Clint Eastwood nos lembra que fatos podem não corresponder à verdade, por Álvaro Miranda

O velho problema é quando o sujeito se confunde com o objeto, como se costuma dizer em ramos da ciência social como na história, economia, ciência política, psicologia e outras.

Clint Eastwood nos lembra que fatos podem não corresponder à verdade

por Álvaro Miranda

Novo filme de Clint Eastwood, “O caso de Richard Jewell” é um convite para lembrarmos que fatos não correspondem, necessariamente, à verdade e até podem esconder a realidade.

Para além do conhecido episódio, que foi a responsabilização de um inocente e a consequente ruína de sua família, pelo atentado a bomba nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, a história suscita reflexão mais do que oportuna para muitos brasileiros que relutam em aceitar a tragédia das “fakenews” para o país e do que ficou conhecido como Vaza-Jato.

Para os mais simplistas sei que é difícil não aceitar fatos como verdades e realidade. São os que acreditam nos reflexos imediatos de uma suposta verdade a partir de episódios noticiados, além de imagens veiculadas, as tais imagens que valem enganosamente por mil palavras. Como se os fatos refletissem de forma clara e inequívoca o real em todos os seus contornos, a exemplo dos nossos espelhos em casa.

Ora, nem os espelhos refletem a realidade como vemos. Certamente, o que vemos do nosso rosto no espelho não é o mesmo que outras pessoas veem. Vemos de formas diferentes as mesmas coisas, movidos por ideologia, história, pensamento, conhecimento, desejo e limitações diversas.

Entretanto, não se defende aqui a ideia de certo pragmatismo do fim do século XIX, nos Estados Unidos, que acabou se delineando em outras vertentes na Europa na primeira metade do século XX, em relação, por exemplo, à busca da verdade científica. Qual seja, a que defende a postura segundo a qual a verdade seria aquilo que desejamos acreditar que seja.

Contra certos relativismos pós-modernos, devemos lembrar que os avanços da ciência em diferentes ramos do conhecimento servem para qualquer quadrante do mundo. E nos processos epistemológicos, ainda somos sujeitos diante de objetos a serem conhecidos, objetos que estão fora de nós e precisam ser vistos de forma distanciada, caso procuremos evitar falsificações. A descoberta de novas bactérias, sem dúvida alguma, serve para prevenção de doenças na Inglaterra como no Congo.

O velho problema é quando o sujeito se confunde com o objeto, como se costuma dizer em ramos da ciência social como na história, economia, ciência política, psicologia e outras.

Mais ainda o problema se agrava e se torna nevrálgico no jornalismo, atividade, assim como no Direito, cuja base de justificação é a busca da verdade, mas qual verdade? A verdade que precisa compor uma notícia, ou a verdade crua do que realmente acontece ou aconteceu em determinada situação?

No caso do jornalismo, que foi justamente o episódio retratado por Eastewood, nas articulações com o FBI para se chegar ao autor do atentado, o filme nos impacta mais pela crueza da manipulação dos fatos do que pelos próprios fatos em si. Inevitável a viagem para a qual o filme nos faz embarcar das Olimpíadas de Atlanta, na década de 19900, para os dias atuais no Brasil, com toda a estupefação dos fatos, da mentira – e pior, da aceitação da mentira como verdade.

Redação

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