Bolsonaro alfineta cursos de humanas por falta de conhecimento, por Renato Janine Ribeiro

Confunde, talvez, o útil com o utilitário, que é o útil a curtíssimo prazo e que pode custar caro a longo.

Bolsonaro alfineta cursos de humanas por falta de conhecimento

por Renato Janine Ribeiro

O ataque do Presidente aos cursos de filosofia e sociologia revela que ele não sabe o que é o conhecimento.

Confunde, talvez, o útil com o utilitário, que é o útil a curtíssimo prazo e que pode custar caro a longo.

Deixo claro: para aumentar o PIB, as engenharias são fundamentais. Por isso mesmo, na CAPES como no MEC, eu as prestigiei sempre.

Mas a Sociologia é decisiva para se entender como funciona a sociedade. E dá para viver em sociedade ignorando como ela funciona? É como propor guiar carro sem ter a menor noção de como ele se movimenta.

A Sociologia dá particular ênfase à desigualdade social. Mas ela existe, não é? E quanto maior a desigualdade, mais pobre e atrasado o País. Olhem a dimensão da miséria e dos males que ela acarreta (doenças, vida curta, baixa produtividade) e me digam se ela, a desigualdade, é mais frequente nos países ricos ou nos que estão no final da linha econômica e social.

A Filosofia lida com o pensamento. Fazem parte dela a teoria do conhecimento, a epistemologia. Ela dialoga, portanto, com as ciências. Ora, as ciências não são decisivas para o desenvolvimento econômico? Alguém imagina melhorar as engenharias e as medicinas sem pesquisa científica? e sem a discussão filosófica do que é o conhecimento?

Mais, ainda. A Filosofia lida com inúmeras escolas de pensamento. Uma boa formação nela torna a pessoa mais apta a lidar com mudanças de paradigmas. Dá para entender? Hoje tudo está mudando muito rapidamente. Modelos de vida e também de negócios mudam depressa. Para entendê-los, a formação filosófica é muito positiva. Por isso é que tanto formado em filosofia trabalha em áreas que exigem agilidade mental.

É claro que há cursos ruins de filosofia e de sociologia. Mas também há em todas as áreas. Um curso ruim não ajuda o aluno. Pior ainda, se for de medicina e custar uma fortuna ao estudante! Mas quer o novo governo fechar os cursos ruins? Até agora, não parece.

Redação

5 Comentários

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  1. Renato Janine erra absurdamente: Bolsonaro tem método e o aplica aos seus atos. Ao contrário do dito por Renato Janine, ele não confunde o útil com o utilitário. Para ele, essa diferença é um detalhe menor. O que importa é (i) confundir; (ii) criar falsos debates; (iii) dar a ilusão de ação aos que o elegeram; (iv) desviar o foco para o que é o mundo real:
    1. Reforma da Previdência: avançando aos trancos e barrancos, mas avançando, de acordo com os interesses representados por Guedes e manifestados pela Globo;
    2. Aumento da Inflação: a maior inflação desde o estouro de preços controlados de 2015;
    3. Recessão: a economia não apresenta qualquer possibilidade de sair da crise iniciada em 2015 e que, agora, está se aprofundando, com a crise de exportação de agropecuária.

    Está na hora de figuras como ele descerem do pedestal em que se colocam e entenderam que o tempo é de guerra, é tempo sem paz.

  2. SOCIOLOGIA E FILOSOFIA NÃO DÃO RETORNO SOCIAL E ECONÔMICO PARA A SOCIEDADE?
    Precisamos esclarecer que é exatamente o inverso. Sociologia e Filosofia foram as áreas que mais deram e dão retorno social para as sociedades.
    Começa pelo fato de que os estudos sociológicos e filosóficos foram centrais na montagem dos arranjos institucionais jurídicos e políticos que garantiram a integração e a coesão social das sociedades modernas.
    Tais arranjos deram uma face mais humana ao capitalismo, sem a qual tais sociedades teriam se desintegrado em lutas de classe.
    Os estudos sociológicos e filosóficos estão na base do desenvolvimento dos direitos políticos, sociais e trabalhistas; nas políticas de redução das desigualdades sociais e educacionais, de distribuição de riqueza, bem-estar social, ampliação das oportunidades sociais e qualidade de vida nas sociedades capitalistas centrais.
    Também embasaram tanto as lutas por direitos, cidadania, bem-estar e dignidade quanto os arranjos político-institucionais que daí resultaram, os quais constituíram fantásticas tecnologias de promoção civilizatória, de transformação do capitalismo numa força histórica civilizadora.
    Sem a fundamentação científica e a crítica emancipatória do conhecimento filosófico e sociológico, o conhecimento e as tecnologias desenvolvidos em outras áreas continuariam como meras mercadorias raras, caras e seriam ainda mais inacessíveis às amplas parcelas precarizadas da sociedade.
    O retorno social destas duas áreas de conhecimento, portanto, é fantástico. Mas o retorno econômico também.
    Especificamente no caso da Sociologia, minha área, vou dar dois exemplos práticos… Na área da saúde, a Sociologia está presente numa disciplina que em algumas universidades é chamada Abordagem Socioantropológica da Saúde.
    Este ramo especializado das Ciências Sociais é responsável pelos avanços mais importantes na área da higienização e epidemiologia, assim como pelos programas de saúde preventiva, formação de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, e, ainda, pelo desenvolvimento dos sistemas públicos de saúde.
    Parte do princípio de que a saúde e a doença se explicam não somente por fatores naturais, biológicos e físicos, mas por um arranjo sistemático de variáveis ambientais naturais, sociais, políticas, culturais e econômicas. No Brasil, consolidou-se na abordagem da Saúde Coletiva e resultou no SUS.
    São bilhões que os governos e as sociedades economizam com estes programas e estes trabalhos em equipe. Além disso, eleva a eficiência da prevenção, do diagnóstico e do tratamento, o que também significa economia de tempo e recursos.
    Outra, nas grandes empresas é cada vez mais requisitada a presença de Sociólogos, na medida em que os Investimentos Sociais Privados (ISPs) voltados para alcançar a Licença Social para Operar (LSO) são entendidos como uma ação preventiva, a qual antecipa e reduz perdas decorrentes de conflitos sociais.
    Os casos de Brumadinho e Mariana são exemplares. A Vale S.A. está aprendendo a duras penas o custo econômico da negligência socioambiental e a importância de tratar estas áreas como fator de eficiência também econômica para a empresa.
    Nos trens da empresa, cada paralisação decorrente de intervenções comunitárias em suas ferrovias pode gerar milhões de prejuízos por hora.
    Portanto, tanto na esfera pública quanto empresarial, é imenso o retorno econômico da aplicação da Sociologia.
    Então, o que leva Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a sociedade e a economia? Desconhecimento? Sim! Despreparo? Sim!
    Mas, é preciso entender também a tentativa de invisibilizar a concentração ainda maior da riqueza da nação na parte minoritária dos super ricos que suas medidas econômicas deverão produzir.
    É, também, um passo a mais rumo a um governo de terror, o qual tem entre suas marcas históricas a perseguição ao pensamento social científico e emancipatório, que tem na Sociologia e na Filosofia seus quartéis generais.
    Por fim, a busca de consolidar um governo que só se sustenta sobre a disseminação de mentiras e fantasias: proíbe-se a divulgação de dados sobre suas reformas, ao mesmo tempo em que proíbe o conhecimento crítico…
    É a barbárie abrindo caminho, pedindo passagem, à galope!
    Válber Almeida – Sociólogo; Doutor em Sociologia; Pós-Doutor em Socioeconomia e Sustentabilidade.

  3. SOCIOLOGIA E FILOSOFIA NÃO DÃO RETORNO SOCIAL E ECONÔMICO PARA A SOCIEDADE?
    Precisamos esclarecer que é exatamente o inverso. Sociologia e Filosofia foram as áreas que mais deram e dão retorno social para as sociedades.
    Começa pelo fato de que os estudos sociológicos e filosóficos foram centrais na montagem dos arranjos institucionais jurídicos e políticos que garantiram a integração e a coesão social das sociedades modernas.
    Tais arranjos deram uma face mais humana ao capitalismo, sem a qual tais sociedades teriam se desintegrado em lutas de classe.
    Os estudos sociológicos e filosóficos estão na base do desenvolvimento dos direitos políticos, sociais e trabalhistas; nas políticas de redução das desigualdades sociais e educacionais, de distribuição de riqueza, bem-estar social, ampliação das oportunidades sociais e qualidade de vida nas sociedades capitalistas centrais.
    Também embasaram tanto as lutas por direitos, cidadania, bem-estar e dignidade quanto os arranjos político-institucionais que daí resultaram, os quais constituíram fantásticas tecnologias de promoção civilizatória, de transformação do capitalismo numa força histórica civilizadora.
    Sem a fundamentação científica e a crítica emancipatória do conhecimento filosófico e sociológico, o conhecimento e as tecnologias desenvolvidos em outras áreas continuariam como meras mercadorias raras, caras e seriam ainda mais inacessíveis às amplas parcelas precarizadas da sociedade.
    O retorno social destas duas áreas de conhecimento, portanto, é fantástico. Mas o retorno econômico também.
    Especificamente no caso da Sociologia, minha área, vou dar dois exemplos práticos… Na área da saúde, a Sociologia está presente numa disciplina que em algumas universidades é chamada Abordagem Socioantropológica da Saúde.
    Este ramo especializado das Ciências Sociais é responsável pelos avanços mais importantes na área da higienização e epidemiologia, assim como pelos programas de saúde preventiva, formação de equipes multidisciplinares e interdisciplinares, e, ainda, pelo desenvolvimento dos sistemas públicos de saúde.
    Parte do princípio de que a saúde e a doença se explicam não somente por fatores naturais, biológicos e físicos, mas por um arranjo sistemático de variáveis ambientais naturais, sociais, políticas, culturais e econômicas. No Brasil, consolidou-se na abordagem da Saúde Coletiva e resultou no SUS.
    São bilhões que os governos e as sociedades economizam com estes programas e estes trabalhos em equipe. Além disso, eleva a eficiência da prevenção, do diagnóstico e do tratamento, o que também significa economia de tempo e recursos.
    Outra, nas grandes empresas é cada vez mais requisitada a presença de Sociólogos, na medida em que os Investimentos Sociais Privados (ISPs) voltados para alcançar a Licença Social para Operar (LSO) são entendidos como uma ação preventiva, a qual antecipa e reduz perdas decorrentes de conflitos sociais.
    Os casos de Brumadinho e Mariana são exemplares. A Vale S.A. está aprendendo a duras penas o custo econômico da negligência socioambiental e a importância de tratar estas áreas como fator de eficiência também econômica para a empresa.
    Nos trens da empresa, cada paralisação decorrente de intervenções comunitárias em suas ferrovias pode gerar milhões de prejuízos por hora.
    Portanto, tanto na esfera pública quanto empresarial, é imenso o retorno econômico da aplicação da Sociologia.
    Então, o que leva Bolsonaro e seu ministro da educação a cometer este crime contra a sociedade e a economia? Desconhecimento? Sim! Despreparo? Sim!
    Mas, é preciso entender também a tentativa de invisibilizar a concentração ainda maior da riqueza da nação na parte minoritária dos super ricos que suas medidas econômicas deverão produzir.
    É, também, um passo a mais rumo a um governo de terror, o qual tem entre suas marcas históricas a perseguição ao pensamento social científico e emancipatório, que tem na Sociologia e na Filosofia seus quartéis generais.
    Por fim, a busca de consolidar um governo que só se sustenta sobre a disseminação de mentiras e fantasias: proíbe-se a divulgação de dados sobre suas reformas, ao mesmo tempo em que proíbe o conhecimento crítico…
    É a barbárie abrindo caminho, pedindo passagem, à galope!
    Válber de Almeida Pires – Sociólogo; Doutor em Sociologia; Pós-Doutor em Socioeconomia e Sustentabilidade.

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