Francisco Celso Calmon
Francisco Celso Calmon, analista de TI, administrador, advogado, autor dos livros Sequestro Moral - E o PT com isso?; Combates Pela Democracia; coautor em Resistência ao Golpe de 2016 e em Uma Sentença Anunciada – o Processo Lula.
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Ciro Gomes está com fixação com o meio e no meio de quê? Qual o meio que procura?, por Francisco Celso Calmon

Ciro ataca e desqualifica as pessoas, e não as ideias que representam. E faz isso porque fica mais fácil transitar na posição política de um lado ao outro

Ciro Gomes está com fixação com o meio e no meio de quê? Qual o meio que procura?

por Francisco Celso Calmon

Ciro é um extravagante com as palavras, é um frasista, nem sempre feliz, perde o aliado mas não a frase, demonstra mais satisfação com a frase do que com o efeito e a consequência de seu verbo e ato. Mais apego às palavras do que a verdade dos fatos.

“Eu quero me voluntariar para formar um grupo, com juristas nos assessorando, que se a gente entender que o Lula pode ser vítima de uma prisão arbitrária, a gente vai lá e sequestra ele e entrega ele numa embaixada. Isso eu topo fazer”, declarou em vídeo, quando Lula estava prestes a ser preso.

“Lula é um encantador de serpentes. A presunção dele é que as pessoas são ignorantes e que pode, usando fetiches, intrigas e a absoluta falta de escrúpulos que o caracteriza, navegar nisso”. Declarou logo após Lula sair da cadeia.

Lula na prisão ou na embaixada agrada àqueles que o querem fora da política ou pelo menos fora da disputa e interferência eleitoral.

Mais aspas para Ciro Gomes, o político que se acha mais inteligente que todos os demais, sem modéstia.

Quem criou esse monstro Eduardo Cunha foi Lula”

“O Bolsonarismo e o petismo se sustentam”

“Ou você acha que o Bolsonaro se elegeria sem o que o PT fez? O Bolsonaro nunca foi o candidato da direita brasileira. O Bolsonaro foi engolido pela direita brasileira porque era o cara que foi identificado pelo nosso sofrido povo como o mais tosco intérprete do antipetismo que era a força dominante”. 

O raciocínio cartesiano serve para fazer coro com a direita e responsabilizar Lula e o PT por tudo que não presta. 

É evidente que o PT e os governos encabeçados por ele mudaram a realidade socioeconômica do país em favor das classes desfavorecidas e afirmara a soberania e o protagonismo do Brasil no cenário internacional. A continuidade dessa política era temida pela classe oligárquica que domina o país desde sempre. Aonde iria dar? – indagavam suas lideranças. 

Apesar dos erros cometidos por priorizar incluir a população no mercado de consumo, sem em paralelo ter fomentada a sua organização autônoma e participação cidadã, como sujeito dessa construção, a classe dominante temia que a educação e o consumo para a maioria gerassem a consciência emancipadora das classes trabalhadoras.

 E os Estados Unidos da América temiam sobremaneira a independência soberana e alinhamento com os Brics à medida que o nosso potencial energético e hídrico sustentasse àquela política externa, conferindo força à uma reorganização geopolítica internacional.

Antes que viesse a ocorrer (se é que viria) a estratégia golpista já estava em gestação, numa articulação com todos as forças institucionais (com STF e tudo o mais). 

Com o governo dos EUA provocando no mundo a velha contradição: ou a favor deles ou contra, ou direita ou terrorismo, ou capitalismo de desastre ou o seu oposto, foi mais um ingrediente para o surgimento da extrema direita, antes adormecida, vir com a  fúria da sociopatia que a caracteriza, encarnada no Bolsonaro e nas suas milícias nazifascistas.  

Acertam no óbvio, mas assertivam mecanicamente a conclusão, ou seja: a tese materializada pelo lulismo gerou a sua antítese. Contudo, a vitória do Bolsonaro não foi consequência direta do lulismo, mas de erros da elite da direita, ao não ter candidato único, competitivo, e ter subestimado e depois protegido o Bolsonaro, aceitando a sua fuga dos debates e a sua “facanews”. E do lado progressista pela deserção do Ciro do segundo turno.

Afirmar que não haveria bolsonarismo se não tivesse havido petismo, é simplificar e reduzir a dialética da história ao mais rasteiro mecanicismo.

Se em vez de uma concepção mecanicista-moralista da história aplicasse a concepção dialética, perceberia que não houve ainda a síntese nessa luta antagônica dos atuais contrários. 

Há pesquisas, embora de rigor científico duvidoso, que sustentam que a esquerda tem a simpatia entorno de 30% do eleitorado e a direita entorno de 27%, praticamente empate. Ocorre que a população que está fora desses 60% não tem posição definida, geralmente se posiciona ocasionalmente ao sabor da conjuntura e da propaganda dos meios de comunicação.

Ciro sabe que não representa a esquerda, quem a representa eleitoralmente é o Lula ou candidato do PT apoiado por ele. Então, o que faz? Vai para a trincheira do antipetismo e faz malabarismo retórico para não parecer como direita, quando poderia dialogar com os 40% sem posição sedimentada.

“Comigo unidade é o cacete. Unidade é na luta. E na luta em cima da mesa”.

 “Com esta burocracia do PT não quero nem ir pro céu”

Ciro afirmou ainda que tem respeito pelo “petista médio”. “Meu problema é com a cúpula corrompida do lulopetismo. Com essa gente nem para ir para o céu”.

Atacou a cúpula do partido e o militante de base, e aliviou o que denominou petista médio. Sabe o que conseguiu? Desagradou a todos. 

Ciro ataca e desqualifica as pessoas, e não as ideias que representam. E faz isso porque fica mais fácil transitar na posição política de um lado ao outro, seja do lado do “estagiário”, como qualificou o Huck, até o lado do “inescrupuloso”, como qualificou o Lula. 

Eu sou contra ao estagiário na Presidência da República, não interessa se pela direita ou esquerda”. E diz que lula devia dá um tempo. (Será que considera o Boulos também estagiário?)

Novamente o desejo de ver Lula fora da política: cadeia, embaixada ou anátema.

‘Ciro é um babaca, quer Lula preso’, disse recente Zé de Abreu.

A questão dos extremos. Quem se coloca contra integralmente a um extremo está geometricamente no outro extremo, não há como estar no meio. No meio fica o que não está integralmente contra o extremo. Estando o bolsonarismo num extremo, o outro extremo é o que se coloca integramente contra ele.

O raciocínio do Ciro é exótico na geometria e na política.

 Por derivação seria o mesmo de dizer que a ditadura militar fora consequência da luta pelas reformas de base, ou seja: as propostas pelas reformas (ou janguismo) é que foram responsáveis pelo golpe militar.

Lula está livre, e a e correlação de forças começa a ser alterada, e aí, Ciro, o onipotente, vai se oferecer para ser o porta voz da direita? Ou entender que a polarização é real, não é fruto de ideias, de desejos, de subjetividade.

Há várias formas de somar na luta contra o Estado policial do bolsonarismo, menos no caminho da “unidade é o cacete”. 

Apesar da verborragia agressiva e radical, Ciro pratica a conciliação de classes, desde que seja com ele, no protagonismo, por isso, tem dificuldade de conceber a história como resultado da dialética da luta de classes e entender que na atual conjuntura, o antagonismo entre civilidade e barbárie, entre Estado democrático de direito versus Estado policial miliciano, é a contradição principal, cujo desfecho, cuja síntese, será consequência da correlação de forças.

Sua verborragia deveria ser menos giratória e com mais foco no alvo protonazifascismo brasileiro. Menos destempero e mais temperança.

Não há que excomungar os opostos, há que temer os mediadores da conciliação.

Existem diversas trincheiras no combate ao bolsonarismo, mas as armas da crítica dessas trincheiras não deveriam apontar para os lados, somente para a frente onde se encontra o inimigo do povo brasileiro. 

Ciro, use de sua expertise e combata a quadrilha do Moro&Dallagnol e a ingerência imperialista dos EUA em toda a América Latina, desestabilizando governos e empoderando fantoches fascistas. Assim prestará um relevante serviço à democracia e à pátria.

Francisco Celso Calmon é Advogado, Administrador, Coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça do ES; autor do livro Combates pela Democracia (2012) e autor de artigos nos livros A Resistência ao Golpe de 2016 (2016) e Comentários a uma Sentença Anunciada: O Processo Lula (2017)

18 Comentários

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    1. LULA DEFINE CIRO GOMES

      Fernando Morais: “Mas, mesmo quando alguém insulta o senhor, como o Ciro, por exemplo?” (pergunta sobre Lula guardar rancor)

      LULA: “Não, não, não, veja, a minha raiva dura trinta segundos. Sabe, quando o cachorro latir pra mim, eu não vou latir pra ele, não vou ficar latindo na esquina.”

      Veja no vídeo abaixo, iniciando aos 17:40

      https://www.youtube.com/watch?v=wo4PVmTwHXQ

      1. Lula tá latindo para o Bolsonaro e o Bolsonaro não está latindo de volta. Significa que o Lula é o cachorro do bolsonaro?! Por favor, Lula e Bolsonaro são a mesma ideia de discursos idiotas com respostas de adolescentes.

  1. O que tem feito Ciro Gomes é tentar se manter na disputa do jogo politico. Tendo o historico da Marina, deve pensar que a melhor coisa a fazer agora é combater Lula e o PT para tomar esse espaço. E ai da-lhe ma-fé, retorica, frases assassinas etc. Desde a eleição do bozo-psicotico acho que tudo é possivel no Brasil, mas tem certas coisas que ainda são dificeis de acontecer, como Ciro ser eleito presidente sem apoio de Lula. Oh, como doi!

  2. Aprendi que ninguém chuta cachorro morto. Desse modo, entendo a angústia de Francisco Calmon e sua argumentação distorcendo fatos, convencido de que domina a dialética materialista. Tenho pelo Nassif um histórico respeito como democrata e jornalista íntegro. Portanto, espero que o GGN dê espaço para um partidário de Ciro Gomes apresente o contraditório.
    (1) “É evidente que os governos do PT mudaram a realidade socioeconômica do país”.
    Se observarmos o Índice de GINI, fica evidente que NÃO houve mudança significativa na distribuição de renda, que continuou concentrada, apesar do aumento do salário mínimo. De FHC a Dilma o índice caiu muito lentamente (variação de 0,59 a 0,53 – escala de 0 a 1) e já piorou rapidamente, voltando à situação anterior ao governo FHC. O próprio Lula afirmou que os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro quanto em seu governo. Se a concentração de renda permaneceu elevada, em quê mudou a realidade socioeconômica do Brasil ?
    (2) “A vitória do Bolsonaro foi consequência de erros da elite da direita e da deserção do Ciro”.
    Essa é a costumeira “auto-crítica” dos iludidos: os erros estão sempre nos OUTROS. Nenhuma citação ao fenômeno do “Antipetismo” (certamente isso nunca existiu, para os iludidos).
    (3) “A verborragia de Ciro deveria focar no protonazifascismo brasileiro”.
    O intranquilo Dr. Calmon poderia citar UMA ÚNICA frase de Haddad contra Bolsonaro no primeiro turno ? Qual era o foco naquele período ? Cevar o adversário fácil de ser abatido ?
    (4) “Ciro pratica a conciliação de classe e tem dificuldade de conceber a história como resultado da dialética da luta de classes”.
    O dialético Dr. Calmon poderia citar em qual dos 14 anos o governo PT estimulou a luta de classe ? Está errado Mujica quando afirma que em vez de consumidores deveriamos ter gerado cidadãos ?
    Vou parar por aqui porque sei que ouvidos moucos impedem a reflexão…

    1. fico feliz com a lucidez. fico mais ainda quando ela é expressa com concisão e clareza em contraditório a falas tão … bobinhas, para não dizer desonestas. há motivos …

    2. Gostei do seu comentário, é exatamente o que eu penso, e respeito o Nassif. Mas nenhum colunista faz uma matéria, quando Ciro passou anos e anos apoiando o PT, É igual aquele ditado quando você não faz 99% você é ruim ou igual ao Clã Bolsonaro, quando fala mal do Bolsonaro você é comunista.

  3. Sim. Boulos seria um estagiário na Presidência da República, assim como Manuela D’Ávila.
    Lula é um conciliador de classes por excelência.
    Aos olhos de hoje, qualquer pessoa que queira se lançar candidato (a) em 2022, não terá caminho pela direita, porque dominada por Bolsonaro. Não terá caminho pela esquerda, porque dominada por Lula. Aí fica a pergunta, se qualquer pessoa, que não esses dois, quiser ser candidato em 2022, inclusive Boulos e Manuela, por qual caminho deveria seguir? Ou deve simplesmente abandonar a pretensão e ir para um lado ou para o outro?

  4. Excelente o artigo. Ciro é um baita político, inteligente, dinâmico, antenado. Mas está com tremenda dificuldade de achar sua “raia” na corrida e, por isso, faz algumas opções opacas, erráticas, ao estilo “culpar a minissaia da vítima pelo fato do estupro sofrido”. Ele pode ser mais, muito mais, que isso. Tem que ter mais grandeza em projetos e menos personalismo; ser mais gregário e menos divisionista; enfim, ouvir mais os conselhos do velho briza.

  5. Excelente o artigo. Ciro é um baita político, inteligente, dinâmico, antenado. Mas está com tremenda dificuldade de achar sua “raia” no tabuleiro político polarizado do jeito que está e, por isso, faz algumas opções opacas, erráticas, ao estilo “culpar a minissaia da vítima pelo fato do estupro sofrido”. Ele pode ser mais, muito mais, que isso. Tem que ter mais grandeza em projetos e menos personalismo; ser mais gregário e menos divisionista; mais medioprazista e menos imediatista; enfim, ouvir mais os conselhos do velho Brizola .

  6. Ciro Gomes é para ser esquecido. Ele é mais ou menos como aquela piada que os Engenheiros usam para gozar os Arquitetos: “Não tem estatura suficiente para ser um Lula, nem um caráter flácido o suficiente para ser um FHC”. Para quem nasceu para a vida política na Arena Jovem do Ceará, não surpreende. Dirão: “Ah, mas ele nunca foi filiado à Arena Jovem …” É verdade, não há esse registro! Mas quando a ditadura acabou com o bipartidarismo Arena e MDB, Ciro foi se filiar ao PDS, o sucedâneo da Arena. Claro está, portanto, que o MDB Jovem, ou os partidos proscritos não eram a sua tchurma! Logo …

    1. Vocês e os jornais querem matar o carteiro antes de ler a carta. Na verdade, é medo do Lula perder o seu culto a personalidade, medo de um cara tão preparado como Ciro Gomes ver que é possível sair do monópolio do mercado financeiro e contradições de FHC, PT e Bolsonaro.

  7. Artigo fraco. Ciro está conseguindo se viabilizar como uma terceira via e isso está incomodando a parte mofada da esquerda, que já deve estar imaginando como serão os debates em 2022 com o Ciro disposto a ir pro combate, não contra o PT, mas contra essa parte atrasada do PT, liderada por Lula e Gleisi. O Ciro cansou de vocês, agora aguentem.

  8. Como um texto tão ruim pode ser elogiado? Inclusive, autor fala contra o Ciro ser uma oportunidade ao Brasil e coloca Lula como a única solução possível. Aí vem a falta de autocrítica. O PT governou o Brasil, 8 anos com Lula e 5 com Dilma, esqueceram? E até nós verdadeiramente de esquerda criticávamos o alinhamento desses dois governos a partidos de direita, como o PMDB e o altíssimo índice de corrupção. O petismo foi aliado de Calheiros, de Cunha, de Geddel, de Jucá, de Levy, dos especuladores financeiros, dos interesses das multinacionais e dos bancos, chegando a colocar representantes dos bancos privados pra chefiar nossa economia e nosso Banco Central. Enfiado de diversas maneiras em corrupção.

    O PT não representou devidamente o povo. Isso aqui não é matemática, meu caro, é sociedade. E numa sociedade que quer crescer, devemos nos abster de dois “partidos” que nos fazem mal.

    Difícil!

  9. Senhores, o que vejo aqui é uma tentativa de forçar uma posição de extrema da população. Interessa apenas a ala radical da esquerda e da direita. Bem, precisam ir para as ruas e conversar com o Brasileiro simples, sem ideologia e que nem sequer sabe o que é isso. Tem varias pessoas com conhecimento que estão nas ruas de forma natural mostrando a essas pessoas que não existem dois lados e nem sequer lado ideológico, isso é uma farsa que faz lavagem igual a religião. Se você não quer conversa com o pensamento divergente, você não é democrata e sim ditador. Seja de esquerda, direita ou religioso.

  10. Bem colocado pelo Dr. Calmon. Duas ilógicas flagrantes do Ciro: justificar a doença pela vacina; achar que somos tolos de achar que ele fará algo distinto do que fez o PT/Lula. Se ele fosse o presidente em 2005, o ministro da casa civil não seria preso sob “domínio do fato”? Se fosse ele o presidente não haveria lawfare? Se fosse ele o presidente a elite estaria absolutamente conformada? Não haveria fake news? Não haveria crise econômica? Que petulância!
    Imagino como teríamos uma direita menos putrefata se em vez de Lula fosse Brizola o timoneiro! Lembro do Brizola lá na Europa e o pau quebrando aqui (aliás era Ciro nessa posição em 2018). Lembro do Jango acovardado sendo envenenado no Uruguai… Que papinho frouxo!
    E é cansativo demais, o cara pretender ser da esquerda e citar Lênin distorcidamente para atacar… pasme-se… a esquerda! (e pior, vir com essa de Lenine, com “e” no fim, para marcar distância com a esquerda mesma, claro).
    Ele é inteligente, safo, bem instruído como poucos sim. Mas assim também o é Paulo Guedes. O é o Delfin.
    A diferença entre Ciro e os outros da direita não é de gênero nem de número, somente de grau. Quem se acha de esquerda e acredita nesse discursinho frouxo de pequeno burguês, se pensando a bola da vez, que acredite.
    (E olha que não fiz uma só apologia a candidatura do Lula, que me parece faz o jogo oposto do Ciro: posa de liberal para fazer alguma política social, dentro das possibilidades reais. Mas ambos são apenas reféns da mera política, ou seja, do ring imposto pelo capitalismo).

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