Nova ordem multilateral e relações justas marcam abertura da 3ª Cúpula Celac-UE

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
[email protected]

"Para além dos acordos econômicos, devemos caminhar juntos. A região deve se fortalecer em uma nova ordem multilateral", afirma Lula

Reunião de cúpula da União Europeia em 2022: ministros das relações exteriores se encontram agora para tratar da escalada da violência no Oriente Médio. Foto: Twitter @jorgerojas2022

A 3ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo entre a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e a União Européia (UE) foi instalada no final da manhã desta segunda-feira (17), horário de Brasília, e ocorrerá até esta terça-feira (18), em Bruxelas, na Bélgica.

Ao todo, cerca de 60 líderes estrangeiros dos países componentes dos blocos participam do encontro. Embora não figurem entre os principais temas da 3ª Cúpula Celac-UE, as negociações para a conclusão do acordo de livre-comércio entre os países do bloco europeu e do Mercosul podem ser objeto das conversas. A delegação brasileira levará propostas a esse respeito.

O discurso de abertura foi proferido pelo primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, presidente da Celac, seguido do presidente da Espanha, Pedro Sánchez, e do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Na sequência, falaram a presidente de Honduras, Xiomara Castro, e seu colega argentino, Alberto Fernández.

Gonsalves afirma que a missão da Cúpula é “melhorar a situação para todos, com o multilateralismo respeitando o direito internacional e seguindo os preceitos da paz e do desenvolvimento sustentável”. Para ele, a mudança climática, a pobreza e a desigualdade entre as nações são os principais desafios.

“Todos juntos podemos alcançar a multilateralidade para um mundo melhor. Estamos enfrentando desafios terríveis. Na Celac (acreditamos que) junto com outros países podemos fazer muito por toda a humanidade, temos que acabar com a impunidade onde os fracos sofrem”, diz Gonsalves.

Imposição dos mais fortes 

Em seu discurso, Gonsalves alerta que é preciso acabar com a situação em que “os fortes impõem o que querem e os fracos sofrem, um fato histórico que afeta o mundo inteiro, especialmente os povos da América”, declarou. O presidente espanhol, por sua vez, apelou para ampliar a cooperação entre os dois blocos. 

Pedro Sánchez defende aos dirigentes europeus e latino-americanos para que alarguem a colaboração entre as duas regiões no atual contexto geopolítico para defender o multilateralismo e a resolução pacífica de conflitos. Sánchez lembrou que a cúpula ocorre após oito anos sem ser convocada, e isso não pode mais acontecer.

Nova ordem multilateral 

Lula considera a cúpula um passo fundamental para a construção de um mundo mais solidário, mais fraterno e menos desigual. Chamou a atenção para a persistente vulnerabilidade global revelada pela pandemia de covid-19, a crise climática, entre outras situações, que colocaram a humanidade em risco.

“O ser humano não foi feito para ficar sozinho. Continuamos vulneráveis, às mudanças climáticas, à fome, às crises que podem acabar com o planeta”, alerta. Para Lula, é fundamental unir esforços para construir um roteiro de superação das desigualdades para o desenvolvimento social e econômico.

“Para além dos acordos econômicos, devemos caminhar juntos. A região deve se fortalecer em uma nova ordem multilateral”, afirma Lula.

O presidente insistiu na necessidade de acordos que possibilitem o crescimento da América Latina e Caribe. 

Colônias ficaram para trás

Para Lula, esses continentes não devem ser vistos apenas como lugares a serem explorados pelos europeus. “A cooperação entre os dois blocos da América Latina e Caribe e a UE deve ter um roteiro para resolver as assimetrias, devemos ter transferência de tecnologia”, declara.

Ele também considerou que a UE é um modelo de como construir a democracia, “eles são a prova de superação de divergências”, diz. Porém, o presidente Lula ressalta a imposição de ambos os blocos manterem relações justas, sustentáveis e inclusivas. 

O modelo de governação não pode exacerbar as assimetrias, “o modelo de governança que temos hoje continua a gerar crises que não se resolvem, temos de ter projetos de desenvolvimento”, sublinha Lula.

Bloqueio a Cuba e Venezuela

Neste primeiro dia, e como último orador a encerrar a primeira fase, antes de os participantes da cúpula tirarem a fotografia oficial do evento, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, pediu à UE e à América Latina e Caribe que passem “das boas intenções” às “soluções”.

“Para nossa região é muito importante manter relações fraternas, respeitosas, mas recíprocas com a União Europeia”, disse Castro. Em vista disso, pediu a suspensão do bloqueio contra Cuba imposto pelos Estados Unidos no século passado e que fossem retiradas as medidas coercitivas contra a Venezuela.

A líder hondurenha também se referiu à crise climática e lamentou que “todo o sistema internacional seja altamente ineficaz para deter a emissão de gases de efeito estufa e a destruição de dois dos principais recursos naturais de nosso planeta”.

“Brechas socioeconômicas”

O presidente argentino enfatizou que “a América Latina e o Caribe são uma região marcada por profundas brechas socioeconômicas”. Fernández sustentou que “nossas sociedades não vão mudar enquanto o mercado excluir e o Estado não encontrar mecanismos de integração e participação”.

Na América Latina e o Caribe, o presidente da Argentina lembrou que se tratam de lugares onde milhões de pessoas enfrentam a pobreza e a falta de acesso a serviços básicos. Portanto, a Europa precisa cumprir o compromisso de fornecer os recursos financeiros necessários para permitir o desenvolvimento.

O que o levou às questões ambientais. “A Europa sabe bem que somos provedores de oxigênio, que nossas selvas, nossas florestas e nossas montanhas cumprem esse papel”, disse o presidente argentino. Por isso, defendeu uma arquitetura multilateral de financiamento ambiental “justa e transparente”. 

LEIA MAIS:

Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador