Lava Jato escancara cada vez mais viés político, por Marcelo Auler

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Marcelo Auler

Depois de reunir-se com o superintendente Rosseti (à esquerda na foto) o ministro esteve com os chefes de delegacias especializadas da Superintendência.

O viés político da Lava Jato cada vez mais escancarado. “É hora de barrar o arbítrio”
 
por Marcelo Auler

Há quem diga que não existe coincidência. Ou, simplesmente, quem nela não acredite.

Na sexta-feira (23/09), à tarde, Alexandre de Moraes, o ministro da Justiça do governo que jogou no lixo 54 milhões de votos destinados à Dilma Rousseff com o golpe do impeachment, esteve na superintendência do Departamento de Polícia Federal (DPF) de São Paulo. Foi uma visita atípica, pois o habitual é que ministros de Justiça visitem superintendências acompanhados do Diretor Geral da instituição. Moraes foi sozinho.

A sós, reuniu-se, com o superintendente Disney Rosseti, no gabinete dele. Rosseti é um dos nomes que frequentam a bolsa de apostas de quem será o futuro Diretor Geral (DG) da instituição. Não é o único, mas teria como padrinho o atual DG Leandro Daiello Coimbra. Depois da reunião dos dois, Moraes e Rosseti se encontraram com os chefes de delegacias especializadas. Oficialmente, debateu-se o combate ao crime organizado.

Na sexta-feira, quando da visita do ministro à SR/DPF/SP, ali já estavam os mandados de prisão e de busca e apreensão expedidos pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, no dia 12 de setembro. O alvo principal, como se sabe, foi o ex-ministro Antônio Palocci. Tratava-se da 35ª  Fase da Operação Lava Jato, marcada para a segunda-feira, (26/09).

O ministro boquirroto e o candidato tucano à prefeitura: Lava Jato vira jogo político. Foto: reprodução do Brasil 247

No domingo, véspera dos mandados serem cumpridos, Moraes estava em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, para prestigiar a campanha a prefeito do seu correligionário no PSDB, o ex-secretário estadual de Logística e Transporte e atual deputado federal, Duarte Nogueira. Tucano como Moraes. Em um ato de campanha, ao encontrar-se com os membros do Movimento Brasil Livre, seus parceiros no golpe do impeachment, ele tratou de tranquilizá-los:

Teve a semana passada e esta semana vai ter mais, podem ficar tranquilos. Quando vocês virem esta semana, vão se lembrar de mim“, disse.

Como se nota no vídeo abaixo, a fala foi espontânea, sem que ninguém tivesse o questionado. Apenas pediram apoio à Lava Jato. Mas, o ministro tomou a iniciativa de avisar que algo mais aconteceria. O inusitado anúncio ganha ares mais significativos diante do recado de Moraes aos seus aliados no golpe:

“(…) podem ficar tranquilos!”

 

https://www.youtube.com/embed/y8BKwkh0IQw width:700 height:394

Ribeirão Preto é a terra de Palocci e seu berço político. Ali, ele se elegeu, sucessivamente, vereador (1987), deputado estadual (1989), prefeito (1991 e 2000). Na eleição do próximo domingo, o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil dos governos Lula e Dilma Rousseff, não concorrerá.

Na sua cidade natal, o candidato à frente nas pesquisas é Ricardo Silva, do PDT. Atrás, em empate técnico está o candidato do PSDB, um antigo adversário político de Palocci. Moraes foi lá para ajudar seu correligionário. Na presença dele, os membros do Movimento Brasil Livre cobraram a continuidade da Lava Jato.

Porém, nada falaram sobre o candidato Nogueira – que o ministro da Justiça apoia para a prefeitura – e o escândalo da merenda em São Paulo.  Foi o motivo dele ter deixado a secretaria estadual de Logística e Transporte. Mas, depois, a corregedoria do governo tucano paulista o inocentou, como anunciou a imprensa de Ribeirão Preto, em 02 de abril: Duarte nogueira é inocente em denuncia da merenda

“Corregedoria arquiva denúncia contra ex-secretários na fraude da merenda.

Duarte Nogueira e Herman Voorwald foram citados em delação de suspeitos. ‘Lobistas usavam nomes de autoridades indevidamente’, explica corregedor.

A Corregedoria Geral de São Paulo arquivou a investigação contra o ex-secretário da Educação Herman Voorwald e o deputado federa Duarte Nogueira (PSDB), que deixou a Secretaria de Logística e Transportes nesta sexta-feira (1º), por suspeita de envolvimento no esquema de fraude em licitações da merenda em prefeituras e no governo paulista”.

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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

4 Comentários

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  1. Orgulho ferido?
    Segundo Marcelo Auler, tudo indica que a Polícia Federal, contrariando uma praxe já estabelecida há anos, não monitorou os “alvos”, entre eles Mantega, único motivo para não saberem que ele estava acompanhando a mulher no hospital. “Como a polícia não participou da decisão, há, dentro da própria superintendência do DPF em Curitiba, quem fale que houve corpo mole. Algo do tipo, “Ah, o MPF decidiu? então ele que cuide”.” Fiquei um pouco surpreso. Não fica bem Polícia deixando de cumprir suas obrigações por esse motivo, Beicinho e birra comginam mais com meninos. Lula, no discurso em que criticou o espetáculo do Power Point sem provas (mas com convicção), falou em meninos de Curitiba, mas acho que não se referia à Polícia Federal.

  2. E aquele caso do hacker que

    E aquele caso do hacker que invadiu o celular da Marcela, ameaçou chantagear, e o ministro Mussolini de Moraes colocou uma equipe da PF de confiança dele para pegar o cara?

    Será que o Mussolini de Moraes vai ser mais um Cunha na vida do Temer?

    Como diz o Tijolaço, será que o mundo é tão recatado e do lar assim?

  3. A lava jato e o Juiz Moro…….

    Impossível imaginar que diante por exemplo da gravação da delação de Fernando Baiano, divulgada no site Conversa Afiada, ( http://www.conversaafiada.com.br/politica/brito-moro-vai-prender-o-filho-do-fhc),  o Juiz Moro queira repetir a acusação contra Lula. De forma clara e objetiva a delação de Fernando Baiano, fala de uma manobra excluindo uma firma espanhola  sob ordens da presidência.  O contrato não foi firmado com os espanhois para ser firmado com uma firma e uma empresa americana representada pelo filho de Fernando Henrique Cardoso, na época o presidente. Nesta empreitada lá estava Cerveró e Delcidio. Se o Juiz fosse imparcial diria que o esquema criminoso  da Petrobŕas já havia sido implantado no governo de Fernando Henrique e que portanto a acusação de capo de tutti capi não cabe a Lula mas sim a FHC.    Isto eu digo e chamo atenção, pois demonstra cabalmente o que Brito quer dizer com …….Lavajato  escancara o viés político.  Mas estamos em época de cinismo, onde alguns podem falar e mentir e desviar, violar leis etc…, com beneplácito da imprensa e do CNJ.

     

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