Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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O Atentado contra o Bolsonaro, por Aldo Fornazieri

 
O Atentado contra o Bolsonaro
 
por Aldo Fornazieri
 
O atentado contra o Bolsonaro, certamente, deve ser condenado, pois é um atentado injustificável contra a vida do candidato e um ato incompatível com a disputa democrática. As pregações de Bolsonaro não justificam a violência cometida contra ele.
 
Definida esta posição de princípio, a racionalização do fato nos impõe algumas reflexões:
 
1) Bolsonaro prega a violência em vários contextos: fuzilamento de petistas no Acre; condecoração de policiais que matarem de 10 a 20 pessoas, uso da violência para reduzir a violência, defendeu a tortura e torturadores etc.; 

 
2) Essa retórica, inegavelmente, exacerba paixões políticas, sejam partidárias e individuais, e tende a estimular um ciclo de violência política. Pessoas radicalizada, ideológica ou religiosamente, tendem a se sentir chamadas a praticar atos de violência contra ou a favor do Bolsonaro. Então, aqui vale aquele ditado: que semeia ventos, colhe tempestade;
 
3) Num primeiro momento, Bolsonaro tende a se beneficiar eleitoralmente do episódio, seja pelo clima de emoção, seja pela própria exploração eleitoral que os partidários dele estão fazendo do ataque. Os próprios filhos do candidato, mostrando pouco comedimento pudor, já falam em vitória no primeiro turno. Mas, passada uma semana, a campanha tende a voltar ao seu leito o normal e o eleitorado encarará o episódio mais racionalmente.
 
Os adversários de Bolsonaro, passada a trégua, não poderão ficar indiferentes à exploração eleitoral do episódio em favor do candidato. Se não forem ingênuos e incompetentes, deverão reagir. A ideia de que as pregações de violência do Bolsonaro tendem a gerar mais violência, sem justificar o atentado, é uma ideia legítima a ser explorada eleitoralmente.
 
A esquerda não pode ficar no alvo da direita por conta deste ataque e nem pode ficar na defensiva. Os candidatos e os partidos de esquerda devem ter consciência de que a a direita não terá pruridos em atacá-los usando o atentado. Mas como as esquerdas perderam a noção da lógica da disputa política não duvido que se deixe engambelar pela direita.
 
Aldo Fornazieri – Doutor em Ciência Política e Mestre pela USP-SP. Licenciatura em Física, USP. Porfessor na Fundação Escola de Sociologia e Política desde 2006. Coautor do Livro “Conversas Políticas”, Editora Civilização Brasileira. Participação com ensaios em outros livros sendo o mais recente “Introdução ao Risco Político”, da Editora Campus.
 
 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

3 Comentários

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  1. CAUTELA NÃO É PRUDÊNCIA

    O que, especificamente, se entende por deixar-se engambelar-se pela direita? É certo que se deve usar o discurso de que quem planta vento colhe tempestade. daí, esperar que não surgirão acusações de agressão e violência por parte da direita em relação a esquerda é ser benevolente demais nestes tempos de pós verdade. Uma única bolinha de papel já foi mote para acusar o PT de violento, que dirá uma facada, mesmo que tivesse sido dada por um direitista fanático. O episódio fomentou uma verdadeira declaração de guerra contra a esquerda e principalmente contra o PT por parte do vice de Bolsonaro.

    Já ultrapassamos o ponto em que uma reação contrária a agressão possa ser considerada como algo do tipo “perder a cabeça”. A julgar pelo que foi prometido, quem reagir estará tentando mantê-la sobre o pescoço, nada mais. Há que se separar o conceito de prudência do de cautela. O primeiro, visa uma reação com vistas a se evitar algo ainda mais grave. O segundo define aquele que se esconde e espera pacientemente a condescendência daquele que agride ou sua mudança de foco. A prudência é ato preventivo. A cautela é ato procrastinador. Ser cauteloso demais, portanto, pode ser não mais que a antecipação da vitória do adversário. 

    A esquerda foi cautelosa desde janeiro de 2002. E isto custou a vida de muitas vítimas da violência de Estado e de sua promiscuidade com o crime organizado. Fizeram até vista grossa pro surgimento de milícias no Rio, pra se preservar o então aliado governador Cabral. Adiaram o inadiável com sua paralisia. Agora, para além dos negros anônimos enterrados em valas clandestinas nas periferias de todo país, os ultradireitistas (os mesmos que defenderam e operaram tal mortandade por todos estes anos) voltam seus olhos aos setores políticos que lhes foram condescendentes. A esquerda pensou que plantaria vento e colheria a brisa fresca do mar. Restou aos periféricos denunciar, reclamar, pedir apoio institucional de todas as formas, sem nehum setor expressivo capaz de levar adiante seus anseios. até a morte de Marielle foi mais lembrada como efeito do golpe do que por sua luta denunciando milícias e enfrentando bravamente seus algozes, praticamente sozinha. Se esta gente toda que sofreu começar a agir de forma desarticulada contra os que ameaçam sua integridade humana presente e futura, eu não relutaria em apoiar e participar de ações neste sentido. Durante quase vinte anos sofri todo tipo de ameaça – sobretudo de policiais – e todo tipo de assédio moral e agressão física por tentar denunciar fatos que testemunhei. Nunca pude contar com ninguém do PT ou da esquerda pra avançar numa denúncia. Nem em minha própria casa!!! Vivo com síndrome de pânico e a certeza de que mais dia, menos dia, a única coisa que me restou defender seria atacada. A ansiedade e o medo são constantes. Temo por minha família. Sobretudo pelas crianças. É como disse Florestan Fernandes, ao se referir à escravidão: qualquer ato de defesa do escravo é plenamente justificado em sua situação.

    Se começarem a matar militante, prefiro apoiar um bando de pessoas “violentas” a me juntar a um bando de carpideiras. E os intelectuais de hoje, no caso de um conflito aberto, defenderiam a paz mundial? Acho que sim. Os menos cautelosos jazem em Perus. Muitos ainda querem viver pra escrever um livro sobre o assunto.

  2. #

    Sou contra qualquer tipo de violência, mas o candidato em questão é o único entre todos os candidatos, predisposto a incitar a violência.

    Foi na mesma semana em que sofreu esse bárbaro atentado, que ele disse, lá no Acre, empunhando um tripé de câmera, como se fosse o Rambo empunhando a metralhadora, com todas as letras: “tem que meter bala nessa petralhada”.

    Esse cidadão que infelizmente é candidato à presidência da República já disse que a Ditadura Militar que golpeou o Brasil de 1964 até 1985 matou muito pouca gente: “deveria ter matado pelo menos uns 30 mil comunistas”.

    Disse também que se eleito dará medalhas de condecoração a policiais que mais matarem.

    Ora, isso não está nada correto e, quem prega a violência não pode esperar docilidades.

     

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