Cesar Locatelli
César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.
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O golpe fracassou na Venezuela. EUA agora tentam promover a guerra, por Carla Locatelli e César Locatelli

Chanceler dá a versão da situação venezuelana que não se ouvirá na mídia tradicional 

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O golpe fracassou na Venezuela. EUA agora tentam promover a guerra

por Carla Locatelli e César Locatelli

Na sequência de um fim de semana muito tenso, nas fronteiras da Venezuela com a Colômbia e com o Brasil, o canal de notícias DemocracyNow! recebeu, ontem pela manhã em Nova York, 25/02, o Ministro de Relações Exteriores da Venezuela. Jorge Arreaza, com surpreendente calma, explica eventos anteriores e os acontecimentos que levaram ao estado de tensão atual e assegura que o golpe fracassou, entre outras razões, por conta da lealdade das Forças Armadas Bolivarianas.

Perguntado sobre a situação interna no país, Arreaza disse que há calma, que as pessoas estão trabalhando, frequentando as aulas, indo à praia. “No próximo fim de semana será o Carnaval, será feriado. Toda pressão vem de fora do país… Claro que há emigração. Estamos bloqueados. Para conseguirmos produzir, comprar alimentos ou remédios, uma transação financeira que normalmente é feita em 48 horas, demora, para nós, 48 dias, quando acontece.” 

Ele ressalta que um membro da Organização das Nações Unidas, seu país, está sendo atacado e tem lutado, diplomaticamente, para que essas violações aos princípios da Carta das Nações Unidas sejam amplamente condenadas. Além disso, a Venezuela precisa que as agências da ONU façam a intermediação dos remédios e alimentos e os repassem ao país, já que os bancos em Nova York e Londres se recusam a trabalhar com o país. A Venezuela pagará pelos produtos assim que estiverem em solo venezuelano, completa o chanceler.

Arreaza admite que o governo Maduro tem imperfeições, mas entende que a principal razão do descontrole é o bloqueio e as sanções dos EUA. Mas garante que o povo venezuelano está em melhores condições do que há alguns anos: faltam produtos e remédios, mas em menor escala do que em 2016 e 2017.

O recado de Arreaza ao mercado financeiro é claro: “Podemos pagar todas as nossas dívidas se não estivermos sob sanções, se não estivermos bloqueados, se não houver agressões contra a Venezuela”.

Ele propõe conversações diretas entre Maduro, o chefe de Estado venezuelano, e Trump, que qualifica de “verdadeiro chefe da oposição.”

Vamos à entrevista:

JUAN GONZÁLEZ: A oposição venezuelana está pedindo aos Estados Unidos e às nações aliadas que considerem o uso da força militar para derrubar o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Isso acontece no momento em que o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, se dirige a Bogotá, na Colômbia, para se encontrar com líderes regionais e o autoproclamado presidente da Venezuela, o líder da oposição Juan Guaidó. Um alto líder da oposição venezuelana chamado Julio Borges disse ao The Wall Street Journal: “Vamos apresentar posições firmes que são uma escalada de medidas diplomáticas e medidas políticas, incluindo o uso da força para bloquear a ajuda humanitária e gerando uma violência sem precedentes.”

O encontro acontece depois de um fim de semana dramático em que as forças armadas venezuelanas impediram que a chamada ajuda humanitária entrasse no país através das fronteiras da Colômbia e do Brasil. Pelo menos quatro pessoas morreram e centenas ficaram feridas, depois de confrontos entre as forças leais a Maduro e os partidários da oposição. Segundo alguns relatos, os defensores da oposição jogaram pedras e coquetéis Molotov. As forças de segurança venezuelanas e grupos civis conhecidos como “colectivos” responderam com força, incluindo gás lacrimogêneo e balas de borracha. Dois caminhões que transportavam ajuda foram incendiados no lado colombiano da fronteira.

AMY GOODMAN: As Nações Unidas, a Cruz Vermelha e outras organizações de ajuda humanitária se recusaram a trabalhar com os EUA na entrega de ajuda à Venezuela. Essas entidades afirmam ter motivação política. A Venezuela permitiu a vinda de ajuda da Rússia e de algumas organizações internacionais, mas se recusou a permitir a ajuda dos Estados Unidos, descrevendo-a como um cavalo de Troia para uma eventual invasão norte-americana.

No fim de semana, representantes dos EUA aumentaram a pressão sobre o governo de Maduro. No domingo, o Secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que os dias de Maduro no cargo estão contados. Ele também fez ameaças de que mais sanções estão a caminho. O senador republicano da Flórida, Marco Rubio, tuitou que a violência na fronteira “abriu a porta para várias ações multilaterais em potencial que não estão na mesa há apenas 24 horas”. No que muitos viram como uma ameaça oculta para Maduro, Rubio tuitou uma imagem de um Muamar Kadafi ensanguentado quando ele estava sendo morto após a campanha de bombardeio dos EUA na Líbia. Rubio também tuitou fotos do ex-líder panamenho Manuel Noriega, que foi retirado do poder durante a invasão dos EUA em 1989 e permaneceu em uma prisão dos EUA por anos.

Nos juntamos agora ao ministro venezuelano das Relações Exteriores, Jorge Arreaza.

Bem-vindo de volta ao DemocracyNow!

JORGE ARREAZA: Obrigado, Amy. Um prazer.

AMY GOODMAN: É bom ter você conosco.

JORGE ARREAZA: Muito obrigado.

AMY GOODMAN: Você pode começar falando sobre o que aconteceu nas fronteiras? Por que morreram quatro pessoas, pelo menos?

JORGE ARREAZA: Sim. Muito obrigado, Amy, Juan. É um prazer e uma honra estar aqui mais uma vez. E é importante que o povo americano nos escute também, porque temos o que acreditamos ser a nossa verdade ou, de todo modo, é a outra versão que você não ouvirá na mídia tradicional.

Devo dizer que o que vimos no último sábado na fronteira, em ambas as fronteiras, com a Colômbia e o Brasil, foi um espetáculo, foi um show. Havia centenas de jornalistas, de emissoras de TV, transmitindo ao vivo. E a intenção era que … como você disse, acreditamos que é um cavalo de Troia. Foi para quebrar a nossa soberania com a chamada ajuda humanitária, o que não é. E isso nos lembra, por exemplo, a República Dominicana 1965, onde por trás da… após a chamada ajuda humanitária, 8.000 fuzileiros entraram, derrubaram o governo de Juan Bosch, tomaram o poder e instalaram uma ditadura por décadas.

Então, o que vimos é que Juan disse que os ‘colectivos’ responderam com balas de borracha. Não, foi a Guarda Nacional e a polícia. A linha de frente era a polícia, a Polícia Nacional Bolivariana; a segunda linha, a Guarda Nacional. E então, claro, havia pessoas que queriam defender nossa soberania e que também estavam lá. Ninguém foi morto em Táchira ou no lado colombiano, que era o real – o verdadeiro problema.

Os eventos aconteceram no Brasil, em Santa Elena e na fronteira com o Brasil, onde há outra história por lá. Há algo relacionado aos grupos indígenas do meu país, que defendemos e amamos, mas há um prefeito que foi eleito e ele é do partido de Guaidó. E eles tentaram entrar em uma unidade militar. E algo aconteceu lá. E ainda não está claro como essas pessoas, quatro pessoas, morreram. Está sendo investigado. Nós não sabemos de onde os tiros partiram. Mas quando você assiste na TV, parece que Maduro deu a ordem aos seus militares para atirar nas pessoas, e isso não é verdade. Nós fomos muito, muito prudentes.

E nós, de certa forma, resistimos a uma invasão. E ela parou. E agora eles estão frustrados. E agora eles estão indo para Bogotá para tomar decisões, com o verdadeiro chefe do Grupo de Lima que é Mike Pence [vice-presidente dos EUA]. Ele vai ditar as instruções e ordens hoje neste grupo.

AMY GOODMAN: Os soldados tinham balas de verdade?

JORGE ARREAZA: Não, eles não tinham. Nós nunca usaríamos – o que você viu na ponte em Táchira é o que vimos todos os dias durante quatro meses em Caracas, em Maracaibo, em Valência, em 2017. Ainda pior, porque era todos os dias e as pessoas realmente morriam. As pessoas da oposição tinham armas, armas de fogo também. Então, para nós, foi algo tranquilo, se compararmos com o que sofremos no passado com toda essa oposição selvagem que temos na Venezuela.

JUAN GONZÁLEZ: Você mencionou Mike Pence como sendo o verdadeiro chefe do Grupo de Lima. Eu queria te perguntar sobre isso. Para mim, é espantoso que Guaidó tenha se declarado presidente no dia seguinte ao que falou ao telefone com o vice-presidente dos Estados Unidos, a ideia de que um vice-presidente conversa com um líder da oposição e, imediatamente após a conversa, o líder da oposição se autoproclama presidente, e em seguida, é publicado um vídeo do vice-presidente dos EUA apoiando o presidente autoproclamado.

JORGE ARREAZA: Este foi um plano, que foi ativado no ano passado, quando eles decidiram não reconhecer os resultados das eleições presidenciais. Eles tiveram que esperar pelo dia da posse do presidente Maduro para lançar o plano. Não pode ser uma coincidência que depois que este homem vai para o comício e no meio da rua, em uma praça, praça pública, ele levanta a mão e se autoproclama presidente da Venezuela, sem formalidade, sem provisão constitucional para sustentar o que ele estava fazendo, imediatamente Mike Pence o reconhece e, em seguida, Trump e os presidentes do Chile, Argentina, Colômbia e todos esses países que são contra a Venezuela e que seguem ordens dos EUA. Esse plano foi bem organizado desde muito antes. E temos que entender isso: nada é uma coincidência quando se trata da Venezuela e dos EUA.

AMY GOODMAN: Bem, este é o líder da oposição venezuelana, o autoproclamado presidente, Juan Guaidó, pronto para ter seu primeiro encontro com o vice-presidente Mike Pence, falando na Colômbia.

JUAN GUAIDÓ: Eu participarei deste grupo, esta reunião do Grupo de Lima, para me reunir com todos ministros das Relações Exteriores da região, bem como com o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, para discutir possíveis ações diplomáticas de cooperação, ou melhor, soberanas, como deveria ser para cada país, em uma demonstração de respeito à Constituição, de modo a avançar nesta questão.

AMY GOODMAN: Então, se você puder responder a isso. E Guaidó aparentemente vai se encontrar com o vice-presidente Pence pela primeira vez hoje. Vocês vão deixá-lo voltar para a Venezuela? Ele está na Colômbia agora.

JORGE ARREAZA: Nós não sabemos se ele voltará, se ele está disposto a voltar para a Venezuela, ou quais são seus planos. Mas, de qualquer forma, ele vai se encontrar com seu chefe, com Pence, e vai pedir a Pence uma intervenção militar na Venezuela. Ele já disse isso, sabe? Isso é triste. É triste. Mas também é insano. É inacreditável, dizer às pessoas que você é o presidente, o chamado presidente do seu país e pedir uma intervenção estrangeira contra o seu povo, contra sua família, contra seus amigos, porque bombas não vão diferenciar quem é chavista e quem não é chavista. Quase não acredito quando ouço essas pessoas pedindo essas coisas.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria perguntar a você sobre Guaidó e recomendar um artigo que Max Blumenthal escreveu algumas semanas atrás em Grayzone chamado “A criação de Juan Guaidó: como o Laboratório de Mudança do Regime dos EUA criou o líder de golpe da Venezuela.” Em seu artigo, basicamente muitos dos opositores, incluindo Guaidó, foram preparados e treinados por um grupo chamado Centro de Ação e Estratégias Não-Violentas Aplicadas, especializado em mudanças de regime em todo o mundo, e também pelo grupo de inteligência Strafor. Pergunto se você poderia falar sobre a história de Guaidó, a maioria… ele era praticamente desconhecido na própria Venezuela, até algumas semanas atrás.

JORGE ARREAZA: Acredito que 99% do povo venezuelano não o conhecia em 4 de janeiro, sabe? Em 5 de janeiro, ele foi empossado como presidente da Assembleia Nacional, o que foi correto, e depois prosseguiu com esse plano. Mas esta geração de jovens na Venezuela, eles foram treinados por grupos de inteligência dos Estados Unidos e de outros países, a fim de fazer esta mudança de  regime. O que vimos na Ucrânia, o que vimos em alguns países no norte da África, são os mesmos treinamentos de pessoas em todas essas revoluções coloridas ou o que for. Leopoldo López, Juan Guaidó, é uma geração que se preparou para isso. Eles sabem como fazer protestos violentos. Eles conhecem o discurso, até as palavras que usam. Então, nada é coincidência. Isso tudo faz parte de um plano.

JUAN GONZÁLEZ: Continuamos a tratar da crise na Venezuela, onde a pressão dos EUA para derrubar o governo do presidente Maduro vem crescendo há anos. O ex-diretor do FBI Andrew McCabe revelou que Trump discutiu, privadamente, a possibilidade de entrar em guerra com a Venezuela já em 2017. Em seu novo livro, McCabe escreveu: “Então o presidente falou sobre a Venezuela. Esse é o país com o qual deveríamos entrar em guerra, ele disse. Eles têm todo esse petróleo e estão bem na nossa porta dos fundos.” Em setembro, o New York Times noticiou que o governo Trump realizou reuniões secretas com oficiais militares venezuelanos rebeldes para discutir a derrubada de Maduro. Em novembro, John Bolton [Conselheiro de Segurança dos Estados Unidos] acusou a Venezuela, Cuba e Nicarágua de fazer parte de uma “troika da tirania”.

AMY GOODMAN: Os EUA intensificaram seus esforços quando Juan Guaidó se tornou chefe da Assembleia Nacional e liderou um movimento para declarar Maduro um usurpador, em um esforço para afastá-lo do cargo. No dia da posse de Maduro, 10 de janeiro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, telefonou para Guaidó para parabenizá-lo por sua vitória nas eleições para chefiar a Assembleia Nacional. Em seguida, o Conselheiro de Segurança nacional John Bolton anunciou: “Os Estados Unidos não reconhecem a reivindicação ilegítima de poder do ditador venezuelano Nicolás Maduro”. O vice-presidente Mike Pence falou com Guaidó na véspera dele se declarar presidente da Venezuela, em 23 de janeiro, para oferecer apoio dos EUA. Então, em 24 de janeiro, Bolton admitiu abertamente que as ações dos EUA são motivadas pelas enormes reservas de petróleo da Venezuela. Ele disse à Fox Business que seria bom para os Estados Unidos se as empresas americanas produzissem o petróleo na Venezuela.

Ainda conosco, o chanceler venezuelano Jorge Arreaza. Eu queria ir para as ameaças mais recentes no final de semana, tanto um clipe quanto um tweet. Eu queria voltar para o papel de Marco Rubio, mas primeiro vamos ver Jake Tapper, da CNN, questionando o secretário de Estado Mike Pompeo no domingo.

JAKE TAPPER: Quanto as reservas de petróleo da Venezuela, capacidade de petróleo, pesam no que os Estados Unidos estão fazendo na Venezuela?

SECRETÁRIO DE ESTADO MIKE POMPEO: Nosso objetivo é uma missão singular: assegurar que o povo venezuelano tenha a democracia que tão ricamente merece. Estou confiante de que o povo venezuelano vai garantir que os dias de Maduro estejam contados.

AMY GOODMAN: O secretário de Estado Pompeo também disse que os Estados Unidos buscariam novas sanções contra a Venezuela. Enquanto isso, o senador republicano da Flórida, Marco Rubio, tuitou que a violência na fronteira “abriu a porta para várias possíveis ações multilaterais que não estavam sendo discutidas 24 horas atrás.” Numa ação que muitos viram como uma ameaça para Maduro, Rubio tuitou uma imagem de Muamar Kadafi ensanguentado quando ele estava sendo morto após a campanha de bombardeio dos EUA na Líbia. Rubio também tuitou fotos do ex-líder panamenho Manuel Noriega, que foi retirado do poder durante a invasão dos EUA em 1989. Ministro das Relações Exteriores Arreaza, você pode falar sobre essas ameaças mais recentes?

JORGE ARREAZA: Eu não acho que esse homem, Marco Rubio, possa representar o povo americano, os valores pelos quais o povo americano é conhecido, porque como você pode ameaçar um presidente, uma ameaça contra sua vida, tão abertamente? E que tipo de representante é ele do povo? Nem mesmo das pessoas da Flórida, sabe? Claro, há muita política interna aqui, porque Trump precisa vencer a Flórida. Eu acredito que os dias de Trump estão contados, eu realmente acredito que o povo americano não irá reeleger Trump. Então, na verdade, o presidente que tem os dias contados é ele.

Mas… acredito que Marco Rubio e Bolton são pagos por cada tuíte sobre a Venezuela. É uma obsessão. No sábado, eu não sei se há 40 tuítes ou mais de Bolton e, desculpe, de Marco Rubio, sobre a situação na Venezuela e dizendo mentiras. Eram notícias falsas nas informações dele. Então, como podem os eleitores, os eleitores que elegeram Marco Rubio, apoiarem isso dele? Ele precisa ser contido, pois a guerra precisa ser interrompida na Venezuela.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria perguntar para você sobre a situação dentro da Venezuela. Obviamente a oposição cresceu. Há alguns relatos de que, embora o presidente Maduro tenha vencido a eleição mais recente, ele é profundamente impopular por causa da crise econômica no país, a hiperinflação. Você poderia falar sobre a crise econômica? Houve má administração? E houve um movimento para um maior autoritarismo sob o presidente Maduro do que havia sob o presidente Chávez?

JORGE ARREAZA: Sabe, meu país no momento está acalmado. Tudo ainda é suave. As pessoas estão indo para seus empregos. Os estudantes estão indo para a universidade ou para suas escolas. As pessoas estão indo para a praia nos finais de semana. Estamos quase… no próximo fim de semana é o Carnaval na Venezuela, e haverá feriado. E toda a pressão vem do exterior, de fora do país, sabe? E…

JUAN GONZÁLEZ: Mas tem um grande número de pessoas deixando a Venezuela, não tem?

JORGE ARREAZA: Esses números não são claros, mas é claro que há emigração. Estamos bloqueados, Juan. Para que paguemos o que precisamos para produzir alimentos ou para os remédios que precisamos, temos que… uma transação que deve levar 48 horas leva 48 dias, isso se acontecer. E, claro, há algumas privações. Mas estamos melhor hoje do que estávamos há um ano, e muito melhor se compararmos com 2016 ou 2017. Fizemos um esforço para não sacrificar um bolívar, um dólar, pelas políticas sociais em que investimos muito nosso orçamento. E fizemos um esforço para tentar administrar a economia apesar do bloqueio. Se você fosse colocar o Sr. Stiglitz ou o diretor do FMI no assento do… na cadeira do ministro das finanças, e ele diria, “Você tem que fazer isto, isto e isto,” e se você levar adiante as decisões, nada vai acontecer, ou algo muito diferente vai acontecer do que essa pessoa esperava, porque a nossa economia é toda perturbada pelo exterior. E devo dizer que neste momento estamos melhor. Há mais comida. Há mais remédio. E até mesmo alguns preços estão baixando pela primeira vez em dois ou três anos.

AMY GOODMAN: Mesmo com as incapacitantes sanções americanas?

JORGE ARREAZA: Sim.

AMY GOODMAN: Com a quantidade de dinheiro que está sendo retida nos bancos britânicos e os EUA dizendo que eles estão dando o dinheiro, por exemplo, da empresa venezuelana Citgo…

JORGE ARREAZA: Sim.

AMY GOODMAN: … para Guaidó, com o FMI informando que a inflação é de mais de um milhão por cento? Muitos estão sofrendo enormemente. Milhões deixaram o país, de acordo com as Nações Unidas.

JORGE ARREAZA: Sim, mais de 1 milhão talvez, mas não milhões. E não é 1 milhão, a inflação. Esses números são malucos. Mas nós temos uma crise econômica. Houve má administração? Talvez. Nós não somos um governo perfeito. E é muito difícil saber quais decisões tomar quando sua economia está sob agressão, quando há uma guerra econômica contra sua economia.

Mas eu posso dizer que a principal razão pela qual nossa economia tem lutado é por causa do ataque internacional, e especificamente este bloqueio e sanções dos EUA. Se não tivéssemos essas sanções e esse bloqueio, poderíamos administrar nossa economia. Se tivéssemos os US$ 30 bilhões que custou… que esse bloqueio custou mais de um ano e meio, e os US$ 15 bilhões que nossa empresa Citgo representa, em valor de ativos, as coisas seriam muito diferentes. Então, nós temos que entender isso. Esse bloqueio está sendo traduzido para o sofrimento de muitos venezuelanos, e isso precisa ser interrompido.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria perguntar a você sobre a comunidade internacional, porque em toda a imprensa comercial aqui nos Estados Unidos, a sensação é de que um número esmagador de países já declarou o presidente venezuelano Maduro ilegítimo, mas essa não é a realidade. A realidade é que existem cerca de 60 países que agora reconhecem Guaidó, mas há um número igual de países e alguns dos maiores países do mundo que ainda reconhecem o presidente Maduro, e que os Estados Unidos – nem os Estados Unidos governo nem Guaidó tem arriscado ir à Assembleia Geral da ONU para votar, porque perderiam a votação…

JORGE ARREAZA: Eles perderiam a votação.

JUAN GONZÁLEZ: … na Assembleia Geral. Você poderia falar sobre isso, a dinâmica do alinhamento da comunidade internacional sobre esta questão?

JORGE ARREAZA: Sim. O campo de batalha está na esfera internacional no momento. E devo dizer que são 52 governos que disseram reconhecer Guaidó como o assim chamado presidente da Venezuela. Isso faz parte do plano. Quais governos são esses? Os EUA, o Canadá, os governos do Grupo de Lima, você sabe, os governos de direita subordinados a Washington, a União Europeia e dois ou três mais países no mundo.

Mas eu tive uma reunião na sexta-feira passada com mais de 60 delegações de todo o mundo, dos cinco continentes. Aqui nas Nações Unidas, nós tivemos uma reunião. E ficamos muito satisfeitos quando ouvimos de países da América Latina, do Caribe, da África, da Ásia, e até alguns da Europa, dando apoio ao governo constitucional venezuelano.

Mas fora isso… porque o objetivo não é defender Maduro aqui. O objetivo é defender o direito de qualquer nação de proteger sua soberania e a não interferência em seus assuntos internos. É para proteger isso, a Carta das Nações Unidas, os princípios e os propósitos que existem nesta Carta. E estamos criando um grupo, não “nós”. Não foi nossa iniciativa. Alguns países, com nossa participação, estão criando um grupo, que acredito ter mais de 80 membros, para proteger a Carta das Nações Unidas. E estamos agindo com o secretário-geral, na Assembleia Geral, até mesmo no Conselho de Segurança, com esse grupo.

AMY GOODMAN: O que está acontecendo nas Nações Unidas? Você se encontrou com Guterres agora, com o secretário-geral da ONU, três vezes. Acabamos de mostra um clipe de Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile. O que você quer que aconteça agora? Você quer o envolvimento do papa? Quer o envolvimento do México com o novo presidente, Andrés Manuel López Obrador?

JORGE ARREAZA: Nas Nações Unidas, o que está acontecendo é que há um membro das Nações Unidas – a Venezuela – que está sendo atacado. E os países que estão atacando a Venezuela estão violando todos os princípios da Carta das Nações Unidas. Portanto, esperamos que o secretário-geral, que a Assembleia Geral eleve sua voz e condene esta intervenção na Venezuela, que pare e que não se cale enquanto a Carta estiver sendo violada.

O que estamos tentando fazer também nas Nações Unidas é que eles saibam a verdade, o que está acontecendo. É por isso que eu me encontrei três vezes com Guterres. Mas também queremos que as organizações das Nações Unidas, você sabe, as agências, nos ajudem, porque também é seu dever. Porque qual é o problema real? Os bancos não querem trabalhar com a Venezuela, portanto, qualquer transação que ocorra em Nova York ou em Londres, que são a maioria das transações no mundo ocidental, será interrompida e bloqueada. Por isso, estamos trabalhando com algumas agências das Nações Unidas para que comprem o que precisamos na Venezuela – remédios, alimentos – e pagaremos em algum lugar do mundo, uma vez que esses produtos estejam no território venezuelano, em uma rota financeira que estamos projetando, porque temos que procurar por tais caminhos. Nós já fizemos. Estamos trabalhando com a China, com a Rússia. Estamos trabalhando bem próximos com a Turquia. Mas não é o suficiente. Portanto, precisamos também do apoio das organizações das Nações Unidas.

Mas, claro, queremos… estamos sentados em volta da mesa. Estamos sentados. Estamos esperando a oposição se sentar novamente, porque eles geralmente se sentam, se levantam e saem. Estamos sentados e esperando pelo Sr. Quem quer que seja, Guaidó e quem quer que seja, para se sentar, e vamos ter um diálogo. Precisamos do apoio do México, do Uruguai ou dos países do Caribe? É bem-vindo. Acredito que nem precisamos disso, porque somos venezuelanos e podemos resolver isso entre os venezuelanos. Mas se eles estão ajudando, eles são bem-vindos. E qualquer outro país que queira ajudar uma solução soberana entre os venezuelanos, eles são bem-vindos em meu país.

JUAN GONZÁLEZ: E embora isso esteja acontecendo, como você disse, você está disposto a pagar pelos suprimentos de que precisa, mas precisa ter renda. A venda de petróleo, com o mercado dos EUA cortado, outros países deram um passo à frente? Eu sei que a China tem comprado petróleo venezuelano há muito tempo. A Índia também tem. Esses países têm se adiantado para dizer: “Vamos preencher o vácuo e comprar mais do seu petróleo?”

JORGE ARREAZA: Sim. Sim, já. Nós já temos novos contratos com alguns outros países. E eu não vou nomeá-los, porque então o Sr. Bolton os ameaça, né? Imediatamente, quando ele soube que tínhamos algumas negociações com um dos países asiáticos, ele ameaçou aquele país e disse que não seriam esquecidos. Então, tenho que tomar cuidado aqui, mas já estamos vendendo nosso petróleo. O óleo que deveria vir para os EUA está sendo vendido para outros países do mundo.

AMY GOODMAN: O ex-presidente Hugo Chávez sobreviveu a uma tentativa de golpe em 2002. Você não é apenas o ministro das Relações Exteriores, você também é genro de Chávez. Você acha que Maduro será capaz de sobreviver a essa tentativa de golpe?

JORGE ARREAZA: Ele já sobreviveu ao golpe, porque o golpe deveria acontecer entre 23 de fevereiro e os primeiros dias … quero dizer, 23 de janeiro e os primeiros dias de fevereiro. Isso não aconteceu. Os militares foram leais com a Constituição.

E o que está acontecendo agora é que, como o golpe falhou, agora eles estão procurando pelo que chamam de outras opções. E é aí que mora o perigo. E eu acredito que o povo americano tem uma palavra aqui. Eles podem… vocês podem parar a guerra, se vocês realmente contarem ao seu Congresso e ao seu governo e ao seu povo, e por todas as ruas vocês erguerem sua voz, porque isso vai ser uma guerra contra a Venezuela, contra o povo venezuelano. O povo venezuelano vai morrer. Vai haver derramamento de sangue. Mas também os soldados americanos vão morrer, membros da marinha morrerão na Venezuela, porque sabemos como resistir. Estamos prontos também para defender nossa pátria. Mas não é isso o que queremos. Acredito que o povo americano e as instituições americanas podem impedir que isso aconteça, essa proposta insana de invadir a Venezuela. E este é o momento certo para fazer isso.

AMY GOODMAN: Vamos dar um intervalo e voltaremos a essa discussão. Estamos falando com o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Jorge Arreaza. Ele está aqui em Nova York. Ele está se reunindo com as Nações Unidas. Na Venezuela, claramente, uma tentativa de golpe está em andamento, se não dentro da Venezuela, fora, porque hoje o secretário de Estado, Pompeo, está na Colômbia se encontrando com o autoproclamado – quer dizer, o vice-presidente, Mike Pence, está na Colômbia, com o Grupo de Lima e o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó. Vamos ver o que acontece com isso, mas falaremos mais sobre isso em um minuto.

JUAN GONZÁLEZ: Bem, na sexta-feira, DemocracyNow! falou com Edgardo Lander, um sociólogo venezuelano e crítico de Maduro, que também é contra a mudança de regime dos EUA. Ele é membro da Plataforma do Cidadão em Defesa da Constituição e apoiou um referendo nacional sobre o futuro da Venezuela.

EDGARDO LANDER: A Plataforma do Cidadão em Defesa da Constituição, assim como outros grupos – principalmente de esquerda, mas não apenas – tem argumentado que precisamos desse referendo consultivo para que o povo venezuelano decida se quer ter novas autoridades em geral no país – isto é, todas os poderes nacionais, incluindo o executivo e a Assembleia Nacional. Mas isso requer um acordo, porque precisamos de um novo Conselho Nacional Eleitoral. O atual Conselho Eleitoral é totalmente controlado pelo governo e não é confiável para a maioria da população venezuelana.

JUAN GONZÁLEZ: Esse foi o Edgardo Lander, sociólogo venezuelano. Quais são seus comentários, Ministro dos Negócios Estrangeiros, sobre a possibilidade de um referendo como uma saída para a crise que existe agora?

JORGE ARREAZA: Primeiro de tudo, tenho muito respeito por Edgardo Lander. Ele nos acompanhou por muitos anos; agora ele mudou de posição. Mas ele é um homem coerente. E o que eu acredito é que esta Constituição tem muitas soluções que podem ser iniciadas, mas isso tem que acontecer no processo de diálogo. Não? Você não pode impor uma solução. Você não pode dizer que é o referendo ou, como os EUA e a União Europeia dizem, “você tem que fazer – repetir as eleições presidenciais”. Temos que nos sentar com a oposição. E nós temos que chegar a acordos políticos e analisar cada opção, mas não a guerra, e sim opções políticas, e encontrar o nosso caminho como venezuelanos, porque também somos irmãos e irmãs da oposição. Então, é isso que temos que fazer. E estamos esperando pela oposição. E até o papa chamou a oposição e desejamos que o secretário-geral Guterres chame a oposição para sentar-se, porque essa é a resposta para tudo. Já passamos por tempos difíceis no passado na Venezuela. E a oposição se senta e depois se levanta. Mas no momento, eles têm a ordem do Pentágono ou da Casa Branca dizendo-lhes: “Não se sente ao redor da mesa com o povo de Maduro, porque não permitimos.” Então, esperamos que haja alguma retificação da oposição, mas, claro, no governo dos EUA, a fim de dar-lhes permissão para se sentar com o governo venezuelano.

AMY GOODMAN: Temos, então, essa situação muito incomum agora. O presidente Trump está voando para o Vietnã para se encontrar com o líder norte-coreano. Você tem o vice-presidente, Pence, que emitiu essa declaração em apoio a Guaidó, falou com ele antes de anunciar que ele próprio era presidente – não Pence, mas Guaidó – da Venezuela. E assim você tem Pence e Guaidó na Colômbia reunidos com o Grupo de Lima para convencer que esses países invadam a Venezuela. Que países seriam contra uma invasão, lutariam ao lado da Venezuela?

JORGE ARREAZA: Nós nem pensamos nisso. Nós não estamos considerando a guerra, sabe? Estamos preparados para defender nossa soberania, mas não estamos pensando em coalizões ou nessas coisas. Mas isso que está acontecendo entre Trump e o presidente da Coreia do Norte também pode acontecer com o presidente Maduro. Por que eles não se encontram? E por que isso não resolveria tudo, porque Maduro é o chefe do governo na Venezuela e Trump é o chefe da oposição na Venezuela. Então, esse seria o caminho correto. Mas mesmo à parte disso, devemos nos sentar com a oposição também. Então, isso na Colômbia, eu acredito que nem mesmo a maioria desses países do Grupo de Lima, eles não apoiariam uma intervenção militar, embora eles estejam ajudando a criar as condições, você sabe, com tudo isso tentando isolar a Venezuela e o governo e povo venezuelano. Eles ajudaram, mas eu não acho que eles apoiariam uma intervenção militar. Há dois países que devem ser denunciados em todo o mundo: os EUA e a Colômbia. A Colômbia está permitindo que os EUA usem seu território para atacar a Venezuela.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria te perguntar, em termos do que você disse, comentários que você fez alguns minutos atrás, que o presidente já sobreviveu… o presidente Maduro já sobreviveu à tentativa de golpe. Houve alguns artigos que tenho visto na imprensa financeira, onde a comunidade empresarial e a comunidade financeira estão precisamente preocupadas com um caso prolongado, porque há uma realidade de uma enorme dívida que a Venezuela tem com os financiadores mundiais. Há a questão de como a comunidade financeira mundial pode causar ruptura, ruptura do fornecimento de petróleo venezuelano, de modo que a comunidade empresarial, mesmo dos Estados Unidos, não queira uma batalha prolongada e contínua com a… entre os Governos dos EUA e da Venezuela. Eu estou querendo saber as discussões que seu governo teve com algumas das empresas de petróleo que estão investindo na Venezuela, e alguns dos banqueiros que têm emprestado dinheiro para a Venezuela, sobre a atual crise, se você puder falar sobre isso.

JORGE ARREAZA: Sim, até mesmo empresas americanas trabalhando na Venezuela, empresas europeias, empresas asiáticas, e elas estão trabalhando no momento. Eles estão produzindo petróleo e exportando petróleo. E eles estão preocupados, porque querem continuar fazendo isso, fazendo essa produção de petróleo. Então, até mesmo os mercados financeiros estão preocupados, porque eles não querem uma guerra. Eles querem que tudo seja acalmado. E podemos pagar todas as nossas dívidas se não estivermos sob sanções, se não estivermos bloqueados, se não houver agressões contra a Venezuela. Então, isso seria melhor para os mercados internacionais. Essa é a realidade. Nós pagamos milhares e milhares e milhares de milhões de dólares, bilhões de dólares, com a nossa dívida no passado, e poderíamos fazê-lo, se eles pararem de atacar a Venezuela.

AMY GOODMAN: Eu queria ir para a Fox Business, onde John Bolton falou recentemente, o assessor de segurança nacional diz abertamente que as companhias de petróleo dos EUA poderiam se beneficiar do que está acontecendo na Venezuela.

JOHN BOLTON: Estamos conversando com grandes empresas americanas agora que estão na Venezuela ou, no caso da Citgo, aqui nos Estados Unidos. Acho que estamos tentando chegar ao mesmo resultado final aqui. Você sabe, a Venezuela é um dos três países que eu chamo de troika da tirania. Isso fará uma grande diferença para os Estados Unidos economicamente se pudéssemos ter companhias petrolíferas americanas realmente investindo e produzindo as capacidades petrolíferas na Venezuela. Seria bom para o povo da Venezuela. Seria bom para o povo dos Estados Unidos.

AMY GOODMAN: Esse é o conselheiro de segurança nacional John Bolton, na Fox Business. Ministro das Relações Exteriores Arreaza?

JORGE ARREAZA: Bolton é como um gangster. Quando se trata da Venezuela, ele é realmente duro e não faz sentido o que ele diz. Mas ele disse algo que é verdade: tudo isso é sobre petróleo. Não? Eles querem tirar Maduro porque querem recuperar o controle que tinham sobre a economia venezuelana, e especialmente sobre a PDVSA, nossa empresa, antes da Revolução Bolivariana. Eles querem o petróleo venezuelano porque é a maior reserva de petróleo em todo o mundo, e é muito próximo do território dos EUA.

E isso não vai acontecer, porque defenderemos nosso território. Nosso povo será defendido. E temos que nos sentar e dar um pouco… se quiserem investir na Venezuela. A Chevron está na Venezuela. Então, se outras empresas querem investir na Venezuela, elas têm que conversar conosco, elas têm que respeitar a lei venezuelana, e isso é tudo. Mas você não pode ir derrubando governos, expulsando presidentes, a fim de ter controle sobre os recursos naturais – embora tenha sido isso que Trump disse recentemente – não é? Se ele fosse intervir em outros países, precisava ser pago pelo que eles estão fazendo. Isso não pode acontecer na Venezuela. É por isso que estou dizendo que isso pode ser interrompido aqui nos EUA, se vocês fizerem as coisas certas.

JUAN GONZÁLEZ: Eu queria te perguntar sobre o Grupo de Lima. É inconcebível… teria sido inconcebível há dez anos que tantos países latino-americanos se alinhassem com os Estados Unidos condenando a Venezuela, porque havia uma maré rosa em toda a América Latina de governos progressistas e socialmente orientados. Mas agora, é claro, tivemos uma maré conservadora, com Bolsonaro no Brasil e Duque na Colômbia. Você poderia falar sobre o impacto das mudanças na América Latina na capacidade da Venezuela de suportar esse tipo de agressão?

JORGE ARREAZA: Essas mudanças não foram de graça, sabe? Os Estados Unidos, a CIA, de repente… acredito que tudo estava concentrado no Oriente Médio, e quando Barack Obama virou o rosto e viu o que ele… eles consideram o quintal deles, ele disse: “Ei, olha o que está acontecendo. Este camarada de Chávez e Lula e essas pessoas na Argentina, Nicarágua. Temos que fazer algo a respeito disso.” E começaram a enviar recursos, apoiar candidatos, fazer campanhas contra os candidatos de esquerda e reconquistarem governos que respondem exclusivamente às ordens dos Estados Unidos. E é por isso que o Grupo de Lima existe.

Mas isso vai mudar novamente, porque os povos da América Latina estão observando, e estão analisando a situação, e sentem que esses governos não os representam… governos que querem uma guerra, governos que impõem o neoliberalismo em seus países novamente. Então, isso vai mudar. Temos que ter alguma paciência estratégica para ver como as coisas vão mudar novamente na América Latina.

AMY GOODMAN: E qual é o papel agora de Elliott Abrams? Ele é claramente a pessoa apontada por Trump, escolhida publicamente…

JORGE ARREAZA: Sim.

AMY GOODMAN: … como enviado à Venezuela, voou em um transporte militar na semana passada para a Colômbia. Eu quero mostrar um clipe de Elliott Abrams recentemente falando.

ELLIOTT ABRAMS: Maduro provou que ele manipulará qualquer pedido de negociação para sua vantagem, e ele frequentemente usa os chamados diálogos como uma maneira de jogar com o tempo. Conclamamos todos os envolvidos a lidar exclusivamente com o legítimo governo Guaidó. O tempo para o diálogo com Maduro já passou há muito tempo.

AMY GOODMAN: Esse é Elliott Abrams. “O tempo para o diálogo…. já passou há muito tempo.” Novamente, o vice-presidente Pence na Colômbia agora. Eu acho que muitas pessoas ficarão surpresas em ouvir você sendo tão calmo neste momento, já que neste fim de semana eles anunciaram que uma ação militar dos EUA é agora uma possibilidade, uma intervenção muito séria.

JORGE ARREAZA: Existem muitas contradições. Eu me encontrei duas vezes com Elliott Abrams durante o último mês. E tivemos reuniões que duraram mais de duas horas, com muitas diferenças, mas mantivemos o respeito entre nós. E nós dissemos nossas verdades. E eles estão negociando conosco. Acabamos de estender a presença de diplomatas dos EUA em Caracas por mais 15 dias. E isso foi acordado com a delegação americana. É Elliott Abrams, e é Kimberly Breier, a subsecretária. E nós temos que continuar.

Então, eles dizem que a oposição não pode dialogar com o governo, mas eles estão dialogando conosco. Então, é realpolitiks aqui, o que está acontecendo. E esperamos que este canal com o Sr. Abrams, ou seja quem for nomeado pelo Presidente Trump, esteja sempre aberto e que possamos ter contato, porque essas são as coisas civilizadas a fazer, você sabe, entre países que respeitam a soberania e as leis internacionais.

AMY GOODMAN: Bem, esse é o nosso show de hoje. Jorge Arreaza, ministro das Relações Exteriores da Venezuela.

Cesar Locatelli

César Locatelli, economista, doutorando em Economia Política Mundial pela UFABC. Jornalista independente desde 2015.

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  1. Qual era A intenção de trump ao dizer essa fala,”ESSE PAÍS É COM O QUAL DEVERIAMOS ENTRAR EM GUERRA ELE DISSE ELES TÊM TODO ESSE PETRÓLEO E ESTÃO BEM NA NOSSA PORTA DOS FUNDOS? me ajuda a entender a Intenção dele e porque ele teve essa intenção?

  2. Qual era A intenção de trump ao dizer essa fala,”ESSE PAÍS É COM O QUAL DEVERIAMOS ENTRAR EM GUERRA ELE DISSE ELES TÊM TODO ESSE PETRÓLEO E ESTÃO BEM NA NOSSA PORTA DOS FUNDOS? me ajuda a entender a Intenção dele e porque ele teve essa intenção?

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