A autoridade moral de Fernando Henrique Cardoso, por Maria Inês Nassif

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Maria Inês Nassif

O ex-presidente, que pontifica lições de boa governança para Dilma Rousseff, foi reeleito com dinheiro dos bancos e depois jogou o Brasil na crise

A crise econômica vivida pelo governo Dilma Rousseff, no primeiro ano de seu segundo mandato, nem de longe tem a gravidade da que balançou o país no primeiro ano do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso (1999-2002). A crise política enfrentada por Dilma apenas é mais intensa que a de FHC nesse primeiro ano de segundo mandato porque ele tinha uma base de apoio que, embora mais vulnerável do que a dos primeiros quatro anos, reunia elementos de coesão ideológica inexistentes na atual coalizão governista. FHC apenas tinha uma posição um pouco mais confortável do que tem Dilma agora.

No governo FHC, a aliança parlamentar se fazia do centro à direita ideológica. Assim, mesmo que houvessem discordâncias pessoais na base parlamentar e quedas-de-braço do Congresso com o Palácio do Planalto – e o então senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) fazia questão que isso acontecesse com regularidade –, nas questões fundamentais para o projeto econômico os interesses convergiam. Ajudava a constituir maiorias parlamentares o apoio dos meios de comunicação às chamadas “reformas estruturais” – e a pressão de fora para dentro do Congresso tinha o poder de resolver as disputas mais mesquinhas.


Nas gestões do PT, a diluição ideológica do apoio parlamentar – ao centro, à direita e à esquerda – tornaram a vida dos presidentes Lula e Dilma mais difícil. No governo Dilma, a exposição de uma fragilidade econômica deu à mídia oposicionista o elemento que faltava para pressionar os parlamentares, de fora para dentro do Congresso, a assumirem posições contrárias ao governo; e, junto à opinião pública, jogar elementos de insegurança e desqualificar toda a gestão anterior.

Ainda assim, e apesar da propaganda contrária ao governo Dilma, não se pode atribuir ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso qualidades morais para pontificar julgamentos sobre política econômica, ajuste fiscal, relacionamento com a base parlamentar, relações apropriadas com financiadores de campanha ou de fidelidade a promessas eleitorais da atual presidente. Se sua experiência ajudar em alguma coisa a crise de agora, é para dar o exemplo de como não fazer o ajuste fiscal, de como não se relacionar com a base parlamentar e de como não fazer política eleitoral.

No ano de 1999, segundo os jornais, o Brasil pagava a conta do governo anterior tucano, que manteve a estabilidade de preços às custas de uma âncora cambial artificial e de uma política fiscal rigorosa, que resultou numa enorme fragilidade externa, em grande desemprego, pífio crescimento econômico e, ironicamente, aumento da inflação.

A conta foi alta. Em 1998, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,4%, e em 1999, 0,5%; o dólar, que valia R$ 1,2 em 1998, saltou para R$ 1,8 no ano seguinte. A inflação foi de 8,9% em 1999; o ajuste fiscal do governo imprimiu uma inflação de 19,2% em 1999 sobre os preços monitorados (petróleo e energia). O consumo das famílias teve crescimento negativo de 0,7% em 1998 e apenas 0,4% positivo no ano seguinte. O investimento público federal caiu de 2,1% do PIB em 1998 para 1,4% em 1999; a taxa de investimento, de 17% para 15,7% do PIB; a formação bruta de capital fixo, que sofreu variação negativa de 0,2% em 1998, chegou ao fundo do poço em 1999, com queda de 8,9% em relação ao ano anterior.

As reservas internacionais, que eram de US$ 52,1 bilhões em 1997 e haviam caído para US$ 34,4 bilhões em 1998, chegaram ao perigoso nível de US$ 23,9 bilhões em 1999. O saldo da balança comercial no final do ano eleitoral de 1998 foi negativo em US$ 6,6 bilhões, e em 1999 de US$ 1,3 bilhões. Em 1998, o Brasil perdeu 36 mil postos de trabalho, e 582 mil em 1989.

Eleições caras

Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso conquistou o seu segundo mandato no primeiro turno, com a ajuda de financiadores privados de campanha que haviam sido enormemente beneficiados no seu primeiro governo e no governo Itamar Franco, quando o PSDB ocupou o comando econômico que permitiu ao partido e a FHC se credenciarem como os pais do Plano Real nas eleições de 1994.

Segundo a Folha de S. Paulo (“Bancos lideram doações para campanha de FHC”, 26/11/1998 e “Bancos lideraram contribuições a FHC”, 6/6/1999), bancos e instituições financeiras foram os principais doadores de campanha, e contribuíram com 25,7% do total de R$ 43 milhões arrecadados pelo comitê do presidente reeleito.

É o próprio jornal que lembra a razão do interesse de financiadores de campanha do mercado financeiro pelo candidato: “Em novembro de 95, o governo FHC criou o Proer, o programa de socorro a bancos em dificuldade. Já foram injetados R$ 21 bilhões para financiar fusões bancárias”, diz na material de 1998.

Na matéria publicada em 1999, o jornal afirma: “No primeiro mandato de FHC, as instituições [financeiras] viveram anos de prosperidade, segundo balanços divulgados pelo Banco Central, e escaparam dos impostos, segundo a Receita Federal. A soma do patrimônio líquido do conjunto das 223 instituições financeiras mais do que duplicou no periodo, passando de R$ 26,426 bilhões para R$ 55,653 bilhões”.

Além disso, FHC teve uma generosa contribuição de empresas com interesse direto no processo de privatização levado a termo pelo PSDB desde o governo Itamar. Figuravam entre os dez maiores financiadores da campanha de 1998 de FHC a Inepar (que participou do Consórcio Telemar), a Vale do Rio Doce (privatizada em 1997), a Companha Siderúrgica Nacional (CSN, privatizada em 1993, quando FHC era ministro de Itamar), a Copesul (privatizada em 1992) e a Copene (privatizada em 1993). A Andrade e Gutierrez, que também fez parte do Consórcio Telemar, figurava no 11o. lugar entre os financiadores de campanha do tucano.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

20 Comentários

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  1. Excelente !

    Dizem ou diziam que o Brasil é um país sem memória, esquece tudo que viveu, por que passou…

    Creio que caiba a quem viveu na pele o Brasil real, sem trocadilhos, informar, esclarecer, descortinar fatos e feitos àqueles que , por certa ingenuidade seletiva, relutam em aceitar e acreditar na história. Desse mesmo Brasil.

    Chega de estudar história morta. No máximo aprender com ela, com os mecanismos de causalidade que ela sempre apresentou e entender esse país que continua, apesar de todos os esforços, um país para poucos e manipulado para que os poucos sejam cada vez mais os mesmos poucos de sempre.

  2. Colocou o dedo na ferida:  o

    Colocou o dedo na ferida:  o maior problema de qualquer critica de FHC a qualquer assunto governamental eh que lhe falta moral.

    Ponto final.

    1. FHC : o sonho da direita…

      Sonho de consumo de esquerdista é poder debater com algum direitista que não seja ignorante e manipulado pela mídia que nem você.

      1. Jéferson, esse babaca acima

        Jéferson, esse babaca acima (assim como o tal “Zanchetta”) gosta de fazer aqui no blog, uma espécie de “stand-up comedy fascista”… por isso, não espere muita coisa dele mesmo…

  3. Salve, Maria Inês Nassif

    Para mim, a melhor analista política do Brasil. Alai a sensibiliadde literária (sei de viva experiência, quando ela escreveu sobre “O filhor enegado de Deus”) à análise, que nada tem de fria. É da hora, sempre.  

  4. FHC como personagem de FHC é

    FHC como personagem de FHC é a única coisa em que FHC acredita e gosta de divulgar. Tanto melhor. Espero que o tal viva 120 anos e comande a tucanalha até morrer.

    Com FHC fora do jogo ficará mais difícil para o PT seguir governando. Com ele jogando o “campo da oposição” seguirá totalmente contaminado por BHC, quero dizer, por FHC (um veneno bem mais potente). 

  5. Para poucos

    Os banqueiros devem ter ficando desesperados quando o PT venceu as eleições do PSDB. Imagina passar de de R$ 26,426 bilhões para R$ 55,653 bilhões de lucro! Fernando Henrique Cardoso pode se orgulhar de ter feito algo durante seu mandato, principalmente por seus financiadores. 

  6. A “autoridade moral” do FHC é

    A “autoridade moral” do FHC é inversamente proporcional à sua auto-imagem. A rejeição que o povo brasileiro nutre pelo dito cujo é o grande capital político do PT, minado por tantos desgaste.  Estou plenamente convencido que ainda não venceu. Foi fundamental para a vitória da Dilma em 2014, e quem sabe ainda sobra para 2018?

    FHC foi banido pelo povo brasileiro e se exilou no pig 

  7. Sei que hoje é o dia D de FHC

    Sei que hoje é o dia D de FHC e Aécio, segundo anúncio do programa do PSDB. Claro que não perderei meu tempo assistindo, mas valeria a pena saber da opinião abalizada de psicanalistas e analistas políticos, juntos pela primeira vez, para analisar a loucura eleitoral, uma doença relativamente nova. Porque a única referência que há muito virou clichê da loucura causada pela perda de poder é a imagem do louco que  se veste de Napoleão Bonaparte. ou repete o gesto da mão direita enfiada dentro da camisa, na altura do peito.

  8. Fernando Henrique Cardoso, por que não te calas?

    Em outubro de 2001, fazendo um estágio profissional de ano e meio na França, numa de minhas raras tardes livres, eu liguei a televisão para ver as notícias e tentar melhorar o meu francês. Assim que a tela se iluminou, o que vi quase me fez cair da cadeira : diante dos deputados da  Assembléia nacional francesa e seus vermelhos da decoração, uma figura muito conhecida aparecia fazendo um discurso. Em francês ! era FHC, então Presidente do Brasil. A cena, ao invés de me envaidecer (nem como teria), me deixou humilhado. Quando que se veria um Presidente da República francesa fazer o mesmo em Brasília ? ou um Presidente italiano discursando na Câmera dos deputados de Bogotá ? e em espanhol, ainda por cima! NUNCA. Jamais. Existem códigos e protocolos de chancelaria que são estritamente obedecidos no mundo inteiro. Um Presidente da República não tem nada que fazer discursos na Câmera dos deputados. E menos ainda em um país estrangeiro. E, mais impossível de se imaginar, na língua deste país !!

    O discurso de FHC, que compreendi parcialmente em 2001 diante da tevê francesa, só fui realmente lê-lo na íntegra quando de volta ao Brasil, no ano seguinte. Uma puxação de saco como só os espíritos mais arrivistas deste mundo podem fazê-lo. A baba na gravata do colono ao seu feitor, despudoradamente. Só que o colono neste caso era o Presidente de toda uma nação e não obrigatoriamente constituída de cabecinhas-de- colonizados como ele. O FHC vive no estado mental de umeterno  colonizado, por isso é que não deve ver mal algum em vender o país dele aos interêsses estrangeiros. Afinal, dentro de sua cabecinha de sociólogo puxa-saco de feitores parisienses, os mesmos que lhe deram de mão beijada um diploma da Sorbonne, o Brasil AINDA é uma colônia européia e, por tabela, dos Estados Unidos. A honra maior de um FHC é ver o Brasil falando francês, ou falando inglês, os descamisados agindo como lordes de subúrbio, pouco importa, desde que as pessoas “façam bonito” para os gringos, isso é o que interessa para gente como FHC e seu pupilo Aécio Neves. Tudo farinha do mesmo saco. E estragada.

    No dia seguinte, o articulista de um dos jornais de Paris falava do “grande evento” (em nota de rodapé, praticamente), pouco ligando ao teor do que FHC disse (afinal, não vai ser um jornalista francês que vai comentar a puxação de saco de um Presidente do Brasil !) e se atendo ao fato de que FHC teria dito que “todo brasileiro tem um pé na cozinha, eu mesmo tenho um pé na cozinha”. Se se quer agradar aos franceses basta falar da misciginação racial no Brasil, o verdadeiro plat de résistence de todo debate que se faz na França quando se fala do nosso país. Eles saboreiam em um misto de mesquinharia e má-fé. “Ah le Brésil…. les plages… les cocotiers… les mulâtres…. todos são mulatos, ou negros, muito índio também….. todos com um pé na cozinha da casagrande, todos eles são da senzala….até mesmo o Presidente da Républica deles, ah, tão diferentes de nós, franceses, né ? FHC sabia desse gosto de seus feitores e, para agradá-los, vendeu-lhes o que lhe restava de dignidade.

    Poucas vezes em minha vida, pelo menos até agora, eu me senti tão humilhado de ser brasileiro quanto no dia em que FHC desceu as calças diante dos deputados franceses. Não por ter sido ele tão ingênuo, tão naïf, pois crápula assim nem sequer se dá conta da gravidade de seus atos, mas por ter sido o brasileiro mais vil, o mais corrupto, o mais ingrato com o país de seus pais, e que o viu nascer, e deu-lhe a língua e a alma.

    Daquele dia em diante, eu contei as horas para deixar a França e voltar ao meu país, minha dignidade de brasileiro posta a rude prova, mas pelo menos, sabendo que aqui eu teria como lutar contra uma tal pessoa, contra o traidor da maioria dos brasileiros, esse pau-mandado de banqueiros americanos e deputados de Paris, uma verdadeira vergonha nacional, mácula indelével na História do Brasil. Felizmente que os protetores da Pátria brasileira acordaram a tempo e impediram a continuidade de toda uma canalha de entreguistas, ao elegerem Lula. E este, sempre esteve, neste ponto, aos antípodas de FHC. O Lula não apenas sempre se fez respeitar a si próprio, como resgatou a dignidade do Brasil no exterior, a dignidade que FHC tanto pisara com os pés. 

    E é essa mesma canalha, com um outro biltre igual senão pior que o FHC, que fala atualmente de impeachment et quer retomar de novo as rédeas do poder para poder ir beijar o mármore da Assembléia nacional francesa antes de se ajoelhar. Ou, quem sabe, o do Congresso dos Estados Unidos. Que FHC se cale e desapareça de vez da cena política brasileira, ele não tem a menor autoridade moral para falar mal de brasileiro algum. Menos ainda do Lula e da Dilma. Porque não te calas, FHC?

  9. Lembrando

    O que FHC fez no Brasil não difere muito do que Alberto Fujimori fez no Peru. A diferença é que este último foi parar na cadeia.

  10. eu tenho boa memória!

    E jamais esquecerei : quando quase Minas inteira se bandeou p/ os Estados Unidos em busca de um emprego. Esse fato foi para mim, o maior feito do Fernando Henrique: fornecer mão de obra barata aos gringos, daí ser eleito o “homem do ano” por eles. Aquilo marcou em ferro e fogo a minha alma de brasileira. E parabéns à Maria Inês por não nos deixar esquecer, em um texto excelente.

  11. Celso Junior
    Celso JuniorLamentável que você escreva um comentàrio completamente sem fundamento devido ao seu desconhecimento. Para sua informação: desde 1993 é tradição da Assembléia Nacional Francesa convidar presidentes e personalidades que se destacam mundialnente para discursar lá. Essa tradição foi introduzida em 1993 por Philippe Seguin, então Presidente da Câmara dos Deputados.Já lá discursaram o Rei Juan Carlos da Espanha, Bill Clinton, então Presidente dos Estados Unidos, Romano Prodi, da yitália, Toni Blair, então Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, Kofi Annan e muitos outros.Você tem todo o direito de odiar FHC, mas nem por isso consegue desmerecer o fato que FHC, como Presidente do Brasil foi convidado a discursar là, como fizeram e fazem ilustres personalidades e com isso distinguiu o Brasil. Além disso, diferentemente de muitos outros, discursou em perfeito francês. Um detalhe: eu não gosto de FHC. Mas sou pela veracidade dos fatos. Quem sabe Dilma vai ter a honra de ser também convidada ? Aqui está o link e você pide conferir a lista das personalidades que tiveram a honra de discursar na Assembleia Nacional Francesa. Liste des personnalités étrangères invitées à s’exprimer à l’Assemblée nationale française — Wikipédihttp://fr.wikipedia.org/wiki/Liste_des_personnalit%C3%A9s_%C3%A9trang%C3%A8res_invit%C3%A9es_%C3%A0_s%27exprimer_%C3%A0_l%27Assembl%C3%A9e_nationale_fran%C3%A7aise

     

  12. Excelente artigo Maria Inês.

    Excelente artigo Maria Inês. Que espero tenha continuação. Pois o PIB hoje é o triplo do FHC, assim como as demandas, sempre ilimitadas, ficaram mais complexas. 

  13. Direito de resposta à Sra. Ana Torres

    Madame, não considere mal minhas palavras, mas de brasileiros como a senhora o PSDB está lotado e isso é muito lamentável, creia-me. Brasileiros assim fazem – conscientemente ou não – parte de um certo tipo de colonizado, aquele que reage imediatamente à menor “heresia” que se cometa contra um de seus antigos e atuais colonizadores. Para brasileiros assim, uma crítica acerba ao chamado “Primeiro Mundo” é crime de lesa-majestade. No caso aqui, eu expus uma experiência real que por mim foi vivida e ressaltei o âmago da minha crítica no comportamento indigno de FHC quando Presidente do Brasil.

     

    Pouco importa a história dessa tradição recente (ela só tem 19 anos) da Assembléia nacional francesa em convidar “Presidentes que se destacam mundialmente” – segundo que critérios, os franceses? – esses lá vão para, após uma rodada de “Paris by night” oferecida pelos anfitriões (e paga pelos contribuintes franceses!), fazerem, de forma indireta, o elogio das instituições do glorioso mundo ocidental e – como verifiquei – tecerem críticas às oposições dos países deles. Nada de surpreendente se, nesta constelação de “Presidentes que se destacam mundialmente” nos deparamos com um cabeça-de-colonizado como o FHC. A senhora foi infeliz em citar os nomes de uns tais líderes que se dignaram a ir discursar perante os deputados franceses pois, todos eles, de um Clinton a um Tony Blair, passando por Prodi, Kofi Annan ou outro do mesmo jaez, ou são representantes do Sistema, ou então são lacaios deste. 

     

    A verdadeiros expoentes políticos para com seus países como Lula da Silva, ou Vladimir Poutine, ou mesmo um Hugo Chávez, ou o Presidente chinês Xi Jinping, ou Cristina Kirchner ou mesmo um Pepe Mujica – para não citar que alguns – um convite para discursar nesta Assembléia francesa jamais será enviado, disso pode ter certeza. Não é privilégio exclusivo da senhora conhecer a lista de personalidades convidadas pela Assembléia nacional francesa; eu a conheço também. Até a data presente, entre todos os que ali foram beijar o mármore tricolor, do rei da Espanha a Giorgio Napolitano, não se encontra uma só autoridade estrangeira que não se seja um representante do Sistema apadrinhado pelos Estados-Unidos da América, ou então, um “chevalier servant” dele. 

     

    Não, minha senhora, a Dilma muito dificilmente será convidada por Claude Bartolone (o atual Presidente da Assembléia) pois ela faz parte dos “rebeldes” com Washington. E a France, quer a senhora queira ou não, é um país cujo Presidente precisa sempre do parecer dos Estados-Unidos antes de pensar em fazer qualquer coisa. O vergonhoso escândalo da não-entrega dos BPC Mistral à Rússia é um exemplo atualíssimo e patente.

     

    A senhora precisa ir à Wikipédia para poder conhecer um pouco das instituições francesas; eu, as conheço de cor e salteado pois sigo as atualidades deles lá já de há muitos e muitos anos. No entanto, considerando a sua réplica como um ato de boa-vontade cristã, como um gesto cordial e civil de querer preencher essa desonrosa lacuna na minha cultura de civilizado – como é que uma pessoa assim pode desconhecer uma tão gloriosa tradição da excelsa Assembléia nacional francesa, como é possível algo assim? – deixo-lhe aqui o meu sincero agradecimento.

     

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