Avanço da extrema direita continua em 2020 e nas próximas duas décadas

A avaliação é de Jean-Yves Camus, cientista político do think tank francês Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas).

Manifestantes de extrema direita em Chemnitz, no dia 27 de agosto de 2018. REUTERS/Matthias Rietschel

do RFI

Avanço da extrema direita continua em 2020 e nas próximas duas décadas

O avanço da extrema direita na Europa e no mundo não é um fenômeno passageiro. O tema, que monopolizou debates políticos no último ano em boa parte do mundo, vai continuar no foco – e não apenas em 2020. O grupo deve seguir como força política importante pelas próximas duas décadas.

A avaliação é de Jean-Yves Camus, cientista político do think tank francês Iris (Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas). Para o especialista do Iris, a cada dia há mais países divididos em dois, com a polarização entre dois grupos que se radicalizam e não conseguem negociar. “Uma terceira via, mais moderada, está com dificuldades de emergir e este é o desafio das democracias liberais”, analisa Camus.

O próximo ano será marcado pelas eleições presidenciais nos Estados Unidos, que acontecem em novembro. É esperado que Trump, face a um processo de impeachment e como candidato, reforce seu discurso nacionalista de “América em primeiro” e deixe de lado acordos internacionais, sobretudo os econômicos.

“Tudo indica que esse período de relações mais difíceis e mais turbulentas entre EUA e China veio para ficar”, considera o cientista político Maurício Santoro, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro).

Direita radical

Em 2019, a presença dos partidos políticos populistas se reforçou na Hungria, na Polônia, na Itália, na Áustria, na República Tcheca e também na Espanha. As eleições para o Parlamento Europeu confirmaram o sucesso dessa onda com o aumento do número de cadeiras dos partidos de extrema direita, com perdas tanto da direita tradicional quanto dos sociais-democratas.

“Podemos dizer que a direita radical é, neste momento, e vai continuar a ser, uma força política internacional importante. Este é um fenômeno que vai durar, devemos imaginar uma presença importante da direita radical nos próximos 20 anos.”

O especialista em nacionalismo e ultradireita na Europa não está sozinho. Cas Mudde, pesquisador da Universidade da Geórgia (nos EUA) e autor do recém-lançado “Far Right Today”, considera que mesmo uma derrota de Trump nas próximas eleições não mudaria a rota da direita. A declaração foi dada em dezembro em uma entrevista ao site norte-americano Salon.

O discurso nacionalista de proteção das fronteiras e do comércio e discursos identitários deve continuar a se fortalecer em um momento de estagnação econômica mundial.

A OCDE estima para 2020 um crescimento mundial de 2,9%, o nível mais baixo desde a crise mundial de 2009. “Estamos em um período preocupante”, explica Laurence Boone, chefe economista da OCDE. O FMI (Fundo Monetário Internacional) prevê uma leve retomada econômica, de 3,4%.

Crise da democracia liberal

“Chama a atenção o número de países cortados em dois, como os Estados Unidos, a Inglaterra, a Itália e mesmo a França, com os coletes amarelos, não está longe dessa situação. A construção de um consenso nas democracias liberais é cada vez mais difícil”, comenta Camus.

“Há uma polarização entre uma esquerda, com vontade de colocar em um primeiro plano a igualdade social e a redistribuição, e, de maneira menos clara, as questões climáticas, mas com uma forma antiga de sindicatos e partidos, e uma direita que volta aos seus fundamentos, ou seja, o neoliberalismo dos anos 1980 com Thatcher e Reagan. A terceira via, a do meio, tem dificuldades para emergir e este é o desafio das democracias liberais.”

O crescimento do número de trabalhadores precarizados e a crise de representação pelos partidos políticos deve seguir movimentando as ruas do mundo. “O que podemos ver de novo na democracia é a construção de mobilizações políticas pelas redes sociais que são focadas em temas específicos, como as questões climáticas, e se afastam da burocracia de sindicatos ou de partidos. Isso é um desafio”, afirma Camus.

Eleição dos EUA

Nos próximos meses, Donald Trump enfrentará um processo de impeachment no Senado enquanto faz a campanha para sua reeleição em 2020. O partido democrata ainda não tem candidato, que deve ser definido entre Joe Biden, Bernie Sanders e Elisabeth Warren.

O momento não é propício para o esperado acordo comercial entre China e Estados Unidos, após a trégua a uma dura guerra comercial entre os países em 2019.

“Tudo indica que esse período de relações mais difíceis e mais turbulentas entre EUA e China veio para ficar, e isso independentemente de Trump. Há políticos democratas que são ainda mais protecionistas que Trump”, analisa Santoro.

A busca por votos deve inflamar o discurso nacionalista de Trump, que atrai eleitores norte-americanos de todas as idades, dificultando ainda mais decisões e acordos multilaterais.

Antes das eleições, o presidente norte-americano poderá dar uma amostra do tom que o Trump candidato pretende adotar com as grandes potências internacionais. Em junho, ele receberá os líderes do G7.

“Sua única preocupação é ser reeleito”, disse recentemente um diplomata europeu a um jornalista da AFP.

(Com informações da AFP)

Redação

2 Comentários

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  1. Há fatos com origens esdrúxulas…
    Muito do “apoio” da direita é centrado na fé…
    Mesmo considerando que tanto Cristo, Maomé, Buda entre tantos são grandes faróis dentro da humanidade, as igrejas, os tempos, seus mestres, discípulos, padres, bispos ou cardeais, que carregam e transmitem as consequências materiais destes seus ensinamentos – quer seja em templos, igrejas – pois esse é o lugar onde o humano se apropria do divino e por consequência desta humanização, apontam para destinos diferentes!
    As “religiões” descendentes de Cristo e Maomé abrigam interpretações que caminham no sentido oposto de sua origem!
    A diferenciação religiosa entre, por exemplo, o Brasil e os EUA em relação ao Cristo favorece os EUA!
    Nos estamos mais próximos do fundamentalismo religioso, da idade média do que os EUA!
    O Budismo é muito mais próximo da física quântica do que as religiões ocidentais!
    Não é só o comercio e armas que decidirão quem será mais forte na guerra entre China e EUA!
    As religiões serão um fator de desequilíbrio!
    Já em relação a armas há desequilíbrio a favor da Rússia se for verdadeiro que já possui mísseis hipersônicos com capacidade nuclear!
    Esse desequilíbrio, se houver, impede uma guerra nuclear nesse momento!
    Então os posicionamentos entre esquerda e direita terão como pêndulo a religião!
    Nesse quesito o Brasil está ferrado!

  2. Fazer previsão para amanhã com o atual desenvolvimento tecnológico já é temerário,o que dizer daqui a vinte anos.
    Grande parte do avanço da direita vem no sentido protecionista (excetuado o Brasil onde o sentido é entreguista) e,essa necessidade de proteção advém do avanço tecnológico que além de não produzir mais empregos,corta drasticamente os investimentos que poderiam ser feitos nas economias marginais justamente para aproveitar a mão de obra mais barata,fator hoje completamente desnecessário face a robotização generalizada em todas as áreas industriais e já avançando a passos largos no setor de serviços.
    A direita,por mais que tente,não conseguirá deter o avanço tecnológico e o aumento do desemprego.
    O que será necessário inventar será uma democracia que permita aos seres humanos viverem e serem donos de seus destinos,tarefa que,hoje,parece absolutamente distante.
    O atual modelo concentrador de renda lembrar muito um programa de televisão que tem o sugestivo nome de acumuladores. A acumulação de renda,tal qual vista com bugigangas no programa,tem a mesma utilidade: nenhuma.
    É uma doença e deve ser tratada como tal.

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