Diante de novos protestos, presidente do Peru se diz “firme” no cargo e promete punir manifestantes

A nova ofensiva contra o governo inclui incêndios e confrontos com a polícia. A presidente peruana, Dina Boluarte, se recusa a renunciar

Incêndio no centro histórico de Lima, na noite de quinta-feira (19), durante protestos que exigem a renúncia da presidente Dina Boluarte. AP – Martin Mejia

da RFI

por Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Um incêndio de grandes proporções no centro histórico de Lima, Patrimônio da Humanidade pela Unesco, agitou a noite desta quinta-feira (19) na capital peruana, cenário de um maciço protesto contra o governo da presidente Dina Boluarte, há seis semanas no cargo.

A destruição do histórico prédio foi transmitida ao vivo pela TV, chocando um país sob violentos protestos. Nas últimas horas, confrontos foram registrados entre a polícia e manifestantes que tentaram invadir o aeroporto de Arequipa, a segunda cidade mais importante do Peru.

Em Lima, um grupo tentou invadir o Parlamento, sendo impedido pelas forças de segurança que lançaram bombas de gás lacrimogêneo para conter os manifestantes. Em 18 das 25 regiões do país, há mais de 100 pontos de bloqueios em estradas.

“Querem quebrar o estado de direito e gerar caos e desordem para tomarem o poder. Vocês sabem que estão à margem da lei”, afirmou a presidente Dina Boluarte, apontando que “a situação está e estará controlada”.

Durante a violenta jornada, foi confirmada a morte de um manifestante baleado no tórax pela polícia na quarta-feira (18) na cidade de Macusani, na região de Puno, no sul do país, epicentro dos protestos. No mesmo ataque a uma delegacia e à sede do Poder Judicial, também morreu uma mulher.

Assim, o número oficial de mortes aumentou para 54 desde 7 de dezembro, quando a então vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o lugar do ex-presidente Pedro Castillo, destituído pelo Parlamento, depois de tentar um autogolpe ao anunciar o fechamento do Congresso. Desde então, os protestos têm se intensificado. Os manifestantes exigem a renúncia de Boluarte.

“O governo está firme e o seu ministério mais unido do que nunca”, anunciou a presidente à imprensa, ao lado de ministros, desmentindo versões de que estaria prestes a deixar o cargo. “A violência ocorrida desde dezembro até agora não ficará impune”, avisou.

Greve nacional

A jornada de violência foi consequência da chegada a Lima de caravanas com milhares de manifestantes do interior do país. Os protestos incluíram uma greve nacional contra o governo.

“Não haverá nem democracia nem paz se a senhora Boluarte não escutar o povo peruano. E as manifestações vão continuar se não houver também um novo Parlamento”, advertiu, horas antes, Gerónimo López, secretário-geral da Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru, que convocou a greve nacional.

O líder da paralisação sublinhou a lista de demandas políticas que eclodem nas ruas de todo o país: a renúncia da presidente, eleições gerais ainda em 2023, o fechamento do Parlamento e uma Assembleia Constituinte.

Já Boluarte voltou a pedir diálogo com os líderes dos protestos sobre as agendas sociais, mas os manifestantes têm demandas políticas.

“A luta não acaba nesta quinta-feira. Vai continuar até a renúncia. Não queremos água, nem educação. As exigências são políticas”, esclareceu Gerónimo López, detalhando que “depois da renúncia da senhora Dina Boluarte, deve haver um governo de transição democrática que determine eleições em 2023 e que incluam um referendo constitucional”. Segundo ele, os peruanos não esperarão até 2024 para escolher um novo chefe de Estado.

Liberdade a Pedro Castillo

Boluarte anunciou que as eleições peruanas serão antecipadas em dois anos, de abril de 2026 a abril de 2024, um calendário rejeitado pela população. Muitos manifestantes querem também a liberdade do ex-presidente Pedro Castillo.

“Antecipar eleições ao mais breve prazo possível não é mais uma opção. É a única saída para, pelo menos, reduzir a tensão social. Estamos numa inevitável espiral de desgoverno e não há reforma institucional capaz de deter esse processo”, aponta o analista político peruano Gonzalo Banda, colunista do jornal El Comercio do Peru.

Em 7 de dezembro passado, Pedro Castillo foi preso preventivamente por 18 meses. Apesar dessa tentativa de golpe, parte da população viu na destituição do líder de esquerda uma manobra por parte de um Congresso, dominado pela direita e rejeitado pelo povo.

Segundo uma sondagem do Instituto de Estudos Peruanos, publicada no último domingo (15), o governo de Dina Boluarte é considerado ruim por 71% da população. Além disso, 88% dos peruanos desaprovam o atual Parlamento.

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Redação

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