Desenvolvimento da favela pede mudança no processo eleitoral

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Do Geledés

As favelas, os favelados e o processo eleitoral

Por Mônica Francisco

Que a favela já não é mais a mesma, a maioria já está cansando de saber. Que os favelados também não são mais os mesmos exceto pelo endereço, na maioria das vezes ainda sem CEP de algumas, também já estão cansando de saber. Agora, quem precisa de entendimento mais refinado disso são os cidadãos e cidadãs, que por meio de voto ainda obrigatório temos que eleger.

Como cidadã moradora de favela, estou cada vez mais convencida de que não há mais possibilidade de alguém tentar um cargo eletivo e embrenhar-se no pleito eleitoral sem entender, ainda que não aceite, que conversa com favelado(a) não tem que, e não pode ser na base do sorrisinho forçado e das mesmas esfarrapadas manobras e discursos. E não estou me referindo aos favelados e faveladas que romperam as expectativas macabras e alçaram a educação formal e apropriaram-se de conhecimento tradicional institucionalizado. Estou falando também daqueles que minha mestra Cleonice Dias da Cidade de Deus/Xerém afirma que não falam muito mas pensam que é uma beleza e produzem idéias brilhantes.

Estes pegam a cesta básica, comem ochurrasco, bebem a cerveja, embolsam a grana da boca de urna que os cabos eleitorais viciados da velha e teimosa política da bica d”água oferecem, mas na hora de votar, votam no candidato que a filha ou o filho da comadre ou do compadre,  mesmo que não tenham batizado rebento nenhum, aquele que é inteligente e vive metido nesse negócio de MOVIMENTO SOCIAL e FACULDADE, aquele ou aquela vizinha ou vizinho que é a sua referência idônea diz, é isso mesmo.

Ou não se enganem, ainda que alguns derrapem, eles sabem direitinho em quem votar.É assim, a favela , os favelados e faveladas, tem seus fóruns, redes, câmaras, grupos, coletivos de confiança, onde avida da cidade e do país são esmiuçadas  e discutidas, pois a despeito do que pensam alguns, não há parcela da população que mais entenda o que é cidadania, embora esta lhe seja negada todo tempo.

Os favelados aprenderam desde sempre o que é exercício de cidadania, mas o problema neste caso, me perdoe Sartre, são os outros sim. Pois aos favelados e faveladas, o direito a viver esta cidadania plenamente sempre foi negado, mas a gente foi à luta e continuamos nela, porque alguém já espalhou por aí que a favela nunca dormiu.

As favelas com todos os seus coletivos citados acima como exemplo, tem construído seus planos diretores, seus planos econômicos-sociais, seus planos de desenvolvimento endógeno, de habitação, construção coletiva de unidades habitacionais sustentáveis, suas ações para integração da juventude, articulação com o comércio externo, planos de ação cultural, cooperativista, enfim, o que não falta é projeto e planejamento à curto, médio e longo prazo.

A bica para abastecimento de água já não chega, queremos discutir a distribuição cidadã da água, seu uso sustentável, otimização de recursos, utilização de materiais sustentáveis adquiridos em cooperativas populares e de fato autogestionárias, com redundância proposital mesmo, pois toda cooperativa deveria ser autogestionária.

Então, na hora de chegar na favela, pensando em agir como quem vai pro jardim de infância, e olha que as criancinhas de hoje não estão fáceis não, ou é inocente ou está mal assessorado(a), fica a dica!!

p.s Amanhã seremos apresentado ao terceiro novo comandante da UPP Borel, e eu nem tive tempo de conhecer o segundo. Crônicas da favela no Rio de janeiro do Século XXI.

“A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade. Não a GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

* Mônica Francisco é representante da Rede de Instituições do Borel, coordenadora do Grupo Arteiras e aluna da Licenciatura em Ciências Sociais pela UERJ.
Publicado originalmente em Jornal do Brasil.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Desenvolvimento local

    Artigo importante e atualíssimo. O desenvolvimento local é o caminho para sairmos do atraso. É preciso ouvir as comunidades. Precisamos de um PAC do desenvolvimento local para criar a base institucional onde será construída a nova cidadania de que a autora já fala. Precisamos multiplicar esta cidadania.

  2. “estou cada vez mais

    “estou cada vez mais convencida” virou moda esta expressão então.

    Quem é que precisa ser convencido de algo?

    Parece que a origem é da doutrinação partidária de esquerdista.

     

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