Bolsonaro está batendo às portas de uma nova ditadura, por José Dirceu

A gravidade da situação política do país está escancarada. Só não vê quem não quer. Estamos, novamente, sob a ameaça de uma ditadura militar

Amilitarização do governo Bolsonaro com as últimas indicações para a Casa Civil e a Secretaria de Assuntos Estratégicos tem raízes em nossa historia recente e no passado.

 

Aqui, se restabeleceu a tutela militar sobre o poder civil, que estava adormecida no artigo da Constituição Federal que trata das Forças Armadas como garantidora da Lei e da Ordem, a famosa GLO, uma espada de Dámocles sobre nossa democracia.

 

Getúlio
Getúlio Vargas governou até 1934, quando, após derrotar a revolta paulista separatista disfarçada de defesa de uma Constituinte, o país ganhou uma Constituição, rasgada em 1937 pelo Estado-Maior do Exército e Getúlio e substituída pela famosa Polaca, redigida sob o comando do general Goes Monteiro, o chefe do Exército, cópia da Constituição imposta pelo ditador Pilziuskque.

O Estado Novo foi até a deposição de Getúlio, em 1945. Quem é eleito em 1946 presidente do Brasil é Eurico Gaspar Dutra, ex-chefe do Exército, que faz um governo reacionário, religioso, pró-Estados Unidos, repressivo aos trabalhadores e à esquerda.

Inconformados com a volta de Getúlio, eleito em 1950, e do seu PTB, partes importantes do Exército e da Marinha e Aeronáutica iniciam uma série de tentativas de golpes de Estado, ou o não reconhecimento dos resultados eleitorais, com a tese da maioria absoluta.

Organizam-se, em 1955, para impedir a posse de JK (Juscelino Kubitschek), que enfrenta dois levantamentos militares, Jacareacanga e Aragarças. E JK os anistia. Depois da renúncia de Jânio, dão um golpe, que é paralisado pela resistência de Leonel Brizola e a divisão do Exército, como em 1955, quando [o marechal Henrique Teixeira] Lot dá um contragolpe e assegura a posse de JK.

Hoje, 1964 é história, mas durou até 1985. Como vemos, os militares sempre foram uma força política a serviço das elites conservadoras e pró-Estados Unidos, sem contar a vergonhosa divisão antes da 2ª Guerra entre germanistas – fascistas, lógico – e pró-aliados. Em 1964, nos alinhamos totalmente aos Estados Unidos, mandando até tropas para a invasão imperialista da República Dominicana para sufocar uma rebelião popular democrática, sempre apoiando as elites agrárias e de direita sob o manto da luta contra o comunismo.

Conciliação na CF
A Constituição de 1988 poderia ter posto um fim nisso, mas não o fez, conciliou com as Forças Armadas e o resultado agora nos assombra. Eles estão de volta com Bolsonaro, hibernaram 30 anos nas escolas militares e na não submissão do poder militar ao civil. Apesar do comando civil do Ministério da Defesa, ao qual estão subordinados os ministérios militares, nunca o poder civil decidiu a política militar no Brasil e jamais eles, os militares, aceitaram o presidente da República como comandante em chefe das Forças Armadas.

 

A gravidade da situação politica do país está escancarada. Só não vê quem não quer. Estamos, novamente, sob a ameaça de uma ditadura militar, e fatos como a execução, comandada por Ronnie Lessa, da vereadora Marielle Franco e, agora, no outro polo, a queima de arquivo com a execução do outro suspeito de envolvimento no assassinato, chefe dos milicianos, Adriano da Nóbrega, ambos com ligações mais do que provadas com a família do presidente, só comprovam a que ponto chegamos.

Não se trata mais do risco do autoritarismo, mas da face oculta de todas as ditaduras, a violência acobertada pelo Estado ou por ele promovida. As impressões digitais são a prova que vivemos de novo às portas de uma nova ditadura. Aos poucos, vamos nos dando conta como nos custará caro ter anistiado os crimes da ditadura.

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    1. Esta análise feita pelo ex-ministro José Dirceu é totalmente cabível. O palácio do Planalto foi transformado num quartel, subordinado aos militares. Resta saber quando os militares vão assumir de fato o governo, porque de direito já o fazem. O incompetente presidente Bolsonaro, com esta atitude de se cercar de militares, declara-se incapaz de governar o país e entrega o Brasil a tutela dos militares. É o caos. É ditadura.

  1. “…Getúlio Vargas governou até 1934, quando, após derrotar a revolta paulista separatista disfarçada de defesa de uma Constituinte,..” Entendemos por que o Ditador Assassino Caudilhista Fascista é protegido, preservado, endeusado até hoje por Fantasia Esquerdopata. O Brasil é mesmo de muito fácil explicação. Ditadura de um Estado Absolutista somos submetidos desde a deposição de Governo Liberal e Republicano de Eleições Diretas e Facultativas. Agora, não por coincidência, pelas Mãos Paulistas estamos no livrando deste Estado Ditatorial. “Os cães ladram. E a caravana passa”. Pobre país rico.

  2. O problema é que o PT no governo manteve inalterado o poder dos militares, poderiam ter feito o julgamento dos torturadores porque crimes contra humanidade não prescrevem, mas no primeiro governo Lula foi assinado um acordo para não se abrir os arquivos da ditadura. Dilma teve outra chance, mas, a Comissão da Verdade ficou só na constatação dos fatos, resultado: estamos aqui vivenciando um novo retrocesso.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador