.

As internas partidárias e as candidaturas

Alberto Fernández sonha com a reeleição e aumentam as tensões com os movimentos kirchneristas, que o pressionam para que abandone a ideia de sua candidatura. Cristina Kirchner e Alberto já não se falam diretamente e, como dizem nos jornais portenhos, seus contatos “estão terceirizados”. Há mais de quatro meses, não aparecem juntos em eventos oficiais. No dia 1 de março, por força das instituições, presidente e vice estarão, por fim, juntos na abertura das atividades na Assembléia Legislativa. Como a candidatura de Cristina Fernández é ainda incerta, a justificativa de Alberto é que se há algum representante no “Frente de Todos” que seja mais competitivo, ele poderia repensar sua postura.  

As discussões ainda dizem respeito aos candidatos que cada partido irá apresentar, resultado das internas partidárias, às eleições primárias, as chamadas PASO (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias), que acontecem no dia 13 de agosto. Os partidos têm até o dia 24 de junho para apresentar oficialmente suas candidaturas.

O atual prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, do Proposta Republicana (PRO), principal partido de oposição ao governo, lançou sua pré-candidatura. Larreta competirá com outros referentes do partido. Por exemplo, com Patricia Bullrich, figura considerada como a “Bolsonaro de saia”, que é hoje presidente do PRO. O partido governa a cidade de Buenos Aires, desde 2007.

Com a inflação fora de controle, e a anual de 2022 em 94%, a candidatura do ministro da Economia parece cada vez menos viável. O ministro da Economia, Sergio Massa, acompanha, mês a mês, o resultado de suas políticas antiinflacionárias, que, dizem, seria o termômetro de sua decisão sobre se candidatar ou não. No entanto, desde que assumiu, em agosto do ano passado, o ministro nunca disse em público sobre a intenção de se candidatar, e afirma que seu cargo atual é incompatível com uma postulação a presidente.

Maíra Vasconcelos, jornalista e poeta, é de Belo Horizonte e mora há alguns anos em Buenos Aires. Escreve sobre política argentina no Jornal GGN e cobriu eleições presidenciais na América Latina. Seu último livro de poemas, “Algumas ideias para filmes de terror” (Editora 7Letras, 2022).

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Maira Vasconcelos

Maíra Mateus de Vasconcelos - jornalista, de Belo Horizonte, mora há anos em Buenos Aires. Publica matérias e artigos sobre política argentina no Jornal GGN, cobriu algumas eleições presidenciais na América Latina. Também escreve crônicas para o GGN. Tem uma plaqueta e dois livros de poesia publicados, sendo o último “Algumas ideias para filmes de terror” (editora 7Letras, 2022).

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