Evidências de um fato, por Felipe A. P. L. Costa

Como os cientistas sabem que as espécies viventes são versões modificadas de espécies já desaparecidas? Afinal, como eles conseguem provar que a evolução é um fato?

Evidências de um fato

Por Felipe A. P. L. Costa [*]

Como os cientistas sabem que as espécies viventes são versões modificadas de espécies já desaparecidas? Afinal, como eles conseguem provar que a evolução é um fato?

Para início de conversa, não custa lembrar: ao contrário da matemática, a biologia não lida com demonstrações ou provas definitivas. As conclusões da biologia [1] estão ancoradas em evidências (diretas ou indiretas). E estas, sempre que possível, devem provir de experimentos controlados, como é regra nas ciências naturais. No caso da biologia, os experimentos são conduzidos em laboratório ou no campo. Resultados obtidos no laboratório às vezes são suficientes, mas nem sempre. Veja o que ocorre em áreas como paleontologia, ecologia e genética de populações, três dos pilares da biologia evolutiva e onde o trabalho de campo é insubstituível.

O xis da questão aqui é o seguinte: o rol de evidências positivas a respeito do fato da evolução é tão esmagador que a única alternativa racional que nos resta é tratá-la como tal.

Fósseis e fossilização

Evidências diretas de como eram os seres vivos do passado e de como a história da vida se desenrolou provêm do estudo dos fósseis – restos ou vestígios, em geral petrificados, deixados por organismos que já desapareceram.

É bom notar que fóssil não é sinônimo de pedra, visto que nem todo resto fóssil está petrificado. Vejamos.

Há dois tipos de fósseis petrificados: (1) os que de fato foram transformados em pedra (e.g., a estrutura original desapareceu e a cavidade resultante foi preenchida por depósitos minerais); e (2) os que ainda preservam remanescentes do material original (e.g., uma das conchas de uma ostra persiste, no todo ou em parte, e apenas a cavidade foi preenchida).

O processo por meio do qual um cadáver se converte em fóssil petrificado (total ou parcialmente) pode envolver substituição, destilação ou recristalização. No primeiro caso, o material original é substituído por algum depósito mineral; no segundo, dito também carbonização, os elementos voláteis da matéria orgânica (H, O, N) escapam, deixando uma película de carbono; no último, ocorre a destruição das partes cristalinas originais, as quais são então substituídas por algum mineral mais estável.

Outras evidências

Além dos indícios deixados pelos seres vivos do passado (e.g., fósseis, moldes, pegadas e perfurações), um sem-número de evidências indiretas é usado em reconstituições históricas. E várias disciplinas contribuem e participam dessas reconstituições.

A embriologia, por exemplo, nos diz que as rotas de desenvolvimento, mesmo no caso de organismos que pouco ou nada se parecem aos nossos olhos (e.g., cangurus, morcegos e elefantes), podem seguir o mesmíssimo padrão geral; as particularidades que notamos nos animais adultos resultam de diferenças sutis durante o desenvolvimento. Por sua vez, a genética nos informa que as rotas de desenvolvimento se assemelham porque os organismos possuem genomas igualmente semelhantes, diferindo tão somente aqui e ali – seja porque cada animal abriga alguns poucos genes exclusivos, seja porque os mesmos genes estão a se expressar de modos ou em momentos algo diferentes.

*

Notas

[*] Artigo extraído e adaptado do livro O que é darwinismo (2019), assim como 23 artigos anteriores – ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. (A versão impressa contém ilustrações e referências bibliográficas.) Para detalhes e informações adicionais sobre o livro, inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato com o autor pelo endereço [email protected]. Para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.

[1] A mais ampla e heterogênea das ciências, abrigando relatos de história natural, ensaios experimentais e, mais recentemente, investigações moleculares, tudo isso tendo a teoria evolutiva como fio condutor.

* * *

Redação

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador