Economia, por Antonio Delfim Netto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

da Folha

Economia, por Antonio Delfim Netto

A atividade econômica de qualquer sociedade, ou seja, a sua capacidade de produzir os bens e serviços para atender às suas necessidades materiais e deixar um “surplus” para o seu processo reprodutivo, é determinada pela organização social em que ela está inserida. Explora os recursos naturais do território que ocupa dissipando-os (transformando-os em bens e serviços que consome) e devolvendo o resíduo (recursos degradados) à natureza.

Alguns são renováveis (água, por exemplo), mas a maioria tem disponibilidade finita, o que sugere: 1º) uma escassez crescente e 2º) que existe limite físico para a expansão demográfica. Esta depende, basicamente, do avanço da sua capacidade tecnológica de aumentar a produtividade no uso dos recursos.

Não importa qual seja a organização política da sociedade, ela tem que decidir, na sua organização econômica, como vai lidar com duas questões: a produtividade e a escassez para conseguir a sua sobrevivência material. Pois bem: ajudá-la a encontrar a solução desses problemas é o que a sociedade espera dos economistas quando investe seus recursos escassos para sustentá-los nos seus estudos e pesquisas.

Eles constituem a esperança na construção de uma utopia, a sociedade “civilizada”. O conhecimento de como funcionará um “bom” sistema econômico não é a civilização é apenas a sua possibilidade!

A história do pensamento econômico mostra que ele não é, nem pode ser, uma ciência “dura” que possa “descobrir” leis naturais imutáveis nem é um conjunto de leis determinísticas que dependem das circunstâncias históricas fora do nosso controle.

Precisa ser um conhecimento aberto a todas as soluções tecnicamente não contraditórias e, portanto, a todas as que podem ser imaginadas, cada uma com seus “valores” implícitos, como disse o grande economista matemático-probabilista Bruno de Finetti.

Mas quais os requisitos que deve ter uma organização econômica aceitável que atenda as exigências de qualquer sociedade? Para ele: 1º) produzir um menor grau de desigualdade entre os homens e cultivar a solidariedade com os menos favorecidos pela sorte; 2º) reduzir o papel do acaso e da influência dos “outros” na vida de cada um; 3º) reduzir, pelo seguro social, a “comoditização” de certos bens essenciais; 4º) permitir a máxima liberdade individual enquanto não limitar a do “outro” e 5º) ter a máxima simplicidade no seu funcionamento.

Temos três “escolas” na economia: a neoclássica, a marxista e a keynesiana, nenhuma das quais satisfaz às cinco condições. A única forma de fazê-lo é usar o conhecimento de cada uma no jogo continuado entre a urna e o mercado.

ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. De homem pra homem

    Bom dia debatedores,  Nassif e equipe.

    Com o devido respeito ao senhor Delfin Neto, não posso me furtar ao jogo de palavras:

    “A história do pensamento econômico mostra que ele não é, nem pode ser, uma ciência “dura”” (…)

    Comentário: e  complementando, não pode ser DURA, nem mesmo no período da ditadura, com ou sem milagre! Aliás, nem para o milagre da marcha dos 100 mil…

    Francamente, dizer que a economia não pode ser ciência dura , data maxima venia, é “chover no molhado”. 

    O mais engraçado ainda é sugerir que um matemática-probabilista seja o grande , a ponto de, com seus estudos matemáticos-probabilísticos,  “palpitar” no campo da ciência “mole” econômica! Ora, ao dizer de contraditório  comete um flagrante paradoxo.

    É evidente que em pleno século XXI, século que se busca a PAZ MUNDIAL, após períodos de guerras político-econômicas-egoísticas-desumanas-autoritárias de vários  séculos passados, sobretudo,  as do último século, não podemos mais pensar em economia como ciência “dura”. Dureza não! Deu duro? Tome um… Tampouco, pedir para um matemático, veja bem!, um matemático-probabilista   elaborar sei lá qual equação, jogando uma moeda pra cima,  a fim de elaborar  uma fórmula secreta(oriunda do quarto escuro) para demonstrar   que a  “produção deve buscar o menor grau de desigualdade entre homens(?) – Ora, ora, ora,  entre SERES HUMANOS, caro senhor Delfin! ( basta de declaração dos direitos DO HOMEM! do século retrasado! e ainda falar em solidariedade! Francamente! 

    Mas, por amor ao debate, vamos sugerir o seguinte:

    Homem= H( maiúsculo hein!),se quiserem pode ser o “chefe de família” ou “o” político, o coronel, o militar, o deputado, ou o presidente etc. Digressãozinha: a língua portuguesa, aquela sabe? que cria também  uma “nação”? sim, ela mesma  já contém uma  discriminaçãozinha  no gênero! 

    Prosseguindo:

    H= Homem

    Pea= população economicamente ativa, isto é, que se encontram devidamente debitadas nos “ativos” das famílias que reuniram os fatores de produção e criaram um “empresa” para continuarem acumulando mesmo que  fomentando a discórdia nacional. Ops, nacional coisa nenhuma! mundial! Tratados? Deixe para a votação no Conselhor de segurança!

    Pina= conjunto de população como idada inferior a 10 anos, e que estão ferrados pois, breve, serão criminosos para o pessoal do picles. mesmo que o trabalho deva ocorrer, como aprendiz, a partir dos 14 anos!

    pibpm= produto idiota bruto a preço para mentecaptos 

    C= dinheiro de herança, ou furtado no passado e protegido pelo código civil, pensões vitalícias, latifúndio  invadido no passado e assegurada pelo “registro”. Ex. O estado da Bahia já foi de “duas famílias”!

     x barra: classe merda sanduba que briga com os debaixo e sofre a pressão “da merdoritocracia” que não trabalha de cima.

    Logo:

    pea x  pibpm( ) = acumulação da “merdoritocracia” Fora dilma!

     

    Quantos às escolas de economia também estou discordando, pois, segundo os próprios economitas temos outras escolas de economia, a saber:

    Escola clássica até 1790

    “Marxismo” até 1883

    Marginalismo, sim, são marginais!

    Escola de Viena

    Escola de Lausanne

    Escola de Cambridge

    Escola Neoclássica

    Escola Institucionalista

    Ai vem Keynes  e segue com novas tendências. 

    Fonte: manual de economia dos professores da USP

    E todas elas “tentando” explicar como uns mandam e outros obedecem!

    Vamos combinar uma coisa?

    Que tal seguirmos a “escola” criada na última CR/88?

    Poís é  ali estão TODOS o preceitos econômicos, sociais, políticos, individuais, fraternos, solidários, libertários, para  se conduzir, ou melhor, para  administrar ” a casa” República Federativa do Brasil, dentro de um “Estado democrático de direito”!

    Mas ai também temos pelo menos   um probleminha, qual seja:

    A “interpretação” enviesada de um mesmo texto. Eis o problema!

    Nem Foucault explica. Também pudera. Isso é coisa para “homens”!

    Saudações 

  2. É interessante, quando leio

    É interessante, quando leio textos de Claudio Lembo, Bresser-Pereira e Delfim Neto fico pensando de certa forma nos beneficios da velhice, de uma revisão de idéias preconcebidas, de paradigmas. Será que  tais personalidades mudaram suas percepções do mundo? Seria por convicção? Seria por conveniência? Ler um texto curto, simples e direto como de Delfim Neto quase me faz esquecer que ele comandou a economia do pais nos “anos de chumbo”!!!!Independente disso não deixa de ser um tapa na arrogancia de Fernando Henrique Cardoso.

    1. Simples!?

      Prezado Gui SP,

       

      uma visão minha, simples, talvez simplória é a do amadurecimento: alguns de nós aprende com o correr da vida, outros não, apodrecem sem aprender.

       

      Saudações

       

  3. Delfim chamando para a briga, etá velhinho arretado!

    Sou pragmaticista.

    Para os problemas prefiro sempre as soluções simples e elegantes e se forem bonitas, melhor ainda.

    Por isto fico com a Astrologia, o Tarot e a Geometria.

    O Mogisênio é um cabeça quente, não aguenta a menor provocação, relaxa meu…

    1. Food for tought

       

      Radical macro lessons from the Great Recession

      The relationship between NGDP targets, a higher inflation target and helicopter money

      Just suppose that lower oil prices help generate a period of significantly above average growth in the OECD economies over the next five years. We avoid deflation, but despite more rapid growth modest increases in interest rates keep inflation at or below target. Even if this happens, the story of the Great Recession will not have been a happy one. If you compare where we are now to where we might have been without a financial crisis, there remains a huge gap. Even if we go a good way to closing that gap over the next five years, this very gradual recovery will have cost us dear. In some countries (most of the Eurozone) that cost is currently reflected in high levels of unemployment, while in others (the US) it manifests itself in real wage stagnation or decline. (The UK is now in the latter group: if you are bored with hearing this from me, see this from John Van Reenen.)

      Are there lessons to learn from this? You can probably divide economists into two camps at this point. One group, the ‘supply group’ – which would include most of those setting monetary policy – tend to think that we have largely done the best we could under the circumstances. By circumstances, I mean two related things: a rather surprising increase in inflation during 2011, and an apparent decline in the ability of the ‘supply side’ of the economy to grow at the kind of rates we might have expected before the crisis. While the former is undeniable, the second is conjecture, because we cannot observe the key driver of long term growth, which is technical progress.

      The second group of economists attribute more of the slow recovery since the financial crisis to deficiency in aggregate demand. I am in that second ‘demand’ group, and have argued that fiscal austerity is responsible for a great deal of the slow recovery. Implicit in such arguments is the idea that had demand been strong, any further increase in inflation around 2011 would have been modest and temporary, which with wise monetary policy need not have led to any increase in interest rates.

      I think most of the demand group also share a view that it would be a large mistake to shrug off this bad experience as a one-off, or as something that only occurs every century or so. The ‘one-off’ story could focus on an unfortunate misreading of the Eurozone crisis: however, while this might explain the change in attitudes is some important institutions like the IMF, it is less plausible in explaining why policy makers around the world switched to austerity. The ‘every century’ idea is wrong because it fails to note the changes that have been brought about by the widespread adoption of 2% inflation targets, coupled with a view that the ‘natural’ real interest rate is also likely to remain low for some time.

      Different members of the demand group have proposed three different and radical innovations in macroeconomic policy to help avoid this kind of mistake happening again. These are targeting the level of nominal GDP (NGDP), raising the inflation target, and some form of helicopter money. Are these innovations alternatives or complementary to each other?

      There are some (notably market monetarists) who seem to argue that changing monetary policy to NGDP targets is sufficient. My own view is less optimistic. A clear advantage of NGDP targets (and not its only advantage) is that they would create expectations of a more expansionary policy during and after the recovery phase from a recession, but in my view this would not be enough to prevent liquidity traps happening. This is because I see the problem of the liquidity trap (nominal interest rates being unable to fall below some lower bound around zero) as central to why the Great Recession was so prolonged, and episodes where we experience a liquidity trap as becoming more frequent because the inflation target (explicit, or implicit within the NGDP target) is low.

      Raising the inflation target is an obvious way of reducing the frequency of liquidity traps. If the natural real interest rate is 2%, for example, then with a 4% inflation target, the nominal interest rate has much further to fall before the lower bound is reached than if the inflation target was 2%. It is important to note that this argument does not preclude adopting a NGDP target, because any target path for NGDP includes an implicit inflation target. For that reason, you can view NGDP targets and a higher inflation target as either complementary or alternatives, where the latter is true only if you think one device does the required job by itself.

      Helicopter money is essentially giving the central bank an additional instrument – a form of fiscal stimulus. In that sense it is rather different from NGDP targets or a higher inflation target, because it involves instruments rather than the objectives of monetary policy. For that reason, in principle it could be a complement to both the other radical suggestions. In a way helicopter money is best seen as an alternative to Quantitative Easing, and there is no reason in principle why QE is not compatible with NGDP targets or a higher inflation target. It is possible of course that if helicopter money was shown to be effective in dealing with liquidity traps, then it would make the case for other radical changes less compelling.

      If I’m being realistic, I think that if the first sentence of this post turns out to be true, the chances of any of these radical changes being adopted before the next liquidity trap episode are very small. A period of strong growth will be sufficient for policy makers to pretend that the slow recovery from the financial crisis was either a one-off or the best that could be done in the circumstances. Instead I suspect that as the economy moves ever closer to its pre-crisis trend, the demand group of economists will convince more of the supply group that they were wrong. This will give greater credibility to the idea that radical changes to policy are required, and each alternative will receive greater analysis and probably greater support amongst economists by the time the next liquidity trap episode occurs.

      Hunter Moody17 March 2015 at 04:48

      For anyone suffering from depression, I always recommend the Destroy Depression system which just may have saved my life. http://inersche.com/2015/03/13/how-i-overcame-my-depression/. It was written by a man who cured his own depression naturally, and it simply teaches 7 steps which help to eliminate depression from your life.

       

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador