A democracia em risco, por Marcos Coimbra

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Da Carta Capital

A democracia em Risco, por Marcos Coimbra

FHC colocou em dúvida a reeleição de Dilma pela desqualificação daqueles que nela teriam votado

O ano de 2014 caminha para terminar de forma preocupante na política. Não era para ser assim. Há menos de um mês, realizamos uma eleição geral na qual a população escolheu o presidente da República, os governadores dos 26 estados e do Distrito Federal, um terço do Senado, a totalidade da Câmara dos Deputados e das Assembleias estaduais.

Mesmo em democracias consolidadas, momentos como aquele, em que todos são convocados a participar diretamente das grandes escolhas de um país, são esporádicos e precisam ser respeitados e valorizados. As eleições não são situações triviais, cujos resultados podem ser ignorados ou questionados por qualquer um, no dia seguinte. São solenes.

Por isso, é comum que o clima político se desanuvie depois de uma disputa eleitoral. Que cesse o embate entre os partidos e correntes de opinião e a sociedade tenha ambiente para meditar a respeito do pronunciamento dos cidadãos, para avaliá-lo e com ele aprender.

No Brasil, a normalidade democrática sempre foi exceção. O período atual, iniciado há não mais de 25 anos, já é o mais longo sem rupturas ditatoriais ou colapsos institucionais. A eleição geral de 2014 foi apenas a sétima em sequência, mas é feito inédito em nossa história.

E foi uma bela eleição. Quase 120 milhões de eleitores compareceram às urnas e depositaram seu voto em paz. Ninguém se queixou de haver sido coagido. Não houve irregularidades. Foi rápida e segura. E contemporânea em relação ao que de melhor existe em termos de transparência, lisura e correção nos processos eleitorais.

Em quase tudo, o Brasil mostrou-se capaz de igualar ou superar as mais sólidas democracias na capacidade de fazer eleições legítimas. Menos no comportamento de parte das oposições à direita. Ao contrário do eleitorado e das instituições, reagiram de forma arcaica e atrasada aos resultados.

Desde a hora em que ficou clara a derrota, insurgiram-se. Seu inconformismo em aceitar o simples fato de não contarem com o apoio da maioria da sociedade o levou a posições descabidas.

O primeiro sinal de sua inaptidão para o convívio democrático partiu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em declaração que deveria envergonhar alguém com sua biografia, colocou em dúvida a reeleição da presidenta Dilma Rousseff pela desqualificação daqueles que nela teriam votado. Valeu-se dos mais antiquados e reacionários preconceitos contra pobres e nordestinos (como se ele próprio não tivesse ficado muito feliz em receber o voto desses eleitores nas eleições nas quais disputou).
A seguir, o lastimável episódio da solicitação feita pela campanha tucana à Justiça Eleitoral de uma “auditoria” dos resultados da eleição (algo que a legislação nem sequer admite). No fundo, apenas outra forma de expressar a rezinga de FHC.

O terceiro passo do esforço de desqualificar a vitória de Dilma foi matemático, como se a legitimidade de uma eleição decorresse de alguma contabilidade. Como se alcançar frente maior ou menor fosse relevante, em qualquer lugar do mundo, para admitir ou arguir um resultado eleitoral.

Essa mistura canhestra de preconceitos, invencionices jurídicas e péssima aritmética seria apenas cômica se não fosse trágica. Se não tivesse o apoio da mídia hegemônica conservadora e se não tivesse contraparte na ação de segmentos autoritários espalhados na sociedade e incrustados em nichos da máquina pública, em especial no Judiciário e no Ministério Público.

Mundo afora, existem e procuram impor-se correntes de opinião antidemocráticas e intolerantes. Neonazistas assombram a Europa, os Estados Unidos não conseguem se livrar dos supremacistas brancos, em muitos lugares o antissemitismo permanece vivo e perigoso. Lamentavelmente, o Brasil tem radicais de extrema-direita, a espalhar seus ódios e preconceitos. Um anticomunismo ridículo e a saudade da ditadura os identificam. Agora se acham no direito de questionar a eleição.

O PSDB precisa refletir a respeito de quem pretende representar. Fazer o que têm feito e falar o que têm falado algumas de suas lideranças apenas serve para açular os ultraconservadores.

O paradoxo é que vêm de São Paulo os sinais de juízo e moderação tucanos. Na seção mineira, tradicionalmente conciliadora, vigora a disposição de botar lenha na fogueira.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/revista/827/a-democracia-em-risco-9352.html

Marcos Coimbra. Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi.

19 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. O de sempre

    Rogério,

    O artigo corresponde a esta surpreendente realidade, MAS, esta canalhice seletiva só acontece por dois motvos, um turbinando outro-  primeiramente, o inexplicável, total silêncio do governo de DRousseff e do próprio PT diante da selvageria política, e ficar calado quando atacado nunca foi e nunca será bom negócio para o alvo, e segundamente, turbinada pelo silêncio dos otários, a grande mídia que se faz de sonsa, que bota o gordo bobo não tão bobo prá recriminar a idéia de golpe, mas dá um enorme espaço para os golpistas, ao inflar o público dos inconformados de cashmere, ao fabricar toda sorte de manchetes para atacar um governo sempre de bico fechado, porque notícia simpática para a situação, nem pensar. Em resumo, quem ataca, ataca bem, e quem deveria responder fica escondido embaixo da cama. 

    Aliás, é por isto que quase ninguém sabe que as obras da Transposição do São Francisco, das 4 novas hidrelétricas  e muitas estão em pleno andamento. Prá saber, a pessoa precisa fazer uma consulta num centro espírita que “recebe” informações de Brasília.   

  2. Desqualificado

    Esse patriarca do PSDB e da direita brasileira, fegacê é um sujeito desqualificado. Entreguista, antipatriótico, falastrão, cidadão de Av. Foch em Paris e “baba ovo” de  gringo.

    De um velho sociólogo deveríamos esperar uma opinião apaziguadora das disputas posteriores à  eleição. O que vemos é o boca mole, pai de filho alheio (plano Real), protegido da mídia partidária tentando torcer a verdade contra o interesse do povo brasileiro.

    Pelo conjunto da obra, deveria estar preso. Como o foram seus iguais, Fujimori à frente.

  3. IGNOREM FHC, ELE NÃO SABE O QUE DIZ

    Pelo amor de Deus! Desde quando a palavra desse fracassado quer dizer alguma coisa? 

    Será que ele vale mais do que uma eleição democrática vencida pelo POVO?

    Fico impressionada de ver o quanto as pessoas repercutem esse senhor senil.

    Será que não sabem que o que ele fala não se  escreve e se escreve tem que esquecer.

     

    Temos que parar de dar holofotes pra este tipo de gente que só quer aparecer.

    IGNOREM-OS!!!

  4. Prezado Marcos
    Mas a oposição

    Prezado Marcos

    Mas a oposição no Brasil é a Mídia, bancada pelas velhas e ultrapassadas oligarquias.

    Este senhor (fhc) segue a pauta.

    Quanto ao governo, de pleno acordo, apanha por inanição.

     

    1. Começamos a “virar o jôgo”

      Mário, não te falei, no sábado, que começaríamos a virar o jôgo, e que o país, não permite certastentativas de golpe, pela relativa tranquilidade social ?

      Ganhamos a batalha, da aprovação(cara, porem…) do déficit fiscal; Ganhamos a aprovação da LDO; Afastamos a temida desaprovação das contas eleitorais do PT e da Dilma. E assim…

  5. Mais um excelente artigo de

    Mais um excelente artigo de Marcos Coimbra.

    O ódio dos maus perdedores vem de se acharem muito superiores.

    Sempre acreditaram que fossem mais inteligentes, mais preparados e mais merecedores, portanto, das altas posições no Estado e da Sociedade. O pt provou – sobretudo o josé dirceu – que a única coisa que eles sempre tiveram mais era o dinheiro. Igualando-se isso a oposição perde.

    Então é essa a discussão: como não há a menor possibilidade de que não entendam o que acontece com esse sistema de financiamento de campanhas, a única conclusão é que são uns hipócritas que querem as doações das empresas somente pra eles; e o pt que volte a fazer piquête com megafone em porta de fábrica… Talvez assim os oposicionistas voltem a acreditar que são os bons…

    Discussões acerca de direita, esquerda, centro, social democracia são cada vez mais acessórias disso.

  6. Os dois extremos

    “Lamentavelmente, o Brasil tem radicais de extrema-direita, a espalhar seus ódios e preconceitos.”

    Inquetionável tal conclusão acima. Pena que a esquerda tenha as mesmas caracterísiticas quando se encontrta do  outro lado do balcão.

    1. os fatos desmentem

      Discordo radicalmente.

      Vários partidos de esquerda (inclusive os mais à esquerda) estão na oposição. Eles estão dando comportamento exemplar nesta questão.

       

       

  7. Essa vai como um petardo ao

    Essa vai como um petardo ao Judiciário e ao MP, duas instituições que não passam pelo crivo do voto popular e parecem agir como se não tivessem que dar satisfações a ninguém:

    “”Essa mistura canhestra de preconceitos, invencionices jurídicas e péssima aritmética seria apenas cômica se não fosse trágica. Se não tivesse o apoio da mídia hegemônica conservadora e se não tivesse contraparte na ação de segmentos autoritários espalhados na sociedade e incrustados em nichos da máquina pública, em especial no Judiciário e no Ministério Público.”

    1. “…incrustados em nichos da

      “…incrustados em nichos da máquina pública, em especial no Judiciário e no Ministério Público.”

      .. Faltou a PF….

  8. Coimbra.Voce está totalmente

    Coimbra.

    Voce está totalmente enganado ou com más intenções. A campanha foi muito suja e fizeram o diabo pra ganhar a eleição. Agora vem vc jogar pra cima da oposição os animos aguçados. Pare com isto… o discurso que Lula fez em BH demonstra o que o PT é capaz de fazer pra ganhar uma eleição.

     

    Estava me esquecendo. O ódio não é só da oposição. Grande parte dos aliados estão manifestando sua indignação com o governo. Vide Henrique Eduardo Alves e outros que perderam as eleiçoes sendo traídos pelo PT.

    1. hahahahaha,
      mandaram a

      hahahahaha,

      mandaram a presidente tomar no itaú em uma cerimônia oficial e reclamam de baixaria quando são acusados de defenderem programas sociais somente nas eleições, hahahahah!?

      Conta outra!

    2. Meu caro, só me diga uma

      Meu caro, só me diga uma coisa Quem está pedindo o impedimento da presidenta? É disto que estamos falando e não de qum gosta ou não gosta dela. Se 49 milhões não gostam, 53 milhões gostam!! portanto esses 53 milhões ganharam a eleição e os 49 milhões não devem querer vencer na marra! através de sujeira e imoralidade como pedir o impedimento da vencedora. Portanto, não me venha com xurumelas! Perdeu perdeu. Ganhou ganhou. Nada mais simples que isso numa democracia que vcs querem desconstruir.

  9. Na boa, quem é que está

    Na boa, quem é que está preocupado e acredita no que diz o FGAGAC.

    Ela fala para as mesmas pessoas que sempre lhe ouvem.

    Duvideodó que darão um golpe neste país.

    Ter vontade é uma coisa, culhão para fazer é outra.

    Tá bom ! Isso aqui não é casa da mãe joana.

    Parece, mas não é.

     

    1. Mas a estratégia, Gilson AS,

      Mas a estratégia, Gilson AS, é ir aumentando a temperatura permanente e persistentemente até os fatos se precipitarem; até aparecer um gregório qualquer da vida, ou qualquer outro fato “aproveitável”.

      Não é mais o caso de um mourão filho cerebrinar um plano cohen ou mesmo de desembestar tropas, mas a via hondurenha ou a paraguaia já foram testadas recentemente, lembremos…

      … E ficou tudo por isso mesmo…

  10. Muito bom o artigo, exceto

    Muito bom o artigo, exceto nesta parte: “…ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em declaração que deveria envergonhar alguém com sua biografia…” Pelo contrário, esta declaração é coerente com a biografia do fhc, um personagem que há muito tempo já deveria ter respondido por todos os crimes que cometou contra o povo brasileiro, nos seus dois infames governos. Eu não me esqueço dos crimes da privataria, da compra de votos para a reeleição, do sucateamento da educação, saúde transporte entre outros serviços públicos. Portanto, todas as declarações feitas por esse criminoso está perfeitamente de acordo com sua história de vida.

  11. o duro é aguentar golpe de

    o duro é aguentar golpe de fhc, aécio e mais alguns

    conluiados com as seis famílias midiáticas!!!

    e os trabalhadores – quem pergunta

    o que farão os trabalhadores?

  12. A lição que fica.

    Quando todos esperávamos que a nossa jovem democracia, avançasse a cada eleição, alguns “dinossauros” resolvem desconstrui-la e aceitam quaisquer apôios, e apelam para todos os recursos legais ou não, para não ficarem de fora, após perderem 4 eleições Presdenciais consecutivamente.

    Lamentável tambem, que o Poder Judiciário, em sua maior instância, o STF entre nessa guerra, contra o PT, e a Presidenta eleita, e tente desaprovar as contas dos vencedores das eleições Presidenciais, e um de seus Ministros, que tambem preside o TSE, e comandou este processo eleitoral, o Toffoli, encaminhe as contas acima citadas, para serem auditadas e aprovadas ou não, para o maior inimigo do PT/Dilma, o reconhecido militante da direita, o Gilmar Mendes, que admitiu claramente, que só aprovou(com ressalvas) as contas acima citadas, por causa da “pressão” do dono deste blog, que assim como outros blogs sujos e financiados pelos recursos públicos, ameaçavam “atear fogo” nas instituições jurídicas nacionais, na hipótese da reprovação daquelas contas, como se isto fosse possível. Será que os blogs sujos, são tão poderosos assim ?

    A lição que fica, é que a partir desta eleição, os partidos “velhos” e/ou comandados por políticos velhos e reacionários, como o PSDB, DEM, PSB e outros partidos nanicos, tendem a ser “mandados” para a lata de lixo da história, se não forem renovados, e se não aprenderem a perder, e se não se desligarem da conservadora elite paulista, e da classe artística, que perdeu evidência no meio artístico, e que tenta reabilitar-se, na política.  

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador