Haddad é o verdadeiro candidato de Centro, por Felipe Pena

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Haddad é o verdadeiro candidato de Centro

Por Felipe Pena

No Extra

O desespero bateu à porta do establishment político nos últimos dias. A polarização entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, adiantando o provável cenário do segundo turno, promoveu uma drástica mudança na campanha de Geraldo Alckmin, do PSDB. Agora, os marqueteiros tucanos tentam convencer os eleitores de que há uma batalha entre extremos e que Geraldo representaria o centro virtuoso da disputa. Mas o próprio espectro eleitoral desmente essa tese.

Para começar, o PSDB está muito mais identificado com a direita do que com o centro. Desde o final do governo FHC, em 2002, o partido tem voltado suas políticas para a parcela mais abastada da população, afastando-se do ideal social-democrata de seus fundadores. Os rostos tucanos passaram por uma transformação. Deixaram a combatividade social de Covas e Montoro para se tornarem a camisa polo de Aécio e Dória. E a pá de cal foi o apoio ao governo Temer, um erro fatal, como muito bem identificou o senador Tasso Jereissati na entrevista ao estadão.

Em segundo lugar, o extremo representado por Bolsonaro pesca votos no lago tucano, o que só confirma a guinada à direita do partido. O candidato do PSL apenas potencializou o discurso e passou a defender pautas ainda mais conservadoras, como a flexibilização do estatuto do desarmamento, a diminuição da maioridade penal e a velha tese de que bandido bom é bandido morto. No fundo, Bolsonaro é um tucano de farda, com o fuzil na mão direita e a bíblia na mão esquerda.

Por último, a ideia de que Haddad é um extremista não cola nem entre seus adversários. A voz pausada, o jeito conciliador e formação acadêmica não só inviabilizam o rótulo como têm potencial para atrair até mesmo eleitores antipetistas. À sua esquerda estão os candidatos do PSOL e do PSTU, que, em determinadas e improváveis condições, poderiam encarnar o tal extremo oposto a Bolsonaro. Mas Haddad, não. Haddad não é extremo. Haddad é o verdadeiro candidato de centro.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tucano de mais alta plumagem e estofo intelectual, também já percebeu isso. Não foi à toa que, 10 dias atrás, declarou voto em Haddad caso ele passe para o segundo turno. A carta de ontem foi apenas um afago em Alckmin. O sociólogo FHC fez a leitura correta do quadro eleitoral. Ele sabe que o país precisará se unir contra a barbárie representada pelo candidato da extrema-direita. E sabe também que o adversário desse candidato não está na extrema-esquerda, está no centro e, por coincidência, é seu xará e companheiro de universidade.

Felipe Pena é jornalista, escritor e professor da Universidade Federal Fluminense. Autor de 16 livros, foi diretor da Rede Globo e comentarista do Estúdio I, na GloboNews.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Análise tendenciosa. Cadê Ciro ?

    Felipe Pena omitiu Ciro Gomes em sua análise. Portanto, trata-se apenas de uma opinião com função de propaganda e que expressa sua vontade de como as coisas deveriam ser. Não pode ser tomada como uma análise isenta de paixão.

    Queira ou não Felipe Pena, a polarização Bolsonaro-Haddad tem os maiores índices de rejeição. Por outro lado, Ciro Gomes é de todos o que tem a menor rejeição. Ao mesmo tempo, todas as pesquisas indicam que Haddad pode perder de Bolsonaro no segundo turno e apenas Ciro vence Bolsonaro (inclusive com folga).

    Como Haddad não cresceu na quantidade que foi prevista pelos analistas, estamos observando um malabarismo retórico para justificar votos em Haddad. Agora Haddad não é mais o representante da Esquerda, mas do Centro. Ciro é o terceiro ponto, de centro-esquerda, e que pode superar o antagonismo imobilizante que enseja o fascismo.

     

    1. Ciro é o plano B da Direita…

      Vc nao viu a carta de FHC de ontem? A Direita está desesperada; ela preferiria outros candidatos, mas na falta de “melhor” (p/ ela, claro), ela fica com Ciro.

      1. Os petistas já sabem disso ?

        O programa de Ciro é de centro-esquerda, inclusive com várias semelhanças com o programa do PT.

        No entanto, muito petistas atacaram Ciro apontado o dedo: candidato de direita ! Não era de direita quando defendeu Dilma ou quando atuou decisivamente para impedir que o Mensalão pegasse Lula (pergunte ao Zé Dirceu).

        O discurso agora é que Haddad é de Centro. Por que ? Ele está fazendo acordos com economistas de direita, do Insper ?

        Então, agora Haddad está à direita de Ciro ?

         

         

        1. Claro que nao Isso é delírio do autor desse texto

          O programa de Haddad é mais radical que o de Ciro. Sobretudo nao inclui propostas que causariam inflaçao e prejudicariam os mais pobres.

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