Fernando Horta
Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.
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Bomba semiótica?, por Fernando Horta

Bomba semiótica?, por Fernando Horta

Em 1972 um fotógrafo vietnamita, Nick Ut, e uma menina coberta por Napalm, Kim Phuc, foram responsáveis pela “bomba semiótica” mais conhecida deste século. Kim, então com nove anos, no centro de uma foto em preto e branco, com várias outras crianças também chorando, sendo escoltadas por soldados, fugindo de um ambiente de guerra por uma estrada vazia e rústica em que o observador olhava em sentido contrário: a menina saía da guerra e o sujeito que contemplava a foto era dragado para dentro do conflito. A obra de arte de junho de 1972, dizem, teve um efeito “devastador” na “opinião pública” norte-americana. A guerra, no entanto, só terminaria em 1975, ainda que os norte-americanos tenham se retirado em 1973, com a assinatura do Tratado de Paris.

Ocorre que a bela foto de Ut e o sofrimento de Kim não foram os primeiros elementos semióticos a chegarem no público dos EUA e no mundo. O Vietnã (e toda a Indochina) eram um problema para a política externa dos EUA desde 1955, e inúmeras fotos (bombásticas e belas), relatos, livros já tinham sido censurados pelo governo norte-americano, censurados pelas empresas privadas de comunicação ou amargavam o desinteresse do público americano, relegados a um espaço diminuto em prateleiras de revistas. Uma breve comparação iconográfica entre a imprensa francesa (que também exercia censura, embora em menor escala em função da força dos partidos de esquerda) e a americana, a respeito das imagens do Vietnã, é capaz de mostrar que a foto de Ut não é a causa do fim da guerra, mas a consequência de anos de manifestações – bastante físicas – e de críticas e ataques à insensatez da barbárie na Indochina. Foi somente porque os movimentos organizados que exigiam a paz por todo território norte-americano conseguiram abrir uma brecha na cortina de controle civil dos EUA, que a foto de Ut e Kim pode aparecer e significar.

Dizer que a “bomba semiótica” de Ut foi responsável pela saída americana da guerra é desconsiderar os milhares de manifestantes, com cartazes feitos à mão, que apanharam da polícia, foram presos e processados, nos EUA, por quase 20 anos. É esquecer que líderes negros há muito vinham denunciando que nas tropas enviadas à Indochina, o sangue negro era maioria e sempre no front. É não saber da história dos movimentos de latinos, nos EUA, que denunciavam e lutavam, desde a década de 60, contra a política de “deportação ou alistamento”.

Não, a “bomba semiótica” não foi inventada pelos pós-modernos. O romance “A Cabana do Pai Thomas” é tido como uma destas bombas contra a escravidão, publicado em 1852. Mas foi o romance de Harriet Stowe ou a luta, por séculos, dos negros buscando sua liberdade? Gregório de Matos Guerra, no Brasil do século XVII, é conhecido como “Boca do Inferno”. Suas “bombas semióticas” atingiam em cheio a Igreja e o governo colonial da época que, segundo Gregório, era “quem o dinheiro nos arranca, nos arrancam as mãos, a língua, os olhos”. Se recuarmos ainda mais, o que foi a Divina Comédia de Dante, senão, talvez, a maior “bomba semiótica” do século XIV? E o que dizer do teatro grego na Antiguidade? Sim, não foi a modernidade ou a pós-modernidade que ensinou a arte dos protestos semióticos e das críticas de sentido. Aliás, “arte” é já em si mesma uma releitura da realidade, que pode ser crítica (como a da Tuiuti) ou conservadora (como a da Beija Flor). Pode questionar o senso comum ou repetir chavões. Pode ser usada contra o poder ou pelo poder. Ou o corpo esquartejado de Tiradentes, exibido por toda a Minas Gerais, não foi uma tremenda “bomba semiótica” em qualquer pensamento que tivesse por objeto o questionamento sobre o papel da Coroa portuguesa no Brasil?

Cada Pelourinho, cada Tribunal de Justiça em mármore, cada quartel com canhões à vista, cada uniforme em cinza ou bege são “bombas semióticas”, a mostrarem o custo da desobediência, da insurreição e da inconformidade. Entretanto, nenhum uniforme cinza ou bege deixa de ter ao lado da perna o bastão, a arma, as algemas e, mais recentemente, o spray de pimenta ou a arma de choque.

Não se trata, pois, de desconhecer a força dos símbolos, o apelo das emoções ou o espaço que a arte exerce no questionamento da realidade. Trata-se de verificar na história que os efeitos da luta simbólica são sempre resultados de lutas políticas materiais antigas, às quais, muitas vezes, não queremos saber e, muito menos, nos envolver. Apesar da “Divina Comédia”, o controle da Igreja durou até o século XVIII. Apesar do “Boca do Inferno”, a coroa portuguesa se manteve até 1822 e sua influência, e decisivamente até 1831. Mesmo com a “Cabana do Pai Thomas”, os EUA viveram até o século XX um apartheid simulado e experimentam hoje os efeitos do preconceito racial. Nem Luís Gama, e toda a sua verve e eloquência, conseguiram livrar do Brasil a chaga do preconceito.

Falar em “bomba semiótica” é, portanto, minorar os protestos e resistências diárias que não aparecem na Globo. Os olhos perdidos, os crânios quebrados, os processos e intimidações institucionais que acontecem no Brasil desde 2014, aos montes. Não há maior “bomba semiótica” do que a foto de Luiz da Luz, mostrando o estudante Mateus Ferreira sendo covardemente atingido pelo criminoso de farda cinza, o capitão da PM Augusto Sampaio. Capitão este que foi imediatamente condecorado pela Associação de Oficiais e que deve, em breve, ser promovido a major.

Tuiuti foi sublime. Jack Vasconcelos é merecedor de todos os elogios que já foram a ele feitos e muitos outros que, com certeza, a história ainda registrará. A comunidade que sustenta a escola é corajosa, mas não apenas pelo desfile – visível, forte, irretocável – mas também por suportar todos os dias, em todos os momentos as violências imperceptíveis (para nós) que desgraçam as vidas dos que menos recursos têm e, ainda assim, serem gigantes a abraçar uma luta que, a rigor, não é deles. Entre lutar contra a “corrupção”, denunciar o golpe ou se opor ao “vampiro neoliberalista” (Temer), os pobres precisam lutar contra a fome e a violência, da polícia ou do criminoso, indistintamente. E não dá tempo para lutar contra tudo isto, criar os filhos, sobreviver, e de noite pedir a Deus um dia melhor.

Mas não se deixe iludir, Jack Vasconcelos. Muitos dos que hoje lhe felicitam – com razão – pelo brilhante trabalho, deixam escamoteado o agradecimento por você lutar uma luta eles não lutam. Por trás de cada arroubo pós-moderno existe a felicidade consciente de que “enfim” o pobre faz o protesto que os mais afortunados não querem fazer. O individualismo, que é egocêntrico ao extremo, acha que alguns têm menos a perder do que outros, afinal o fim da democracia no Brasil e a crise econômica afetam aos grupos sociais diferentemente. E os que vão passar fome devem, na cabeça de muitos que se dizem progressistas, ser os que primeiro precisam se arriscar. Pouco eles têm a perder, argumentam de suas poltronas. Sim … mas este pouco é para os mais humildes tudo.

Salve Paraíso do Tuiuti! Salve comunidade de São Cristóvão! Salve Jack Vasconcelos! Mas também salve a todos os que lutam as batalhas diárias na resistência contra as violências que crescem incessantemente desde 2013. Se é verdade que Tuiuti fez tudo o que poderia fazer, o mesmo não se pode dizer da esquerda no Brasil e nossas lideranças políticas. E eu não vou bater palmas e criar teorias maravilhosas quando outros lutam a minha luta. Não vou esconder os meus fracassos nos sucessos de alguém. O golpe segue. Não estamos numa democracia. Não estamos num Estado de Direito. As “bombas semióticas” ainda não têm um ambiente material para que seus efeitos sejam efetivos. E não têm porque estamos colocando a carroça na frente dos bois. A semiótica na frente do material. E isto é um tremendo erro, indiferente às suas palmas.

Fernando Horta

Somos pela educação. Somos pela democracia e mais importante Somos e sempre seremos Lula.

17 Comentários

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  1. Pela glória quem não faria grandes coisas?

    Elogio ao Trabalho Clandestino

    (Bertolt Brecht)

    É bonito usar da palavra na luta de classes.
    Clamar em alto e bom som pela luta das massas.
    Pisar os opressores, libertar os oprimidos.
    Árdua e útil é a pequena tarefa de cada dia
    que secreta e tenaz tece
    a rede do Partido sob
    os fuzis apontados dos capitalistas.
    Falar, mas escondendo o orador.
    Vencer, mas escondendo o vencedor.
    Morrer, mas dissimulando a morte.
    Pela glória quem não faria grandes coisas?
    Mas quem as faz pelo olvido?
    E a glória busca em vão
    os autores do grande feito.
    Sai da sombra por um momento
    rostos anônimos, dissimulados,
    e aceitai o nosso agradecimento.

  2. Será que foi somente as
    Será que foi somente as boinas de Che Guevara que ajudaram a derrubar a ditadura militar ou também o desbunde?
    A Tropicålia nāo conta? Helio Oiticica vestindo de carnaval o povo do morro nāo conta? Não podemos excluir a luta armada, mas a ternura também conta….aliás, um velho dilema da luta sindical ė sua eterna busca por formas de mobilizaçāo: ser espontâneo ou carrancudo: eis a questāo…. o quilombo Paraiso do Tuiuti, com sua bem construida crønica visual moblizou e disse muito mais e criticou muito mais este regime golpista e agregou forças contra a classe dominante do que esse texto longo e tambėm bem construido texto de Fernando Horta, de quem sou admirador…mas menos, ok amigo Horta…

    Em tempo: devo estar com principio de Alzheimer, pois não lembro de jeito nenhum do nome da famosa obra usåvel de Helio Oiticica, autor da frase Sou Imaginårio Sou Heroi….

    Que q isso…eh Sou Marginal

    Tanto faz: ė o Alzheimer

    Tudo se apaga tão fåcil: a Tuiuti foi um rio que passou: e transbordou….e ficou porque foi visceral

      1. Relato de sonhos
        Resposta: sim

        Obrigado, Rkodama pela construção do momento FORMA

        Vamos ao terceiro momento, o conhecimento

        Nesta noite sonhei vi me jovem que de repente ficou de cabeça branca na avenida do samba….mas nāo era eu e sim Zé Celso…

        Josė Celso Martinez Correa: Ou você ia para a luta armada ou para o desbunde

        https://oglobo.globo.com/cultura/jose-celso-martinez-correa-ou-voce-ia-para-luta-armada-ou-para-desbunde-desbunde

        Explico-me: ė que meu ritual ė trabalhar/perceber os estados VFC:
        o visionário, a forma e o conhecimento no nosso cotidiano:

        vou colar aqui um esboço de texto, até mesmo como forma de não esquece lo….

        ultimamente esqueço tudo …

        Obrigado amigo Rkodama pelo momento FORMA que, sem você, não teria fluido, não viria ă superfície do meu corpo que estå sendo consumido pelo Alzheimer:

        Não sei porque agora lembrei-me da minha mãe…ah sim, ė que nesta noite em lembrança sonho a vi nonagenária com o corpo torto de tanto lutar sem espraiar-se….da última vez que nos encontramos, agora me lembro, manti meus pės sobre os pés dela como corroboração do sonho da noite anterior

        lembro que na última vez quando nos encontramos, meu pai quase sem vida, se animou quando lhe vesti com uma cortina vermelha em trapos tipo Parangolė de Oiticica….caramba, nossos pais são incriveis: não podemos abandoná-los….

        agora me lembro: alguėm se aproveitou do meu esquecimento e furtou minha memöria: as imagens que estavam em dezenas de cartőes de memória se foram…..tambėm o parangolé com o qual eu havia vestido meu pai: agora que os objetos perdidos voltaram ă minha memória pelas māos de Rkodama, não os tenho mais:

        Carta a Fernando Horta

        Será que foi somente as boinas de Che Guevara que ajudaram a derrubar a ditadura militar ou também o desbunde?
        A Tropicålia nāo conta? Helio Oiticica vestindo de carnaval o povo do morro nāo conta? Não podemos excluir a luta armada, mas a ternura também conta….aliás, um velho dilema da luta sindical ė sua eterna busca por formas de mobilizaçāo: ser espontâneo ou carrancudo: eis a questāo…. o quilombo Paraiso do Tuiuti, com sua bem construida crønica visual moblizou e disse muito mais e criticou muito mais este regime golpista e agregou forças contra a classe dominante do que esse texto longo e tambėm bem construido texto de Fernando Horta, de quem sou admirador…mas menos, ok amigo Horta…

        Em tempo: devo estar com principio de Alzheimer, pois não lembro de jeito nenhum do nome da famosa obra usåvel de Helio Oiticica, autor da frase Sou Imaginårio Sou Heroi….

        Que q isso…eh Sou Marginal

        Tanto faz: ė o Alzheimer

        Tudo se apaga tão fåcil: a Tuiuti foi um rio que passou: e transbordou….e ficou porque foi visceral

        A vida ė tão curta….nossa memória ė um sopro de tão efêmera…mas ăs vezes a memöria volta….voltei….os Parangolés…lembrei….

        Agora sei: a Paraiso do Tuiuti também nos refrescou a memöria com aquela bela crônica visual que começou no capitão do mato e terminou no Senhor de escravo vestido de vampirão…

        Viva o desbunde de Jack Vasconcelos

        Viva a luta armada de Fernando Horta

        A vida ė tão curta: o Alzheimer consome tudo assim numa pernada

        Vamos aproveitar sem perdermos a ternura: o amor tambėm ė revolucionårio…

        Oi abre alas que eu quero passar com minha dor

        Prestes nunca desgrudou do tesão pela vida…nem Marighela…nem Guevara…nem mesmo Lampião, que adorava bordar e se enfeitar como forma de movimento continuo…todos eles são retratados pela superestrutura dominante como como sendo figuras avessas à festa e ao carnaval, o que não era o caso…

        Acho que trago em mim estes dois lados:
        o espontâneo, herança da minha māe dulcissima

        e a morre nos dentes, DNA do meu carrancudo pai

        Ixi…acho que viajei atpaichega!…chega

        Tudo bem…era o momento Visão:, de divagar viajar mesmo….eu estava em estado visionårio: sem controle de mim mesmo dei-me ao fluxo luxo de DESbundach…de DEScambar em forma de palavras….sem freios na lingua gem: mesmo sabendo que a noite me verei como alguėm que de manhã perdeu as próprias estribeiras e caiu na boca do povo como desbunde…

        Vamos ao segundo momento, a Forma

        fazer uma performance e inserir aqui: agora me lembro: nesta noite sonhei olhei fui um velho na avenida do carnaval…procurar a roupa que vesti meu pai…ah sim..o Parangolė de Oiticica, que me foi mostrado lembrado por Rkodama…

        Parangolé?
        rkodama
        sex, 16/02/2018 – 09:15

        http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3653/parangole

        Nesta noite sonhei vi me jovem que de repente ficou de cabeça branca na avenida do samba….mas nāo era eu e sim Zé Celso…

        Josė Celso Martinez Correa: Ou você ia para a luta armada ou para o desbunde

        https://oglobo.globo.com/cultura/jose-celso-martinez-correa-ou-voce-ia-para-luta-armada-ou-para-desbunde-desbunde

        Explico-me: ė que meu ritual ė trabalhar/perceber os estados VFC:
        o visionário, a forma e o conhecimento no nosso cotidiano:

        vou colar aqui um esboço de texto, até mesmo como forma de não esquece lo….

        ultimamente esqueço tudo …

        Obrigado amigo Rkodama pelo momento FORMA que, sem você, não teria fluido, não viria ă superfície do meu corpo que estå sendo consumido pelo Alzheimer:

        Um amigo me contou de um exame clinico que detecta com antecedência o Alzheimer…

        Sim….essa coisa de nos anteciparmos…e por acaso o STF não estå antecipando a prisão de Lula….precisamos da cura e não do assassinato antecipado….

  3. O que é isso companheiro

    O PT ser representado por uma escola de samba que faz defesa publica da CLT, mas registra somente 3 dos seus 400 funcionários e tem um acidente com final em homicidio nas costas, não foi uma boa ideia.

    Vão acabar falando do caso Celso Daniel novamente e tambem daquela jornalista que entrou na Justiça do Trabalho contra o PT por não ter registro na carteira

  4. Ditado Antigo

    Nassif: a crise na esquerda brasileira e que descobriram não há cadeia pra todos. Por isto os debates e reuniões têm sido adiados. Quem sabe agora, que o Mordomo de Filme de Terror vai liberar (por Decreto) seu pessoal das garras da Lei, isso não possa acontecer? O Çu-premum tá a todo vapor…

  5. Bomba….

    Salve Ilusão Esquerdopata. Uma dúzia de crianças mortas em meio a Arrastões, assaltos e mais assassinatos. O monopólio do Carnaval da RGT ficou feliz com a audiência produzida por Tuiuti e Beija Flor. Assim como o Crime Organizado, fantasiado em Patrono, fantasiado em Bicheiro. Sinônimo mais palatável para Lavador de Dinheiro de Corrupção Política, Policial e do Tráfico de Drogas. Enxurrada de Dinheiro Público fazendo a alegria da Elite Carnavalesca, enquanto o ‘Povão” do asfalto rala em pagar a fantasia. Não é a cara do cotidiano brasileiro? Sambódromo Bilionário com Dinheiro Público para a festa de fortunas privadas (de onde o povo participa no trabalho mas nunca nos lucros estratosféricos) Salve ! Salve! Brizola e Darcy Ribeiro !! O Dinheiro era do Orçamento do RJ mesmo, não é verdade?! Os valões da canalização dos esgotos das favelas do outro lado da Av. Rio Branco, continuam lá, quase 40 anos depois. É a nossa Democracia Esquerdopata !!! Viva !! O Brasil continua de muito fácil explicação. Intervenção Militar na aberração carioca? O Importante é que deu Tuiuti e Beija Flor !!!!!!!!!!!  

    1. A direta (des)-governa o Brasil desde 1500 mas…

      A falta de esgoto é creditada aos esquerdistas.

      Zé $érgio, você não cansa de lamber as botas dos direitonas golpistas e de babar de ódio dos esquerdistas?

      Se chutar os colhões de um direitão, quebra-se os dentes do Zé $érgio.

      Pior é que essa mula finge ser da esquerda.

  6. Creio serem dois lados

    Creio serem dois lados indissociáveis de uma mesma moeda simbólica/material.

    O problema é que há “razões”, que a própria razão desconhece, posto que é incapaz de, logicamente, explicar.

    Daí a eterna disputa entre Aristotélicos-tomistas (as partes simbólicas) e Neoplatônicos (o todo – natural/material – em movimento).

    Qual a causa primeira, explicativa do comportamento humano/social?

    Essa causa primeira só pode ser logicamente explicada se partirmos de um dos dois pressupostos filosófico-científico existentes. E, fazendo isso, daremos duas meia explicações, porém, cada uma delas logicamente coerentes.

    Segue os dois pressupostos:

    1) a sociedade, como a natureza a qual ela pertence, é um “todo em movimento”. Logo, não há um indivíduo, como também não há partes da natureza, o que existe são “indivíduos naturais em transformação”.

    2) a sociedade, como tudo na natureza, é formada por partes, e a parte primeira da sociedade é o indivíduo. E o que distingue o indivíduo é sua racionalidade, sua moral, sua linguagem simbólica, etc. Nesse caso, para se conhecer a sociedade é preciso primeiro conhecer sua parte essêncial – o ser humano. Obs.: nesse caso, há várias explicações sobre o que é a “essência humana” – funcionalista, estruturalista, pós-moderna, etc.

    Enfim, na prática (supondo que a realidade seja todo e parte) é impossível conhecer, racionalmente, a “realidade humana”. Racionalmente só é possível cada parte estanque dessa realidade, e, por isso, a eterna disputa. Para saber quem sabe mais.

    Nenhum acadêmico sabe mais que o outro. Afinal, cada um deles só é capaz de conhecer uma parte do grande calendoscópio que é a realidade na qual vivemos.

     

    Obs.: Há várias tentativas de síntese dos dois pressupostos fundadores do pensamento acadêmico, porém, creio que nenhuma ainda foi capaz de superar a dicotomia entre os aristotélicos-tomistas e os neoplatônicos.

  7. Nāo temos espaço na superestrutura
    https://jornalggn.com.br/blog/spin-ggnauta/estrutura-e-superestrutura-nos-dias-atuais

    Nāo temos espaço na superestrutura dominante: tanto isso ė verdade que Lula estå indo para o tronco sem que nada possamos fazer ou ao menos dizer ao povo e mesmo aos nossos grupos de relacionamento o que se passa de fato….e ai vem um Quilombo e denuncia isso numa bela síntese capaz de mobilizar e encantar: enquanto isso, nós aqui em pé de guerra contra a Tuiuti, acusada de enfraquecer o espírito revolucionårio das massas….socorro…

    Ignoram que a superestrutura ė formada por judiciário, meios de corrupçāo sic comunicaçāo e igrejas, isso segundo o velho Marx, sei algo em torno de 0.0001% sobre marxismo: vaga idéia sobre estrutura vs superestrutura….mais valia…lei da negação da negaçāo…o novo vs velho e a contradiçāo….luta de classes….partido vs sem partido: ideologia…revolução…

    Dito isso, a impressāo que tenho ė de que as pessoas estāo se esquecendo que hå uma forte blindagem na superestrutura, o que nos impede de passar nossa mensagem….isso não podemos nem mesmo como respeito ao contraditörio e à liberdade de imprensa que juram de pés juntos existir.

    Ai vem Jack Vasconcelos e fura essa blindagem e passa um importante recado numa muito bem construuda crônica visual musical e leva ao povão o conteúdo do livro Elite do Atraso: e a esquerda, que adora a polêmica, aqui quebrando cabeça e descendo o sarrafo….

    Só sei que o recado de Jack ultrapassou fronteiras e mobilizou muito mais que nós aqui…

    Foi uma festa…foi um recado…foi um desbunde….foi um parangolė….foi um rio que passou: o mar transbordou e trarå frutos..depende de nós.

    Se a manifestaçāo do quilombo Paraiso do Tuiuti serå capaz de desencadear a revoluçāo, com certeza nāo e não era esse o propósito daquela gente que fez um contraponto a Beija-Globo sic Beija-Flor que reproduziu na avenida a narrativa da emissora sobre a corrupção e as mazelas sociais…

    Se foi um ato de conciliaçāo de classes, a industria do entretenimento agindo para manter cativa as massas, de forma que a máquina capitalista continue funcionando pelas māos de escravos, Sísifos felizes após uma noitr de catarse, nāo sei…talvez…

    Da minha parte, o que vi ė que naquela noite de carnaval o quilombo Paraiso do Tuiuti (PT) enfiou um prego no discurso da superestrutura dominante: isso para mim basta.

    E nós….o que podemos fazer a partir disso….ou alėm disso…

    Valeu QUILOMBO

  8. A luta é multidimensional

    É necessário mobilizar mentes mas também corações. O oligopólio da grande mídia está continuamente detonando bombas semióticas para controlar a população. Isso precisa ser combatido e é uma dimensão onde praticamente não existe qualquer oposição. Por exemplo, o fato de grande parte da própria esquerda (em especial o PT) cair na camisa de força do “não há alternativa” quanto à globalização financeira, ao neoliberalismo, ao alívio de impostos para os ricos, etc tem relação com essa manipulação midiática. A mesma coisa ocorre com os nossos militares que perseguem fantasmas comunistas e não percebem as reais ameaças a nossa soberania. Talvez o relativo desprezo pelo combate no plano semiótico tenha origem em desconhecimento ou incapacidade nessa dimensão. A tentativa de paralelo entre as bombas semióticas de nossa mídia com obras escritas em uma época de população majoritariamente analfabeta é reveladora de pouca compreensão do tema.

  9. Temer comprou aparição no

    Temer comprou aparição no Silvio Santos e no Ratinho, e tempo no JN com William Bonner anunciando que os gringos querem a reforma do Temer, como se o país não tivesse soberania e como se a globo não contribuísse para o “rombo” da previdência através dos PJ, e como se o Temer não tivesse perdoado os grandes devedores.Falta a pluralidade para o bom funcionamento da democracia, e o mínimo de competição no mercado, toda a mídia se está no bolso dos poderosos.

  10. Desde os tempos de Heródoto

    Desde os tempos de Heródoto sabe-se que:

    “ôta gàr eónta apistótera ophthalmôn” (teria dito Candaulo à Giges após seu casamento, Histórias)

    Ou seja, que “os ouvidos são mais incrédulos que os olhos”.

    Há dois anos a esquerda insiste em tentar contar aos ouvintes incrédulos que ocorreu um golpe e quais são suas consequencias.

    Desde 2015 venho alertando sobre a necessidade de teatralizar a resistência ao golpe de estado que foi teatralizado “com o  com tudo”: https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/jean-claude-carrierre-e-o-climax-do-impeachement-midiatico-de-dilma-rousseff

    A Tuiuti mostrou aos olhos de todos que ocorreu um golpe de estado e o que isso realmente significa, o retorno à escravidão.

    A esquerda adorou a lição, mas não creio que esteja à altura da tarefa teatral que está sendo exigida pelo momento histórico. 

  11. Precisamos de um espaço de midia tal qual teve Tuiuti

    Parece-me que a esquerda tem reagido, atuado, ainda que aparentemente timidamente. O que ha é que nos não temos uma imprensa pruralizada, por isso a enorme dificuldade em levar “bombas semioticas” e textos didaticos à maioria da população.

    Em todo caso, o desfile do Paraiso do Tuiuti lavou a alma de todos nos que sofremos com o golpe, com as perseguições a Lula, com o estado de Exceção, com a brutalidade das pessoas, a falta de nuance e da tolerância. Torço para que a maioria do povo brasileira tenha compreendido armadilha que vive e seu proprio drama.

  12. Um jogo no qual a esquerda perde de WO

    Acho que a crítica foi direcionanda ao prof. Humberto, um dos poucos a tocar no tema da guerra semiótica no Brasil e com muita propriedade. Mas não acho que ele tenha se esquecido de outras formas de manifestação e não desconsidera nenhuma delas, o que o prof. insistentemente aponta é para um  front do combate importantíssimo nos dias de hoje, fundamental, onde a esquerda toma de lavada, ou nem comparece.

    Preocupada e insistente nas velhas formas de luta, sem criatividade, preguiçosa, pouco inventiva acaba deixando de lado um filão mais importante nas estratégias atuais de luta, a guerra semiótica. Isso explica porque o povão está se lixando para o que a esquerda fala, se é que fala e quando fala ninguém escuta.

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