Contra a antinação, a reconstrução nacional, por Roberto Bitencourt da Silva

Mais cedo do que tarde teremos movimentos dotados de coordenação nacional e radicalidade na tomada de decisões populares brasileiras

Foto: Euromade

Em que pese a vazia e anedótica retórica pseudonacionalista do repugnante e ora presidente do Brasil, Bolsonaro é um declarado inimigo da Pátria. Um títere de forças imperialistas, as quais, na sombra daquele, empreendem diversas iniciativas que potencialmente anulam qualquer projeto de destino para o nosso País. De fato, Bolsonaro capitaneia um governo que possui feições de um comando de ocupação estrangeira, só que composto por sujeitos lesa pátria aqui nascidos, a serviço de interesses antinacionais.

Alegar que a Amazônia deve ser explorada pelos EUA; incentivar o incêndio da imensa e especial floresta amazônica; entregar o petróleo brasileiro para poderosas companhias estrangeiras; incrementar a destruição de direitos trabalhistas e de aposentadoria do povo; converter de vez a Pátria em colônia para enriquecer o capital internacional e semiescravizar e abandonar à miséria a maioria, sobretudo mirando as próximas gerações etc.

Ademais, destruir de vez a educação, as oportunidades e os horizontes de vida da nossa gente; nada fazer para atenuar a tragédia ambiental no litoral nordestino; pretender entregar empresas públicas lucrativas e estratégicas, inclusive dotadas de propensão natural ao monopólio, sem mais, para o capital privado estrangeiro etc. Eis algumas medidas que, em menos de um ano, têm em vista retroceder o calendário brasileiro para antes de 1930.

Um governo que demonstra absoluta incompatibilidade com a cultura e as artes brasileiras, depreciando o cinema nacional, desmoralizando a cultura popular do carnaval. Desqualificação sistemática dos professores e dos artistas brasileiros, em metódicos e contínuos exercícios de desvalorização, anatematização desses setores, interpretando-os como pretensos responsáveis pelas mazelas brasileiras, pela corrupção dos costumes.

Razão reside na perspectiva de Naomi Klein, em seu livro “A doutrina do choque”, ao argumentar que um dos instrumentos de submissão de todas as atividades, serviços e expectativas de um País aos interesses do capital é o ataque à memória, à capacidade técnica, inventiva e à cultura de um povo, de sorte a fazer com que se encontre desarmado, perdido, destituído de confiança, sem força para o autoreconhecimento e a ação.

Há de chegar o dia em que o atual presidente reacionário e entreguista – cujo governo é de verdadeira traição aos interesses mínimos que sejam, da Nação – não somente estará suscetível à prisão. No entanto, Bolsonaro e os seus são o de menos. Esses testas de ferro do poder vão e vem.

As classes dominantes que lhes dão suporte, estas sim – oligarquias políticas e patriciado do Judiciário e das Forças Armadas, bancos, conglomerados multinacionais, fazendeirões, grande mídia – ainda receberão a fatura pelo ódio que nutrem à Pátria e ao Povo. Ódio cultivado para assegurar os seus mesquinhos privilégios, garantidos pelo atendimento subordinado aos imperativos estabelecidos pelas multinacionais estrangeiras e o imperialismo, mormente os EUA. Moldam o Brasil ao gosto do “patrão”.

Conformam a antinação. Condomínio de poder que fala português, mas cujos senhores residem fora. Vassalos que sabotam e entregam o País. Burguesias bandidas que receberão o julgamento histórico do Povo. Há de chegar esse dia. Os ventos que têm soprado em nuestra América (mais recentemente no Equador e no Chile), com grandes mobilizações populares contra o privatismo, o imperialismo e as tentativas conservadoras de asfixiar completamente a dignidade e os meios de vida das maiorias trabalhadoras e estudantis, esses ventos ainda chegarão aqui.

Os países vizinhos e o Brasil convergem em não poucos dilemas e desafios, decorrentes da inserção subalterna na divisão internacional do trabalho, da dependência tecnológica e da formação histórico-cultural colonizada. Mais cedo do que tarde teremos movimentos dotados de coordenação nacional e radicalidade na tomada de decisões populares brasileiras – em especial, com forçosas mudanças operadas nas atuais e apáticas, acomodadas cúpulas dirigentes sindicais, estudantis e de demais organismos populares e/ou de esquerda –, movimentos que incidam na formulação de uma agenda democrática, nacionalista, anti-imperialista, capaz de orientar a opinião pública.

Uma agenda e uma opinião pública que promovam uma ambiência favorável à emergência de um governo dos brasileiros para os brasileiros. Governo portador da capacidade de moldar as suas próprias escolhas e decisões. Dentre estas, apropriar-se dos estratégicos recursos oriundos do petróleo, por meio da nacionalização integral do setor.

Permitir ao nosso País abrigar recursos fundamentais para viabilizar a capitalização da economia, fomentando um desenvolvimento autocentrado, que internalize os frutos e as riquezas produzidas pelo trabalho nacional. Evitando, ao máximo, drenagens de excedentes nacionais que somente financiam a acumulação das potências capitalistas, nos empobrecendo e ampliando o fosso tecnológico-econômico em face das nações do centro do capitalismo.

Adicionalmente, como nos longínquos idos da década de 1970 o economista Celso Furtado preconizava, os países subdesenvolvidos e periféricos não possuem o domínio da tecnologia de ponta, das finanças e dos circuitos comerciais globais. Nesse sentido, como dispositivo maior de poder ao alcance, encontra(va)m-se as fontes não-renováveis de energia, de modo a possibilitar meios de barganha, negociação e interferência decisória no delineamento dos seus destinos nacionais e do sistema político e econômico mundial.

Essa proposta de Furtado é extremamente atual, como demonstra o exemplo da coirmã Bolívia, que, ao nacionalizar setores como petróleo, gás e lítio, hoje desenvolve toda uma cadeia associada que vai da exploração de recursos naturais à produção autóctone de automóvel elétrico.

Mais uma das fecundas e inovadoras fontes plausíveis de inspiração que los hermanos da nossa América do Sul nos propicia, tendo em vista a reconstrução nacional. Igualmente, mirando a ruptura com o indigno quadro político-econômico  integrado pela subserviência internacional, a erosão da legitimidade das instituições democrático-representativas, a intensa perda de direitos coletivos e o programa econômico liberal-rentista-neocolonial em curso.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

Redação

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