Coronavírus: o preço de negar a ciência, por Érico Andrade e Filipe Melo

Não há terraplanismo que resolva problemas graves da humanidade como a pobreza e fome.

Arte Conversa Afiada

Sugestão de Antonio Pereira

Coronavírus: o preço de negar a ciência, por Érico Andrade e Filipe Melo

A ciência está longe de ser o único saber humano legítimo. Tão pouco ela tem o monopólio da verdade. No entanto, ela é ainda o nosso mecanismo de controle da natureza mais confiável pelo seu poder de previsibilidade.

Colocar em dúvida a ciência passou a ser uma estratégia que se coaduna com a política da ignorância ou da defesa da mentira. Terraplanismo,  negacionismo climático e movimentos antivacinas são as formas mais conhecidas dessa aposta na ignorância. Se isso fosse uma questão isolada e restrita a algum grupo de fanáticos, não seria problema. Mas, quando representantes máximos das instituições, por diversas razões, todas espúrias, resolvem entrar na onda do anticientificismo o preço social que temos que pagar por isso é alto. Muito dinheiro jogado pelo ralo. Mais do que isso: vidas interrompidas.

A comunidade acadêmica, há muito demandava que a China proibisse comércio do consumo de carne de caça, prática chinesa associada a muitas necessidades, inclusive médicas (da medicina tradicional). Essa prática em larga escala sempre foi considerada como de alto risco pela falta de controle social e sanitário, mas também por levar espécies à extinção.

A despeito dos apelos da comunidade científica a China tardou em tomar ações nesse sentido e o Coronavirus pode ter chegado à nós por um prato de sopa preparado com algum animal silvestre.

A pandemia global causada pelo Coronavirus é a forma mais dramática de aprendermos que a negação da ciência pode nos custar muito caro. Para retardar o prejuízo a China terminou proibindo, ao menos temporariamente, o comércio de espécies selvagens.

Agora os governos do mundo todo estão tomando ações que vão de campanhas informativas a quarentenas, todas baseadas nas melhores informações científicas disponíveis. Mas o alívio total virá de uma possível vacina que só deve circular comercialmente pelo mundo em 18 meses, se tudo der certo. Esse tudo significa muita ciência: pesquisa e, sobretudo, investimento.

Portanto, a humanidade e especialmente o Brasil deveriam aprender uma boa lição dessa tempestade chamada Coronavirus. Não há terraplanismo que resolva problemas graves da humanidade como a pobreza e fome.

Não há melhor proteção contra doenças contagiosas que vacinas e boa medicina baseada em evidências inclusive associadas à praticas culturais tradicionais de eficácia comprovada. Mas sobretudo, não há tempo para adiar as profundas mudanças que precisamos operar na sociedade para combater as mudanças climáticas e as tragédias que a ciência prevê com alto grau de confiabilidade associadas à degradação ambiental.

Não temos mais tempo para inimigos imaginários, pseudogurus decadentes e teorias da conspiração. Precisamos de ciência e conhecimento que demandam investimentos e instituições fortes de apoio e promoção da ciência.

Érico Andrade – Filósofo, psicanalista em formação e Professor UFPE

Filipe Melo – Biólogo e professor da UFPE

Redação

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